Três dias depois, Roland recebeu um “sim” do primogênito da Família Madressilva.
— Eu estou disposto a continuar a servi-lo, assim como toda a Família Madressilva. — Petrov disse, inclinando a cabeça — Irei convencer meu pai. Ele é… um pouco diferente dos velhos das outras Famílias.
— É assim mesmo. — Roland de repente ficou animado — Que bom ouvir isso.
— Nos últimos dias, eu testemunhei todas as mudanças extraordinárias que ocorreram em sua vila, e percebi que esta era a cidade que eu desejava por muito tempo. — Petrov confessou — Se a Família Madressilva puder florescer em tal ambiente, creio que meu pai não se importará em fundir Forte Cancioneiro com a futura cidade.
Isso deixou o Príncipe ainda mais feliz, pois originalmente, ele só tinha duas razões para chamar Petrov ao palácio: a primeira era poder compartilhar, com sinceridade, essa maravilhosa notícia pessoalmente a Petrov, e a outra era observar sua atitude em relação ao decreto. Roland nunca imaginou que Petrov reagiria tão bem.
Após observá-lo, Roland acenou com a cabeça e disse:
— Claro. Com o tempo, cada pedaço de terra no Reino de Castelo Cinza será um lar para meu povo.
— Então, se me permite, Alteza, devo retornar a Forte Cancioneiro o mais rápido possível e comunicar essa notícia para o meu pai.
— Não esqueça as outras quatro Famílias e todos os outros nobres da Região Oeste. — Roland acrescentou — Qualquer família que deseje aceitar meus termos será recebida incondicionalmente na nova cidade, independentemente de conflitos passados. Você pode até mesmo realizar um banquete no Forte para espalhar a mensagem.
— O senhor quer que eu diga pessoalmente a eles? — Petrov perguntou, atordoado.
— Sim. — O Príncipe disse, sorrindo — Desta vez você pode agir como… o meu embaixador.
— Sim, Alteza. — Petrov disse, pondo a mão no peito.
Assim que ele estava prestes a sair, Roland o parou e disse:
— A propósito, você fez um ótimo trabalho com o incidente da bruxa. Elas não precisarão mais se esconder a partir de agora. Depois de toda essa educação universal, se alguém ainda estiver cegamente crente nos ensinamentos da Igreja, eles devem ser expulsos da Região Oeste. Você pode decidir exatamente os meios.
— Sim, Vossa Alteza.
Depois que Petrov Hull saiu, Roland se esticou e bocejou, depois continuou a folhear os dados que a Prefeitura havia compilado, dentre os vários projetos de construção.
Devido à forte nevasca, a construção da Avenida Real teve que ser interrompida, e o ritmo de construção das casas também foi reduzido, de modo que havia apenas alguns projetos de manutenção internos em andamento. Felizmente, Lotus havia construído uma série de habitações de barro para abrigar os refugiados antes de partir. Mesmo se mais refugiados chegassem, eles poderiam ser distribuídos entre as casas de barros, que dispunham de camas de tijolos aquecidas.
De acordo com o Ministério da Construção, pelo menos cerca de 60% dos trabalhadores estavam empregados no momento, portanto, os recrutamentos de última hora da Prefeitura sempre eram preenchidos rapidamente, como limpar a neve das ruas, transportar mercadorias para a área com os altos-fornos e assim por diante. Se fosse em qualquer outra cidade, ver tantas pessoas ávidas para trabalhar durante os Meses dos Demônios seria algo inacreditável. O inverno já era a época mais difícil para os civis, então a maioria das pessoas geralmente se fecha em suas casas e sobrevive com a colheita do outono. No entanto, Roland se sentia insatisfeito ao ver toda essa força de trabalho ociosa, então ele pensou com afinco em um meio para resolver esse problema, de modo a empregar todas as pessoas ociosas mesmo no inverno.
Afinal, a Câmara de Comércio de Margaret comprou o último lote de motores a vapor fabricado neste ano, e a Prefeitura tinha dinheiro e grãos mais do que suficientes para poder executar muitos de seus planos.
Pensando em todos esses pormenores, Roland pediu ao seu guarda para convocar Karl van Bate, o Ministro de Construção.
Depois que ele explicou suas ideias, Karl respondeu intrigado:
— O senhor quer que os pedreiros e artesãos construam navios?
Roland assentiu com a cabeça e disse seriamente:
— Sim, bem ao lado do porto. Construa uma oficina temporária de madeira e mantenha um braseiro queimando por dentro para manter a temperatura. Quando os navios estiverem concluídos, eles poderão entrar diretamente na água.
— Mas, Alteza, como eles podem construir uma coisa dessas se eles não sabem como?
— Claro que podem. É como construir a torre das bruxas. — Roland disse enquanto pegava um pedaço de papel e desenhava uma planta de navio — Basta fazer uma armação, colocar barras de aço e preenchê-las com concreto. Vou instruir vocês pessoalmente na construção do primeiro navio, e então você será o único responsável pela supervisão, para que todos os trabalhadores possam fazer seu trabalho de maneira correta.
Karl olhou para a planta com ceticismo e perguntou:
— Isso é… uma bacia?
Roland sorriu e respondeu:
— Sim, é uma bacia de concreto gigante.
Karl não havia participado da construção de Vilazinha, então era natural que ele não entendesse o projeto. Na verdade, os navios estavam constantemente mudando suas formas ao longo do tempo, com os da próxima era herdando muito pouco dos navios da era anterior. Roland não tinha ideia de como projetar um antigo navio de madeira com quilhas, mas construir um navio de concreto não era essencialmente diferente de fazer um modelo de argila, e só bastava flutuar. Foi o que aconteceu no caso dos navios de aço e concreto em seu mundo anterior. Com as melhorias na tecnologia de soldagem, a maioria dos navios modernos abandonou o método de quilha e, em vez disso, eram montados com chapas de aço para que todo o piso suportasse seu peso. Não havia necessidade de se preocupar em fabricar navios de madeira.
Ele já havia considerado construir uma nova frota de navios de concreto por um longo tempo. Tanto as escavações de mineração de carvão nas montanhas próximas quanto o transporte de refugiados exigiam grandes barcos fluviais, de modo que um projeto de navio de fundo chato com calado pequeno era a melhor opção[1]. Comparados com o design conservador de Vilazinha, os novos navios deveriam ter cascos mais longos para garantir uma carga maior, melhor estabilidade e maior velocidade. Para reduzir a dificuldade de construção, Roland decidiu usar rodas de pás para impulsionar os navios[2]. Isso já havia sido testado em navios de madeira e era mais fácil para os pedreiros conseguirem fabricar.
— Vossa Alteza, quantos homens o senhor pretende empregar para construir esses… navios de concreto? — Karl perguntou sem jeito.
— Reúna todos os trabalhadores ociosos e construa vários navios ao mesmo tempo, da mesma forma que você fez quando começou a construir as casas.
Dessa forma, mesmo que ninguém comprasse as máquinas a vapor recém-produzidas, havia algo para as pessoas fazerem. A área dos altos-fornos poderia continuar produzindo cimento, e isso mataria dois coelhos com uma única cajadada. Nos próximos anos, se ele pudesse comandar uma grande frota de navios de cimento, o Primeiro Exército sempre teria uma logística confiável durante os ataques.
Depois de lidar com esse assunto, Roland decidiu verificar o quintal do castelo.
As oliveiras e videiras que Ramos plantou forneciam um excelente abrigo contra a neve. Quando não estavam trabalhando, as bruxas costumavam praticar no quintal, incluindo a recém-chegada Papel.
De acordo com Wendy, a habilidade de Papel não era controle de temperatura, mas também não era restauração de matéria, e tinha pouco efeito sobre qualquer outra substância além da água. Isso deixou Roland profundamente intrigado. Depois de três dias, provavelmente a menina não estaria mais tão tímida, de modo que ele poderia testar suas habilidades sem problemas.
Assim que entrou no jardim, Roland sentiu que havia algo errado.
De fora a fora, Roland só enxergava árvores, plantas e flores, uma visão fascinante, como se estivesse em um mundo diferente da neve lá fora. As oliveiras estavam verdes como nunca e tinham trepadeiras ao redor dos galhos. Embora não fosse surpreendente que as árvores bloqueassem a neve, o que mais chamava atenção era que todas as plantas daqui ainda davam um sentimento de vivacidade sem igual. O que diferenciava esse lugar de uma floresta era que, embora não houvesse vento, a grama e as árvores balançavam em um mesmo ritmo.
Roland achou que isso era uma ilusão, mas, à medida que se aproximava do jardim, ele viu os galhos de oliveira dobrarem-se como se estivessem saudando-o, e a grama ao redor de seus pés caia para o lado, como se quisesse recebê-lo.
Isso deixou Roland um pouco desconfortável, e ele começou a sentir calafrios. Ele sentiu como se não estivesse andando em um jardim, mas dentro do corpo de uma criatura gigante.
O jardim inteiro parecia estar respirando.
[1] Calado é um termo náutico que se refere à medida da profundidade a que se encontra a quilha do navio. Você pode encontrar mais informações neste link.
[2] Você pode encontrar imagens e mais informações neste link.
E Ramos cada vez mais perto de se tornar uma druida, até as plantas já aceitaram🏞️🗿