Roland foi até o centro do jardim e ficou parado no lugar, chocado.
No final do caminho, uma pequena casa feita de plantas apareceu de repente, com troncos de árvores e plantas retorcidas formando suas paredes e camadas de trepadeiras penduradas em cima formando o teto, com algumas até mesmo carregando cachos de uvas brilhantes. Uma fogueira queimava no meio do que deveria ser a sala e havia móveis verdes espalhados por toda parte. Ao olhar mais atentamente, Roland percebeu que os móveis eram formados de plantas estranhas que cresceram ali mesmo do solo. Por um momento, Roland sentiu como se estivesse em um conto de fadas. Se não fosse pelos rostos familiares ao lado da fogueira, ele realmente teria pensado que estava sonhando.
— O que é isso? — Roland perguntou.
Tilly se virou e exclamou:
— A habilidade de Ramos evoluiu e ela se transformou neste jardim.
— E onde ela está? — Roland perguntou surpreso.
— Ela se tornou uma com as plantas. — Tilly disse, olhando em volta — Tudo o que você vê agora é uma parte de Ramos.
Então a sensação que tive de estar andando dentro de uma criatura viva não era falsa. — Roland pensou — Só que a “criatura” é, na verdade, Ramos.
Ao pensar em uma certa possibilidade, Roland de repente sentiu seu coração doer.
— Ela ainda pode voltar, não é?
— Sim, basta eu parar de utilizar meus poderes que posso retornar à minha forma normal. — A voz de Ramos de repente ecoou da “minifloresta”.
No entanto, ao ouvir atentamente, Roland percebeu que não era a própria Ramos quem estava falando. A voz vinha do farfalhar das folhas balançando e do roçar de galhos.
Sua resposta acalmou Roland um pouco.
— Você pode nos ouvir falar?
— Sim, mas não é só isso, eu também posso ver e sentir o cheiro de cada um de vocês. — Ramos respondeu alegremente — Eu posso sentir as menores mudanças no jardim, incluindo os pássaros construindo seus ninhos em galhos e insetos rastejando em troncos… É difícil explicar, mas Lady Tilly está certa. Eu sou o jardim em si, e notei você assim que entrou.
De repente, uma folha gigante pendurada no teto foi baixada ao lado de Roland e desdobrou-se lentamente revelando uma xícara contendo um líquido roxo. A xícara intricada era feita de quatro folhas de oliveira sobrepostas com as hastes curvadas em uma alça. Roland levantou a xícara até os lábios e percebeu que o líquido era vinho feito na hora, uma combinação perfeita de acidez e doçura refrescante. Claramente, tanto o vinho quanto o recipiente vinham desse jardim.
Roland pegou uma “torrada” de Ramos, caminhou até a fogueira e sentou-se animadamente numa cadeira feita de plantas. Sua estrutura era feita de galhos ásperos, e o assento e as costas estavam cobertos por uma camada pesada de folhas de trigo. A sensação ao sentar-se era semelhante a afundar em um sofá macio. Ao lado da fogueira estava uma churrasqueira, onde Andrea estava assando maçãs e milho para todos. Estes alimentos foram, sem dúvida, também tirados diretamente do jardim.
— Como você conseguiu fazer tudo isso? — O Príncipe olhou para cima e perguntou.
— Eu também não sei. — A voz respondeu imediatamente — Eu estava apenas cuidando das mudas recém-plantas e dos seus pássaros mensageiros, como de costume, enquanto também praticava minhas habilidades. De repente, parecia que todas elas responderam ao meu chamado. Talvez essa seja a reconciliação que eu tenho procurado, que é trazer a floresta e as vidas dentro dela juntos como um só.
— Será que você conseguiria usar essas suas novas habilidades na Floresta das Brumas? Você também poderia transformá-la em uma parte sua?
— Não tenho certeza…. — Ramos hesitou — Mesmo que eu consiga, levaria muito tempo. Manter esse estado não requer muito poder mágico, e eu posso até mesmo extrair energia da floresta, mas toda vez que eu tento expandir minha área de influência, minha mente se torna mais lenta.
— Como assim? — Roland perguntou confuso.
— Eu não sei bem como descrever esse sentimento. —Ramos disse — Se eu continuar me expandindo lentamente, eu poderia me tornar um com toda a Floresta das Brumas dentro de alguns anos, mas estou com medo de perder minha consciência. Quando eu comecei a me fundir com o jardim, minha mente estava tão sobrecarregada, como se de repente se tornasse muito grande. Levei um bom tempo para me acostumar a isso. — Ela fez uma pausa e acrescentou — No entanto, adentrar em plantas que eu já controlei não me dá essa sensação desconhecida, e eu só preciso pensar para realiza-lo.
Que incrível. —Roland pensou — Comparada com a microevolução de Anna e Lily, as novas habilidades de Ramos foram um avanço mais no macro. Se ela pudesse um dia controlar toda a Floresta das Brumas, nem um único movimento de nossos inimigos iria escapar dela.
— Parabéns! —Wendy disse sorrindo — Agora há outra bruxa da União das Bruxas que evoluiu. De acordo com Agatha, temos cerca de metade de bruxas que evoluíram da antiga Aliança.
— Se ela estivesse aqui, com certeza ela iria falar sobre isso por muito tempo. — Roland riu e olhou para a menininha que estava espiando curiosamente para ele — E Papel?
— Sua habilidade… infelizmente requer mais testes. —Wendy respondeu — Mas encontramos um fenômeno estranho.
Ela estalou os dedos e duas pilhas de neve acumulada imediatamente caíram do telhado.
Wendy colocou uma pilha ao lado da fogueira e outra em um canto da sala, e então ela pediu a Papel para usar seus poderes.
— Atualmente, estou ensinando ela a usar seu poder mágico uniformemente para que seus efeitos sejam consistentes, exatamente como você me ensinou. Embora ela não consiga controlar seu poder com muita precisão, é uma coisa bem natural para as garotas da idade dela que nunca praticaram.
Roland notou que a neve ao lado da fogueira derretera rapidamente em uma poça gelada, enquanto a pilha mais distante estava ainda na metade.
Wendy pegou a água derretida, levou-a para um lado da sala e bateu na parede. As vinhas que estavam bem entrelaçadas recuaram para revelar um buraco do tamanho de um punho, deixando entrar o vento gelado.
— Aqui, agora use seu poder nisso. — Wendy disse a Papel.
A garota assentiu e levantou as mãos, e Roland ficou chocado ao descobrir que a água havia formado uma fina camada de cristais de gelo.
— Então o poder dela é… acelerar o tempo e acelerar os resultados? — Mas Roland duvidou de sua teoria assim que pensou alto — Não, não deve ser isso. O tempo é apenas um conceito criado por humanos por conveniência, então não existe por si só. Então, como ela pode afetar algo que não existe?
— Foi o que eu pensei também, mas Lady Tilly disse que não era o caso. — Wendy amarrou uma pedra ao final de uma trepadeira e balançou-a para frente e para trás na frente de Papel.
Quanto Papel tentou usar seus poderes, o pêndulo continuou a balançar na mesma velocidade e, eventualmente, parou. Após isso, Wendy continuou.
— Se ela pudesse acelerar o tempo, a pedra teria balançado mais rápido.
De fato. — Roland percebeu rapidamente qual era seu poder, ela não estava afetando o tempo, mas o movimento das moléculas. Seu poder mágico poderia diminuir ou aumentar os níveis de energia das moléculas, o que levava ao congelamento e ao derretimento. É claro que Papel provavelmente não entendia isso, então ela simplesmente usou sua intuição para controlar seu poder, e foi por isso que ela teve pouco impacto em outros objetos. A oxidação era um processo longo e precisava de tempo para mostrar resultados visíveis.
Se Roland adivinhou corretamente, o poder de Papel fez dela um catalisador natural.