Após se abraçarem por um longo tempo, Roland acariciou o rosto de Anna e disse com um tom gentil:
— Você ficou… mais magra.
Embora repletos de lágrimas, os olhos de Anna ainda eram tão puros quanto a água cristalina de um lago. Roland conseguiu ver claramente sua própria sombra refletindo nos olhos azuis de Anna. Mas ele também notou que ela estava muito magra. Ao tocar nas costas dela, Roland conseguiu sentir os ossos da espinha dorsal de Anna, e ao olhá-la de frente, viu que as clavículas dela estavam muito protuberantes.
— Me desculpe por fazê-la se preocupar. — Sentindo a fragrância de Anna, Roland sentiu paz em seu coração novamente. Foi apenas um piscar de olhos, mas ele sentiu que não se viam por séculos.
Anna balançou a cabeça e limpou as lágrimas do rosto, dizendo:
— Está tudo bem, já que você acordou.
— Por quanto tempo eu estive em coma? Três dias ou uma semana? — Roland ficou incerto sobre os números quando viu que Anna havia ficado tão magra.
— Mais de um mês.
— O quê? — Roland ficou atônito.
— Para ser mais exata, cinquenta e dois dias. — Vendo o rosto espantado de Roland, Anna não pôde deixar de explodir em risos e dizer: — Já é outono agora. Perceba que as cortinas foram mudadas.
— Eu fiquei inconsciente por quase dois meses? — Roland incredulamente moveu os braços e os dedos do pé, mas ele não sentiu nenhum desconforto.
— Como eu me alimentei?
— Você não se alimentou. — Anna se encostou no ombro de Roland e segurou as roupas dele firmemente, como se estivesse com medo que ele fosse dormir novamente. — Alguém se alimentou por você.
— Ahn, isso é possível?
— É a habilidade de Noite da Associação Presas de Sangue. Ela implantou uma Semente da Simbiose em seu corpo e depois só precisou comer por dois.
Então a habilidade dela também pode ser usada desse jeito?! — Roland achou isso incrível, pois essa simbiose não só o manteve vivo, como também conservou todos os músculos de seu corpo. Em outras palavras, essa simbiose conseguia conectar dois corpos para compartilhar um só sistema corpóreo.
Roland suspirou e olhou para o balde de madeira que havia caído das mãos de Anna e derramado água morna no chão.
— Obrigado por cuidar de mim por todos esses dias.
Alguém deve ter limpado meu corpo e mudado minhas roupas durante esses cinquenta e dois dias. Somente Anna, que é cuidadosa e paciente, poderia fazer um trabalho tão complicado como esse dia após dia. — Roland pensou.
— Comparado com o que você fez, isso não foi nada de mais. — Anna disse gentilmente. — Você honrou sua promessa com as bruxas. Você derrotou as forças da Igreja. Cada bruxa da União das Bruxas gostaria de mostrar gratidão a você. Se não fosse eu, alguma outra bruxa com certeza se ofereceria para ser sua cuidadora.
— Mas eu preferiria que fosse você tomando conta de mim. — Roland olhou para Anna e a beijou.
Após beijos e mais beijos, Anna disse com suas bochechas coradas:
— Bem… Eu vou contar para as outras bruxas que você acordou. Elas vão adorar saber disso.
— Ou podíamos continuar? — Roland disse com um sorriso maroto.
Anna inclinou a cabeça subconscientemente e disse:
— Você acabou de acordar, por isso é necessário que repouse…
— Mas eu me sinto cheio de energia.
— A resposta ainda é não… Esqueça isso de “continuar”. — Anna levantou a mão e deu alguns tapinhas em Roland. Em seguida, ela se levantou, pegou o balde de madeira no chão, caminhou em direção à porta relutantemente e disse: — Volto já.
— Eu já dormi o bastante, então não precisa ficar preocupada. — Roland mostrou um sorriso.
Depois que Anna fechou a porta, Roland franziu as sobrancelhas.
Por que eu dormi por tanto tempo? Isso tem algo a ver com o fenômeno estranho em meu sonho? — Roland pensou, sentindo-se inquieto.
Geralmente falando, depois que as pessoas acordam de um sonho, elas rapidamente começam a se esquecer de várias partes, e em menos de um dia, nem mesmo se lembram do que sonharam. Mas até agora, Roland ainda lembrava claramente o que havia acontecido no sonho.
Aquela adolescente realmente era Zero? Mas por que ela me chamou de tio? Além disso, a expressão de surpresa no rosto dela parecia genuína. — Quanto mais Roland lembrava, mais ele achava estranho.
A cidade em seu sonho definitivamente não era um lugar que ele viveu no passado. A faculdade que apareceu na TV era uma prova disso. A faculdade em sua memória havia sido construída ao lado de uma montanha e ficava rodeada por natureza. Entretanto, quando viu o noticiário na TV, Roland notou que havia vários prédios e arranha-céus ao redor da faculdade.
Também havia algo de estranho com o edifício de apartamentos. Aqueles corredores, que passavam pela frente do edifício ao invés do meio, faziam parte de uma arquitetura antiga, como a dos anos 70 ou 80. Esse edifício antigo criava um grande contraste quando comparado com os outros prédios da cidade, que eram todos modernos.
Além disso, a porta verde-escura antirroubo e o ventilador de mesa antigo não combinavam com a TV colorida moderna pendurada na parede. Ninguém decoraria sua casa assim, a não ser que o dono tivesse algum tipo de hobby especial.
Tudo parecia tão real e irreal ao mesmo tempo.
Será que Zero criou esse pesadelo para me confundir?
Enquanto Roland ainda estava perdido em pensamentos, barulhos vieram de trás da porta.
Um grupo de bruxas invadiu o quarto e o cercou. Rodeado por tantas delas, Roland se sentiu um pouco envergonhado.
— Ehhh… Resumindo, estou bem. Nesses dias…
Antes que pudesse terminar de falar, Raio pulou na cama e o abraçou pelo pescoço.
— Ainda bem. — Wendy colocou as mãos no peito e disse animadamente. — Você finalmente acordou.
Lily franziu os lábios e disse:
— Que cara problemático, deixando a gente preocupada.
Luna murmurou:
— Você? Preocupada com os outros? Isso é raro.
— Ao contrário das bruxas, as pessoas normais são muito frágeis. — Agatha pegou uma Pedra da Aferição, colocou entre seus olhos e Roland, e continuou a dizer: — É… Não há nenhuma reação mágica. Parece que você não herdou nenhuma habilidade de Zero. E quanto às memórias? Obteve alguma memória da Papisa?
Roland ficou um pouco surpreso e perguntou:
— Como você sabe disso?
— Conseguimos capturar uma bruxa pura da Igreja. Ouvimos isso dela.
— Sé-Sério? Bem… Parece que eu não herdei nenhuma memória de Zero.
— Espere um momento. E se ele não for o antigo Príncipe Roland? Talvez ele tenha sido corrompido pelas memórias de Zero. — Cinzas de repente falou. — Quem pode provar que ele é Roland, e não Zero?
— Deixa de coisa. Você só sabe criar confusão? — Andrea revirou os olhos para Cinzas e disse.
— Eu tenho certeza de que ele é Sua Majestade, Roland. — A voz de Rouxinol veio do outro lado da cama, mas para a surpresa de Roland, ela estava invisível.
Em seguida foi Nana, Pergaminho, Ramos… Ao receber tanto carinho das bruxas, Roland sentiu seu coração aquecer.
A última foi Tilly.
Ela segurou a mão de Roland e disse com um sorriso no rosto:
— Bem-vindo de volta, meu irmão!
Que desperdício, perdeu 200 anos de memórias kkkkkkkkk