[NT: Antes de começarem a ler este capítulo, saibam que “a Escolha Divina” é um termo que foi traduzido de “The Chosen One”. Ou seja, na verdade era pra ser “O Escolhido” ou “A Escolhida”. Primeiramente eu traduzi para “O Escolhido”, mas recebi uma melhor sugestão do meu irmão para colocar a “Escolha Divina” e, assim, não precisar se preocupar em retratar “The Chosen One” como uma mulher ou um homem, já que no português temos que escolher um gênero de antemão. Por isso, decidi deixar como: A Escolha Divina. E por vezes será retratado como: A Escolha.]
A voz feminina ressoou diretamente na mente de Banach.
— Por favor, sinta-se à vontade para conversar comigo. O que aconteceu lá em cima?
Ao invés de falar, ele precisava apenas sussurrar em seu coração para dar uma resposta. Embora difícil de se acostumar no início, Banach tinha que admitir que essa forma de comunicação era mais efetiva e rápida, além de ser mais difícil de mentir.
Banach contou à Oráculo, através de seus pensamentos, o que havia acontecido.
— Santa Oráculo, algo inesperado ocorreu. Elas não aceitaram o convite do Embaixador de Castelo Cinza. Isso é culpa minha. Eu não esperava que elas estivessem tão relutantes em abaixar a guarda.
A Oráculo não o culpou, e disse melancolicamente:
— É difícil prever o que os outros pensam. Você tem algum plano B para resolver isso?
— Elas vão aceitar o convite do Embaixador. É só uma questão de tempo. — Ele parou por um momento. — Falo isso devido à nova política de Sua Majestade Appen Moya.
— Tsc… Típico de homem comum…
Banach ficou espantado e perguntou:
— O que posso fazer pela senhora, Santa Oráculo?
— Eu não gosto dessa política de eliminação de bruxas. Você pode garantir que ninguém vai se machucar?
— Eu… — Banach ficou sem saber o que dizer, pois ele sabia que essa política, uma vez implementada, tornaria inevitável que algumas bruxas fossem capturadas ou até mesmo mortas. Já que a Oráculo havia apenas ordenado que ele levasse as bruxas para o sul em direção à Região Oeste do Reino de Castelo Cinza, e não que ele garantisse a segurança das bruxas, ele havia pensado que não precisaria se preocupar em quantas conseguiriam sobreviver durante a jornada.
— É ISSO O QUE VOCÊ PENSA?! — A Oráculo levantou a voz de repente. Todos os tentáculos dela se contorceram, e a lava abaixo começou a se agitar furiosamente. — NÃO SE ESQUEÇA DO QUE EU TE DISSE. ANTES DO GRANDE CAOS, CADA BRUXA É ESSENCIAL!
Pelo jeito que ela reagiu, Banach entendeu que havia acontecido algo de errado. Logo em seguida, ele lembrou que estava conversando por pensamentos. Ou seja, tudo o que ele acabou de pensar havia sido transmitido diretamente para ela. Ele rapidamente explicou:
— Não, Santa Oráculo. Eu me lembro de cada palavra que a senhora disse. Eu também não quero machucar nenhuma pessoa inocente, mas para atender ao pedido da senhora, precisarei de mais tempo para reorganizar as coisas. Afinal, nem todos possuem a coragem para desafiar a autoridade do rei, e nem todos são confiáveis.
A Oráculo respondeu rapidamente:
— Mandarei meus guardas para ajudá-lo. Quanto tempo demorará?
Banach soltou um suspiro de alívio, já que ele havia presenciado o poder desses guardas. Geralmente falando, os cavaleiros não chegavam aos pés deles; alguns nem conseguiriam ver seus movimentos claramente. Se dois ou três desses guardas lutassem juntos, poderiam derrotar de vinte a trinta soldados, o que também revelava o quão extraordinariamente poderosa era o poder da Oráculo.
— Eu consigo concluir o terceiro passo do plano em duas semanas.
— Tudo bem, faça-o.
— Santa Oráculo… — Banach hesitou e continuou. — As bruxas são tão importantes assim? Elas são as únicas abençoadas pelas divindades? Em termos de poder ou riqueza, eu conheço um candi…
A Oráculo interrompeu:
— …Um candidato melhor para ser a Escolha Divina? Você não sabe de nada. Nenhuma riqueza ou poder sobreviverá frente ao Grande Caos. As divindades procuram por um salvador que saiba como usar o poder divino, e não uma pessoa influente ou rica. Homem comum, você é útil, de fato, então quando a missão for concluída, eu lhe concederei uma recompensa apropriada, tal como a imortalidade, mas você também precisa conhecer o seu lugar.
Banach sabia do Grande Caos. A cada 400 anos, uma lua sangrenta apareceria no céu e então os Portões do Inferno seriam abertos. Demônios sairiam aos montes desses portões, massacrando os seres humanos por todo o continente, e a única pessoa que poderia resistir a esses cruéis inimigos era a Escolha Divina. Hoje, por meio da conversa com a Oráculo, ele sabia um pouco mais sobre essa Escolha Divina. A Oráculo parecia estar procurando alguém que poderia se conectar diretamente com as poderosas divindades, e esse alguém era uma bruxa.
Não querendo desistir, ele perguntou novamente:
— Mas… A senhora tem certeza de que a Escolha Divina está definitivamente entre as bruxas do Reino de Castelo Cinza?
A Oráculo permaneceu quieta por um momento, o que não era algo normal. Após isso, ela disse:
— Ninguém sabe a resposta. Essa é apenas outra tentativa. Apenas uma das muitas que fizemos nos últimos séculos.
— E se também não conseguirmos encontrar a Escolha Divina desta vez?
— Nós continuaremos procurando até a chegada do Grande Caos, quando o mundo humano será completamente destruído.
Quando Banach pensou em como seria inútil se tornar um imortal se todos os seres humanos morressem, ele sorriu amargamente e prometeu:
— Entendo. Eu farei o meu melhor para concluir a missão.
Todos os tentáculos da sarcoma dançaram simultaneamente, indicando que a Oráculo estava contente.
— Tem outra coisa que eu quero perguntar… É verdade que a Igreja foi derrotada?
Desde que a notícia de que a Igreja havia sofrido uma derrota acachapante chegou no Reino do Alvorecer, a Oráculo havia se mostrado especialmente interessada nesse assunto. Ela até mesmo havia ordenado que Banach mandasse seus homens para a Serra do Vento Congelante, a fim de confirmar a veracidade da informação.
— Sim, no sopé da Serra do Vento Congelante, o campo de batalha ficou tão destruído que parecia ter sido pisoteado por incontáveis bestas demoníacas, com buracos imensos por todo lugar. Também havia milhares de túmulos espalhados. Segundo os nativos, o Rei de Castelo Cinza havia queimado os cadáveres dos guerreiros da Igreja e os enterrado logo em seguida. Já os soldados mortos do exército dele foram levados para a Região Oeste a fim de receberem um enterro digno. Comerciantes que passaram pelo Platô de Hermes nos contaram que a prosperidade já não habita mais na Cidade Sagrada, e que apenas o silêncio mortal impera lá.
Ouvindo isso, a voz da Oráculo imediatamente ficou suave.
— Então esse é o fim delas… — Após um momento, ela rapidamente se recuperou e disse: — Isso é tudo por hoje. Estou cansada.
— Sim, Santa Oráculo.
A “cortina de luz” desapareceu como uma maré vazante, deixando-os na escuridão. Em seguida, as pedras mágicas acenderam, iluminando a sala de pedra.
Tudo o que havia acontecido parecia ter sido um sonho.
Um guarda se aproximou de Banach e passou um frasco de porcelana para ele, dizendo:
— Aqui está sua medicina. Beba. A Santa Oráculo ficou muito satisfeita com o seu trabalho recente.
O-Obrigado, Santa Oráculo. — Bastante empolgado, Banach pegou o frasco e bebeu o líquido contido dentro.
Logo após fazer isso, ele sentiu uma corrente de calor fluindo de seu estômago e rejuvenescendo todo o seu corpo. Essa medicina poderia fazer ele se sentir mais forte e cheio de energia, mas esse efeito não duraria para sempre. E também não expandiria o seu tempo de vida. Segundo o que a Oráculo havia dito, essa medicina poderia apenas melhorar sua saúde, aliviar sua fadiga e restaurar o vigor de seu corpo num curto espaço de tempo. Ela também havia dito que antes de ele receber a imortalidade, ele precisava tomar esse medicamento para fortalecer seu corpo frágil. Caso contrário, a forte dor durante o processo que o tornaria imortal o rasgaria em pedaços.
A honestidade da Oráculo em contar-lhe a verdade sobre essa medicina fortaleceu ainda mais sua crença nela, pois ele acreditava que se ela tivesse mesmo a intenção de enganá-lo, teria falado que o consumo contínuo dessa medicina mágica poderia dar-lhe a imortalidade, e ele com certeza teria acreditado.
Três anos atrás, ele havia entrado neste lugar sendo empurrado numa cadeira de rodas por um servo. Hoje, pelo menos, ele poderia ficar de pé e caminhar sozinho. Essa foi a melhora que a medicina havia lhe trazido.
Banach estava confiante de que se ele pudesse obter a imortalidade após concluir a missão passada pela Oráculo, todos os problemas complicados que ele tinha poderiam ser facilmente resolvidos.
Ele passou pela porta e caminhou em direção às escadarias do Monte Rochoso, com suas costas e cabeça eretas.
Sentindo-se totalmente diferente da última vez que ele havia visitado a sala de pedra, neste momento ele estava completamente cheio de energia, e nem mesmo os ventos frios e úmidos o incomodavam. Seus passos estavam firmes, e o barulho estrondoso do rio subterrâneo soava como cornetas de guerra, encorajando-o a avançar.
Intrigante
Talvez essa Oráculo seja alguma sobrevivente do segundo grupo que fugiu de Taquila?