Sobre o que havia acontecido de manhã, Roland ainda se sentia bastante surpreso.
Como podia uma mera pessoa como ele de repente se tornar a Escolha Divina?
Hoje de manhã, quando ele acordou e Agatha contou a ele tudo o que havia acontecido, ele pensou que tinha ouvido errado. Mas já que todas as bruxas haviam confirmado a história, ele havia decidido acreditar nelas naquele momento. Ele sabia que Phyllis certamente não esperaria por esse resultado, então ele decidiu convidá-la para visitá-lo durante o cochilo da tarde, como uma forma de fortalecer a confiança e credibilidade entre eles.
Roland provavelmente havia se tornado uma pessoa mais calma, ou simplesmente era muito preguiçoso… Enfim, quando ele se deitou no sofá do escritório depois de ler algumas páginas de Matemática Avançada, ele logo caiu no sono. Quando ele acordou novamente, a primeira coisa que ele viu foi Rouxinol puxando a pistola e Phyllis caindo no chão, inconsciente.
Contudo, Roland não acreditava que a tal “Escolha Divina” fosse realmente a única salvação da humanidade. O que aconteceu foi que as bruxas de Taquila haviam depositado muita esperança na Escolha Divina, considerando-a como a única opção de salvação.
Sem dúvida alguma, o que elas encontraram nas ruínas devia ser bastante extraordinário, já que fez as Três Líderes da Aliança se oporem em tempos de tremendo desastre. Contudo, ele duvidava se essa descoberta realmente possuía um poder comparável às divindades e pudesse destruir todos os demônios de uma só vez. Afinal, se isso realmente fosse tão poderoso quanto à criação das divindades, como podia o criador dessa “coisa” desaparecer silenciosamente num labirinto subterrâneo?
Claro, ele precisava ter uma conversa mais aprofundada com as sobreviventes de Taquila para saber mais sobre esse assunto.
E o fato de que seu sonho podia ser observado indiretamente provava sua hipótese. O Mundo dos Sonhos realmente não havia sido criado inteiramente por sua consciência. Os inúmeros detalhes do sonho iam muito além da capacidade de seu cérebro. Algum outro ser havia criado este mundo com base no material abundante fornecido por ele, Roland.
De primeira, ele havia assumido que as bruxas eram os terminais da transformação do poder mágico. Agora parecia que existia uma barreira entre o terminal e o poder mágico. Era como se fosse uma caixa preta misteriosa que executava as ordens das bruxas. Em outras palavras, a natureza da habilidade das bruxas era similar ao Mundo dos Sonhos. A única diferença era que ele, Roland, não possuía poder mágico para visualizar isso[1].
Parecia que, após derrotar Zero, ele inesperadamente havia obtido acesso à barreira, e nada mais[2]. A complexidade das ordens provavelmente era determinada pela dificuldade da visualização, e não pela força e uso da respectiva habilidade. Quanto mais próximo a habilidade estivesse da essência do poder mágico, mais fácil seria a transformação. Por exemplo, a conversão direta do poder mágico em luz e calor certamente era mais fácil do que criar objetos do nada, porém, possuía um poder absolutamente destrutivo.
Esse era um dos motivos de Roland estar tão interessado nas ruínas. Os feixes de luz do Anel Mágico eram, na opinião de Roland, formas de “enviar ordens”. E se isso podia ser observado, provavelmente também havia ferramentas que podiam imitar o envio de ordens, ou seja, substituir o funcionamento de uma bruxa… Fato é, o estudo do poder mágico encontrado nessas ruínas muito provavelmente estava num patamar muito superior ao alcançado pela Aliança. Além disso, também havia os títulos divinos como “A Escolha Divina” e o “Instrumento da Retribuição Divina”; seriam essas as sementes da nova tecnologia?
Só isso já era o bastante para induzi-lo a querer falar com as bruxas de Taquila.
Já que a “Escolha Divina” acabou sendo uma pessoa comum, isso com certeza causaria um grande impacto negativo na confiança dessas bruxas de Taquila, portanto, Roland havia decidido convidar Phyllis para conhecer as forças da nova era antes de realizar novas negociações.
Para conseguir um melhor efeito de “persuasão”, ele convocou Machado de Ferro para o escritório.
— Como está a situação das bestas demoníacas recentemente?
— Há poucas bestas demoníacas, Vossa Majestade. A equipe de patrulha consegue lidar com elas facilmente. — O homem da Nação da Areia respondeu após prestar continência.
— Bem, eu pretendo realizar um exercício de disparo de canhões. Eu quero que seja impressionante, mas também quero minimizar o desperdício.
O Comandante Geral do Primeiro Exército ponderou por um momento e perguntou:
— O senhor se refere… a utilizarmos munição sem pólvora?
Roland riu, dizendo:
— Não, só precisamos mostrar nossos pontos fortes. Por exemplo, quando quisermos mostrar precisão de disparo, devemos usar munição de artilharia normal; e quando quisermos mostrar poder de fogo, devemos usar explosivos. Entendeu?
— Sim, Vossa Majestade. — Machado de Ferro assentiu com a cabeça imediatamente.
As munições vazias normalmente eram utilizadas em treinamentos. Não era necessário desperdiçar ogivas explosivas para impressionar a multidão. Explosivos acionados por fios elétricos também podiam criar efeitos chocantes, ou até melhores.
Roland rapidamente explicou a ideia em sua mente:
— Eu espero que a explosão final seja assustadora. Então pode caprichar na pólvora.
— Vossa Majestade, mas isso pode afetar a operação do Batalhão de Artilharia…
Roland balançou a cabeça e disse:
— Não importa. Na verdade, eu pretendo acabar gradualmente com as armas de pólvora negra[3], tal como os canhões de 12 libras, que não são mais adequados para a guerra que teremos no futuro.
O cano pesado, a baixa velocidade de disparo e a pequena taxa de letalidade das bolas sólidas haviam tornado impossível a continuação do uso desse tipo de canhão. A batalha no sopé da Serra do Vento Congelante havia demonstrado claramente que os canhões de 12 libras possuíam uma taxa de letalidade limitada, especialmente frente a um ataque dispersado com inimigos que se moviam rapidamente. A maioria dos Guerreiros da Punição Divina haviam sido mortos pelas metralhadoras pesadas e Canhões Cancioneiros, enquanto que apenas cerca de cem azarados haviam sido esmagados pelas bolas sólidas de ferro.
Além disso, era muito difícil transportar esse tipo de canhão, o que limitava ainda mais o seu uso. Já os rifles de repetição ainda podiam ser usados por enquanto. Afinal, o consumo de pólvora das balas era muito menor. Mesmo se usassem metade de todas as balas disponíveis na Cidade de Primavera Eterna, ainda não causaria um grande impacto no estoque de pólvora.
Com a ajuda do Mundo dos Sonhos, o Novo Plano de Reforma Química de Roland já estava em preparação. O crescimento constante da produção de pólvora de base dupla lhe havia permitido eliminar as armas de pólvora negra.
Os olhos de Machado de Ferro se iluminaram, e ele disse:
— O senhor criou uma nova arma alternativa?
Roland sorriu, pegou um pedaço de papel na gaveta e o abriu em cima da mesa. Ele explicou:
— É um tipo de canhão com ângulo ajustável, que pode atirar a curtas ou longas distâncias. Ele também pode ser desmontado e carregado por algumas pessoas. Tem um excelente poder de fogo, e também é fácil de produzir e operar. O que você acha?
Machado de Ferro se curvou para ver o desenho cuidadosamente antes de dizer:
— Eh… Sinto muito, Vossa Majestade. Eu só consigo imaginar como vai ser a forma dele… Parece um tubo de ferro, mas é um pouco fino. Será que ele realmente consegue atirar munições de artilharia?
— Claro que consegue, mas teremos que produzir uma munição de artilharia específica. No entanto, essa munição de artilharia é muito mais fácil de produzir do que as ogivas explosivas de 152mm.
— Essa nova arma tem um nome?
— Você pode chamá-la de morteiro. — Roland respondeu.
[1] – Resumindo o que eu acho que Roland disse: Ele achava que as bruxas criavam diretamente a própria magia, mas percebeu que as bruxas na verdade dão uma espécie de “ordem” para “algo” ou “um certo fenômeno” criar a magia. Essa “barreira” é o caminho para o poder mágico, mas para acessá-la, você precisa “compreendê-la”, ou seja, ter a “Chave” para enviar ordens.
[2] – Aqui Roland fala que ele provavelmente tem acesso a essa “barreira” deixada por Zero, mas como ele não é uma bruxa, não consegue compreendê-la. Foi o que eu entendi.
[3] – Pólvora negra foi o primeiro tipo de pólvora a ser inventada. Ela é inferior à pólvora de base dupla, que quase não deixa fumaça.