Durante a pesquisa de canhões, ele havia considerado muitos planos possíveis.
Diziam que não havia arma perfeita, e sim a mais apropriada. Após levar em consideração os futuros inimigos, o ambiente do campo de batalha e os limites de produção da Cidade de Primavera Eterna, ele finalmente havia decidido usar os morteiros para substituir os canhões de doze libras. Os morteiros poderiam ser usados em combates de curto e longo alcance, e possuíam um baixo custo de produção.
Seu alcance de disparo variava de 200 a 3000 metros. Isso poderia preencher a lacuna deixada entre as metralhadoras pesadas e os Canhões Cancioneiros de 152mm, enquanto que ao mesmo tempo fortalecia o poder de fogo em ataques de curta distância.
Uma de suas vantagens em relação às outras armas similares era que podia ser carregado pelos soldados por todo tipo de terreno. Eles podiam montar uma estação de artilharia a qualquer momento que precisassem. Além disso, o terreno irregular de uma montanha permitia que o ângulo ajustável do morteiro pudesse ser utilizado da maneira mais efetiva possível.
Mas o maior motivo que fez Roland ter decidido criar os morteiros foi o nível de produção da Cidade de Primavera Eterna.
A construção do morteiro era muito mais simples do que a do obus. A munição de artilharia do morteiro podia ser produzida a partir do ferro gusa, e já que não precisava de estriamento[1], era muito mais fácil de produzir sem afetar a produção dos Canhões Cancioneiros de 152mm. Além disso, se ele fosse desenvolver outro tipo de canhão, cujas partes incluíam o duplicador, o cano estriado e a munição de artilharia, muito provavelmente isso entraria em conflito com os Canhões Cancioneiros que atualmente estavam sendo produzidos.
Roland também considerou o desenvolvimento de granadas como uma arma suplementar e até mesmo havia feito alguns protótipos para teste, mas a performance dos protótipos com pólvora negra havia sido ruim. Talvez pudessem ser usadas na unificação do Reino de Castelo Cinza, mas quando o assunto era lutar contra as bestas demoníacas e demônios, o poder das granadas ainda não era o suficiente.
Considerando que a capacidade de produção da indústria química da Cidade de Primavera Eterna não era o suficiente para fornecer um número razoável de granadas de pólvora de base dupla para os soldados, Roland pôde apenas desistir dessa ideia.
Quando a noite caiu, Roland desceu as escadas e bateu lentamente na porta do quarto de Anna.
Ao ouvir a batida, Anna abriu a porta. Uma expressão de surpresa apareceu no rosto dela quando ela viu que era Roland.
A surpresa dela durou apenas alguns segundos e logo as bochechas dela ficaram vermelhas.
Depois que Roland entrou no quarto, ele a abraçou por trás e a levou para a cama.
— Por que você veio hoje?
Os olhos azuis de Anna brilhavam como as estrelas do céu.
Ela normalmente ia para o quarto de Roland de duas a três vezes por semana, já que acreditava que essa frequência não afetaria a rotina de nenhum dos dois. Claro, se Roland insistisse, ela não o recusaria.
Desde que Roland confessou que gostava de Rouxinol, ele se sentia culpado e sempre evitava falar disso com Anna.
Essa também era a primeira vez que ele visitava o quarto de Anna.
— Eu quero conversar com você sobre o Mundo dos Sonhos. — Roland disse perto do ouvido dela. — Eu não tive tempo pra falar disso com você hoje à tarde. Talvez você queira saber sobre… as minhas experiências nesse mundo.
— O mundo que só aparece quando você dorme?
— Sim. Esse mundo foi criado de acordo com as minhas memórias, mas também contém elementos especiais, tais como a Força da Natureza, que lembra o poder mágico.
Na noite que ele havia contado a verdade para Anna, Roland havia descoberto que ela já sabia que ele gostava de Rouxinol. Desde aquele momento, ele finalmente havia entendido a forma como Anna lidava com as coisas. Na frente dele, ela normalmente não esconderia o que sentia e pensava, mas para algumas coisas, ela esperaria pacientemente porque não queria constrangê-lo.
Isso fez Roland se sentir um pouco preocupado, já que não sabia quais eram os limites dela. Se uma ou duas coisas continuassem a acumular, ela só se tornaria mais calada com o passar do tempo, esperando pelo resultado em silêncio.
Por isso, Roland havia decidido nunca esconder nada dela. Mesmo se ela não perguntasse, ele contaria tudo a ela.
Anna, que aparentemente entendeu os pensamentos dele, sorriu e disse:
— Eu sei. Vamos começar por onde você mora. No sonho, você também mora num castelo?
— Não, eu moro num apartamento antigo e simples. Ah sim, adivinhe quem mora comigo.
— Hmmm… Não me diga que é Zero?
— Anh… Enh… Como você adivinhou?
— É simples. Você disse que começou a ter esse sonho após derrotar Zero na Batalha das Almas, então, de algum modo, ela também influenciou na criação desse sonho. Num mundo criado por vocês dois, não é estranho que você e ela apareçam no mesmo lugar. Mas… ela por acaso te atacou?
— Não, não me atacou. Ela perdeu todas as memórias deste mundo e se tornou uma garota de dez anos de idade. Mas apesar de ela não saber de nada, ela ainda age como se fosse uma sabichona.
— Garota de dez anos, e vocês moram juntos… Ela se tornou parte de sua família?
— Hmmm… Os pais dela deixaram ela comigo. Ela é como se fosse uma inquilina.
— Sério? Então cuide muito bem dela.
— Por quê? É apenas um sonho.
— Mas não foi você mesmo que disse que parece o mundo real? Se esse é o caso, por que você diferencia?
Roland mais uma vez ficou surpreso pelo modo único como Anna pensava. A discussão parecia estar tomando um rumo diferente, mas ele não se importava, já que estava vendo o sorriso radiante estampado no rosto curioso de Anna.
Eles falaram do Apartamento de Almas, do fragmento de memória, da Força da Natureza, da Associação Marcialista, etc. Quando estavam prestes a terminar, a voz de Anna começou a ficar baixa e, rapidamente, ela pegou no sono nos braços de Roland. Embora ela estivesse dormindo, a outra mão dela segurava firmemente a cintura de Roland, como se não quisesse que ele fosse embora. Sendo assim, seria impossível ele voltar para o seu quarto sem acordá-la.
— Deixa pra lá. — Ele decidiu passar a noite ali, esperando que ninguém fosse ver ele saindo do quarto de Anna na manhã seguinte.
Roland beijou a testa de Anna e fechou os olhos, com ela em seus braços.
[1] – Estriamento é o processo pelo qual ranhuras helicoidais no cano de uma arma ou arma de fogo conferem uma rotação a um projétil em torno do seu eixo mais longo. Esse giro serve para estabilizar o projétil giroscopicamente, melhorando sua aerodinâmica, estabilidade e precisão.