Impressionado com o resultado, Roland ficou perdido em pensamentos.
Esse Portador Central podia efetuar multiplicações com nove dígitos de resultado. Independentemente do método utilizado, seja adição ou multiplicação por coluna, o Portador havia conseguido encontrar a resposta correta em menos de um segundo. Isso indicava que suas habilidades de cálculo eram muito melhores que as das pessoas comuns. Embora só pudesse responder “sim” ou “não”, esse Portador seria de grande ajuda para a Academia de Aritmética. Esse Ser-de-Tentáculos poderia conferir os resultados de cálculo dos integrantes da academia, o que diminuiria os erros de cálculo dos projetos mais complexos e grandes.
Roland se agachou animadamente, sorriu como uma criança, alisou um dos tentáculos principais do Portador Central e disse:
— Você é brilhante!
Pasha o lembrou:
— Vossa Majestade, ele não consegue se comunicar com o senhor diretamente.
— Como não? Ele consegue entender minhas palavras e até mesmo me responder com sim ou não. Isso já conta como uma forma de comunicação. — Roland acreditava que comunicação, em essência, era apenas uma forma de receber e enviar informações. Poderia ser dito que o Portador Central apenas tinha dificuldade em expressar pensamentos e por isso não conseguia se comunicar como uma pessoa normal. Roland não se sentiu nem um pouco desanimado com isso. Ele queria descobrir se o Portador Central realmente estava limitado a respostas de sim ou não.
Após pensar um pouco, ele disse:
— Agora suponha que brilhar um tentáculo signifique “um” e brilhar dois tentáculos signifique “dois”. Você pode me mostrar um “três” com seus tentáculos?
A pergunta parecia muito mais simples que a multiplicação de números grandes, mas servia para um propósito completamente diferente. Se o Portador Central conseguisse mostrar a resposta correta para essa pergunta, indicava que esse Ser-de-Tentáculos poderia entregar feedbacks mais elaborados. Além disso, o Portador também poderia mostrar diretamente os resultados do cálculo de algum jeito.
No entanto, o Portador Central não respondeu imediatamente como antes. Após alguns segundos, um dos tentáculos principais começou a brilhar, em seguida, o segundo começou a reluzir bem fraco, mas o terceiro permaneceu escuro.
De acordo com Celine, isso indicava que o que Roland disse estava “30% correto”.
No entanto, o sinal não durou muito tempo.
O brilho fraco do segundo tentáculo desapareceu rapidamente, seguido do primeiro, deixando os três apagados.
— Então a resposta é um não? — Ele se perguntou em voz alta.
— Isso… — Celine suspirou levemente e explicou. — Isso está além da capacidade do Portador Central. Ele se confunde ao tentar responder à pergunta de uma forma mais complicada. — Ela parou, mas logo continuou. — Ao longo desses anos, nós tentamos de tudo. Pedimos para ele expressar ideias simples ou pronunciar palavras curtas. No entanto, quando ele descobre que não consegue responder à pergunta com um simples “sim” ou “não”, o processamento dele fica muito mais lento e ele acaba ficando confuso, do mesmo jeito que aconteceu agora.
Franzindo as sobrancelhas, Roland perguntou:
— Isso significa que eu causei algum tipo de entrave no cérebro dele? Ele está… bem?
Celine balançou os tentáculos, respondendo:
— Ele ficará bem após um momento de descanso. Uma vez eu tentei fazer perguntas contraditórias a ele. Como resultado, ele ignorou o resto de nossas perguntas por algumas semanas.
Agora Roland tinha certeza que esse bio-computador seria difícil de lidar, mas ele ainda assim não queria desistir do plano de criar um novo sistema de comunicação para ajudar o Portador Central a expressar ideias mais complexas. Por ser capaz de checar os resultados dos cálculos, estava claro que o Portador Central sabia as respostas corretas, mas não conseguia expressar o valor com seus tentáculos.
No entanto, formular sistemas como esse não era a especialidade de Roland. Já que engenheiros e programadores não costumavam se dar muito bem, Roland sabia muito pouco de programação. Após pensar um pouco, ele desistiu da ideia de continuar estudando esse Portador Central, pelo menos por enquanto.
— A propósito, eu lembro que você disse que os Portadores precisam de terra e calor para continuar funcionando. Tem algum magma por aqui?
Pasha respondeu:
— Fran ainda não cavou tão fundo assim, mas já descobrimos um rio subterrâneo bem quente por aqui. Então é questão de tempo até encontramos uma fonte de lava. Além disso, eu constantemente sinto o cheiro de enxofre nesse rio subterrâneo. Podemos nos banhar nele enquanto não achamos magma. Quanto ao Portador Central, nós o banhamos com água fervendo de dois em dois dias, portanto, o senhor não precisa se preocupar.
Ao saber que o magma não era algo indispensável para os Portadores e que a água podia ser usada como uma substituta, Roland ficou animado ao pensar que ele só precisaria ferver uma quantidade de água para alimentar esse Portador Central caso quisesse movê-lo para a Academia de Aritmética um dia.
Roland sabia que ainda não era o momento certo para fazer esse pedido, já que as bruxa de Taquila mal haviam chegado na Cidade de Primavera Eterna. Além disso, certamente os astrólogos da Academia de Aritmética não conseguiriam manter a compostura ao verem esse monstro gigante cheio de tentáculos.
Ele primeiramente teria que estabelecer uma confiança mútua com as bruxas de Taquila durante a exploração das Montanhas Nevadas, para só então fazer esse pedido delicado.
Depois que Roland saiu da sala secreta e terminou sua excursão pela Terceira Área Fronteiriça, ele começou a pensar sobre os planos para esse lugar. No momento, só uma parte dessa fortaleza subterrânea havia sido construída, servindo apenas como uma residência temporária para as bruxas de Taquila. Somente quando os túneis se conectassem aos inúmeros picos da Cordilheira Intransponível, é que esse lugar poderia ser visto como uma verdadeira fortaleza subterrânea. Com as instalações de artilharia e fortificações militares na superfície, o local seria incorporado como parte da linha defensiva externa da Cidade de Primavera Eterna.
Assim que Roland retornou ao escritório, ele convocou todos os oficiais da Prefeitura para realizar uma reunião no salão do castelo. Uma “cortina de luz” se materializou lentamente na frente deles e, por fim, envolveu todo o salão.
Embora Roland já os tivesse alertado do que veriam a seguir, os rostos dos oficiais ainda mudaram drasticamente quando viram os Seres-de-Tentáculos. O jovem Ministro da Agricultura, Sirius Daly, até mesmo deixou a xícara de chá cair na mesa acidentalmente; Barov não parava de enxugar o suor na testa; Kyle Sichi e o Astrólogo Estrela da Dispersão olhavam, incrédulos, para a “cortina de luz”. Se não fosse o rei, que ainda estava sentado calmamente na cadeira, eles provavelmente já teriam corrido com o rabo entre as pernas.
Roland olhou para eles e notou que a única pessoa que havia permanecido relativamente calma era a Pérola da Região Norte, Edith, que, embora tivesse se assustado um pouco no início, parecia bastante animada e curiosa. Roland também notou que neste momento ela olhava para ele com mais respeito.
Ele tinha que admitir que tentar entender as mulheres era algo muito complicado.
Tirando Edith, as reações de todos os outros oficiais da Prefeitura estavam dentro das expectativas de Roland.
Já que ele estava disposto a formar uma Frente de Batalha com as sobreviventes de Taquila para lutar contra os demônios, ele sabia que não poderia esconder a existência delas para sempre. Diante disso, ele achou que seria melhor apresentar as bruxas para os oficiais antes que qualquer um na Prefeitura notasse algo estranho nas montanhas ao norte da Cidade de Primavera Eterna.
Ele também acreditava que dois anos de trabalho na Prefeitura muito provavelmente havia expandido o horizonte deles e os deixado mais mente aberta.
No entanto, depois que Roland explicou para eles quem eram esses Seres-de-Tentáculos e de onde vieram, e como ele planejava explorar as Montanhas Nevadas com as bruxas de Taquila, a maioria dos oficiais não pareceu concordar. Se eles não conhecessem as bruxas da União das Bruxas, eles já teriam tratado essas bruxas anciãs como monstros hediondos, assim como os demônios.
Barov, o Diretor da Prefeitura, disse que era tarde demais para começar um novo plano orçamentário para essa exploração, já que o Departamento de Finanças estava muito ocupado com os trabalhos administrativos de fim de ano. Ele também expressou preocupação com uma possível vulnerabilidade da Área Fronteiriça se eles tivessem que despachar tropas adicionais para essa expedição, pois o Primeiro Exército já estava desfalcado com os soldados que tiveram que ir para o Extremo Sul.
Com uma nítida desconfiança em relação às bruxas de Taquila, o Cavaleiro Chefe, Carter, duvidou da segurança dessa ação conjunta e até mesmo destacou os perigos que poderiam surgir a partir dos conflitos internos da equipe de exploração.
Sirius, o Ministro da Agricultura, falou do estoque de grãos, que dificilmente conseguiria atender à demanda necessária para esse plano, o que poderia causar uma escassez de comida e, consequentemente, espalhar o pânico entre os residentes da cidade.
Karl, o Ministro da Construção, expressou preocupação com a instabilidade da área de mineração acima do local escavado pelas bruxas de Taquila.
Ao ouvi-los mencionarem diversos motivos para cancelar a exploração das Montanhas Nevadas, Roland percebeu que o que eles queriam mesmo era que ele pensasse duas vezes antes de cooperar com esses monstros cheios de tentáculos.
A discussão atingiu um entrave.
Se isso acontecesse num parlamento democrático, Roland não teria conseguido aprovar esse plano.
No entanto, ele não se esqueceu de que era o lorde da Cidade de Primavera Eterna, o rei do Reino de Castelo Cinza e aquele que tinha a palavra final.
Ele sabia que havia chegado a hora de assumir a liderança dessa reunião e aprovar esse plano à força.
Assim como ele fez quando decidiu proteger as bruxas em seu território.