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Release that Witch – Capítulo 824

A Queda do Símbolo

Ao se aproximar da frente do campo de batalha, ele conseguiu ver claramente o grupo de refugiados, mesmo sem a luneta.

Homens, mulheres, idosos e crianças. Suas vestes estavam gastas. Alguns cambaleavam, frágeis e fracos. Essas pessoas não representavam nenhuma ameaça.

Nils teve certeza de que havia tomado a decisão correta.

Mas ele sabia que a Igreja tinha uma pílula que podia melhorar a força física das pessoas em questão de segundos. Considerando que eles poderiam estar em posse das Pílulas da Loucura, Nils disse ao seu esquadrão para não atirar por enquanto. Em seguida, ele gritou bem alto para os refugiados:

— Essa é a linha de defesa do Reino de Castelo Cinza! Vocês estão proibidos de dar um passo adiante! Parem, ou vamos atirar!

Aparentemente, os refugiados também o tinham visto. Eles não pararam de andar; ao invés disso, eles aceleraram o ritmo, alegres.

Nils atirou duas vezes para o alto e repetiu o alerta, mas os refugiados continuaram a correr.

— Senhor Nils, volte agora! — O veterano atrás dele gritou. — Eles não sabem o que são armas de fogo. Eles não vão parar, não importa o quanto você grite!

Ao ouvir isso, Nils rapidamente gritou, dizendo que ia disparar flechas, e os refugiados finalmente desaceleraram. Porém, após um momento de hesitação, eles continuaram a avançar, balançando os dois braços para o Primeiro Exército, gritando e correndo.

Nils sabia que eles só estavam gritando por ajuda.

— Não! Parem! — Nils ainda tentou pará-los, mas logo foi arrastado por seus colegas de equipe. Quando os refugiados atravessaram a primeira linha de estacas de madeira, disparos soaram das duas torres de metralhadora. Projéteis atingiram o local próximo às estacas, levantando neve e terra e abafando as súplicas dos refugiados.

Sangue espirrou em meio à multidão de pessoas.

Desta vez, eles finalmente pararam de se mover.

Com exceção dos refugiados que foram alvejados e caíram no chão, os outros se ajoelharam, um após o outro, e depois se jogaram na neve. Mesmo aterrorizados, nenhum deles voltou correndo com o rabo entre as pernas; nenhum deles recuou. Era como se eles tivessem mais medo de uma possível coisa que estava atrás deles.

— Parem! Parem! Não atirem! — Nils tirou o casaco e o balançou bem no alto para que os soldados nas duas torres o vissem. Foi aí que os esquadrões de metralhadora finalmente pararam de atirar. Em seguida, provavelmente por terem notado que havia algo de errado, alguns soldados saíram das duas torres e se aproximaram de onde Nils estava.

Um esquadrão de cinco homens, portando rifles, seguiu Nils e se aproximou dos refugiados. Esses refugiados tremiam, mas não se atreviam a se levantar, mesmo com a neve congelante.

— De onde vocês são?

Ninguém respondeu.

— Vocês não ouviram a pergunta do nosso chefe? — O veterano gritou. — Se vocês não responderem, serão tratados como espiões e enforcados.

— Meu, meu, meu… meu lorde. — Alguém finalmente falou desta vez. — Nós… Nós viemos de Hermes.

— Então vocês são fiéis da Igreja? — Nils perguntou, franzindo as sobrancelhas.

— Sim… Quer dizer, não, não somos. — O homem respondeu, batendo a cabeça no chão várias vezes. — Nós fomos enganados pela Igreja. Mas agora estamos arrependidos! As divindades não protegem a Igreja. Nós estávamos errados. Por favor, nos dê comida!

As palavras dele agitaram os outros refugiados. Eles imploraram:

— Meu lorde, por favor, nos dê comida! Minha filha está com fome!

— O exército da Igreja estava nos perseguindo. Nós tivemos que abandonar nossos pertences.

— Meu lorde, eu não como nada há três dias.

Então eles preferem se arriscar no campo inimigo do que voltar para Hermes? — Nils pensou. Ele não suportou olhar para os rostos esqueléticos e corpos ensanguentados dos refugiados. Após fugirem de Hermes, o Reino de Castelo Cinza havia se tornado a única chance de sobrevivência deles. Nils enfiou a mão na mochila, tirou um pouco de comida e, quando estava prestes a jogar para os refugiados, o veterano segurou o braço dele e perguntou:

— Ei, o que você está fazendo?

— Dando um pouco de comida a eles.

— Tem certeza? Essas pessoas são fiéis da Igreja. — O veterano disse em voz baixa, frisando. — São nossos inimigos.

— Mas agora não são mais. Você não os ouviu? Eles admitiram que foram enganados.

— Hmm… Enganados? — O veterano respondeu cheio de desdém. — Frente à morte, eles adorariam até mesmo os demônios. Comparados aos Guerreiros de Julgamento que lutaram pela Igreja, essas pessoas não passam de vagabundos.

— Chefe, o Tio Senna está certo. Além disso, talvez eles sejam as pessoas que fizeram as armaduras e armamentos usados pela Igreja.

— Sim, mesmo que indiretamente, eles ainda são culpados.

— Eles merecem. Esse é o destino que espera por aqueles que enfrentam Sua Majestade. Eu não vou dar um cisco de comida a eles.

Nils respirou fundo e fez um gesto para que todos ficassem quietos. Ele disse:

— Ouçam-me. Todos nós sabemos como era Vila Fronteiriça antes da chegada de Sua Majestade. Naquela época, todos nós fomos enganados pela Igreja. Mas Sua Majestade não nos abandonou, nem nos tratou como traidores. Então por que deveríamos cometer essa injustiça com eles? Claro, eu concordo que não devemos poupar aqueles que cometem crimes. Mas o que custa dar um pouco de comida a eles e depois levá-los para o interrogatório? Isso é o que devemos fazer.

— É… Bem…

— E Sua Majestade disse uma vez, no livro dele, que o Reino de Castelo Cinza é uma só unidade. Contanto que alguém não seja culpado e esteja disposto a jurar lealdade ao reino, ele deverá ser tratado como súdito do rei, ao invés de ser perseguido e discriminado. — Nils continuou a dizer. — Se houver pessoas inocentes no meio deles e deixarmos eles morrerem na nossa frente, não estaríamos nós contra o desejo de Sua Majestade?

Os soldados ficaram em silêncio por um momento. Em seguida, o veterano sorriu e disse:

— Chefe Nils, agora eu sei por que Sir Blair te escolheu como líder de esquadrão. Você mudou bastante depois que foi pra escola. No passado, você sempre gaguejava quando falava em público. O Comandante Machado de Ferro ficaria orgulhoso de você. — Aparentemente, ele não concordava com a frase de Nils que dizia que “qualquer um que jurasse lealdade ao reino seria um súdito de Sua Majestade”, mas já que todo mundo do Primeiro Exército admirava o Rei Roland, eles não mais se opuseram a decisão de Nils. O veterano disse: — Mas você não pode jogar comida diretamente pra eles. Isso só causaria caos, já que eles disputariam o alimento. Eu sugiro que você escolha os mais famintos e os alimente um por um de forma organizada.

Cara de Águia, o Subcomandante de Batalhão que estava a cargo da Guarnição da Região Norte, também se dirigiu ao local. Esse homem alto, que tinha olhos redondos e uma boca avantajada que parecia uma Águia Cinzenta da Região Oeste, era um dos caçadores excepcionais que haviam se alistado à Milícia junto com Machado de Ferro no início da gestão de Sua Majestade.

Cara de Águia perguntou:

— Alguém pode me explicar o que aconteceu?

Nils deu um passo à frente, prestou continência e explicou rapidamente o ocorrido.

— Escaparam da Cidade Sagrada? — Cara de Águia perguntou, pensativo. Em seguida, ele ordenou que trouxessem um dos refugiados e perguntou: — O que aconteceu em Hermes? Se você me contar todos os detalhes, eu lhe darei comida.

— Meu, meu lorde… — O refugiado engoliu em seco e respondeu. — A Catedral da Nova Cidade Sagrada… foi destruída…

O quê?! — Nils ficou chocado por um momento. Ele sabia que a Catedral de Hermes (Torre de Babel) era um símbolo da imortalidade da Igreja. Já que o Edifício Milagroso de Sua Majestade ainda não estava pronto, o título de maior construção do mundo pertencia a essa torre, por muitos chamada de Torre de Babel em homenagem ao seu idealizador, cujo sobrenome era Babel. No início da batalha defensiva no sopé da Serra do Vento Congelante, ele havia sonhado em seguir Sua Majestade a fim de invadir o Platô de Hermes e ocupar aquela torre lendária que poderia alcançar os céus. Mas… aquela torre magnífica… não existia mais?

— Me falaram que um buraco imenso apareceu de repente debaixo da Igreja e a torre caiu inteira lá dentro… — O refugiado falou. — O Exército de Julgamento bloqueou o local, mas ficou evidente que a torre havia desaparecido, sem falar do barulho enorme que houve… Todos sabiam o que havia acontecido. A Igreja está morta, meu lorde. As divindades não estão mais do nosso lado, ou melhor, do lado deles. Depois disso, os moradores locais começaram a fugir. Fomos uns dos últimos a fugir de lá, e no meio do caminho, os Guerreiros de Julgamento nos encontraram e nos perseguiram. Dentre centenas de pessoas, somente nós conseguimos escapar…

— Isso significa que a Cidade Sagrada está em absoluto caos agora?

— Sim, um caos, um caos total… — O homem assentiu com a cabeça e disse. — Além do Portão Oeste, os Portões Leste e Sul também estão abertos e desprotegidos. Obviamente, os guardas também fugiram. Eu soube que a situação na antiga Cidade Sagrada está ainda pior. E eu realmente não vi nenhuma pessoa vindo de lá por um bom tempo. É como se a antiga Cidade Sagrada tivesse sido exterminada, tornando-se uma cidade fantasma. Não sei.

— Entendi. Pode ir.

Depois que os soldados levaram o homem embora, Cara de Águia pareceu animado, dizendo:

— Essa notícia realmente é muito boa. Talvez consigamos ocupar Hermes antes da chegada do exército.

Nils naturalmente havia entendido o motivo por trás da alegria do Subcomandante de Batalhão. Se ele se tornasse o Comandante que lideraria o exército na invasão à Cidade Sagrada, esta definitivamente seria sua maior conquista. Mas Nils, no momento, não estava se importando com isso; o que ele mais se preocupava agora era com os refugiados, que haviam sofrido com a fome e o frio.

Depois que Nils expressou suas preocupações, Cara de Águia olhou para ele, pensativo, e respondeu após um momento:

— Não podemos abrigar esses refugiados dentro de nossas torres. Dê-lhes algumas tendas e comida, e faça-os acamparem em áreas protegidas pelas metralhadoras pesadas.

— Nessa neve congelante? — Nils perguntou, preocupado. — Se o tempo ficar pior e chover forte durante a noite, eles provavelmente não vão sobreviver.

— Como Líder da Guarnição da Região Norte, eu devo priorizar a segurança do Primeiro Exército. — Cara de Águia se manteve impassível e disse. — Eu enviarei um pedido para que o Duque Kant acomode-os. Mas isso levará um tempo. Então, até que os cavaleiros do Duque cheguem aqui, esses refugiados dependerão apenas da sorte.

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