Second Life Ranker – Capítulo 1

21 de março de 2018

Yeon-woo ajustou as roupas enquanto caminhava pelo terminal do aeroporto de Incheon. Sua cabeça estava raspada e uma bandeira coreana brilhava intensamente no braço do seu elegante uniforme militar, indicando claramente seu status. Depois de organizar a mochila, fez uma ligação.

‘Click.’

— Sargento Cha da Coreia se apresentando.

— Entendido. Vá com calma e tente confortar seus pais enquanto você estiver lá.

— Obrigado. — Depois de expressar sua gratidão, Yeon-woo encerrou a ligação e desligou o telefone. Ele se sentiu muito melhor e em paz, desde que chegou à Coreia, depois de uma estadia de três anos na África, mas sua mente ainda estava cheia de angústias. Com um cigarro na boca, tirou algo do bolso. Era uma carta que recebeu durante a missão e estava marcada com a palavra “obituário”. Seu irmão mais novo tinha desaparecido há cinco anos, e a carta notificava sobre a morte dele.

O funeral foi encerrado, e as cinzas do seu irmão foram espalhadas no mar em frente a Taejongdae, o lugar favorito do membro da família. Yeon-woo não tinha ouvido nenhuma notícia sobre ele nos últimos cinco anos, e agora seu irmão apareceu dentro de uma urna funerária e fria.

— Ele estava segurando isso quando eu o encontrei. — A pessoa que descobriu o corpo de seu irmão mostrou uma pequena caixa. Yeon-woo abriu com cuidado e viu dois itens: uma fotografia desbotada e… ‘um relógio de bolso?‘

Na fotografia, seu irmão estava em frente a uma casa pobre, usando algum tipo de armadura medieval. Ao lado dele estavam pessoas com aparências incomuns, até se perguntou se seu irmão estava gravando algum filme. Yeon-woo tinha vagado por todos os tipos de lugares, mas nunca tinha visto nada assim.

— Uhm…

— Ah, foi mal. — Yeon-woo estava inconscientemente tocando a imagem de seu irmão na fotografia, e a voz do homem o trouxe de volta aos seus sentidos. Uma pergunta surgiu em sua mente, mas não parecia um lugar apropriado para perguntar, então só pôde agradecer ao homem e voltar para casa.

No quarto, calmamente olhou para o rosto sorridente do seu irmão na foto. Por mais que os dois fossem gêmeos idênticos, eles eram muito diferentes um do outro.

Seu irmão foi um aluno exemplar, mas era fraco e introvertido. Gostava de ler livros e assistir filmes. Já Yeon-woo, por outro lado, era muito extrovertido e também estava muito em forma, graduando-se em educação física, antes de entrar na academia militar.

As pessoas, muitas vezes, ficavam surpresas com o quão diferentes eles eram, mas os irmãos sempre permaneceram juntos. O mais novo agarrava seu irmão desmiolado e o ensinava a estudar. Mas, enquanto estava doente, o irmão mais velho contava várias vezes ao dia sobre as coisas divertidas e emocionantes lá fora. Ambos eram dedicados um ao outro.

Só que, então, faltando apenas um dia para o CSAT, Yeon-woo recebeu a triste notícia. Muitas coisas mudaram daquele dia em diante. Sua mãe, que já sofria de uma doença crônica, faleceu. Além disso, depois de procurar sem sucesso por seu irmão por mais de dois anos, Yeon-woo desistiu e se alistou no exército como um oficial subalterno, oferecendo-se para ser despachado para a África.

A partir daquele momento, ele se tornou menos extrovertido e mais cínico. Sua conexão com a Coreia foi cortada, e acreditava que nunca mais voltaria. Contudo, cinco anos depois, a notícia da morte do seu irmão chegou até ele. No começo, ficou bravo com seu irmão por desaparecer sem uma palavra apenas para acabar morto. A primeira coisa que lhe veio à mente foi o quão egocêntrico seu irmão foi; mas quando o funeral começou, ele começou a se sentir vazio, como se sua alma estivesse sendo dilacerada. No momento em que estava espalhando as cinzas do seu irmão em Taejongdae, seu coração estava explodindo.

Ele queria perguntar o que aconteceu com ele, o que estava fazendo e por que tinha que voltar dessa maneira. Mas o irmão da foto não disse uma palavra, assim como não disse nada nos últimos cinco anos.

— Ah… — Yeon-woo largou a fotografia e examinou o relógio de bolso. Estava gasto e puído, como se tivesse mais de cem anos. Ele não funcionava mais, e apenas o algarismo romano para doze, XII, e o ponteiro das horas permaneceram. Ele o levou a um joalheiro para conserto, mas a única resposta que obteve foi que o relógio estava em um péssimo estado, impossível de consertar.

— Eu dei isso ao meu irmão como um presente. — Quando eles completaram dezenove anos, o ano em que entraram no primeiro ano do ensino médio, os irmãos deram um presente um ao outro, no dia do aniversário. O irmão mais novo deu um livro para estudar, e Yeon-woo deu um relógio de bolso para desejar boa sorte no CSAT, ou seja, o relógio de bolso.

Yeon-woo agarrou o relógio de bolso, que se escorregou e se encaixou perfeitamente nha sua palma. Era do tamanho certo. — Eu sabia. — Ele se lembrou de como perambulava por todas as lojas, procurando um relógio de bolso que se encaixasse perfeitamente em uma das mãos. Yeon-woo virou o relógio e viu um nome gravado em letra cursiva em um canto nas costas: JW Cah.

— Uau! Eu precisava mesmo de um relógio. Valeu, mano. Isso é muito mais legal do que um relógio digital.

— Hahaha! O que você acha? Seu irmão mais velho tem bom gosto.

— Mas o que está gravado aqui? JW são as iniciais do meu primeiro nome, mas o que é ‘Cah’?

— Hmm? Isso é Cha, nosso nome de família.

— Como isso é ‘Cha’? Olha, está escrito CAH!

— O quê? Que merda! Me dê isso.

— Por quê?

— Vou levar lá na loja para consertar.

— Relaxa, não se preocupe. Vou ficar com isso. De agora em diante, escreverei apenas CAH sempre que escrever meu nome. — O irmão mais novo colocou o relógio no bolso com confiança. Mais tarde, escreveu com orgulho “Cah” como seu sobrenome no formulário de passaporte. Naquela época, Yeon-woo sentiu pena e gratidão ao mesmo tempo, mas riu ao se lembrar agora. Enquanto passava a mão pelo relógio de bolso, ele pressionou um botão por acidente.

‘Click.’

— Quê?

— Já não está quebrado? — ele pensou. A maçaneta deslizou para dentro do relógio e de repente: tik tok.

O ponteiro das horas parado começou a se mover.

— Para meu irmão mais velho, que ouvirá isso em algum momento no futuro. — Ele ouviu uma voz familiar dentro da cabeça. Yeon-woo instintivamente ficou de pé, porque era uma voz que não ouvia há cinco anos, uma que pensou que nunca ouviria novamente — a voz do seu irmão.

Tum tum.

Seu coração começou a bater loucamente.

— Quando ouvir isso, acho que já estarei morto. — Ele não estava alucinando. Yeon-woo verificou se tinha algum alto-falante dentro do relógio de bolso, mas não encontrou nada. A voz estava realmente dentro da sua cabeça. ‘Como isso é possível?!‘ ele pensou.

— Me perdoa. Todos vocês passaram por momentos difíceis por minha causa, não é? Eu só queria encontrar um remédio para mamãe. Achei que poderia voltar para casa em breve, mas o tempo passou rápido demais.

— O quê? — Foi nesse momento que seus olhos ficaram tensos.

Whoosh!

De repente, uma enxurrada de memórias do irmão passou diante de seus olhos como um panorama.

Era um diário.

9 de outubro de 2013

Uma mensagem de texto estranha apareceu no meu celular. Ela disse que concederia tudo o que eu desejasse. Sem outras palavras, apenas botões para que eu pudesse escolher entrar ou não. Normalmente, eu teria ignorado a mensagem, mas não pude deixar de pensar em mamãe no hospital parecendo cada vez mais abatida, então apertei o botão “sim”, desejando a cura da minha mãe.

Nada mudou. Eu me senti muito vazio. Acabou sendo apenas uma brincadeira. Mas daquele dia em diante, comecei a ter sonhos estranhos de escalar o que parecia ser uma torre infinitamente alta com noventa e nove andares.

12 de outubro de 2013

Definitivamente não foi um sonho! Tudo estava claro e real.

Um mundo com criaturas, como elfos e anões, mas também com monstros como orcs, trolls e dragões. Um mundo onde vários universos e dimensões se cruzam em um só lugar. A torre fica no centro, esperando que pessoas de diversos lugares a escalem. Assim que uma pessoa chegar ao nonagésimo nono andar, ela se tornará um deus; pelo menos, foi o que ouvi alguém dizer.

As pessoas apontaram para a torre e a chamaram de Torre do Deus Sol. Obelisco. Mas isso não significa nada para mim. A única coisa que importa é que em algum lugar desta torre existe um elixir que pode curar todas as doenças, a Panaceia. Com isso em mãos, posso salvar mamãe da doença.

28 de outubro de 2013

Consegui me juntar a alguns amigos que pensam como eu para começar a escalar a Torre. Ainda assim, não foi nada fácil. Tivemos que matar todos os tipos de monstros e enfrentamos perigos mortais. Este lugar pode parecer um jogo, mas não é. É algo real. Se morrer, tudo acaba. Mas meus companheiros e eu somos talentosos. De volta ao mundo real, meu corpo fraco sempre causou preocupações para minha família, só que neste sou sou capaz de ver uma luz na escuridão.

Disseram-nos que éramos a primeira equipe a romper os primeiros dez andares em quatro dias. Desde então, comecei a pensar seriamente: não poderei viver no mundo real e na Torre ao mesmo tempo.

9 de novembro de 2013

Eu já me decidi. Tentei explicar esse lugar para meu irmão, mas sempre que o encaro, as palavras não saem da minha boca. Eu devo dizer: “Existe um mundo chamado ‘A Torre’, e estou tentando encontrar um remédio lá?”

Pode parecer rude, mas meu irmão tem um coração caloroso. O que ele diria? Aposto que se ofereceria para tomar meu lugar… O que não pode acontecer. No final, decidi sair de casa. Eles vão procurar por mim, mas ficarei fora por meio ano. Tenho certeza de que posso obter o elixir nesse tempo.

E assim, eu me desconectei do mundo real.

1 de dezembro de 2013

Meus companheiros e eu batizamos nosso time de “Arthia”, que é o melhor em todos os sentidos; no trabalho em equipe e nas habilidades individuais. Estamos no topo do nosso jogo.

Nós rompemos rapidamente vários andares, e não tem ninguém na Torre que desconheça nosso nome. Posso conseguir pegar a Panaceia muito mais rápido do que pensava.

·····

7 de setembro de 2014

Nossa velocidade de escalada diminuiu. Achei que só precisaria de meio ano, só que agora vejo que terei que ficar mais um ano aqui.

11 de novembro de 2014

Tivemos uma briga com alguns clãs de alto escalão, que nos veem como uma monstruosidade. Agora temos mais obstáculos a superar.

·····

31 de fevereiro de 2015

As negociações fracassaram.

A guerra começou.

·····

2 de julho de 2015

A aliança de clãs, com qual lutamos, acabou de entrar em colapso. Arthia, que começou com apenas doze pessoas, é agora um dos dez maiores clãs. Todos os nossos companheiros de equipe são classificados de alto nível. E eu, o líder de Arthia, subi para o nono lugar. Dizem que sou a pessoa que entrou entre os dez primeiros em menos tempo. No entanto, não posso apenas ficar aqui e comemorar. Por causa da guerra, não tivemos tempo de encontrar o elixir. Precisamos aumentar nossa velocidade e escalar a Torre.

·····

4 de março de 2016

Eu me apaixonei.

·····

19 de setembro de 2016

Outra guerra começou. TEm uma nova inimizade entre Arthia, que quer subir mais alto, e outros clãs de alto escalão, que querem manter as coisas como estavam antes.

Para piorar as coisas, alguns de nossos companheiros concordam com eles, mas não podem expressar suas opiniões, devido à preocupação. Mesmo sabendo disso, forcei nosso clã a continuar escalando a Torre, de modo que não pudemos evitar conflitos.

Mas, mesmo agora, o tempo continua fluindo. Eu sinto que estou ficando louco.

·····

2 de janeiro de 2017

Arthia está agora em quinto lugar, só que a guerra não acabou, e todos estão muito cansados.

·····

6 de junho de 2017

Encontramos um traidor no nosso clã. Conseguimos matá-lo antes que pudesse se levantar contra nós, mas foi o suficiente para causar atritos dentro da equipe. Todos começaram a desconfiar uns dos outros. Os membros estão deixando o clã um por um.

1 de julho de 2017

Meu corpo está mais pesado.

Eu fui envenenado.

30 de outubro de 2017

Metade do clã se foi. Continuamos perdendo batalhas e agora não ousamos subir a andares mais altos. Tentei perguntar por aí sobre o elixir, mas não consegui encontrar nenhuma informação sobre ele.

E meu corpo está lentamente se quebrando.

1 de novembro de 2017

A pessoa que eu amava me deixou com um punhal no coração.

Quase não consegui bloquear com minha habilidade, mas não pude continuar suprimindo o veneno. Meu corpo está começando a apodrecer.

30 de dezembro de 2017

Eu sinto falta do meu irmão.

·····

1 de fevereiro de 2018

Eu sou o único que sobrou em Arthia. Como as coisas deram tão errado? É porque eu confiei demais nas pessoas? Ou é porque fiquei muito absorto nas minhas próprias necessidades, negligenciando cuidar dos meus companheiros de equipe?

Ou… é porque deixei minha família?

28 de fevereiro de 2018

No último dia de fevereiro, finalmente coloquei minhas mãos no elixir. Agora, preciso encontrar uma maneira de mandá-lo para casa, mas não sei como. Não posso sair da Torre mesmo que queira, estou rodeado de outras pessoas.

Talvez pensem que tratarei meu veneno com ele se eu partir. Todo mundo está vindo para me matar. Não sobrou ninguém do meu lado. Agora sei que só posso confiar em uma pessoa.

Mas não posso mostrar para eles minha fraqueza.

Este é o fim do meu diário. Acredito que se eu deixar isso para trás, meu irmão encontrará uma maneira de vir a este lugar. Irmão, só você pode recuperar o elixir e levar com segurança para nossa mãe.