Second Life Ranker – Capítulo 324

Victoria fechou seus olhos enquanto segurava uma carta.

“Como você está, velhot— quero dizer, minha querida dama?” Começava de modo divertido. Nas Cinco Montanhas das Penitências, ela odiava esse tom, mas agora sentia saudades dele. A carta tinha sido enviada por Kahn através da Pela Mesa.

Pelo último ano, ela esteve sofrendo de depressão com o pensamento de que Rebecca e Kahn tinham sacrificado suas vidas por ela. Victoria conseguiu se recompor e voltar a como era antes com a ajuda de sua professora quando uma carta de Kahn chegou de repente.

No começo, ela ficou feliz de ler que ele estava bem e que estava se preparando para voltar a subir os andares. Mas conforme foi lendo, ela teve a sensação de que algo estava errado. Victoria tinha certeza de que foi Kahn quem escreveu a carta, mas tinha algo estranho que ela não conseguia explicar com palavras. ‘É como se ele estivesse dizendo adeus…’

Não havia nada na carta sobre ir visitá-la quando ele tivesse tempo. Victoria tocou as bordas do papel, achando que poderia ter algo escondido. Ela não conseguiu sentir nada, mesmo quando lançou magia na carta. ‘Ou talvez…?’

Ela invocou um orbe de fogo em suas mãos e começou a queimar a carta. Enquanto as cinzas pretas giravam pelo ar, um fenômeno estranho aconteceu. Victoria arregalou os olhos e suas pálpebras tremeram de choque.

Naquele momento, Victoria sentiu comprimentos de ondas mágicas que sinalizavam a abertura de um espaço. Anastasia provavelmente estava vindo. Victoria abanou com sua mão para limpar as cinzas e abriu a porta com um sorriso brilhante. “Mestre, você veio…” Sua voz foi sumindo quando viu as pessoas com Anastasia. Ao invés das crianças bonitas que normalmente a seguiam, ela viu rostos familiares – apesar de tecnicamente não conhecer os rostos deles, pois sempre estavam usando máscaras.

Um dos visitantes era Frésia e o outro: “Cain!” Victoria correu para Yeon-woo e o abraçou.

“Como você está?”

“V-Você…!”

“É um alívio que você esteja melhor agora.” Yeon-woo abraçou Victoria de volta e deu tapinhas em suas costas.

Victoria começou a chorar, se sentindo culpada por ter mandado Yeon-woo embora na primeira vez que ele veio visitá-la. Ela tinha enviado sua pesquisa, mas queria se desculpar, pois suas ações a faziam se sentir culpada. Ela estava grata por ele ter vindo.

“Que garota má, a sua mestre está aqui e você nem percebeu que estou ferida. Você só tem interesse por homens.”

Victoria suprimiu a vontade de dizer como era hipócrita Anastasia, de todas as pessoas, falar uma coisa dessas. Ela se virou para sua mestre e só então percebeu que a roupa favorita dela estava queimada e rasgada, expondo seu corpo nu.

“Aconteceu alguma coisa?”

“Só agora que você percebeu? O que está esperando? Pegue uma roupa nova do meu quarto e um cachimbo. Leve para a sala de visitas.”

“Sim, senhora.” Victoria deu uma pequena reverência e disse a Yeon-woo, “Vamos conversar mais tarde. Preciso perguntar algo a você.”

Perguntar algo para ele? Yeon-woo estava curioso, mas simplesmente assentiu. “Está bem.”

“O que você está esperando? Chega de moleza!”

“Sim, senhora!” Victoria correu às pressas para outra sala enquanto Anastasia bufava. Ela parecia toda atrapalhada por causa da presença de Frésia e Yeon-woo. “Vocês dois me sigam.”

Depois que Frésia apareceu e interrompeu a luta, Anastasia retraiu sua energia monstruosa e levou Yeon-woo e Frésia para sua residência. Parecia bem diferente das estruturas normais da Torre que eram frequentemente construídas como castelos. Anastasia vivia em um conjunto de construções que parecia mais com uma mansão.

Ela trocou para as roupas que Victoria tinha trazido e cruzou as pernas sentada na ponta da mesa. Sua roupa era bem reveladora, mas ela não parecia se importar e Yeon-woo também não ficava olhando seu corpo. Ele nem tocou na xícara de chá quente em cima da mesa.

“Eu não gosto de você,” Anastasia disse de repente.

Yeon-woo lançou um olhar questionador a ela.

“Não gosto desse seu olhar.”

Yeon-woo ficou sem palavras.

“Essa sua coisa no meio das suas pernas funciona bem?”

Yeon-woo entendeu o que Anastasia estava dizendo e bufou. “Você não é do meu tipo.”

“Do seu tipo? Esses homens…!”

“Você é bem arrogante.”

As sobrancelhas de Anastasia se contraíram e Frésia estalou a língua. “Por que não paramos de falar sobre coisas estranhas?”

“Vocês dois são irritantes.” Anastasia franziu a testa e colocou o cachimbo em sua boca. Quando exalou, fumaça branca preencheu a sala.

Frésia se virou para falar com Yeon-woo. “Mesmo agindo assim, ela vai explicar tudo direito, então não se preocupe.”

“Obrigado pela sua ajuda.”

“Não foi nada. Eu recebi algo em troca por isso e já que conheço bem Anastasia, achei que seria melhor se eu viesse para interpresar o que ela disser para você.” Parecia mais como se ela estivesse querendo completar seu acordo com Yeon-woo e acalmar Anastasia ao mesmo tempo. No entanto, ela de fato ajudou Yeon-woo, então ele a agradeceu.

“Frésia.”

“Sim?”

“Parece que você conhece Anastasia a um bom tempo.”

“Nós nos conhecemos quando ainda éramos jovens.”

Nêmesis disse que Anastasia era uma Gumiho de mil anos. Mas se Frésia a conhecia desde que eram jovens… ‘Então Frésia também…’ Qual seria a idade dela?

“Você não acha que é rude perguntar isso a uma mulher?” Frésia disse com um sorriso cintilante. Sua máscara de madeira fazia ser difícil ler seus pensamentos, mas Yeon-woo sentiu calafrios descendo por sua espinha quando olhou para ela.

Tak! Naquele momento, Anastasia abaixou seu cachimbo e mudou de assunto. “Chega de bate-papo. Como eu disse, não posso te dar aquele item, não importa o que você me ofereça em troca. Se quiser ele, vai ter que passar pelo meu cadáver.” Anastasia encarou Yeon-woo como se Fogo de Raposa fosse entrar em ignição em suas caudas novamente.

“Eu gostaria de saber o motivo.”

“Não sei por que você quer saber se já deixei claro que não vou vender… mas tudo bem. Já que está tão curioso, vou te mostrar.” Anastasia se levantou e moveu um biombo para revelar uma parede branca e lisa. Ela colocou sua mão nela e a parede se abriu. Atrás dela havia um lance de escadas que levava para o subsolo. “Sigam-me.”

Anastasia não esperou por uma resposta e desceu. Eles tiveram que passar por várias portas enormes de ferro pelo caminho e Anastasia usou sua energia monstruosa para abri-las. Victoria havia armado várias armadilhas e preparado equipamentos mágicos e até alguns monstros e criaturas para desencorajar os intrusos.

‘Se eu tivesse que lutar com qualquer um desses monstros, seria realmente perigoso.’ Yeon-woo percebeu que foi uma decisão tola lutar com ela. Os monstros faziam parte de Anastasia e se ela os chamasse de volta e reunisse seu poder, ele nem conseguiria imaginar como ela ficaria poderosa.

A imagem da Rainha do Verão surgiu em sua mente. Se as duas lutassem, provavelmente acabaria em empate. Anastasia estava se escondendo, mesmo tendo todo esse poder. Qual era o seu objetivo?

“É aqui que fica sério. Não fique convencido, vou te matar sem pensar duas vezes,” ela avisou Yeon-woo friamente e abriu a última porta. Energia demoníaca disparou na direção deles e Yeon-woo cerrou seus dentes. Suas almas bloquearam a energia diante dele enquanto o Desespero e a Mágoa do Rei Obscuro vibravam.

“Até que você é bom.” Anastasia analisou Yeon-woo com o cachimbo ainda em sua boca. Ela viu diversos tipos de habilidades durante sua vida inteira, mas as habilidades com almas de Yeon-woo eram interessantes.

No entanto, Yeon-woo não conseguiu ler seu olhar. “O que é… isso?”

“Rancor.”

Yeon-woo se virou para Anastasia. “Rancor?”

“São os vestígios das pessoas que costumavam viver nessa maldita Torre.”

O espaço estava cheio de vários tipos de armas. Espadas, sabres, lanças, armaduras, elmos e luvas estavam pendurados na parede. Uma energia negra saía deles e tomava uma forma humana antes de desaparecer.

“Armas com fortes vestígios acabam possuindo suas próprias almas. Essas coisas são vendidas por preços enormes na Torre.”

Ele assentiu. Era o mesmo para Vigrid e talvez até para sua Baioneta Mágica.

“Mas você sabe o que acontece quando os vestígios continuam crescendo?”

Yeon-woo ficou em silêncio.

“Eles se tornam monstros.”

Yeon-woo se lembrou de algo que ouviu na Terra muito tempo atrás: itens antigos se transformam em monstros depois de um tempo.

“Esses monstros consomem seus mestres para ganhar liberdade. Mas o que você acha que acontece quando monstros que não possuem racionalidade saem andando por aí?”

“Sangue é derramado.”

“Isso mesmo. Tudo se torna um caos.” Anastasia caminhou para o interior da sala. Havia armas e armaduras mais fortes que emanavam Rancor ali.

“Não quero que isso aconteça, então mantenho todas elas trancafiadas aqui.”

Fumaça branca se espalhou ao redor deles de novo mudando para um cinza escuro quando se fundiu com o Rancor. “Mas esses Rancores estão sempre tentando escapar, então trancá-los não é o suficiente. Eles precisam ser imobilizados também. E no centro disso tudo está…” Ela pausou. O subsolo não era tão grande quanto Yeon-woo achava. “…aquela coisa.”

Yeon-woo viu uma esfera preta na parede brilhando como uma estrela. Era a Adamantine Nova. Ele a olhou com uma expressão perplexa por causa da aura poderosa que emanava.

“A Adamantine Nova é o pilar desse depósito de armas. Você quer que eu te dê ela? Impossível. Tudo dentro dessa sala vai enlouquecer. Eles possuem rancores enormes contra mim e vão tentar se vingar de mim primeiro.” Um sorriso amargo apareceu no rosto de Anastasia. “Você quer que eu te dê a pedra agora? Isso é a mesma coisa que eu te dar a minha vida. Vai se foder.”