Uma larga massa de pessoas se reunia na praça de Centralle, mirada pelo palácio imperial.
Dos cidadãos reunidos em minha volta, mesmo aqueles que viajaram dos cantos mais longínquos de Bahnseim tinham seus olhos brilhando.
E com um robe e capuz me cobrindo, ninguém me lançava quaisquer olhares de suspeita.
Lianne estava ao meu lado, removendo seu capuz e sacudindo seus cabelos rosas.
— Isso só me parece estúpido. Não parece haver razão para nos disfarçarmos.
Também removi meu capuz, e Novem em seguida.
Mônica esteve vestindo seu uniforme de empregada esse tempo todo como normal.
Confirmei a área com Skills, e descobri que não havia uma única alma dirigindo hostilidade para nós. Diferente de não dirigi-la, era como se ninguém reconhecesse nossa existência como um todo.
— Mesmo assim, não tem problema uma Princesa Real vir a um lugar desses?
Lianne zombou da minha pergunta:
— Você acha que eu não desejo testemunhar a história sendo escrita? Que naquele momento, naquele lugar, eu vi tudo… é bom ter histórias assim para contar. Digo, o sol começará a se pôr em Bahnseim de agora em diante.
Eu olhei para a sacada do palácio.
Nós havíamos chegado bem cedo pela manhã, mas ainda assim, havia um número e tanto de pessoas fazendo fila na nossa frente.
Por perto, uma trupe de cantores e performistas mostravam seus talentos para ganhar dinheiro.
Barracas de comida também se espalhavam pela área, e era como se estivéssemos em um festival.
— … Novem, e quanto a Aria e as outras?
Quando falei isso, Novem sacudiu sua cabeça.
— Até agora, estou incapaz de estabelecer comunicação com elas. Quando se pensa no que fiz, é o natural.
— Entendo.
Não olhei para o rosto dela.
As peças que ela havia reunido para mim.
Esse era o harém.
O fato de elas terem resistência contra a Celes significava que não seriam encantadas a me trair.
Não gosto do tratamento de peças de jogo que elas tiveram, mas devo admitir que ver os companheiros com quem compartilhei alegrias e tristezas partirem para o lado da Celes não seria uma cena agradável aos olhos.
— Então você também considerou que eu tentaria desafiar a Celes?
Aqueles nos cercando apenas aguardavam para que a Celes fizesse sua grande aparição. Eles não estavam minimamente interessados em algo tão ínfimo como nós.
Novem falou para mim:
— Eu não estava certa de que escolha você faria. É só que, considerando o futuro, pensei que seria melhor coletar para o seu lado aquelas com naturezas que as previnam de traí-lo.
Então não importava o que eu acabasse fazendo.
Independentemente de eu desafiá-la ou fugir, Novem só queria ter as preparações prontas.
Mônica nos informou da situação.
— Há movimentos no palácio. Estão vindo.
Assim como Mônica, que podia ver mais longe que nós, falou, a porta para a sacada se abriu, e alguns Cavaleiros desfilaram para fora.
Atrás deles, vinha o oficial superior e o Rei, a Rainha, e o Príncipe Herdeiro, 【Rufus Bahnseim】.
Seus cabelos vermelhos e cacheados tinham um corte curto, e talvez preparados para este exato dia. Ele trajava vestes brancas com ornamentos de ouro, prata e outras pedras preciosas.
E de mãos dadas com o Príncipe, trajando um vestido branco, e com uma quantidade de ornamentos que claramente pareciam um exagero, surgiu a Celes.
Vivas de alegria vieram apenas com o seu aparecimento.
(Está realmente barulhento.)
Observando a garota acenar sua mão, alguns até desmaiaram.
Ela parecia planejar acenar aquela mão até os vivas se acalmarem. Celes tinha uma expressão serena, e eu achava que ela estava bonita.
(Porém o interior é simplesmente horrível.)
Ela carregava seu florete consigo, em uma bainha propositalmente feita para que a coisa toda se parecesse com um cajado cerimonial.
Olhando para Lianne de pé ao meu lado…
— Ele realmente parece estar feliz…
Ela observava o Príncipe Herdeiro, inexpressiva.
E vi meus pais posicionados próximos a Celes.
Eles pareciam simplesmente encantados.
Escutei uma voz da Joia.
O Terceiro falou com grande irritação.
『O Príncipe Herdeiro se parece idêntico com o bastardo… alguma deusa por aí deve estar tentando me irritar com suas revelações descaradas.』
Certamente, de longe, ele se parecia com o rei que vi anteriormente dentro da memória do Terceiro.
O Quarto parecia estar focado em suas vestes.
『Isso é chamativo demais. De mal gosto, até… Tenho certeza de que não será nada além de ouro puro na cerimônia de casamento. Que desperdício absoluto.』
O Quinto escutava os vivas circundantes.
『Quem nos infernos fica tão animado assim? Quando é altamente provável de que haverá uma guerra com Faunbeux, e tenho certeza que um imposto extra será coletado em breve para isso. Uma cerimônia de casamento, mudança de governo, e uma guerra… não é uma hora em que ninguém deva estar rindo.』
É frequente o caso em que uma razão é dada, e impostos coletados por um período temporário.
A Capital Imperial de Centralle não era ignorante quanto essas coisas.
O Sexto olhava para o meu pai ao lado da Celes, 【Maizel】.
『Então foi assim que acabou o meticuloso Maizel.』
Meu pai havia odiado a imagem obscura do Sexto.
Enviando subornos para subir seu ranque, e fazendo o palácio se mover à sua vontade. Mais que qualquer coisa, o puro número de guerras realizadas pelo Sexto com outros nobres de Bahnseim era razão o bastante para ele ser odiado.
Com tanto ódio recebido de seu neto, o Sexto soava um pouco triste.
O Sétimo estava…
『… Filho estúpido meu. Deixando até mesmo a Claire cair aos caprichos da Celes.』
Tendo experimentado o poder do Monstro Celes em primeira mão, ele não podia pressionar meu pai e mãe tão duramente quanto antes.
Mesmo se eles não estivessem ao lado dela o tempo todo, as oportunidades que tiveram para interagir com ela eram maiores que o resto.
Juntinhos, alegremente assistindo sua amada filha. Observando a cena, o Terceiro me falou:
『Lyle, você entende, não é? Escolhendo lutar contra a Celes, você estará…』
Antes que ele pudesse terminar suas palavras, apertei a Joia para indicar minha afirmação.
Um tempo depois, quando os arredores se acalmaram, as palavras do rei começaram a sair.
Elas eram as palavras para oficializar o noivado da Celes.
E o Príncipe Herdeiro apareceu diante da multidão, dando seus cumprimentos.
Eram as formalidades normais, mas quanto mais palavras dele a Lianne escutava, mais sua cabeça caía.
Suas lágrimas começaram a cair, então dei um tapinha em suas costas e lhe ofereci suporte para que ela desabasse.
E finalmente chegou a vez da Celes.
Sua voz era clara, e facilmente audível de longe.
— Povo meu! Regozijem!
Esse era um jeito de falar bastante arrogante, mas aqueles reunidos aclamaram.
— Neste dia esplêndido, Bahnseim se tornará objeto meu. Agora regozijem, Nobres!
Enfileirados no pátio do castelo, os nobres imperiais, Cavaleiros, e Senhores Feudais reunidos de todo o território começaram a aplaudir.
Ao lado da Celes, o Rei e Rainha, e até o príncipe e ministros também batiam palmas.
— Isso é loucura.
Tão louco como possa ser, era algo que todos presentes achavam natural.
Até eu estava começando a duvidar se eu era o estranho.
— Daqui em diante, Bahnseim se expandirá ainda mais! Mas…
Sua expressão ficou um pouco triste.
E após levantar o rosto, ela formou outro sorriso…
— Há nobres dentro desta mesma nação que me desafiam! Ainda há aqueles que se recusam a obedecer! Vocês não diriam que isso é algo imperdoável!?
Expandindo seus braços, Celes recebeu os gritos furiosos do povo…
… Dirigidos aos nobres desobedientes, é claro.
— Agora, que nos preparemos para guerra. Quando eu houver tingindo Bahnseim em um tom uniforme… Deixarei todos vocês me terem como sua Rainha.
Aplausos. Vivas. E lágrimas de alegria…
Eu apertei a Joia enquanto falava:
— Fundador… isso realmente é anormal.
A bela megera.
Apesar de ser dito após o fato que muitos outros fatores estiveram envolvidos, 【Agrissa】 era conhecida como o fator primário.
Mas olhando para Celes, eu agora podia entender.
Que se tal ser houvesse vivido antes, então monstros devem realmente existir, e aparecerão um após o outro.
Eu queimei a visão de Bahnseim, o país contra o qual eu lutaria, em meus olhos.
E me notando, Celes acenou sua mão.
Quase todos aqueles em meus arredores imediatos foram levados às lágrimas.
A Mônica…
— … Não consigo compreender.
Eu sorri e…
— Bem, você é a incompreensível para mim. É só que, com isso, não tenho arrependimentos me mantendo aqui.
O Quinto falou para mim:
『Você ainda pode dar meia volta, sabe? Impedir essas pessoas como estão agora significa…』
Eu dei um tapinha na Joia e a deixei rolar. Estava recusando.
E para com a Celes, que dirigiu um sorriso em nossa direção, eu também sorri.
— Apenas aguarde aí em cima. Eu definitivamente irei te parar.
Dentro dos vivas altos o bastante para levar alguém a loucura, fiz esse juramento em meu coração.
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O anúncio na praça havia sido apenas para fazer público o noivado da Celes com o Príncipe.
Não houve a menor das desculpas enviadas para Faunbeux, e os Cavaleiros, soldados e servos que estavam aguardando na mansão estavam expondo sua raiva.
Dentro da mansão.
No quarto que havia sido dado a mim, recebi uma visita inesperada.
Não, ao invés de inesperada…
— Você está sã? Isso não é nenhum joguinho que estamos brincando.
Com seu cartão prateado em mãos, veio Eva, a cantora.
Esfregando seus cabelos rosa claros, ela falava com confiança.
— É claro! Você vai enfrentar aquela princesa chamada Celes, não vai? Isso certamente será um conto heroico. E ao seu lado, eu verei, escutarei, e gravarei na memória. Algum dia farei uma canção disso, e farei com que seja ouvida por todo o mundo. Com meu nome marcado nela, naturalmente.
Tendo saído para completar seu registro de aventureira, ela apresentava seu cartão da guilda para mim.
Ela provavelmente havia usado seus ganhos recentes para conseguir isso.
O registro custava um bocado de dinheiro.
Normalmente era um empréstimo pago após a pessoa começar a ganhar como aventureira.
Enquanto relembrava o momento de meu próprio registro, levantei o rosto para encarar sua face.
E a Eva…
— E você também me disse, de qualquer jeito… para transmitir seu conto de heroísmo.
Naquela hora, talvez eu devesse ter dito algo como “cantar sobre” ao invés de “transmitir”.
Mas isso não era realmente importante, e relembrando aquele momento mental vergonhoso, cobri minha cabeça com as mãos.
Novem buscou confirmação com ela:
— Você tem certeza disso? Será uma jornada perigosa.
— Estou bem. Mesmo com essa aparência, estou acostumada a viajar, e viver em movimento. Eu também sei como brigar.
Imagino que ela deva ser melhor que um aventureiro inexperiente, pelo menos.
E é importante que ela se aproximou da Celes sem ser encantada.
— … Se você for se juntar ao grupo, terá que seguir de acordo com nossos planos. Talvez você não seja mais capaz de cantar onde quer que queira.
— Eu poderei reunir mais contos e estórias enquanto viajamos, e testemunhar o herói principal em carne e osso! Posso aguentar isso, pelo menos. Também estou arriscando meu sustento com isso, então ficaria mais grata se você estiver sério quanto a isso.
Novem sorriu.
— Lyle-sama, se for olhar os preceitos da Família Walt, ela mais do que passa. Não oferecerei qualquer oposição.
(… Eu realmente não me importo com aqueles preceitos de qualquer jeito.)
A razão para aqueles requisitos serem formados foi por conta de o primeiro amor da Primeira Geração ter falhado, e ele não querer mais se casar.
Ele não queria se casar, mas como era um Senhor Feudal, aqueles ao redor não aceitaram isso.
Foi por isso que eles tomaram isso como lei e proclamaram os preceitos para aceitar uma esposa. Isso tudo aconteceu durante uma festa.
Foi apenas uma desculpa que ele pensou enquanto estava bêbado, mas as regras foram mantidas por mais de duzentos anos.
(Por que tudo parece mais pesado quando você diz que há alguma história por trás…?)
Do ponto de vista dos chefes históricos, os preceitos não eram nada além de problemas.
E agora a única pessoa a protegê-los tão fielmente era a Novem.
— Eh? O quê? Existem preceitos? Eu quero ouvir!
Para uma agitada Eva, eu disse a ela que contaria uma outra hora, e tomei um dos dois cartões da guilda que lhe foram emitidos.
Uma batida veio da porta, e a Mônica respondeu.
— Ora, se não é a Aria-san. Você veio dizer suas palavras de despedida?
— Por que você tem que atiçar todo mundo, incluindo eu? Yo, já fez sua escolha?
Perguntei desse modo para a Aria, mas ela apenas entrou silenciosamente, bateu seu cartão da guilda na mesa, e deixou o quarto.
E enquanto o resto de nós ficavam estupefatos, Novem calmamente:
— Então a Aria-san está confirmada.
E a seguir foi a vez da Clara entrar no quarto.
— … O que aconteceu com a Aria-san?
Eu tentei dar uma explicação simples.
— Não, ela meio que saiu em silêncio. Acho que ela quis dizer que virá junto, mas… e quanto a você, Clara?
Nisso, Clara me entregou seu cartão da guida.
— … Tem certeza?
— Pensei bastante sobre isso, mas Arumsaas é uma cidade de Bahnseim. E há livros demais que ainda me faltam ler por lá para perder o lugar.
E você está realmente se juntando por algo assim? Eu pensei isso, mas aceitei o cartão de qualquer jeito.
— Celes pode nem mesmo fazer qualquer coisa com Arumsaas. Ou talvez não cheguemos a tempo para salvá-la.
Diante das minhas palavras, a Clara…
— Só acho que é melhor do que não fazer nada.
Dizendo isso, ela deixou o quarto.
E como se esperando a Clara sair, Miranda entrou, puxando a Shannon atrás de si.
Ela olhou para os cartões na mesa, e para a Eva, e suspirou:
— E nós somos as últimas? E espera, você… Tenho certeza que você estava espiando não faz muito tempo, não é?
Ouvindo isso, Eva lhe mostrou a língua.
— Desculpe. Mas isso era apenas interessante demais. E já recebi permissão. Preceitos? Parece que passei neles sem nem mesmo perceber!
Enquanto Eva estufava seu peito, Shannon falou de modo cansado:
— Aqueles são preceitos para se achar esposas, sabe. E espera, não acho que meus sentimentos foram considerados em nada disso… ei, isso não é um pouco cruel demais?
Shannon apelou comigo por ajuda, mas a Miranda sorriu.
— Se você acha que vai ser capaz de evadir o alcance da Celes sozinha, então apenas vai lá e tente. Ela parece te odiar, então tenho certeza que apenas a mais agradável das recepções te aguarda.
Dando um pequeno grito, Shannon deixou seu próprio cartão na mesa.
Miranda fez o mesmo, sem nem mesmo dar um segundo olhar para a Novem.
— … Se você estiver vindo junto, não acho que discórdia dentro do grupo será de qualquer utilidade.
Diante das minhas palavras, ela…
— Eu farei meu trabalho apropriadamente. Se forem ordens, eu agirei como se nos déssemos bem.
Eu sacudi minha cabeça:
— Apenas não cause nenhum problema.
— Compreendido. Agora, Shannon, vamos indo.
— Eu entendi, então não me puxe pelo cabelo!
Após as duas terem partido, Novem sorriu.
— Então todo mundo estará vindo.
Suspirei um pouco:
— Isso mesmo. Isso foi meio inesperado.
Nisso, Mônica murmurou um, “ora, ora, ora” de um fôlego, e falou:
— Parece que nós ganhamos mais uma, pelo visto. Puxa vida, terei que recalcular nossos mantimentos, e ir em outra viagem de compras por causa disso.
Suspirando um pouco mais, não estou certo de que era apenas minha imaginação, mas ela parecia um pouco feliz enquanto dizia tudo isso.
A Eva…
— Ei, o que é isso tudo sobre preceitos para se achar esposas? Hn, eu não tenho intenção nenhuma de me casar com ele, sabe. Ei!
Para com uma Eva desconsertada, Novem falou:
— Tudo bem. Haverá tempo o bastante, então apenas passem a se conhecer lentamente antes…
— Oy, pare de expandir mais o harém. Não podemos ser apenas companheiros e amigos normais!?
Adverti a Novem quanto a sua contínua expansão de um harém crescente.
O Quarto avaliou o fluxo das coisas.
『Então todas estarão indo. Bom pra você, Lyle.』
Perante suas palavras, abaixei minha cabeça e dei um sorriso amargo.
(Não, sério… pensei que não haveria alternativa senão seguirmos caminhos separados, mas… bem, acho que é algo com qual devo ficar feliz.)
É só que, considerando o futuro, não seria tudo alegria.