Quando Han Sen voltou ao litoral, a Rainha estava usando sua espada para espetar e cozinhar carne de peixe. A fogueira foi feita usando só videiras e gravetos, mas parecia que era o suficiente para durar até grelhar.
Han Sen viu também outras espadas apoiadas ao lado da fogueira, cada uma cheia de carne. As fatias de peixe eram douradas, e a gordura grelhando era uma tentação. Assim, teve que perguntar: — Tá fazendo para mim?
— Como assim para você? Fiz para eu comer — respondeu a Rainha.
— Posso comer um pouco? — Han Sen perguntou educadamente.
— Fique à vontade. — A Rainha não olhou para Han Sen nenhuma vez; simplesmente continuou olhando para a carne na sua mão.
Han Sen sorriu, pegou um pouco de carne e deu uma mordida. Infelizmente, deveria ter esperado, porque acabou queimando a boca. Ainda assim, esse peixe fresco tinha um sabor divino em comparação com o peixe cru que estavam comendo anteriormente.
— Cadê a sua raposa? — A Rainha observou Han Sen comer como um louco e fez a pergunta quando se sentiu mais relaxada.
— Desinvoquei — Han Sen piscou ao responder.
— Sério? — A Rainha encarou Han Sen, não acreditando nele. — Invoque ela então para comermos todos juntos.
— Para quê? É apenas um animal de estimação; ignore a criatura. — Han Sen achou que a Rainha tinha descoberto algo sobre a raposa prateada quando foi curada por ela, mas ele não estava disposto a admitir.
— Ok. — A Rainha não perguntou mais nada e simplesmente continuou cozinhando a carne.
Han Sen comeu oito fatias. Com a barriga cheia, caiu de costas na areia e gritou depois de suspirar bastante: — Incrível!
A Rainha comeu algumas também. Só que, quando terminou de comer, desinvocou as espadas de Alma de Besta e começou a caminhar na direção das colinas.
— O que você está fazendo? — Han Sen se sentou e perguntou, preocupado se a Rainha descobriria ou não sobre a raposa prateada e o lótus.
— Só vou dar uma volta — respondeu a Rainha, já caminhando para as colinas.
— Vou junto! — Han Sen pulou com um susto e pensou: ‘Não tem como esconder o motivo da raposa prateada não ter voltado.’
Não seria difícil para a Rainha descobrir onde a lótus e a raposa prateada estavam. Depois de subir uma pequena colina, ela avistou os dois de longe, então se virou e encarou Han Sen. Com um sorriso de convencida, virou-se e começou a caminhar na direção da raposa.
— O que é isso? — A Rainha apontou para o lótus enquanto se aproximava da raposa prateada.
— Não sei, mas ela se recusou a sair depois de encontrar — Han Sen explicou. A Rainha deu uma olhada mais de perto no lótus e se sentou ao redor também.
No dia seguinte, a Rainha perguntou para a Han Sen: — Vai embora?
— Se a raposa prateada não vai sair, então também não vou. Você quer sair primeiro? — Han Sen perguntou, piscando.
— Vamos dividir ao meio. — A Rainha olhou para Han Sen, mas não parecia que ela queria ir embora.
— Dividir ao meio o quê? É um animal de estimação. Quer brigar por comida com um animal de estimação? — Por dentro, Han Sen estava dizendo não, enquanto fingia por fora.
— Se ela comer, não vou querer mais. Mas vou querer metade se você pegar — disse a Rainha.
— Para que eu vou querer isso? É para a raposa prateada. Não sou um animal de estimação, então não preciso disso — Han Sen falou direto e estava começando a ficar um pouco irritado.
A Rainha não falou muito, só permaneceu perto da raposa prateada, de olho no lótus.
‘Antes só tinha a raposa prateada de olho, então pensei que tinha uma chance, só que agora ela ficou interessada também.’ Han Sen pensou e também estava começando a acreditar que a raposa prateada era uma fêmea. Caso contrário, por que estaria se comportando como a Rainha? Essa era a única explicação para o quão egoísta podia ser.
Han Sen nunca pensou na possibilidade de que ele fosse mais egoísta do que a raposa prateada e a rainha juntas.
Eles ficaram na ilha por quatro dias. As flores da cor branca neve começaram a murchar, mas lentamente, de modo que apenas duas pétalas caíam por dia. Como havia tantas, quem saberia quanto tempo levaria para murchar.
As sementes do lótus no interior também estavam crescendo; pareciam cristais de sangue, que continuavam amadurecendo. Elas emitiam uma fragrância agradável, e só de cheirar dava uma sensação de conforto e relaxamento.
‘Essas sementes devem ser muito boas, mas como posso levar todas sem que a Rainha e a raposa prateada percebam?’ Han Sen observou o lótus atentamente todos os dias, o tempo todo pensando num plano para tomar das duas.
Ele não tinha certeza se poderia derrotar as duas; caso contrário, simplesmente pegaria.
Meio mês depois, as pétalas tinham caído todas. O próprio lótus agora era como um prato de jade. As sementes de cristal de sangue eram tão redondas e cheias que pareciam rubis do tamanho de um ovo de pombo.
Han Sen ainda não tinha achado uma solução para ficar com todas, só que subitamente ouviu um chilrear e viu um pássaro verde azulado que parecia até um pavão. Sem ideia de onde tinha vindo, Han Sen o viu voar freneticamente ao redor do céu, crocitando o mais alto que podia. Parecia também que o pássaro estava com medo dos três, de modo que controlou o desejo de descer.
A raposa prateada agora parecia nervosa, visto que se levantou e olhou para o pavão no céu como se fosse um inimigo.
Han Sen e a Rainha ficaram estarrecidos, porque perceberam que provavelmente era uma super criatura, já que não ligava tanto para a presença da raposa prateada, o que deixou os dois com rostos sombrios.
O pavão continuou os cercando do céu, recusando-se a sair, mas também não queria descer. Parecia que estava esperando as sementes amadurecerem, assim como eles estavam.
‘De onde ele surgiu? Por que apareceu logo aqui no mar?’ Han Sen pensou que apenas a raposa prateada e a rainha estavam competindo com ele pelas sementes. Se as coisas continuassem como antes, ele tinha, pelo menos, uma chance boa de obter algumas delas.
Mas agora com uma super criatura nas imediações, quem sabia o que poderia acontecer?
Talvez até mesmo a combinação do Han Sen e da raposa prateada não fosse suficiente para lutar contra a Super Criatura.
Han Sen estava se sentido deprimido em meio aos seus pensamentos, quando ouviu um som vindo do litoral. Olhando para o oceano, ele observou as águas fervendo. Logo, uma lagosta com uma concha roxa que tinha mais de dez metros de comprimento emergiu. Ela permaneceu flutuando na água por um momento, causando ondas altas.
Em seguida, começou a circular a ilha, sem se aproximar muito.
— Que desgraça! Mais uma. Quantas criaturas querem essas sementes?
Han Sen ficou frustrado e não sabia quando e onde outra super criatura poderia surgir, só que por sorte mais nenhuma decidiu aparecer. Além do pavão e da lagosta, não havia sinal de outra chegando para competir pelas sementes.
Com uma no mar e a outra no céu, seria impossível escapar agora.
— Vamos recuar. Se formos cercados, não tem nada que possamos fazer para lutar contra elas — a Rainha falou com calma.
— Raposa prateada, bora! — Han Sen gritou com a raposa prateada, com um tom de gravidade. Ele ficou com medo de que, se a raposa prateada ficasse aqui para proteger o lótus, ela seria rapidamente dominada pelas duas Super Criaturas. Mesmo que fosse uma também, sua força tinha limites.