“Não, digo, sim, quê, como diabos você sabe disso?” Lith respondeu.
“Razões de segurança. Pra que você precisa de todo esse tempo?”
“Bem, depois de passar o dia todo trabalhando, eu gosto de–” Kamilla tentou dizer.
“Só estou brincando com você, criança.” Jirni riu pela primeira vez em dias e isso fez soar mais horripilante do que o normal. “Vão e se divirtam. A papelada pode esperar até amanhã. Deirus não deixou nenhuma migalha que possamos seguir, de qualquer forma.”
Jirni Ernas era a mãe de Phloria e o predador mais implacável e astuto que Lith já conheceu.
Ouvir Jirni elogiando seu oponente fez Lith se lamentar que salvar Phloria de seu Despertar não lhe deu tempo suficiente para interrogar Kallion antes de matá-lo.
“Isso é ruim?” Ele perguntou.
“Pior, é exatamente como ele me prometeu. Deirus nunca deu um passo em falso, nunca violou a lei, nem se associou a indivíduos obscuros. Até agora, minhas mãos estão atadas.” Ela suspirou.
Lith e Kamila saíram da sala enquanto Jirni olhava para os documentos repetidamente na esperança de notar um detalhe que ela havia perdido até aquele momento.
“O que há com a segurança excessiva? Eu pensei que vocês duas trabalhassem sozinhas, a menos que houvesse uma ameaça concreta às suas vidas.” Lith perguntou enquanto eles cruzavam o Portal de Dobra para Belius.
“Era assim, mas depois do atentado contra a vida de Phloria, Orion pediu aos Guardas Reais que seguissem Jirni em todos os lugares. Ela não é uma maga, e mesmo com o tempo de resposta mais rápido, os reforços levariam muito tempo para chegar à nossa posição.” disse Kamila.
Jirni poderia enfrentar muitos humanos sozinha, até mesmo magos. Mortos-vivos e seus escravos, no entanto, eram uma história diferente. Sem uma poção, nem mesmo Jirni poderia acompanhar sua velocidade e destreza física, levando só alguns segundos para matá-la.
Chegando em casa, Kamila precisou de meia hora para tomar banho e se preparar para o jantar. Eles passaram o resto do tempo antes de sua reserva dando um passeio e assistindo o pôr do sol juntos.
Era quase verão e os dias ficaram mais longos e quentes
“Deuses, depois de ficar sentada o dia todo eu precisava esticar as pernas. Se continuar assim, minha bunda vai ficar reta.” Kamila usava uma jaqueta leve sobre uma camisa azul-celeste de manga curta e calça cinza.
“Sinto a sua dor. Entre as aulas e o auto estudo, tenho medo de estar ficando mole.” Lith suspirou.
“Não se preocupe, você está indo muito bem.” Kamila disse depois de um apalpar rápido de seus braços, peito e bunda.
“Eu só tava brincando. Você realmente precisava fazer isso?”
“Não, mas depois de um dia tão chato isso com certeza fez meu sangue esquentar.” Ela disse com uma risada.
Eles chegaram a um restaurante que Jirni havia recomendado a eles, o Ninho da Fênix. O manto azul-escuro de Arquimago de Lith e o nome de Jirni garantiram a eles a melhor mesa. Ficava em frente a uma janela panorâmica com vista para o jardim interior do estabelecimento.
Permitia ao cliente jantar enquanto apreciava o canto dos muitos pássaros que habitavam o local e o cheiro das flores recém regadas. A mesa deles também era mais espaçada das outras, dando-lhes privacidade.
O Ninho da Fênix não usava luzes mágicas, apenas velas. A luz fraca criava um ambiente romântico e tornava difícil para os clientes verem o que estava acontecendo em uma mesa próxima.
“Gostou daqui?” Lith perguntou enquanto estimava o quão caro os talheres e os pratos de porcelana com veios de ouro eram.
“Muito. Morar em Belius e ir de cidade em cidade para investigar as pessoas não me deixa muito tempo para cheirar as rosas. Obrigada por lembrar o quanto eu gosto de flores.” Kamila segurou sua mão enquanto olhava Lith nos olhos e lhe dava o sorriso mais doce.
O Ninho da Fênix era muito mais romântico e caro do que os lugares em que eles costumavam jantar. Todas essas atenções a lisonjearam, especialmente sabendo da mesquinhez de Lith. No entanto, eles também a preocupavam.
‘Lith me leva a um bom lugar toda vez que vai me dar más notícias ou revelar um de seus segredos para mim. Por favor, deuses, que seja apenas uma boa noite.’ Ela pensou.
“De nada. Senti a necessidade de me afastar do trabalho e ficar longe de todas aquelas malditas sanguessugas. Esta é a primeira oportunidade que tenho de comemorar a renda das minas de prata e não quero ‘casualmente’ encontrar pragas.” Lith respondeu.
“É tão ruim assim?” perguntou Camila.
“Sim. Subir na hierarquia da Associação de Magos não me causou problemas porque minha renda foi mantida em segredo e todos sabem que eu não sou um um cara gentil. As minas de prata, no entanto, não são algo que pode ser escondido.”
“Desde que começaram as operações de mineração, descobri como minha família era numerosa e dispersa. Rebanhos de parentes que nunca conheci ou sequer ouvi falar vieram à Lutia implorando por dinheiro, esperando explorar o bom coração de meus pais durante minha ausência.”
“Infelizmente para eles, a pobreza nos tornou bastante implacáveis. Meu pai se lembra bem de todos aqueles a quem pediu ajuda no passado para cobrir os tratamentos de Tista e deu a eles tanto quanto eles nos deram. Nada.”
“Quanto à minha mãe, ela passou a gostar das muitas feras mágicas que costumam dormir no nosso gramado e muitas vezes ela as solta para afugentar os que não aceitam um não como resposta.”
“Seus pais disseram alguma coisa sobre mim?” Kamila tentou parecer fria, mas engoliu em seco de nervosismo.
As minas de prata tornaram Lith ainda mais rico e os distanciaram ainda mais. Ela temia que sua família pudesse questionar seus sentimentos e considerá-la apenas mais uma sanguessuga.
“Claro que sim. Eles me disseram para parar de acumular dinheiro e comprar algo legal para você.” Lith respondeu.
“Por favor, não. Tenho meu emprego e gosto de pagar minhas próprias coisas.”
“Kami, pare de se preocupar assim. Meus pais teriam proposto em meu lugar meses atrás, se pudessem. Eles amam você.” Lith amaldiçoou sua própria insensibilidade.
Toda vez que falavam sobre dinheiro, o sorriso de Kamila desaparecia e ela agia sem jeito.
“Você se importa se mudarmos de assunto?” Ela disse enquanto se escondia atrás da carta de vinhos.
“Tudo bem. Estou curioso, o que você pode me dizer sobre seus ex-namorados?” As palavras de Lith a fizeram largar o menu e bater nos pratos quando ela tentou pegá-lo.
“Por que o interesse repentino? Você nunca me perguntou sobre eles antes.”
“Kami, considero seu corpo como um templo e não tenho interesse em conhecer os homens que compartilharam comigo as experiências místicas que ele tem a oferecer. Mas desde que voltei a passar algum tempo com Phloria, você queria saber tudo sobre nós.”
“É justo que você compartilhe um pouco do seu passado e me ajude a entender por que às vezes você se sente tão insegura sobre nosso relacionamento.” Lith disse.
Kamila riu com vontade da piada, mas ficou séria novamente no momento em que ele mencionou seus problemas de confiança.
“Ok.” Ela respirou fundo algumas vezes, aproveitando o tempo que o garçom lhes servia o risoto de cogumelos selvagens e o vinho tinto que haviam pedido para se acalmar.
“Eu não me sinto confortável falando sobre eles e uma vez que você tirar o drama, não há muito a dizer, mas você tem o direito de saber.” Ela suspirou.
“Meus pais impuseram uma disciplina estrita em mim e Zin, para nos manter ‘puras’ e mais valiosas para nossos casamentos arranjados. Os homens podem brincar livremente, mas se uma jovem não tomar precauções, é ela quem paga o preço por sua idiotice.”
Nota:
[1] Será traduzido warp como dobra de agora em diante
Ufa, pensei que eu ia ter que ler Warp no meio das frases, dobra tá bom
Obrigado pelo capitulo! S2