“A água não tá gelada, mamãe? Você virou uma maga igual o tio Lith?” Leria perguntou, sua voz não mais alta do que um sussurro.
“Silêncio, minha criança. Volte a dormir.” Jolia acariciou a cabecinha de Leria e usou seu Mesmerizo para fazer a criança perder a consciência.
“Meu bebê.” Jolia literalmente chorou um rio que entrou no nariz e na boca de Leria, emitindo um som gorgolejante. “Eu não vou deixar ninguém te machucar. Estou fazendo isso porque te amo e não posso suportar a ideia de viver sem você.”
Em sua mente, a imagem de sua filha morta há muito tempo se sobrepôs à de Leria enquanto Jolia repetia as mesmas palavras que havia dito antes de tirar a vida de ambos.
A água que inundava os pequenos pulmões também sugou a força vital da criança e substituiu o sofrimento de Jolia pelo êxtase da alimentação, dando-lhe um prazer que fez com que Mogar se desvanecesse por alguns preciosos momentos.
Foi então que Abominus, Corcel de Leria sempre que ela brincava nos campos de Lutia e seu guarda-costas o resto do tempo, saiu da pilha de brinquedos ao lado da porta.
Seu anel de camuflagem escondia sua força vital e cheiro enquanto o bocal de Oricalco que cobria suas presas estava imbuído com magia das trevas suficiente para matar um elefante.
O Ry explorou o frenesi de alimentação do morto-vivo para morder seu pescoço, decapitando Jolia com uma torção de suas poderosas mandíbulas enquanto a magia do bocal destruía seu corpo.
A água desapareceu junto com a Dama Branca quando a força vital roubada retornou ao seu legítimo dono. Leria engasgou por ar, chorando por sua mãe a plenos pulmões enquanto Abominus emitia um uivo longo e gutural que alcançou o Bosque Trawn, alertando sua matilha.
“Ah, merda!” Sem mais tempo a perder, Quaro abriu a porta de Rena apenas uma fração de segundo antes de algumas centenas de quilos de pelo vermelho e fúria desenfreada pularem em suas costas, rasgando sua espinha.
A Vampira emitiu um pulso de magia das trevas que enviou Abominus voando e deixou seu pelo em um tom doentio de verde.
“Não se preocupem comigo e mate-os!” A coluna de Quaro já estava se consertando, mas a lesão precisou de alguns segundos antes de cicatrizar o suficiente para permitir que ela se movesse novamente.
Brago correu para dentro enquanto Rena ainda olhava estupidamente para os dois intrusos sem parar de amamentar seu filho. A sala começou a girar e de repente havia sangue por toda parte.ㅤ
O voo de Nalrond parou abruptamente a algumas centenas de metros da casa de Selia, mas ele não diminuiu a velocidade. Ele se enrolou em uma bola, usando a fusão do ar para rolar mais rápido e a magia da terra para remover todos os obstáculos de seu caminho.
Ele não precisava de seus olhos para perceber as formações mágicas ou a presença de mortos-vivos. Ele podia sentir que a casa estava cercada através das escamas que cobriam seu corpo de tamanduá.
A única razão pela qual os mortos-vivos ainda não haviam terminado seu trabalho eram as várias fileiras que Protetor havia deixado para proteger sua família. Ele não era um Guardião tão bom quanto Lith, mas a ajuda de Faluel ao montá-los tornou a formação um osso duro de roer.
Contudo, sem alguém para protegê-los, as matrizes poderiam ser facilmente desmontadas. Protetor as construiu apenas para dar a Faluel tempo de chegar. Elas foram feitas para parar, não para matar.
Um dos mortos-vivos notou a bala de canhão do tamanho de um carro e tentou pará-la. No momento em que o Rezar sentiu seu ímpeto diminuir, ele ergueu suas escamas para expor suas lâminas afiadas e as infundiu com magia do ar e das trevas.
O inimigo poderia parar seu avanço, mas sua velocidade de rotação não era afetada pelo obstáculo vivo.
O Vampiro percebeu que a bala de canhão havia se transformado em um liquidificador quando as escamas começaram a cortar seus antebraços depois de ter triturado rapidamente os dedos e as palmas das mãos.
A criatura chutou o Rezar enrolado com toda a sua força, enviando-o voando no meio de um grupo de mortos-vivos armados que rapidamente derrubariam o inimigo desconhecido.
Ninguém esperava que um para-quedas dourado fosse aparecer no ar, permitindo que a Besta Imperador virasse em direção à casa de Selia enquanto tudo o que eles podiam fazer era olhar estupefatos para a construção de luz sólida.
A surpresa deles cresceu quando, em vez de colidir contra as matrizes defensivas e facilitar o trabalho dos mortos-vivos, Nalrond as atravessou. A formação mágica reconheceu sua assinatura de energia e não ofereceu resistência.
“Selia, todos estão bem?” Nalrond teve dificuldade ao falar em vez de simplesmente derrubar a porta fechada.
“Graças aos deuses você está aqui! Diga-me que você trouxe reforços.” Selia o deixou entrar, fechando a porta rapidamente para não deixar as crianças verem o que os esperava lá fora.
“Sim, claro. Liguei para Faluel, Protetor-“
“Quem liga pra eles? Estou falando dos reis da floresta.” Selia o interrompeu, apontando para a mesma direção de onde ele tinha acabado de vir.
“Você está me dizendo que conseguiu esquecer as três Bestas Imperador e quatro pequenos exércitos de bestas mágicas que você poderia ter pedido ajuda?” Selia apertou a própria cabeça com tanta frustração que teria cortado a pele se não fossem as unhas muito curtas.
“Sinto muito, mas depois que Faluel disse que ela levaria um tempo para chegar aqui, eu corri para protegê-la. Foi a única coisa em que consegui pensar.” Por mais verdadeiras que essas palavras fossem, Nalrond ainda se sentia um idiota.
“Excelente, agora você pode morrer com a gente. Batida e Rasgo estavam uivando até agora, mas aqueles desgraçados silenciaram a área ao redor da casa.” Selia se deixou cair em uma cadeira, desejando que os Teriantropos fossem tão inteligentes quanto as bestas mágicas em vez de humanos.
Nem o Ry nem o Shyf gostavam dos nomes que receberam de Selia, mas depois de causar tantos danos à casa enquanto brincavam com as crianças, eles estavam com muito medo da fêmea alfa para emitir um gemido de reclamação.
“Nós realmente vamos morrer, mãe?” Lilia, a irmã mais velha, disse enquanto puxava a perna de Selia.
“De jeito nenhum. Mamãe está um pouco estressada porque seu tio cometeu um grande erro.” Ela pegou Lilia nos braços, agradecendo interiormente ao feitiço Silêncio que também impedia as crianças de ouvirem o som das matrizes desmoronando.
“Você não pode projetar um símbolo no céu com magia de luz? Algo para pedir ajuda?”
“Como o quê? Eu nunca passei tempo com os Reis nem concordamos com um sinal de socorro.” Quanto mais ele falava, mais idiota Nalrond se sentia.
‘Todo aquele luto e monólogos internos sobre não deixar a história se repetir não me serviram de nada. Eu confiei tanto em Protetor e Faluel que nunca me preocupei em providenciar uma única medida de segurança para minha nova família.’ Ele pensou.
“Faça mesmo assim. Ainda é melhor do que nada.” Selia estalou os dedos na frente de seus olhos para forçá-lo a se concentrar mais na realidade e menos na retrospectiva.
Nalrond fez como instruído, emitindo um pilar de luz dourada que atingiu mais de 100 metros de altura.
“Bom trabalho.” Selia colocou Lilia no chão e então se certificou de que Fenrir, sua filha mais nova que tinha menos de um ano, estivesse firmemente amarrada a uma faixa nas costas de Rasgo. Então, ela verificou todas as armas que tinha e encaixou uma flecha em seu arco.
“Agora é melhor você tecer seus feitiços antes–” A porta explodiu, sinalizando que “antes” não existia mais.
As coisas piorando a cada segundo 💀
Obrigado pelo capitulo! S2