“Você faz alguma ideia de onde você poderia ter chegado no exército se seu nome fosse Verhen?” Quase todo mundo que ele conhecia disse uma coisa dessas a Trion mais de uma vez.
Trion teria gostado de objetar que queria confiar apenas em seu talento, mas isso o tornaria um hipócrita. Ele e seus colegas reclamavam diariamente sobre como era mais fácil para crianças nobres se tornarem oficiais e desejavam ter vindo de famílias melhores.
Graças às conquistas de Lith, a família de Trion era agora uma das mais respeitadas e influentes entre as novas linhagens mágicas, mas ele renunciou a todo o poder que o nome Verhen carregava apenas por causa de orgulho cego.
‘Eu deveria mudar meu nome para Burrestrela.'[1] pensou Trion. ‘Só quando descobri que mamãe e papai estavam sendo sitiados pelos mortos-vivos, depois de horas esperando para saber se eles estavam bem ou não, eu percebi o quão estúpido fui.’
‘O exército se recusou a divulgar qualquer informação para mim porque não sou parte da família. Tive que esperar até que as notícias saíssem na ligação do exército para saber o que havia acontecido.’
‘Eu nunca peguei a runa de contato da mamãe, então mesmo agora que tenho meu próprio amuleto de comunicação, não consigo falar com ela. O que eu poderia dizer a ela de qualquer forma? Pedir desculpas agora que Lith se tornou um Arquimago e sua família está sob proteção real pareceria oportunista na melhor das hipóteses.’
‘Meu novo irmão e minha sobrinha não me conhecem porque nunca me preocupei em fazer parte da vida deles. Caramba, eu nem sei se depois de dois anos eu tenho um novo irmão ou…’
“Você se importa se eu me sentar aqui?” Uma mulher bonita disse.
Havia muitos lugares vazios tão tarde no bar, então escolher o lugar ao lado dele tinha que ser para chamar pra sair. Trion assentiu enquanto uma descarga de adrenalina clareava sua cabeça e permitia que ele desse uma boa olhada na desconhecida.
Ela tinha cerca de 1,61 metros de altura, com cabelos e olhos castanhos claros na altura dos ombros. A julgar por sua longa saia lápis e camisa branca com algumas pequenas manchas de tinta nos punhos, ela tinha que trabalhar em um escritório.
“Longo dia de trabalho?” Ele perguntou enquanto tocava casualmente o bolso do peito e ativava um dispositivo que zumbia na presença de mortos-vivos.
A mulher era muito bonita, mas um pouco pálida demais e com enormes bolsas sob os olhos. Trion suspeitava que ela fosse uma escrava[2] adquirindo informações, então ele cuidou de não deixá-la tocá-lo.
“Você não faz ideia.” Ela bocejou, esticando seus membros esbeltos e fazendo seus seios empurrarem contra o tecido macio da camisa de uma forma que secou a garganta de Trion apesar de sua paranóia.
“Acabei com as horas extras e é a terceira vez esta semana que tenho que ficar acordada até tarde. Desculpe se o incomodei, mas preciso de uma bebida e tenho medo de ficar sozinha. Deuses, ler relatórios sobre mortos-vivos o dia todo mexe muito com sua cabeça.” Ela esvaziou o copo em um gole, pedindo mais um e algo para comer.
Ouvir sua história deixou Trion à vontade. Naqueles dias, muitas pessoas se sentavam ao lado dele porque o uniforme que ele usava as fazia se sentirem seguras e depois de olhar ao redor do bar, ele teve que admitir que no lugar da mulher ele teria feito o mesmo.
Apenas bêbados e homens com aparência de bandidos ainda estavam no bar, tornando até mesmo um bar respeitável como o Unicórnio Dourado um lugar perigoso para uma mulher.
“Astrorgulhoso?” [3] A mulher riu tanto ao ler a etiqueta no bolso do peito dele que derramou um pouco da bebida. “Deixe-me adivinhar, você mesmo pegou depois de beber demais.”
“Acertou em cheio. Meu nome é Trion, prazer em conhecê-la.” Ele fez uma pequena reverência, lamentando como era fácil adivinhar a origem vergonhosa de seu nome de família.
“É necessário um bebum para reconhecer outro. Gerla Luaprata, ao seu serviço.” [4]Ela corou ao dizer seu sobrenome com uma timidez que rivalizava com a de Trion.
“E você se atreveu a rir do meu? Este é um caso clássico do sujo falando do mal lavado.” Trion sorriu enquanto fingia verificar as notificações de seu amuleto e solicitava uma verificação de antecedentes dela.
“Culpada conforme acusado.” Ela riu ecoando suas palavras. “O dinheiro mais mal gasto de todos os tempos. Prometi a mim mesma várias vezes trocá-lo, mas é muito caro e o dinheiro é sempre muito pouco.”
“Idem.” As semelhanças entre eles eram muitas para ser apenas uma coincidência, mas a verificação de antecedentes deu negativo.
De acordo com as informações do exército, Gerla trabalhava como balconista em uma guilda mercantil de médio porte. Ela ganhava mais do que ele e até tinha acesso a melhores informações graças à sua posição no departamento administrativo.
O que quer que ela quisesse, não era dinheiro nem informação.
Começaram a conversar sobre o dia a dia entre uma bebida e um sanduíche de bife porque Gerla estava morrendo de fome. Ela nunca perguntou nada a ele sobre seu trabalho, eles apenas conversavam sobre seus respectivos locais de nascimento e onde moravam.
“Você ouviu isso, mestra? Ele não é um Verhen e não mora em Lutia.” Gerla falou para um de seus bolsos assim que eles ficaram a sós, Piscando para o topo de um prédio alto próximo.
“O que significa que ele não está protegido pelo juramento de minha mãe.” Noite Negra saiu do bolso em sua forma de cristal, usando todos os seus sentidos místicos em Trion para determinar se seu sangue compartilhava o mesmo poder que o de Lith.
Trion tentou pedir ajuda, mas uma matriz de vedação de ar bloqueou as comunicações.
“Não tenha medo, eu não tenho intenção de machucá-lo.” A Cavaleira disse. “Caso contrário, antes de saber que você cortou todos os laços com sua família, eu não poderia nem chegar perto de você. Você sabe quem eu sou?”
“O cachorro louco de Baba Yaga. A Cavaleira do caos.” Trion disse enquanto pulava do prédio.
O uniforme encantado salvaria sua vida e com a matriz de vedação de ar, Noite não poderia Dobrar nem voar. Infelizmente para ele, ela ainda poderia usar Magia Espiritual, pegando-o com apenas um pensamento.
“Eu gostaria que o segundo apelido fosse verdade.” Noite suspirou, agora se arrependendo tanto quanto Crepúsculo de sua incapacidade de usar a magia do Caos. “Eu preciso de um hospedeiro poderoso. Eu posso transformá-lo em um dos magos mais poderosos que o Reino Grifo já viu.”
“Eu posso lhe dar todo o poder, dinheiro e o respeito que você sempre quis. A única coisa que eu preciso de você é saber o que você pensa sobre sua família.”
“Eles são pessoas maravilhosas e eu os decepcionei vezes demais para cair no seu discurso barato.” Trion apertou o botão do alarme sem parar, mas nada aconteceu.
“Uma última pergunta. Se eu lhe dissesse que seu irmão é na verdade um híbrido e que eu posso desbloquear o poder adormecido em seu sangue, o que você diria?” Noite perguntou.
“Aquela Baba Yaga fez você de merda em vez de cristal de mana porque você tá cheia dela. Minha mãe nunca trairia meu pai. Nunca!” Caluniar Elina tinha sido a gota d’água.
Trion puxou uma varinha de seu cinto e várias Sementes de Fogo, ferramentas alquímicas cada uma das quais poderia produzir uma bola de fogo com o mesmo poder de um feitiço de nível três lançado por um Grão Mago.
Notas:
[1] Proudstar é tipo “estrela orgulhosa”. Aqui ele fala “dumbstar” que é estrela burra, idiota e etc. Eu optei por não traduzir o nome, mas como o trocadilho não faria sentido pra gente em inglês, tive que me virar aqui T-T
[2] Dos vampiros, vulgo thrall.
[3] Eu real não curto traduzir nomes/sobrenomes (o do grifo é um exceção), mas não faria sentido toda a zoação em cima do nome se vcs não entenderem oq tá sendo dito. O nome é basicamente isso ali mesmo. Proudstar em inglês é mais aturável justamente por não ser nossa língua materna T-T
[4] Mudei total em apenas alguns parágrafos, agora quero traduzir tudo que for possível *-*
Trion pelo menos tá resoluto, ele não pensou em ceder pra noite
ahh trion, nao cai nessa nao, embora o lith nao teria problema nenhum em mata-lo, isso poderia causar mtos problemas
Obrigado pelo capitulo! S2
Devo admitir, se os nomes estivessem em inglês não seria tão cômico kkk