A bebê Solus balançou a cabeça. Ela não entendeu uma palavra do que Menadion disse, mas fingiu que tinha porque não queria decepcionar a mãe.
“Porque uma vez que um Mestre da Forja encontre a sequência correta de runas, qualquer mago capaz de executar os feitiços na ordem correta pode criar um mago artificial programado para fazer apenas algumas coisas, mas as fazendo com perfeição.”
“As runas não têm pensamentos dispersos, nenhuma distração, nem cometem erros. Dessa forma, o Forjador que seguir o projeto só precisa ter sucesso uma vez para criar algo que pode exceder até mesmo seus próprios limites.”
“O pseudo-núcleo fornece a mana que as runas canalizam exatamente da forma necessária para cumprir seu propósito. Tyris programou as pedras preciosas para usar Dominação, assim como programei os amuletos para gerar hologramas.”
Nesse ponto, Solus esperava que a viciada em trabalho Menadion lhe desse uma demonstração de tal técnica de criação.
Para sua surpresa, a Primeira Governante das Chamas preparou o jantar para as duas e então colocou a jovem Solus em sua cama antes de ler uma história para ela. O conto de fadas que Solus tinha que ouvir era brega, infantil, e tinha a ver com cristais brancos tanto quanto qualquer uma das receitas de Elina.
Mesmo assim, para ela, era a coisa mais preciosa desse sonho.
Casa das Ernas, dia seguinte.
Com Jirni e Orion ocupados fazendo horas extras na tentativa de encontrar uma abertura no plano de Deirus, Friya e Quylla nem precisavam encontrar uma desculpa para fugir de casa por alguns dias.
Antes de partir, no entanto, elas tiveram que se certificar de não deixar pontos sem nós.
“Mãe, há algo que possamos fazer para ajudá-la com sua investigação? Qualquer coisa?” Friya perguntou durante o jantar.
“Não, querida. Os Guardas Reais me oferecem muita proteção e desde que o Rei suspendeu Deirus da Corte Real, ele não fez um único movimento, muito menos um erro. Obrigada pela oferta, de qualquer forma”
Jirni estava feliz por suas filhas nunca terem desistido de se vingar do pai de Yurial, mas ela estava ainda mais feliz por elas não terem perdido a paciência e arruinado seu trabalho duro.
Derrubar um oponente de tal calibre exigia paciência. Enquanto Deirus seguisse a lei, as Ernas tinham que fazer o mesmo ou arriscar-se a jogar seu jogo.
“A senhora tem alguma notícia sobre meus ex-companheiros de guilda?” disse Friya. Fechar o Escudo de Cristal tinha sido doloroso, mas era o único movimento possível que lhe restava.
Wyra, a ex-segunda em comando de Friya, estava agora na proteção a testemunhas, enquanto os outros haviam sido dispensados de seu dever. Sem qualquer ligação com Friya, eles estariam pelo menos livres das garras de Deirus.
“Todos eles deixaram o Reino. Eles não confiavam mais nos nobres nem no exército e perder seu líder foi a gota d’água.” A dor nos olhos de Friya entristeceu Jirni, mas ela estava realmente feliz por ter se livrado deles
Não só eles eram um risco para a segurança de sua filha, mas Jirni também suspeitava que, pelo preço certo, Deirus poderia ter se voltado contra ela, plantando um assassino no meio deles.
Jirni contou a Friya sobre tudo que os ex-membros do Escudo de Cristal haviam feito antes de deixar o Reino. De acordo com suas informações, eles se moveram para o Império Gorgon, esperando que seu status de mago os ajudasse a encontrar um mestre e aprender pelo menos uma especialização.
“Obrigada, mãe. Seria um problema se eu fosse ao Deserto de Sangue por alguns dias?”
“Depende. Você vai usar a rede do Portal do Reino ou das bestas?”
“Das bestas. Mestra Faluel está nos enviando em uma missão.” respondeu Quylla.
“Então é simplesmente perfeito. Faluel vai lidar com Salaark e Deirus vai perder seus rastros por um tempo. Ele está obcecado por você, Quylla. O desaparecimento de Phloria já o fez vacilar. Se você seguir o exemplo, ele pode entrar em pânico o suficiente para cometer um erro fatal.” disse Jirni.
“Deirus não é o único preocupado com Phloria, sabe?” Orion grunhiu.
Naqueles dias, entre a guerra fria com Deirus e suas filhas passando tanto tempo com a Hydra, Orion aliviava seu estresse brincando com Lucky,[1] o cão da família que havia evoluído para um Ry.
A improvável besta mágica agora estava sentada ao lado do Senhor da casa, implorando a Orion com seus olhos redondos de cachorrinho por carinho e comida.
“Verdade. Onde está a mamãe?” Lucky choramingou enquanto olhava para sua tigela já vazia.
Orion tratava o Ry como um de seus filhos, o que significava exercícios regulares e uma dieta saudável. Desde que o cachorro aprendeu a falar, as pessoas tinham a absurda exigência de que ele fizesse mais do que dormir e comer o dia todo.
“Ele está certo, onde está M– minha florzinha?” Orion perguntou.
“Ela tá em outra missão com Lith e Tista. Se você quiser saber mais, é só perguntar na próxima vez que ela ligar.” disse Friya.
“Pelo menos eles não estão sozinhos.” Orion grunhiu. “E você?”
“Estamos acompanhando nosso companheiro discípulo, Nalrond–”
“Quando irão apresentá-lo a nós?” Orion a interrompeu.
“Seu pai está certo.” Jirni cortou suas queixas pela raiz.
“Nos últimos meses, vocês passaram muito tempo com aquele cara. Temos o direito de conhecer seus pretendentes e eliminá-los se necessário, como você fez com aquele Morok.”
Perceber que até sua mãe esperava que ela já tivesse terminado com ele fez Quylla corar e Friya quase engasgar com a comida para evitar dizer “eu avisei”.
“Não se preocupe, mãe. Nalrond não está interessado em nós mais do que Quylla está interessada naquele esquisito.” Friya provocou e espalhou ainda mais sal nas feridas de Quylla.
“Bem, eu quero conhecê-lo mesmo assim. Ouvi dizer que ele pode usar magia dimensional e se Faluel o aceitou como aprendiz e Lith ainda não o matou, deve haver uma boa razão.” disse Jirni.
Vozes sobre os feitiços de Maestria da Luz que Nalrond havia empregado contra os mortos-vivos chegaram a seus ouvidos e Jirni poderia usar uma versão sã de Manohar para seus planos. O original tinha acabado de desaparecer mais uma vez, deixando-a sem um de seus bens mais preciosos.
Orion deu a eles o mapa mais detalhado do Deserto de Sangue em sua posse, a runa de contato do embaixador do Reino no caso de precisarem de ajuda e uma cópia do Código de Salaark, também conhecido como Guia de Sobrevivência do Deserto.
Não ensinava a seus leitores como encontrar água ou que sinais seguir para chegar a uma tribo. Continha apenas as leis que as pessoas tinham que cumprir, a menos que quisessem uma Fênix furiosa perseguindo-os.
Na manhã seguinte, depois de empacotar comida suficiente para alguns dias, chegaram ao covil de Faluel, onde uma surpresa os esperava.
“Como você pôde contar a ele sobre a Margem?!” Nalrond perguntou a Quylla enquanto apontava para Morok, que se recusava a sair.
“Eu não. Só disse a Morok que iria embora por um tempo e que ele não precisava se preocupar se meu amuleto ficasse indisponível. A última vez que isso aconteceu após o ataque à casa de Lith, ele foi na minha casa pra ter certeza de que eu estava bem e minha mãe acabou mandando os Guardas Reais atrás dele.” disse Quylla.
Nota:
[1] Sem tradução pq no Brasil é comum darmos nomes em inglês aos pets, mas caso queiram saber, seria algo como “afortunado”
Kkkkkkkkkkkkkkkkkk Morok é muito foda
Obrigado pelo capitulo! S2