Os seis Guardiões reuniram seus recursos para encontrar uma maneira de conter as cidades perdidas que tinham acesso, se livrar de todas aquelas cuja destruição teria consequências mínimas e manter sob controle o maior número possível de sobreviventes em Jiera.
Todos os Guardiões em Mogar usavam as cidades perdidas como lembretes constantes das consequências que a Magia Proibida tinha e de como, mesmo quando bem-sucedida, sua prática exigia um custo cem vezes maior do que o resultado.
As pessoas que cresciam próximas a uma raramente se atreveriam a se interessar pelas Artes Proibidas, enquanto aqueles que viviam longe das cidades perdidas agradeceriam aos deuses por sua sorte e fariam tudo o que pudessem para manter as coisas assim.
“O que você acha da anomalia? Nós concordamos em mandá-lo para o seu continente para permitir que você estudasse Lith e nos desse sua opinião.” perguntou Tyris.
“Já que ele recusou minha oferta de ajuda, posso dizer que ele é um idiota.” A voz de Fenagar falava muito sobre seu orgulho ainda ferido.
“Então ele é tão inteligente quanto eu imaginava. Se ele se tornasse seu objeto de estudo, ele teria morrido bem antes de você deixá-lo ir.” disse Leegaain.
“Eu não dou a mínima para a anomalia.” Zagran, A Garuda, disse. “Ele é fraco e insignificante, assim como todos, menos Salaark e eu.”
A Regente do Poder raramente fornecia uma contribuição útil, então todo mundo a ignorava.
“Eu o acho interessante.” disse Roghar, o Fenrir. “Esse Lith é diferente de Salaark que governa sobre morte e renascimento ou como eu que tento encontrar novas maneiras de dar vida. Pelo que pude ver, seu campo não é apenas matar, ele lida com almas.”
“O que você quer dizer?” Salaark perguntou, intrigada com a ideia.
“Você usa o elemento da escuridão para destruir algo, a fim de criar outra coisa ou abrir caminho para uma nova vida, enquanto ele não apenas mata alguém, ele também atua como um portal para aqueles que permaneceram presos entre a vida e a morte.”
“Eu notei que a força vital rachada dele exala uma poderosa aura da morte. Você acha que as duas coisas estão relacionadas?” perguntou Tyris.
Normalmente, os espíritos daqueles que não conseguiram seguir em frente estavam condenados a permanecer em seu local de morte, esperando que um Necromante criasse um hospedeiro adequado para eles. No caso de Lith, no entanto, as almas o seguiam e o usavam como um meio para liberar sua raiva.
“Isso torna o potencial de Lith enorme, pois mesmo que essas almas até agora habitassem apenas sombras, ele conseguiu alimentá-las com sua força vital através da Magia Espiritual, devolvendo a essas almas não apenas substância, mas também parte de suas memórias.” disse Roghar.
“Como é diferente dos meus filhos?” Baba Yaga perguntou.
“Seus filhos nunca morreram de verdade, enquanto um Necromante comum simplesmente dá a um espírito errante os meios para interagir com o mundo físico em troca de todas as suas memórias.”
“Com base em meus experimentos, quando o corpo e a alma não estão em sincronia, formar um vínculo entre eles apaga a consciência, tornando um morto-vivo maior semelhante a um recém-nascido.”
“A anomalia, em vez disso, cria apenas um vínculo temporário que permite que as almas mantenham suas mentes e liberem suas queixas através da batalha. Eu teorizo que, se aperfeiçoada, tal técnica permitiria uma verdadeira ressurreição.”
“No entanto, desde que Mogar o descreveu como o Senhor da Destruição, duvido que esse seja o propósito pretendido. O que é realmente interessante, no entanto, é aquela torre incrível que ele tem. É uma anomalia tão sem precedentes quanto ele.” disse Roghar.
“Isso é outra coisa que eu não consegui entender. O nanico é muito jovem para criar algo assim sozinho e tenho certeza que conheço todas as torres de mago existentes. Alguém sabe de onde vem?” Baba Yaga perguntou.
Os Guardiões de Garlen balançaram a cabeça mesmo sabendo a verdade, não querendo colocar o Desespero de Menadion em risco.
“Eu não sei sua origem, mas com certeza gosto. É exatamente o tipo de torre que eu criaria se estivesse tão fraca que precisasse de uma.” Zagran, a Garuda, disse com um enorme sorriso no rosto.
“Mesmo enquanto estamos conversando, está ficando mais forte. Muda e se adapta ao ambiente para melhor suprir seu mestre. Se continuar assim, um dia poderá se igualar à torre de Menadion, se não superá-la.”
Essas palavras deixaram Baba Yaga estupefata. Quando ela era a sacerdotisa e aprendiz de Zagran, a Mãe de Sangue logo aprendeu que o Guardião raramente faria um elogio até mesmo para seus iguais, muito menos para aqueles que ela considerava inferiores.
“Por que você usa o ofício de Menadion como referência em vez do meu? Ripha construiu sua torre com runas ultrapassadas e técnicas de Forja enquanto eu melhorei a minha ao longo dos séculos com magia de ponta.” Baba Yaga podia ignorar os comentários dos ignorantes, mas não os dos Guardiões.
“E ainda assim a sua é inferior.” Fenagar balançou a cabeça, enquanto pensava em todas as incríveis características do artefato perdido. “Não é que falta poder nela, mas sim que você espalha tanto os recursos que acaba sobrando muito pouco pra coisa real.”
“Menadion criou sua torre como o laboratório perfeito e investiu todos os seus recursos para torná-la inexpugnável. Você, em vez disso, criou a torre como um meio de oferecer a seus filhos um ambiente seguro, com biomas inteiros dentro para não fazê-los se sentirem como prisioneiros.”
“Toda a energia gasta em recursos, a torre de Menadion usou para cultivar seus próprios cristais, coletar veios de metais raros e até mesmo cultivar seus próprios tesouros naturais. Ela não desperdiçou energia mundial em parquinhos e pores do sol.”
“Cuidar de seus filhos é um esforço louvável, Yaga.” disse Zagran, chocando todos os presentes com o segundo elogio daquele século sendo tão próximo do primeiro. “Com seu talento, habilidade e coração, você deveria ter se tornado um Guardião.”
“Para quê?” A Mãe de Sangue disse com uma zombaria. “Ficar presa em um continente distante do meu, sem a possibilidade de entrar em contato com aqueles de quem gosto só porque meu ego não me permitiria coexistir com nenhum de vocês?”
“Pra ser forçada a assistir vocês massacrarem meu povo sem poder fazer nada? Nós nunca lutamos a sério um contra o outro, então eu não tenho ideia do quão poderosa meu núcleo branco me torna comparado a um Guardião, mas eu sei que me dá liberdade.”
“Liberdade para ir onde eu quiser quando eu quiser. Liberdade para salvar quem eu quiser, mesmo aqueles que o resto de Mogar conhecia como os amaldiçoados Odi, meu povo. Há uma boa razão pela qual nenhuma raça, exceto bestas, aceitam se tornar Guardiões.”
“Mogar não tem escrúpulos em matar seus chamados escolhidos no momento em que falham com ela e depois os sobrecarrega com tarefas cruéis pelo resto da eternidade. Apenas alguns de nós conseguiram adquirir um núcleo branco e escapar de seu domínio, enquanto apenas a morte esperava aqueles que não dobraram o joelho.”
“É por isso que eu criei os mortos-vivos. Para dar a todos a possibilidade de viver para sempre, livre de todas as constrições, sejam elas feitas por homens, bestas, ou até mesmo Mogar.” Baba Yaga ainda se lembrava de quando Mogar apareceu para ela sob o disfarce de uma escrava igual às que seu povo era tão rápido em matar e substituir como se fossem brinquedos.
Ela havia deixado os Odi porque não podia tolerar uma sociedade que impunha padrões impossíveis de beleza, poder e inteligência a seus membros.
Odi bom é Odi morto
Filho de Odi, Odi é…por mim pode morrer
ohhh ela é uma odi
Eu já tava desconfiado
Obrigado pelo capitulo! S2