‘Chega disso, por favor.’ Solus estava à beira das lágrimas. “Eu sonho há tanto tempo em me encontrar com a sua família que se eles me tratarem igual tia Loka tratou você, não sei se vou conseguir aguentar.”
‘Agora, a única coisa que eu quero é que a gente se separe. Preciso de um pouco de espaço pessoal. Essa situação é esquisita demais.’ Solus estudou sua imagem no espelho, se perguntando por que ela era tão parecida com a forma híbrida de Lith e ao mesmo tempo tão diferente.
“Esquisita como? Se isso fosse verdade, nossa fusão já teria se desfeito.” Lith disse.
‘Nossas emoções estão emaranhadas em algo que eu só posso descrever como um abraço caloroso. Eu não consigo ficar com raiva porque você me acalma. Eu não consigo chorar pelo que acabou de acontecer porque você me faz feliz. Mesmo assim, parece como se eu estivesse completamente nua na sua frente, tanto física quanto mentalmente.’
‘Mesmo aqui.’ Lith respondeu. Ele não tinha vontade de traçar planos de contingência contra Silverwing e nem conseguia ficar puto com a enésima porrada imerecida que ele tomou do nada porque tudo que ele sentia era paz. ‘Quer que eu pegue a artilharia pesada?’
‘Sim, por favor.’
Lith pegou seu amuleto de comunicação e encarou a runa de Kamila. A visão deles borrou por um segundo e então eles se viram de volta em seus respectivos corpos.
“Espera. Primeiro quero checar sua força vital e quero também que você me fale como eu estou.” Solus agarrou a mão dele para atrasar a chamada.
“Sinto muito. Talvez seja porque temos acesso a só uma fração do gêiser de mana, mas você parece diferente do normal.” Lith compartilhou sua visão com ela e tudo o que Solus podia ver era um rosto feito de luz.
“Bem, pelo menos temos boas notícias.” Revigoramento mostrou a eles que as forças vitais de Lith haviam voltado à sua condição de pico.
As rachaduras no lado humano estavam idênticas a como eles se lembravam, enquanto os lados Abominação e Besta pareciam ainda mais misturados, tornando-se mais estáveis.
“Parece que igual acontece com os nossos núcleos, nos tornarmos um também melhora nossas forças vitais.” falou Solus.
“Eu posso não parecer diferente, mas me sinto diferente. Acho que o excesso de energia de luz que estava inchando seu lado Abominação foi absorvido pela torre, acelerando minha recuperação.”
Lith acenou e pressionou a runa, ansioso para entender o quanto do que ele ainda sentia era Solus e o que era ele mesmo. Jiera ainda estava no meio da noite enquanto que para Kamila já era quase meio-dia.
Ela estava inundada por relatórios que tinha que ler enquanto fazia referência cruzada de atividades suspeitas com os associados conhecidos do Arquimago Deirus, na esperança de derrubá-lo de uma vez por todas..
Infelizmente, Jirni parecia ter finalmente encontrado um alvo à altura. Deirus carecia de sua astúcia e engenhosidade, porém ele compensava isso com longas preparações e obsessão. Jirni trabalhava como uma Arconte, tornando Deirus apenas mais um de seus casos, enquanto que o Arquimago havia colocado todo o seu foco nela.
“Aquele vagabundo não estava apenas se gabando quando me disse que eu não encontraria nada que comprometesse ele. Investiguei sua vida desde quando Yurial ainda estava vivo e não encontrei nada incriminatório.” Jirni disse a Kamila, tratando os Guardas Reais na sala com elas como estátuas.
“Ele está até mesmo obedecendo o decreto real que ordena que ele corte contato com seus associados até nova ordem, mas isso pode na verdade agir contra ele. Lembre-se, mesmo quando você não pode tocar a casca de uma árvore e nem suas raízes, você ainda pode queimar a terra ao redor dela.”
Ela estava se referindo à tática dos Contestáveis Reais de ignorar seu alvo real e investigar seus parceiros de negócio. Pessoas como Deirus eram metódicos e meticulosos, mas o mesmo não poderia ser dito sobre seus vassalos.
No melhor cenário, Jirni encontraria provas de seus delitos e os forçaria a dar a ela qualquer evidência que eles tivessem contra Deirus para impedi-lo de usá-los como bode expiatório no caso das coisas darem errado.
No pior cenário, ela iria corroer as fundações de seu poder político e privar Deirus de seus aliados mais leais. Apesar de todo a sua magia, um Arquimago ainda é só um homem.
Seu plano era encurralá-lo e forçá-lo a fazer algo estúpido.
Os olhos de Jirni estudaram cuidadosamente as notas de rodapé da última remessa de documentos que ela havia confiscado enquanto suas mãos marcavam qualquer inconsistência que ela encontrasse, mas sua mente só imaginava o momento em que ela colocaria suas mãos em Deirus.
Ela quase podia sentir o cheiro e o sabor do sangue jorrando pra fora de seu corpo quebrado.
Quase.
O amuleto de Kamila quebrou tanto o devaneio quanto o foco de Jirni, mas ela não ligou porque reconheceu a runa piscando em sua superfície.
“Já era hora. Quero falar com ele assim que você terminar.” Jirni não fazia ideia que Phloria estava do outro lado do oceano, então não ter notícias dela nos últimos dias a fez temer pelo pior.
“Tem algum problema se eu der uma pausa? Isso provavelmente vai levar um tempinho.” Kamila sabia tudo sobre a viagem e estava muito preocupada.
“Leve o tempo que precisar porque farei o mesmo” Jirni respondeu.
‘Eu realmente não acredito no ditado “o que os olhos não vêem, o coração não sente”, mas o fato de Lith estar vivendo no mesmo teto que a ex enquanto está rodeado por lindas Bestas Imperador está me deixando maluca. Fora que também preciso contar a ele o que aconteceu durante sua ausência.’
Kamila pensou enquanto um Guarda Real a acompanhava até uma sala segura onde ela teria alguma privacidade.
Simultaneamente, Jirni fazia uma ligação à Vastor, na esperança de finalmente conseguir contatá-lo. Ela não fazia ideia de que ele era o mestre nem que essa era a razão por trás de sua ausência.
‘Manohar é um aliado instável na melhor das hipóteses, enquanto que Zogar tem sido o principal defensor de Phloria desde o momento em que Deirus começou a mexer com a vida dela. Sem ele, o Grifo Branco nunca teria ficado do nosso lado na corte.’ pensou ela.
“É bom vê-la novamente, Arconte Ernas.” Vastor respondeu, colocando o rosto impassível [1] de Jirni à prova.
Seu holograma estava da exata mesma forma da qual ela se lembrava. Um homem [2] em seus sessenta e poucos anos mal passando dos 1.55 metros de altura. O topo de sua cabeça era completamente careca, enquanto o cabelo que ele havia deixado nas laterais era branco neve, além de possuir um bigodão encerado.
Após se tornar diretor interino, ele emagreceu o suficiente para não parecer mais com um ovo, mas seu físico junto com seu robe puramente branco, ainda faziam ele parecer um Humpty Dumpty da vida real.
Se Humpty Dumpty repentinamente fosse de um personagem de canção de ninar para o de uma história de terror.
Jirni sabia que por trás daquela aparência bem alimentada de Vastor estava um dos mais bem guardados segredos do reino e o único Grão-Mestre de sua geração, contudo ela ainda teve dificuldades em reconhecer seu aliado.
Mesmo através do Holograma, sua figura exalava um poder que fazia os cabelos de sua nuca arrepiarem. Além disso, tudo, desde sua postura a luz por trás de seus olhos, não batia com como ela se lembrava dele.
Não havia vestígios de sua raiva latente nem de seu complexo de inferioridade em relação aos colegas. Vastor não estava mais abatido, cheio de autoconfiança e movendo-se com uma vitalidade que nem mesmo a magia do Rejuvenescimento poderia conceder.
Notas:
[1] poker face. Só falando mesmo.
[2] aqui ela cita que ele é baixinho, mas é redundante considerando que a altura é citada logo dps. Num sei, resolvi tirar.
Jirni:🤨
Vastor:😐
Obrigado pelo capitulo! S2