Emily Watsken
O barulho constante das rodas de carruagem era geralmente suficiente para me colocar para dormir, mas não tinha como dormir sentada em frente a Oleander Brone. O instilador alacryano ficava vária vezes em um silêncio mal-humorado, durante os quais simplesmente olhava para Gideon e eu, e então entrava em monólogos chatos sobre nosso trabalho, ou as falhas de Dicathen, ou a glória dos Vritra, e adiante.
“É uma pena ver o que tinha sido feito com o salão da guilda dos aventureiros em Blackbend, não é?” questionou, quebrando um silêncio que durou pelo menos uma hora. Esse desrespeito até mesmo à própria cultura e bem-estar é o motivo pelo qual Dicathen nunca poderia ter continuado por conta própria, não por muito tempo. O fato é que vocês precisavam dos Vritra para evitar que sua civilização desmoronasse.”
Poderia dizer que estava tentando nos atrair para uma discussão, porém não estava interessada em debater… ou falar com ele no geral, se pudesse ajudá-lo.
Gideon, por outro lado, nunca perdia a oportunidade de enfrentá-lo. “Sim, Oleander, o que este continente realmente precisava era de um soberano. Muita liberdade: esse era o nosso problema.”
“Era, sim. Bestas desfrutam da ‘liberdade’. Os homens exigem direção e propósito; exigem controle.”
“Quanto falta?” perguntei, esfregando a ponte do meu nariz sob meus óculos enquanto olhava para fora da janela da carruagem. Estávamos a dois dias e meio de Blackbend, onde nos teletransportamos de Vildorial. Brone não explicou para onde estávamos indo, apenas que estaríamos testando uma nova arma baseada na combustão de sal de fogo que Gideon inventou.
Zombou. “Outro dia. Tedioso, esse tipo de viagem, não é? Bem, a boa notícia é que quando seu povo estiver totalmente subjugado, mesmo os destinos mais remotos estarão acessíveis via tempus warp. Por enquanto, porém…” Saiu, gesticulando para nossa carruagem.
Perguntei para Gideon:
“Mas por que precisamos ir tão longe para um teste de armas, afinal? As instalações do Instituto Earthborn…”
“… Não são ideais para uma avaliação completa das capacidades desses novos dispositivos” respondeu Brone com firmeza. “Temos algo especial arranjado que deve nos dar uma compreensão muito mais robusta dos danos das armas.”
‘O que isso quer dizer?’ Me perguntei.
O dia seguinte passou lentamente. Quando paramos e gritos anunciando nossa chegada surgiram, estava mais do que pronta para sair.
Desfrutei de cerca de quatro segundos de alívio quando pulei e estiquei as costas, olhando ao redor do nosso local de teste remoto.
As Grandes Montanhas eram silhuetas azuis à distância, meio escondidas pelas colinas rochosas. A fileira de carroças e soldados saía da estrada em um campo não plantado. Em frente às montanhas, notei uma cidade pequena.
Soldados não adornados já estavam descarregando as carroças sob a direção cuidadosa de Brone. Gideon tinha vagado um pouco longe da comoção a fim de olhar fixamente para a aldeia.
Passei entre dois soldados carregando uma caixa longa e estreita e corri até Gideon. “O que estamos fazendo aqui?” Exigi.
“Testando a nova arma” afirmou sem olhar para mim. Seu tom era seco, o rosto ilegível.
Senti meu controle indo embora. Apesar de tudo o que aconteceu, tudo o que passei desde que os alacryanos ganharam a guerra, consegui manter algum tipo de ilusão de que ainda estávamos trabalhando para melhorar as coisas. E esse tempo todo, tive um contorle firme sobre mim mesma, agarrando uma indiferença que precisava para me manter sã e viva. Coloquei minha fé em Gideon, assumindo que possuía algum tipo de plano, alguma razão para as ações.
Mas isso era demais.
Ele estalou os dedos bem na frente do meu nariz, me fazendo vacilar. “Não tem tempo para isso agora. O que exatamente você vai fazer, senhorita Watsken? Correr para lá e lutar contra uma dúzia de grupos de batalha alacryanos e quarenta guerreiros não adornados? Sozinha? A menos que você esteja escondendo o fato de que agora é uma maga de núcleo branco com capacidades destrutivas do nível de uma Lança, só vai precisar mantê-lo juntos, entendeu?”
Vi como mais caixas longas eram descarregadas das carroças e separadas. Os tubos cobertos de runas dentro delas foram criados com uma eficiência horrível.
“Podemos avisar os aldeões…” falei, quase desistindo.
“Eles já sabem. Olha.” Apontou com a cabeça para a aldeia. Algumas pequenas figuras nos arredores estavam correndo para lá, as vozes distantes soando que nem um alarme.
Peguei a manga dele e a puxei. “Tem que haver algo que possamos…”
O velho inventor se soltou e deu um olhar azedo. “O que podia ser feito, foi feito. Agora se afaste. Não queremos estar tão perto.”
Meu mentor virou as costas para mim e se afastou bastante das equipes de magos e sem adornos que estavam montando e preparando dez armas, cada uma apontada para a aldeia.
Com ele provando-se menos do que inútil, verifiquei os alacryanos e achei Brone bem no centro da comoção falando confiantemente. Corri em direção a ele.
“… Os edifícios fornecerão o teste de fogo ao vivo perfeito para nossas novas armas. Cada um de vocês deve ter recebido sua tarefa a caminho daqui. Se não, por favor, fale comigo imediatamente. Tem…”
“Ainda tem pessoas lá!” gritei, o interrompendo.
Todas as cabeças se viraram para mim. A maioria dos soldados parecia surpreso com a minha voz, embora alguns olhassem para mim com hostilidade evidente, Brone parecia apenas divertido.
“Sim, há, menina, mas não são inocentes.” Continuou falando diretamente com os homens. “As pessoas daqui são culpadas de traição, sedição além de agressão, captura e possível assassinato de um alto funcionário alacryano. Como sabem bem, a punição para crimes elevados é a execução.”
Olhei para os soldados, mas não encontrei nenhum simpatizante lá. Mesmo Gideon, bem longe do resto, não ligava muito.
‘Eu não vou ficar só olhando a tragédia acontecer.’
Virando, corri em direção a um dos canhões, pensando que poderia desabilitá-lo de alguma forma, porém não fui mais do que alguns metros, antes de um punho pesado bater na lateral da minha cabeça, jogando meus óculos. Estrelas explodiram diante dos meus olhos e deitei a cara na terra, respirando pesadamente.
Uma mão firme segurou meu cabelo e puxou para cima, esticando meu pescoço. Me envolvi em mana, mas um chute nas minhas costelas derrubou o vento e o expulsou de mim.
“Você vai ver os frutos do seu trabalho amadurecer, menina.” Brone falou no meu ouvido, empurrando meus óculos à força de volta ao meu rosto. “Embora eu suspeite que o idiota gagá do Gideon tenha exigido que a mantivéssemos viva por bondade ao invés de necessidade, quero que veja o que seu esforço fez.”
Fechei os olhos, mas ele puxou meu cabelo para que abrisse de novo. A fileira de soldados na minha frente tinha terminado os preparativos e todos estavam olhando para ele com esperança no olhar. Todos.
“Preparem-se para disparar!” gritou.
Os magos começaram a infundir mana de fogo e vento nos tubos. As runas a canalizariam para uma brasa de sal de fogo, que explodiria e lançaria uma enorme bola de fogo na aldeia, engolindo construções e incinerando qualquer um que fosse pego na explosão.
E não pude fazer nada para impedir.
Não vejo a hora do Arthur voltar com tudo 😞
Caralho, não pensei que já usariam tão rápido essa criação…slc, mais um pouco e vai ser de nível atômica como os asuras fizeram com a floresta dos elfos…ou pior…
Um morteiro?
Tá mais pra um canhão pelo que entendi