Das três cadeiras que cercavam a mesa, duas estavam escondidas embaixo dela, deixando as costas para fora. A terceira cadeira foi puxada para fora, e havia um par de pegadas diante dela.
Kieran seguiu as pegadas e viu dezenas de livros na sala. As pegadas não lhe eram estranhas. Elas pertenciam ao corpo morto na escada.
Quase instantaneamente, Kieran pintou uma imagem em sua mente. A terceira pessoa notou quando o homem das lâminas invadiu a casa, então largou as coisas abruptamente e saiu correndo da sala secreta na esperança de impedir o homem. Porém, ele subestimou as habilidades do assassino, que excederam em muito sua imaginação. O terceiro homem não foi capaz de parar o cara. Em vez disso, ele havia perdido a vida tentando…
Ou…
O assassino sabia que o terceiro homem estava aqui o tempo todo e propositadamente permitiu que ele notasse sua presença? — Kieran lembrou a pegada no sofá, o que confirmou sua teoria. — O assassino estava muito mais familiarizado com o lugar do que eu imaginava! Quem é ele?
Quanto mais Kieran estava seguro de sua teoria, mais dúvidas se formavam em sua mente. No entanto, sua atenção logo se voltou para os livros espalhados pela sala. De acordo com os traços deixados para trás, depois que a terceira pessoa notou o assassino, ela deve ter escondido algo debaixo dos livros.
Espero que nenhuma pista tenha sido destruída! — Kieran pensou enquanto olhava os livros arrumados.
Procurando de cima para baixo e da esquerda para a direita, Kieran verificou todos os livros que estavam na sala. Schmidt também ajudou, depois de uma breve explicação da situação.
Por que Kieran podia ver as pegadas diante da cadeira, quando ele não podia? Depois de muitas colaborações com Nikorei, Schmidt se acostumou ao elemento paranormal. Afinal, os xamãs podiam ver muito mais do que ele.
Schmidt concentrou-se em encontrar pistas nos livros, e sua concentração valeu a pena.
— Encontrei! — Schmidt pegou um pedaço de papel de um dos livros e sinalizou para Kieran.
— É isso? — Kieran murmurou com uma expressão séria quando viu o papel.
[Rubi Puro x1]
[Tiara da Rainha Sangrenta x1]
[Ovo de Michigi x1]
[Manuscrito Fantos x1]
…
Embora fosse uma nota copiada, a tinta borrou antes que pudesse secar. As palavras estavam muito embaçadas para ler.
— O que é isso? Algum tipo de receita de alquimia? — Schmidt perguntou por curiosidade.
— Não me lembro de nenhuma receita que precisasse de um manuscrito. — Kieran revirou os olhos para Schmidt e continuou procurando nos livros restantes.
Infelizmente, além desse pedaço de papel, não havia muito mais para encontrar.
— Vou levar esses comigo. — Kieran apontou para alguns livros e ingredientes ao seu redor.
— Claro, todo seu! — Schmidt não encheu o saco de Kieran com baboseira. “Você não pode tirar nenhuma evidência da cena do crime”. Os místicos tinham suas próprias regras e, desde que Schmidt entrou nos negócios, ele teve que segui-las.
É claro que sua identidade como policial o fez dizer aos colegas para limpar a bagunça e ordenar que seus homens o informassem se encontrassem algo novo. Os homens de Schmidt ficaram mais do que felizes em cumprir.
Os casos sobrenaturais que ocorreram na Costa Oeste nos últimos dois anos mostraram aos policiais comuns que havia outro mundo escondido à vista de todos.
O melhor exemplo era a balsa fantasmagórica na Praia Dourada.
Um campo de força capaz de suportar um tiro de canhão e uma balsa que aparentemente devora as pessoas que nela embarcam. Esses tipos de sinais eram suficientes para virar a visão do mundo de cabeça para baixo.
— Eles estavam realmente assustados. — Kieran disse depois que ele ligou o Picard e colocou todos os itens valiosos no carro.
Embora os policiais que haviam chegado ao local tivessem agido com calma e seriedade, os sentidos aguçados de Kieran captaram seus comportamentos incomuns e mãos suadas. Era tudo muito óbvio para ele.
— A primeira vez que encontrei um caso sobrenatural, também não foi muito diferente. Eles precisam de tempo para se acostumarem com isso e também… algumas orientações. Entregarei um relatório ao diretor e pedirei a um psicólogo para tratá-los! — Schmidt soltou um suspiro. Seus homens o lembraram de suas piores lembranças.
— Um psicólogo? Você tem certeza disso? — Kieran rebateu as palavras de Schmidt. Toda vez que contava sua experiência desagradável durante [Assistente de Xamã], o psicólogo que tratava Louver sempre vinha à mente primeiro.
— O caso de Louver foi um acidente… Aquele pobre garoto! — Schmidt entendeu a quem Kieran estava se referindo. Ele soltou um suspiro novamente.
Um freio súbito de emergência fez os pneus girarem violentamente com o asfalto. O cheiro de borracha queimada de repente preencheu o ar. Schmidt, que não havia colocado o cinto de segurança, bateu com a cabeça no painel.
*Bang!*
O golpe pesado foi acompanhado pelo grito de dor de Schmidt.
— Woah, 2567! Admito que o psicólogo que contratamos antes não era um de verdade, mas não há necessidade de ficar com raiva toda vez que seu nome é mencionado! Afinal, nem todos os psicólogos são falsos como ele. Ainda existem muitos profissionais verdadeiros por aí! — Schmidt esfregou a testa, cerrando os dentes enquanto falava com Kieran.
— Louver! — Kieran pronunciou o nome em um tom sério, enquanto ouvia as reclamações de Schmidt.
— O quê? — Schmidt estava confuso. Ele não sabia o que Kieran estava tentando dizer.
— Onde está Louver agora? Você esqueceu que ele era um usuário habilidoso de lâmina? — Kieran disse rapidamente.
— Não poderia ser! Ele está em um centro de recuperação fora da cidade… — Schmidt disse inconscientemente, sua voz baixa enquanto falava. Suas palavras traíram sua falta de confiança. A descrição de Kieran do culpado, 180 centímetros de altura, ágil, habilidoso com lâminas, encaixava-se na descrição de Louver.
— Devemos ir ao centro de recuperação agora mesmo! Vou te levar até lá. — Schmidt disse de repente, mudando de ideia.
— Agora? É tarde demais! — Kieran balançou a cabeça.
A situação diante deles era clara o suficiente. Se Louver fosse o homem das lâminas que eles estavam procurando, ele já estaria longe do centro de recuperação fora da cidade. Se não fosse ele, seria inútil se fossem para lá.
Em outras palavras, não importava qual caminho eles seguissem, era tarde demais. Ainda assim, eles chegaram a algumas conclusões.
Kieran não estava mais confuso sobre a identidade do homem das lâminas. Mesmo que não fosse Louver, seria alguém que estivesse relacionado à Sociedade dos Andarilhos.
Quando Kieran se lembrou do manuseio ágil de Louver com sua lâmina quando seus pais foram mortos durante a explosão, ele franziu o cenho.
Ele não tinha pensado em Louver quando viu aquelas feridas nos corpos. De repente, Kieran lembrou que um dos membros da Sociedade dos Andarilhos mencionou essa “coisa”.
— Schmidt, alguma notícia sobre a Sociedade dos Andarilhos? — Ele perguntou.
— Sim! — Schmidt assentiu. A resposta que ele deu fez o rosto de Kieran empalidecer.