— Já te disse antes, Rose.
Um sussurro suave ecoou em uma caverna escura.
— Não haveria uma segunda vez.
— U-Ugh…
Seguido por um gemido de outra pessoa.
Esses sons desagradáveis serviram como o despertador que lentamente trouxeram Kran de volta à consciência.
— Você deveria ser grata pela misericórdia do Rei. Se ele não tivesse te perdoado, você já teria desaparecido deste mundo sem deixar sequer um cadáver.
— Eu sou… Eternamente grata por sua misericórdia. Vossa Majestade.
Ouvindo a voz de uma mulher que parecia estar com dificuldades para suportar uma grande dor, Kran lentamente abriu os olhos.
Ele não se sentia nada bem. Parecia que seus intestinos haviam sido torcidos antes de serem golpeados repetidamente. Ele quase quis vomitar.
“Ugh…”
Instintivamente, tentou mover os braços, mas logo percebeu que não podia. Na verdade, ele não conseguia se mexer.
Era como se seus braços, pernas e pescoço estivessem presos por restrições invisíveis. Independentemente do que fosse, tinha uma força de prisão incrível.
Mesmo estando em um estado enfraquecido, com sua força, Kran poderia facilmente se libertar de correntes de aço, mas o que quer que o prendesse nesse momento, nem se mexeu apesar de usar toda sua energia disponível.
“Por que estou preso aqui?”
Primeiramente, ele decidiu se acalmar, esfriar sua mente e ajustar sua respiração.
Então, lentamente se lembrou de suas últimas memórias.
Ele estava lutando contra Sipakna com Sedi.
Então tinha um plano tolo, mas viável, e correu para Sipakna para executá-lo. Então…
Ele não se lembrava de nada depois disso.
“Sipakna me pegou?”
Não. Não era isso.
Ele não era burro o suficiente para não notar um ataque vindo da frente.
Percebendo que um terceiro provavelmente havia interferido na luta, Kran decidiu verificar sua condição.
“Eu não tenho nenhuma energia demoníaca…”
Sua condição não era apenas ruim, era a pior possível.
Seria impossível se demonizar em seu estado atual.
Decidindo desistir de sair de suas amarras, por enquanto, Kran olhou para cima.
E sua expressão imediatamente ficou séria. Isso porque ele se viu dentro do que parecia ser o hall de um grande edifício que parecia dar uma sensação de antiquado.
Infelizmente, ele sabia exatamente onde isso era. Imagens deste salão estavam entre os materiais que Ringo lhe dera no passado. Este era o Palácio de Versalhes, um marco de renome mundial que estava localizado na cidade de Versalhes, na França.
Claro, na era atual, era muito mais conhecido por seu novo título, “O Castelo do Rei Demônio”.
Neste salão, Kran viu quatro seres, cada um exalando uma quantidade surpreendente de energia demoníaca. Havia até um que ele conhecia. Sipakna.
Assim como ele, os dois seres ao lado provavelmente também eram membros dos Cinco Duques, um homem extremamente pálido e uma mulher sangrando enquanto se ajoelhava no final da sala.
Nesse local, um enorme ser estava sentado em um enorme trono.
Apesar de não mover um dedo, a presença deste ser facilmente engolia toda a sala e suprimia todos dentro dela. Era o Rei Demônio.
[Parece que você acordou.]
Depois que Kasajin abriu a boca, os Cinco Duques voltaram sua atenção para Kran.
No entanto, Kran não se assustou quando se viu no foco desses seres imensamente poderosos, em vez disso, soltou uma risada.
— Seus subordinados estavam gritando tão alto perto do meu ouvido. Seria um milagre se eu não acordasse. Eu apreciaria se você pudesse prestar um pouco mais de atenção nos seus animais de estimação.
A expressão do homem pálido, Azazel, tornou-se fria.
— Em vez de blefar, você deveria prestar mais atenção à sua situação. Talvez então você consiga manter sua vida insignificante por mais um pouco.
— Humpf. Você é o único que está blefando.
— Do que está falando?
Kran tossiu algumas vezes. Parecia que algo estava se acumulando em seus pulmões. Logo depois, sentiu algo quente subir pela sua garganta.
Blergh—
Depois de vomitar um bocado de sangue, seu estômago se sentiu um pouco melhor.
Kran então falou em um tom muito mais relaxado.
— Se você pudesse ter me matado, você já teria feito isso.
— …
Azazel estreitou os olhos.
— Certo. Como você disse, não posso te matar. Mas posso fazer qualquer outra coisa com você.
Quando ele disse essas palavras em um tom perigoso, caminhou lentamente em direção a Kran.
— Já que você é um híbrido, provavelmente não vai morrer se eu arrancar sua língua, certo?
[Basta.]
Kasajin apenas murmurou uma única palavra.
Mas Azazel imediatamente parou de se mover e se ajoelhou em direção ao rei.
[Eu não tenho intenção de machucá-lo. Tenho certeza de que você se sente muito melhor agora. Mas “poderia descansar um pouco mais”.]
— Há. Mas que diabos…
Kran, que estava prestes a responder, de repente sentiu uma explosão de fadiga preencher seu corpo.
Um poder desconhecido o estava forçando de volta à inconsciência.
Pouco antes de finalmente desmaiar, Kran conseguiu espremer algumas palavras.
— Seu desgraçado…
Depois que sua cabeça caiu no chão descansando mais uma vez, Kasajin lentamente se levantou do trono.
Quando olhou para Kran, não pôde deixar de murmurar.
[Ele amadureceu um pouco, mas ainda está longe de ser suficiente. Kran precisa ficar ainda mais forte.]
— Posso perguntar o que você quer dizer, meu senhor?
Kasajin respondeu sem pensar.
[Iremos juntos.]
— Ah…
Nina Rednikova piscou.
A câmara escura estava iluminada apenas, vagamente, por uma única vela que estava no canto mais distante.
Esta era a visão que sentia tanta falta, mas nunca pensou que seria capaz de vê-la novamente.
— Seria melhor manter os olhos fechados o máximo possível. Você também deve evitar qualquer lugar com luzes fortes e certifique-se de usar óculos de sol quando realmente não tiver escolha.
— Eu estou realmente… Realmente curada?
Quando Nina fez essa pergunta gaguejando, Arid sorriu gentilmente.
— Contanto que você se cuide bem, sua visão voltará a ser como costumava ser.
— …
Nina ficou em silêncio depois de receber sua resposta, sem palavras.
Min Ha-rin, que estava ao lado, também assistiu com espanto.
“Incrível…”
Ela sabia o quão forte era a maldição que tinha sido usada para cegar Nina.
Era uma maldição poderosa que até mesmo um arcebispo da Igreja Católica não sabia como curar. Mas Arid a curou completamente em menos de meia hora.
— Obrigada… Muito obrigada.
Nina soluçou em gratidão, mas acabou caindo inconsciente.
Naquele momento, sua aparência não combinava com seu título de “Líder do Exército de Sangue de Ferro”. Ela parecia frágil.
Arid calmamente se levantou e disse.
— Ela deve ter usado muita energia para se curar. Seu corpo está atualmente em um estado extremamente fraco. Ela provavelmente vai recuperar a consciência em alguns dias.
— Arid, você é realmente incrível…
Quando Min Ha-rin decidiu colocar sua admiração em palavras, Arid só conseguiu coçar a bochecha timidamente.
— Não foi nada.
Este era provavelmente um dos hábitos que exibia quando se sentia tímido.
No entanto, tossiu para recuperar a compostura antes de falar com uma voz séria.
— A propósito, Irmãzona, por favor fale confortavelmente.
— Hã?
— Eu também sou um dos discípulos do Mestre agora, a Irmã Min se tornou uma discípula muito mais cedo do que eu, então você é minha superior.
— Arid, qual é a sua idade?
Arid então respondeu com uma expressão um tanto severa.
— Se você continuar me perguntando formalmente, não vou te responder.
Isso foi dito com uma voz teimosa.
Ela sempre pensou que ele era um pouco fraco de vontade, então não esperava que ele tivesse um lado tão teimoso.
Min Ha-rin não teve escolha a não ser mudar suas palavras.
— Ei, Arid, quantos anos você tem?
Sua língua parecia estranha depois de dizer essas palavras. Parecia que tinha feito algo errado.
E essa culpa só cresceu quando ouviu a resposta de Arid.
— Tenho vinte e nove.
— …
Este era um momento ridículo.
Min Ha-rin se sentiu constrangida em falar informalmente, mas Arid tinha um sorriso no rosto quando conseguiu o que queria.
— Quantos anos você tem, Irmãzona?
— Vinte e dois.
— Uau.
Sua inocência e curiosidade não combinavam com sua idade.
No começo, foi estranho e desconfortável, mas a medida em que eles continuaram conversando, Min Ha-rin finalmente se acostumou com a situação e começou a agir com mais naturalidade.
Então, ela fez a seu novo irmão mais novo a pergunta que mais queria fazer.
— Arid, por que você se tornou discípulo do Mestre?
— Porque eu queria.
Arid respondeu imediatamente, aparentemente não tendo que pensar nisso. Mas provavelmente sentindo que sua resposta estava um pouco vaga, ele decidiu adicionar uma explicação.
— Provavelmente houve muitas razões. Mas o mais importante foi definitivamente o fato de que nunca mais encontrarei alguém como o Mestre.
— …
— Senti que, se fosse o Mestre, eu seria capaz de entender e aprender a usar esse poder com o qual nasci.
Poder inato.
O poder inato de Arid era extraordinário. Provavelmente não havia mais de cinco pessoas ao longo da história que nasceram com um talento tão raro. E eram esses talentos especiais que estimulavam os desejos das pessoas.
Embora Arid pudesse sorrir brilhantemente e parecer despreocupado, ele já estava profundamente marcado.
No entanto, não demonstrava, preferindo seguir em frente.
Para ser honesto, era um pouco ofuscante.
“E quanto a mim?”
Min Ha-rin se perguntou.
O que eu quero fazer?
Originalmente, seu objetivo era erradicar completamente todos os demônios do mundo. Ela pensou que se pudesse se livrar deles, a paz do passado seria restaurada.
Mas depois de ouvir a história de Lukas, ela percebeu.
O caminho para a paz era longo e difícil. Com toda a honestidade, sentiu que era algo grande demais para lidar, o que a fez se encolher.
Ela se lembrou do motivo pelo qual Lukas a fez sua primeira discípula.
Seu Mestre estava esperando ouvir a resposta para uma pergunta que nem mesmo ele conseguia resolver.
Ela se sentiu sobrecarregada.
Mas, ao mesmo tempo, não queria decepcioná-lo.
Talvez fosse esse o motivo. A razão pela qual tentou lidar sozinha com tudo na filial coreana.
E, como resultado, não conseguiu absolutamente nada…
— E pode ser um pouco tarde, mas eu gostaria de agradecer.
— Hã?
— Por meu avô.
Por avô… Ele quis dizer o Bispo Slei?
— No final, ele tentou me proteger. Você deve tê-lo convencido, não é?
— N-Não. Eu não fiz nada. Seu avô tentou protegê-lo por vontade própria.
Ela estava falando sério.
Min Ha-rin tinha até pensado em matar Slei. Se ele tivesse sido indiferente depois de testemunhar Arid ser sujeito à violência injusta, ela poderia ter feito isso.
Arid balançou a cabeça lentamente.
— Isso não é possível… Eu conheço meu avô. Ele não é o tipo de pessoa que mudaria de ideia só porque sofreu alguns contratempos.
— …
— Tenho certeza de que a Irmãzona fez algo para influenciar meu avô de alguma forma. Então, por isso… Obrigado.
Depois de dizer essas palavras, Arid curvou-se para ela.
— Para ser honesto, eu quase comecei a odiar meu avô… Mas depois de vê-lo no final, me senti muito melhor.
— …
Min Ha-rin ouviu os agradecimentos de Arid e de repente pensou em Leo. Ela agora tinha dois irmãos mais novos que a chamavam de irmã mais velha e a escutavam.
Mas quando pensou neles, e na forma como escolheram arriscar suas vidas sem hesitação, não pôde deixar de sentir que não estava fazendo seu trabalho como irmã mais velha.
Talvez fosse algum outro motivo. Ou talvez fosse seu orgulho como irmã mais velha.
“Não importa.”
Mas, independentemente do que fosse, o que importava era que sua hesitação havia desaparecido.
No mínimo, Min Ha-rin escolheu assumir total responsabilidade por suas escolhas.
E uma coisa ficou clara.
Se ela não participasse desta vez, se arrependeria pelo resto de sua vida.
Claro, estava com medo de perder sua vida, de perder sua alma.
Esse medo foi agravado porque conhecia a personalidade de Lukas. Seu Mestre nunca mentiria para ela. Esta batalha certamente seria uma luta incrivelmente difícil, e o risco de morte seria alto.
No entanto.
— Eu também vou.
— Hein?
Quando Arid inclinou a cabeça com a declaração repentina, Min Ha-rin repetiu-se com uma voz clara e determinada.
— As qualificatórias, eu vou participar também.