Era uma coisa ruim arriscar sua vida por uma sensação de realização?
Ou era errado ter tal desejo em primeiro lugar?
— Besteira… Você sente que está fazendo algo grande? Não! Não é a única coisa que um lutador faz, na melhor das hipóteses, é tirar a vida de outro lutador? Lutando por suas vidas? Querer provar que você é mais forte? Essas são apenas ideias vulgares e bárbaras, não diferentes dos pensamentos das feras! Se você morrer, está tudo acabado!
— É por isso que lutamos.
Para ser lembrado.
— Kaytai, você também já deve ter sido um lutador. Você quer fechar os olhos silenciosamente em uma cama de hospital com uma barriga gorda? Você acha que as pessoas vão se lembrar de um lutador assim?
— Por que você quer morrer como um lutador? Você sabe como os outros Homens Dragão nos veem aqui na Ilha de Combate? Eles nos veem como simples selvagens! Eles nos xingam e nos chamam de tolos ignorantes e analfabetos!
— Seus xingamentos não importam.
— O quê?
— Não importa o que esses desgraçados que não sabem nada digam. Eles nos menosprezam. Mas também não me importo com eles. Eu não me importo com seus dedos apontando, insultos ou desprezo. Pelo menos nós… Eu estou orgulhoso de mim mesmo.
— …
— É o mesmo para vocês? Irmãos.
A voz de Bargan falhou um pouco quando ele disse isso.
Ele não estava falando apenas com Kaytai, mas com todos os Lutadores ao seu redor.
— Você está orgulhoso de si mesmo agora?
— …
— Eu…
Bargan olhou para si mesmo.
Um globo ocular estava sangrando…
Seu braço esquerdo estava dormente…
Torceu a perna direita…
Suas costelas pressionavam desconfortavelmente contra seus pulmões.
Ele não estava diferente de alguém com um pé na cova.
No entanto, ainda mais, por causa disso.
— Eu estou orgulhoso.
Ele continuou a lutar…
Mesmo que perdesse a luta e morresse, não se arrependeria de uma única gota de sangue derramada.
Ele estava preparado desde o momento em que pegou sua arma.
Porque sabia.
Mesmo que eles o matassem ali, naquele dia e ninguém mais soubesse disso, eles nunca o esqueceriam.
Era irônico.
Os inimigos que ele estava arriscando a vida para derrotar acabariam se tornando os únicos a se lembrar dele no final.
Grandes Lutadores sentiriam muito conforto com esse fato.
Bargan não era diferente.
Ele se lembrou de todos aqueles que caíram e deixaram suas manchas de sangue em sua clava.
Havia uma sensação sublime que vinha com uma luta até a morte.
Do que importava se outras pessoas apontassem o dedo?
Seu corpo, seu coração, sua alma.
Ele podia dizer com perfeita honestidade que estava orgulhoso de si mesmo.
— Essas palavras não fazem nenhum sentido…
Kaytai ergueu sua espada com uma expressão rígida no rosto.
Vendo isso, Bargan silenciosamente tomou sua decisão.
— Ssss…
Uma respiração profunda.
Ele engoliu o que poderia muito bem ser seu último suspiro antes de exalar lentamente.
Ele estava pronto para aceitar sua morte.
Então percebeu.
Foi só naquele momento que ele foi capaz de realmente ver.
De repente.
Parecia que todos os seus sentidos tinham sido aprimorados.
Seu corpo parecia leve.
Estava leve como se algo tivesse sido removido.
Era uma sensação estranha e contraditória.
Algo obviamente havia desaparecido, mas agora, em vez de sentir uma sensação de perda, ele tinha uma sensação de realização.
“Ah.”
Naquele momento, a dor que vinha de cada parte de seu corpo parecia distante.
O mundo parecia ter perdido sua cor e desbotado para nada além de preto e branco.
E em meio a isso, a concentração de Bargan pareceu disparar ao limite.
“Isto…”
Às vezes em uma batalha, um indivíduo poderia ganhar a experiência que não poderia ser obtida após décadas de treinamento.
Não. Não era apenas uma experiência.
Esse fenômeno não era algo que poderia ser obtido simplesmente através de treinamento.
Era um milagre que só ocorria quando o destino e a fortuna se cruzavam.
Bargan estava experimentando apenas a ponta.
Ta, ta, ta.
Kaytai começou a correr.
Ele não estava nem rápido nem lento, mas parecia estar correndo para a frente com um impulso esmagador.
E estava chegando.
Um ataque que nunca poderia ser evitado com uma perna manca.
Ping.
— !
Os olhos de Kaytai se arregalaram.
Por outro lado, a expressão de Bargan estava extremamente calma.
Ele levantou lentamente seu porrete.
Todas as vezes antes disso, ele sempre atacava seu oponente.
Mas desta vez não fez isso. Em vez disso, o segurou para a frente.
Puk!
— Ugh!
A clava estendida de Bargan perfurou o plexo solar de Kaytai. A estocada foi tão profunda que quase metade do porrete foi enterrado.
Kaytai gemeu dolorosamente. Ele sentiu muita dor no abdômen. Parecia que todos os seus órgãos tinham dado uma cambalhota.
— Seu filho da puta!
Uma faísca apareceu nos olhos de Kaytai e ele fez um corte diagonal com sua espada.
Este ataque foi tão rápido e forte que era difícil de ver.
No entanto, Bargan poderia evitá-lo.
Podia ser demais para bloqueá-lo, mas poderia evitá-lo.
A figura de Bargan se turvou levemente enquanto evitava o ataque como um espectro. Depois disso, apareceu atrás de Kaytai como se fosse natural.
Kaytai, classificado como quarto na Arena de Lirua.
Em preparação para derrotá-lo, Bargan deu um passo à frente.
Mas de repente.
Paak!
— U-Ugh.
Parecia um trovão em sua cabeça.
Bargan caiu de joelhos. Ele sentiu o calor fluindo da parte de trás de sua cabeça. Isso provou que seu crânio estava rachado e o sangue estava vazando.
Não era Kaytai…
Alguém o havia atacado.
— É realmente um desperdício, sênior.
Então ele ouviu a voz de Aram.
— Parece que sua fadiga se acumulou, o que fez com que você desmaiasse tão de repente.
Bargan não respondeu.
Seria mais correto dizer que não teve forças nem para abrir a boca.
Ele podia sentir a exaustão preencher todo o seu corpo.
Tudo o que podia fazer era olhar para Aram com um olhar conquistado.
— Por que você está me encarando assim? É quase como se alguém tivesse lhe atacado por trás.
— …
— Eu juro que nada disso aconteceu. Olha… Somos todos testemunhas aqui. Ninguém interferiu na luta do sênior.
— Naturalmente.
— Não há um lixo aqui que interferiria na luta de um lutador.
— Hihihi!
— …
Olhando para eles, Bargan sentiu mais vontade de rir do que de xingá-los.
Mas agora, sua língua não podia se mover como se tivesse endurecida.
— Seu desgraçado insolente!
Kaytai caminhou em direção a ele com uma expressão de raiva.
— Eu vou te matar! Eu vou te rasgar em pedacinhos e te dar de alimento para um dragão do céu.
Ele havia perdido toda a razão devido à raiva.
Ergueu a espada bem alto.
Com o atual estado enfraquecido de Bargan, seu corpo seria dividido em dois por este ataque.
Bargan ergueu a cabeça com força para olhar a espada que se aproximava.
Pelo menos, ele queria enfrentar sua morte sem fugir dela.
“Que pena.”
Ele tinha acabado de perceber nessa luta.
Que poderia ir mais alto.
Que seu crescimento ainda não havia terminado.
Lá…
“Parecia que eu estava quase agarrando alguma coisa.”
No fim, era inevitável.
Ele fechou os olhos.
Talvez não se lembrassem dele no final.
Ele podia dizer olhando para Aram. Havia se esquecido completamente das “Presas de Kanesh”, um grupo que havia aniquilado com suas próprias mãos.
Mas isso não importava.
Bargan sentiu que era uma sorte poder ter, pelo menos, uma experiência satisfatória no final de sua vida.
Decidiu aceitar calmamente sua morte.
Mas sua morte foi adiada um pouco mais.
Tac…
Porque algo rolou.
Foi um momento milagroso.
Não apenas os outros lutadores, mas até Kaytai, que estava prestes a balançar sua espada, congelou.
No início, eles pensaram que era uma bola.
Não era.
— Uhh!
Aram inconscientemente respirou fundo.
O que havia sobrevoado era a cabeça de um Homem Dragão.
E o rosto na cabeça era de alguém que Aram conhecia, alguém que havia desaparecido alguns dias antes.
Ao mesmo tempo, seu desaparecimento foi a causa decisiva para o desconforto de Kangki.
Era a cabeça de um homem. Um dos três capangas de Kangki que recebeu o apelido de “Ceifador da Meia Noite”.
Era a cabeça de Hubi.
Uma voz fria flutuou lentamente em seus ouvidos.
— Se você matar aquele homem.
Veio da mesma direção de onde a cabeça de Hubi voou.
A voz era baixa e calma como um sussurro, mas por alguma estranha razão, foi claramente ouvida por todos na arena. Penetrou em seus ouvidos quase como se tivesse sido falado bem ao lado deles.
Bargan, que estava pronto para aceitar sua morte, arregalou os olhos.
— Vocês todos vão morrer também.
Da entrada da arena.
Um único homem entrou lentamente.
Era Lukas.