Depois que Arid saiu da sala, Leo entrou. Para Lukas, parecia que todos os seus discípulos queriam ter uma conversa individual com ele. Mas eles não pareciam estar seguindo nenhuma ordem específica.
— Antes, eu não conseguia cumprimentá-lo adequadamente, porque não era o melhor momento, mestre. Estou muito feliz que você esteja bem.
Quando Leo Freeman disse isso, ele se curvou profundamente para seu Mestre. Lukas olhou para ele como se o estivesse vendo pela primeira vez.
Foi-se o menino que tinha uma pitada de timidez escondida em seus olhos. Em seu lugar, estava um jovem que passava uma impressão de confiabilidade a quem o via.
As mudanças em seu corpo eram óbvias, mas as coisas que Lukas prestava mais atenção eram as mudanças em seu olhar e sua atitude.
Prudência e profundidade refletiam-se em cada movimento e tom de fala. Isso não era algo que pudesse ser copiado ou falsificado depois de alguns dias de prática.
Ele não podia deixar de se perguntar o que o menino tão jovem tinha vivenciado para que se tornasse um homem.
— Você cresceu.
— Obrigado.
— Não tivemos a chance de conversar antes. Ouvi dizer que você estava na Ilha do Desejo, mas não pude ir procurá-lo imediatamente. Eu sinto muito.
— Já ouvi tudo. É natural que a senhorita Sedi tenha tido prioridade. Acredito que o Mestre tomou uma decisão racional.
Racional.
Ouvir isso o lembrou da sugestão da Sacerdotisa. Lukas balançou a cabeça. Ele não tinha intenção de aceitar.
— Eu me pergunto pelo que você passou.
— Há muitas coisas que quero lhe dizer.
— Diga-me então.
Um leve indício de hesitação apareceu no rosto de Leo naquele momento.
— Tem certeza que está tudo bem? Não será uma história curta. Você provavelmente deveria descansar um pouco mais…
— Já descansei o suficiente. Descansei tanto que provavelmente não preciso fechar os olhos por uma semana. Está tudo bem. Conte-me.
— Sim…
Leo sorriu levemente por um momento. Então começou a descrever tudo o que tinha vivenciado até agora.
Ilha do Desejo.
As cidades naquela ilha eram todas antros cheios de lixo onde as palavras segurança e proteção não existiam.
Odores podres pareciam estar impregnados nas próprias ruas, e névoas de fumaça de cigarro preenchiam o ar.
Leo apareceu pela primeira vez no centro de uma dessas cidades. Naturalmente, ele foi incapaz de se adaptar a tal ambiente e agiu de forma ingênua e tola. Um menino tão desajeitado era a presa perfeita.
Em primeiro lugar, ele era um forasteiro, algo que raramente era visto no Reino Celestial, e geralmente nunca tão jovem. E em segundo lugar, apesar de ser de uma raça diferente, sua aparência era muito atraente.
Para os Homens Dragão que viviam na Ilha do Desejo, era como um pedaço de ouro caindo do céu.
— Eu não tinha para onde ir e nem dinheiro, então não comi nada por quatro dias. Sempre que levantava minha cabeça, parecia que o céu estava girando. Nesse ponto, comecei a pensar seriamente se poderia mastigar pedras ou não.
Essa foi a primeira vez que Leo percebeu que estar com fome podia ser tão doloroso.
— No quinto dia, um Homem Dragão se aproximou de mim e me deu um pedaço de pão. Mas depois de algumas mordidas, adormeci. Ele molhou o pão inteiro em remédio para dormir. Quando finalmente acordei, era como se eu estivesse na prisão. Minhas mãos e pernas estavam todas acorrentadas.
A voz de Leo ao contar sua história era calma, sem a menor oscilação.
— Eles tentaram me vender como um prostituto ou um garoto de brinquedo. Na verdade, estavam prestes a cortar os tendões das minhas mãos e pés antes que eu abrisse os olhos. Se eu tivesse acordado um momento depois, estaria em uma situação muito miserável.
— …
— De alguma forma, consegui escapar daquele lugar, mas ainda fui traído inúmeras vezes depois disso. Cheguei ao ponto em que comecei a duvidar de todos os favores que recebia e comecei a verificar atrás de mim para ver se alguém estava se aproximando, mesmo enquanto sorria para os que estavam na minha frente. A maneira como eu olhava para o mundo mudou completamente.
Leo soltou uma risada amarga.
— Eu me cansei da raça chamada Homens Dragão. Foi a primeira vez que pensei que havia uma raça tão repugnante quanto os Demônios. A malícia que tinham dentro deles era aterrorizante.
Ele lentamente levantou a mão e esfregou os dedos contra o rosto.
— Esse rosto… Não sei quantas vezes pensei em destruí-lo com fogo.
— Por que não o fez?
Considerando o que Leo teve que vivenciar por causa de seu rosto, ninguém ficaria surpreso se ele realmente tivesse feito algo assim.
— Eu senti que isso seria admitir a derrota. Senti que, se eu fosse mais forte, não precisaria me preocupar, mesmo que meu rosto fosse ainda mais bonito. Isso me fez querer florescer.
Então ele sorriu levemente.
— Também não queria maltratar o corpo que meus pais me deram.
— …
Leo ficou mais forte.
Não apenas em esgrima ou habilidade física. Em vez disso, foi seu crescimento interior que mais se destacou.
Ele amadureceu muito.
Foi-se o menino que tremia por causa de seu trauma. Ele não era mais alguém que precisava de seu conforto.
Em vez disso, Leo se tornou alguém que poderia apoiar os outros.
No entanto, Lukas notou a amargura escondida em seu tom.
Quando criança, Leo vivenciou coisas que a maioria dos adultos não seria capaz de lidar. Na sua idade, ele ainda podia ser considerado mais um menino do que um homem, mas até mesmo a menor inocência havia sido arrancada dele.
Passar cinco anos na Ilha do Desejo, infestada da mais feia malícia, o cobriu de todo tipo de sujeira. Depois de vivenciar a doçura e a amargura do mundo, até a palavra “maduro” pode não ser suficiente para descrevê-lo.
— Arid nos contou tudo…
A voz de Leo ficou séria.
— Mestre, por favor, descanse. Desta vez, seremos nós a protegê-lo. Não haverá necessidade de você arriscar sua vida.
— …
— Demorei mais do que pretendia. A irmã Min ainda está esperando do lado de fora…
Leo de repente ficou em silêncio.
Então soltou um suspiro profundo e olhou para Lukas.
— Mestre, isso pode ser apenas uma preocupação inútil da minha parte, mas acho que… A irmã Min parece estar muito preocupada.
— Ha-rin?
— Seria bom se fosse apenas minha imaginação.
— Eu entendo… Vou conversar com ela.
— Obrigado.
Leo assentiu e saiu da sala.
Então Min Ha-rin entrou na sala como se estivessem se revezando.
— Mestre, você está se sentindo melhor agora?
— Estou me sentindo muito melhor. Pelo menos não vou desmaiar mais.
— Eu estou realmente feliz.
Min Ha-rin esfregou levemente o peito.
Lukas olhou para ela enquanto se lembrava das palavras de Leo.
Parecia ansiosa? Ele não sabia dizer ainda. Não conseguiu encontrar nada fora do normal.
Mas naquele momento, Lukas se lembrou do dia em que teve uma sensação estranha dela.
Quando a morte de Lee Jong-hak foi mencionada…
— Eu ouvi sobre Lee Jong-hak.
— …
— Sinto muito, se eu tivesse voltado a tempo, isso não teria acontecido.
— Está bem. Já está no passado.
Ele recebeu uma resposta calma. Ainda não havia conseguido encontrar nada de errado.
Talvez estivesse errado.
— Eu sei que Nodiesop atacará a Ilha do Deus Dragão em quatro dias.
— Sim. Não se preocupe muito com isso. Eu vou pensar em algo.
— Está tudo bem. Nós vamos protegê-lo, então, por favor, descanse.
— Isso seria melhor. Mas não é como se eu não pudesse fazer nada. Ainda posso lutar.
— Você não está em sua melhor condição. Então, por favor, apenas descanse.
— Mesmo se eu estiver neste estado, há coisas que eu posso—
— Mestre, por favor, descanse.
— …
Era uma voz suave.
Como o sussurro suave de uma Deusa, gentil e puro.
No entanto, Lukas sentiu uma forte sensação de incompatibilidade ao ouvir essa voz completamente diferente de antes.
— Não se mova. Ouvi dizer que é perigoso se mover em sua condição. Tanto Arid quanto a Sacerdotisa disseram isso. Eles disseram que se você se mexer muito, vai morrer. Então o Mestre não pode se mover. Tem que descansar até estar totalmente recuperado.
— Ha-rin?
— Mestre, você não pode.
Sua voz subiu uma oitava enquanto ela continuava.
— Você não pode morrer antes de mim. Claro, eu não acho que você vai. Porque o Mestre é forte. O Mestre é mais forte do que qualquer outra pessoa. Eu vou definitivamente matar esse lixo, Nodiesop. Não vou deixá-lo tocar em um fio de cabelo do Mestre. Então por favor me diga. Não, por favor me prometa.
Por um momento, Lukas esqueceu como falar. Quando ele levantou a cabeça, seu olhar encontrou olhos negros que pareciam ter perdido toda a luz.
Min Ha-rin avançou e segurou suas mãos com as dela.
— Eu não sei sobre mais ninguém, mas o Mestre definitivamente não me abandonaria. O Mestre não vai morrer ou desaparecer de repente.
Crack.
A força de seu aperto aumentou.
— Me prometa.
Carai