Comerciantes eram uma das profissões que mais tentavam evitar a preguiça. Claro, era o mesmo para Rina. Geralmente, seus dias começavam antes mesmo do sol começar a nascer.
— Hmm…
Com um gemido suave, ela espreguiçou o corpo sob o cobertor enquanto acordava. Depois de amarrar o cabelo em um coque bagunçado, Rina começou a arrumar a roupa de cama. As madrugadas do final do outono eram bastante frias e a cama parecia muito convidativa, mas ela reprimiu impiedosamente o desejo de subir de volta em seu abraço caloroso. No entanto, não conseguiu conter o bocejo que irrompeu.
“Eu dormi por cerca de quatro horas?”
Ela não tinha dormido mais de seis horas nas duas semanas desde que começaram esta jornada, e o cansaço que sentia estava começando a se acumular. Mas ela sabia que só precisava aguentar um pouco mais. Porque uma vez que entrassem no império, seu trabalho poderia ser meio completo.
“Mas não posso relaxar ainda.”
Levaria apenas mais um dia até que chegassem à fronteira. Se nada de especial ocorresse, eles seriam capazes de ver o rio Rulan na manhã seguinte.
Não faltava muito tempo para chegarem ao destino, mas era mais uma razão pela qual não podia liberar sua tensão ainda.
Normalmente, se algo fosse acontecer, este seria o momento.
É claro que, com Peran Jun acompanhando-os nessa jornada, a maioria dos riscos não se transformaria em crise.
Tap Tap…
Ao sair de sua tenda, ela viu alguns mercenários sentados ao redor da fogueira moribunda. Eles eram a vigília noturna.
Todos inclinaram a cabeça ligeiramente quando viram Rina sair.
— Você acordou cedo hoje também.
— Sua roupa de cama era confortável o suficiente?
Embora possa parecer que estavam sendo rudes ao falar assim com seu empregador, seu comportamento podia ser considerado muito educado para os mercenários. Rina, que teve a experiência de contratar mercenários dezenas de vezes, entendia bem esse fato.
— Claro, era muito mais confortável do que dormir no chão. E não senti frio, porque estava usando cobertores importados dos campos de neve do norte.
— Kuh, estou com tanta inveja.
— Quero muito um cobertor assim. Quanto você disse que era mesmo?
— Como nos tornamos amigos depois de trabalharmos juntos, se você comprar um agora, eu o venderei por três moedas de ouro e quarenta e sete moedas de prata.
Quando Rina falou com um sorriso profissional no rosto, todos os mercenários se encolheram ligeiramente. Se trabalhassem duro por um mês, provavelmente poderiam ganhar cerca de dez moedas de ouro. Embora isso possa ser muito para os mercenários, não importa quanto ganhem, seria impossível desperdiçar um terço de seu salário em um único cobertor.
— Ah… Vocês provavelmente poderiam beber quanta cerveja preta quisessem com esse tanto.
Rina soltou uma gargalhada quando os mercenários tentaram mudar de assunto.
— Só aguentem mais um pouco. Todos vocês terão um dia de folga quando chegarmos a Bairak.
— Oh!
— Ouvir isso realmente nos anima.
Eles conversaram por mais um tempo em um tom jovial, mas a atmosfera logo mudou.
— A propósito… Quem diabos é esse cara?
Um dos mercenários apontou para uma das carruagens com uma expressão de insatisfação no rosto.
Mesmo sem olhar, ela sabia a quem estava se referindo. Era a carruagem que levava o homem de cabelos brancos que encontraram inconsciente na estrada.
Aparentemente, seu nome era Lukas.
— Estamos levando-o para a cidade de graça, ele não pode fazer algumas tarefas para mostrar sua gratidão?
— Isso mesmo. Isso é moralidade comum, mas aquele cara não parece ter isso. Veja só como é sem vergonha, descansando no porta-malas como se fosse natural.
Tais queixas eram naturais.
Afinal, dormir no porta-malas era muito mais quente e confortável do que dormir ao ar livre.
Claro, era difícil garantir muito espaço no porta-malas que estava cheio de todos os tipos de pacotes.
Assim, os únicos que costumavam dormir no porta-malas eram os patrões Rina e Peran, ou o líder do grupo mercenário Idail e o vice-líder Garp.
Além deles, só havia espaço para mais uma pessoa. Os mercenários geralmente decidiam quem conseguiria esse lugar por meio de apostas, mas agora, Lukas, que havia sido apanhado recentemente, o havia tirado deles.
Claro, isso só foi permitido por causa de Peran.
Rina falou em um tom ambíguo.
— Por favor, aguentem mais um pouco. Estamos apenas levando ele para Bairak.
— Sim, sim…
— Bem… Se é isso que o empregador diz.
Os mercenários acenaram com a cabeça como se entendessem, mas suas atitudes mostraram que não era sincero.
Isso era natural. Afinal, não havia coerção ou dissuasão nas palavras de Rina. Portanto, a menos que seu líder Idail ou vice-líder Garp os ordenasse diretamente, eles continuariam a reclamar no futuro.
Claro, Rina não pretendia detê-los. Afinal, ela também estava um tanto quanto insatisfeita com a presença de Lukas.
Depois de cumprimentar novamente os mercenários, Rina dirigiu-se às carruagens para inspecionar a bagagem.
Isso era para confirmar a quantidade de bagagem que carregavam, bem como para garantir que os mercenários estivessem fazendo seu trabalho corretamente.
Afinal, se conseguisse pegar algum deles relaxando, poderia cortar legalmente seus salários.
Assim que Rina entrou entre duas carruagens para chegar ao outro lado.
— Podemos conversar um pouco?
— !
Em um instante, seu coração saltou para a garganta.
Reprimindo com força o arrepio que percorreu sua espinha, Rina se virou para olhar para trás.
Lá, ela viu Peran dando-lhe um sorriso estranho.
—Sinto muito. Te assustei?
— E-Está tudo bem.
“Não apareça assim de repente.” Essas eram as palavras que ela queria dizer para ele, mas apenas deu um sorriso estranho em vez disso. Não fosse a influência da família do outro, por mais bonito que fosse, suas palavras duras teriam saído sem hesitar.
No entanto, tiveram sorte.
Se ela tivesse soltado um grito alto ao raiar do dia, teria criado uma situação embaraçosa para eles, e especialmente para ela. Mesmo que fosse apenas uma empregadora, ainda precisava de seu próprio prestígio no grupo.
Ahem.
Depois de soltar uma tosse suave, Rina falou.
— Qual é o problema? Você acordou muito mais cedo hoje do que o normal.
— Surgiu um imprevisto.
— Hã?
— Acho que preciso sair imediatamente.
A expressão de Rina ficou ainda mais confusa.
Ele não estava brincando. Em primeiro lugar, Peran não era do tipo que brincava, e um assunto como esse não era algo para ser mencionado levianamente.
— Sério?
— Eu me envergonhei.
Pela primeira vez desde que se conheceram, Rina viu uma rachadura em sua personalidade.
Ao contrário de antes, ele não conseguia controlar completamente suas expressões faciais.
Rina sabia que em um momento como este, a melhor resposta seria abrir um sorriso brilhante e dizer a ele que está tudo bem. Na verdade, seria melhor esconder um pouco de constrangimento no sorriso para fazer Peran se sentir culpado e ter uma dívida com ela em seu coração…
Mas ela não podia fazer isso.
“Num momento como este…”
Ela estava pensando que este era o período mais perigoso de sua jornada.
Rina tinha autoridade para parar Peran? Claro que não…
Em primeiro lugar, o fato de Peran ter decidido acompanhá-la nessa jornada estava fora de suas expectativas.
Então, com toda a franqueza, essa situação não era culpa de Peran, foi um erro de Rina. Por acreditar na presença de Peran ao invés dos mercenários, ela cortou diretamente pela metade o número de mercenários que contratava para cortar custos.
— É muito urgente?
— Ouvi dizer que um morto-vivo foi encontrado no Lago Comos, no sul.
— Morto-vivo…
Ela engoliu em seco subconscientemente.
A Legião dos mortos agora estava sacudindo todo o continente. Então sabia o quão importante seria investigar e lidar adequadamente com tal situação. Talvez isso fosse parte do motivo pelo qual Peran concordou em ir com Rina.
— Você vai voltar depois que terminar?
— Se não demorar muito. Ainda assim, você deve continuar na velocidade planejada sem esperar por mim. Quando chegar à Academia, ode entregar as mercadorias para Dio.
— …
Havia muitas coisas que ela queria dizer, mas no final, apenas uma delas saiu.
— Entendido. Por favor, cuide-se.
— Certo. Peço desculpas novamente.
Depois de dizer isso, Peran voltou a olhar para as carruagens. Para ser preciso, ele estava olhando para a carruagem em que Lukas estava.
O sol ainda não havia nascido, então ele provavelmente ainda estava dormindo.
— Por favor, cuide bem dele.
— Ah. Sim.
Peran assentiu. Então usou diretamente a magia de teletransporte e, sem arrependimentos, foi embora.
Rina olhou para o local onde ele estava há pouco.
— Porra…
Incapaz de suprimir por mais tempo, um xingamento escapou de seus lábios.