Em um lugar escuro.
Uma caverna onde quase nenhum traço de luz existia.
Kraak, kraak…
O som de pedra sendo raspada ressoou.
Alguém estava sentado na frente de uma rocha.
Mas a escuridão tornava quase impossível dizer sua aparência.
Tudo o que podia ser visto era um leve contorno de seu rosto.
Era um rosto conhecido.
— O que você está fazendo?
— Não está vendo? Estou fazendo uma estátua.
Ao dar essa resposta, Kasajin continuou a esculpir a estátua. Tudo o que tinha na mão era uma faca de trinchar que parecia ser feita de ossos de animais.
— Isso é inesperado. Você sempre foi capaz de esculpir?
— Não. Aprendi pela primeira vez neste lugar.
— Por que você aprendeu?
— Porque esse aprendizado não pode ser apagado.
— …
Ele realmente não entendeu o que isso significava. Mas não era hora de perguntar. Kasajin empunhava sua faca de trinchar com a expressão séria que costumava ter quando treinava seu corpo.
Como era um pouco cansativo ficar de pé, ele decidiu sentar na frente dele enquanto observava.
Ufa.
Depois de um tempo, Kasajin limpou um pouco de poeira da estátua e soltou um suspiro lento antes de se virar para olhar para Lukas.
— Você parece uma merda.
— Muita coisa aconteceu.
— Eu sei. É por isso que veio a este lugar.
— …
— Me conte. Vou escutar.
Sua maneira de falar não mudou nada.
Ele sentia falta…
Embora não fosse o momento, Lukas não pôde deixar de soltar uma risada suave.
— Você se lembra? Muito tempo atrás, quando estávamos lutando contra os semideuses… Eu disse a você que não importaria, mesmo que ninguém se lembrasse do que fizemos.
— Eu lembro.
— Que mesmo que nossos passos nunca fossem registrados na história, tudo bem, desde que não esquecêssemos.
— Sim.
— Mas, não está…
Ele ficou em silêncio por um tempo.
Em algum momento, o sorriso de Lukas tornou-se amargo.
— Eu não quero ser esquecido… Não preciso ser elogiado pelo que fizemos. Não salvamos a humanidade, o continente e o mundo porque queríamos fama ou recompensas por isso. Não lutamos contra os Semideuses apenas por isso.
Um desejo de sucesso, fama ou riqueza.
Se estivessem lutando apenas para satisfazer esses desejos, teriam desistido muito antes.
A razão pela qual fizeram isso, foi porque pensaram que tudo estava errado. Porque sabiam que as coisas que os semideuses faziam não eram certas. Então continuaram lutando.
Não… Não foi só isso.
O olhar de Lukas se voltou para Kasajin.
— Só consegui aguentar por causa de vocês. Porque mesmo quando estávamos lutando desesperadamente, sabíamos que estávamos fazendo isso juntos. Foi esse sentimento de camaradagem que me confortou. Mas não percebi.
Que doeria tanto se ninguém se lembrasse dele.
Lukas não adicionou a última parte.
Ele não queria mostrar o quanto essas palavras o afetaram para Kasajin.
Era melhor chamar de seu último resquício de orgulho.
— Você está errado.
— O quê?
Kasajin levantou-se de seu assento.
Foi só então que Lukas pôde ver sua aparência completa.
— Você…
Ele não sabia o que dizer.
Era um corpo tão fraco que não conseguia imaginar que fosse Kasajin.
Seus pulsos estavam tão finos que parecia que quebrariam com um toque, e as pernas que sustentavam seu corpo pareciam mais frágeis que galhos no meio do inverno.
Mas o olhar em seus olhos.
Se não fosse por aquele olhar feroz que era quase sinônimo de Kasajin, talvez não o tivesse reconhecido.
— Nem todo mundo se esqueceu de você. Sua vida não foi tão curta e suas conquistas não foram tão pequenas.
— !
— Pelo menos, sempre me lembrarei de você neste lugar. Sempre.
Ele podia sentir a emoção escondida na voz de Kasajin.
Seu coração doía…
— Kasajin, que lugar é esse?
Ele pensou que era um sonho, ou que estava refletindo sobre o passado.
Mas não era esse o caso.
Esse lugar…
Kasajin sorriu levemente.
— É um lugar que você não precisa conhecer ainda.
Paht—
O corpo de Lukas foi jogado para fora da caverna. Lukas tentou agarrar Kasajin para se segurar, mas ele balançou a cabeça e saiu de seu alcance.
— Você não deveria vir a este lugar. Ainda não.
— Kasajin! Você…
— Lukas, você mesmo acabou de dizer. Salvou nosso mundo. Entende o que isso significa? O universo não poderia sobreviver sem você. É impossível até mesmo para Deus fazer essas conquistas desaparecerem.
— Do que está falando…?
— Mais uma coisa. Você não era apenas “Lukas Trawman”.
Kasajin riu.
— Você deveria ter outro nome também.
— …
Lukas acordou com a mente ligeiramente nebulosa.
Um sonho…
Teria sido um sonho?
Sua cabeça girava. Ele estava com uma sede incrível. Também teve calafrios como se a condição de seu corpo não fosse boa.
Ainda estava sonhando?
Outro nome…
O outro nome que usou neste mundo?
— Frey… Blake…
Crash!
Um barulho alto veio ao lado dele.
Lukas abriu os olhos forçadamente e se virou.
Um homem estava parado ao lado da cama e olhando para ele com uma expressão chocada.
Era Peran Jun.
Quando abriu os olhos novamente, estava escuro.
Lukas não sabia se era o meio da noite ou o amanhecer. Decidiu se levantar primeiro.
Até certo ponto, seu corpo, que antes estava rígido e trêmulo, havia recuperado sua condição original.
“Este corpo…”
Ele não conseguia se lembrar de ter ficado tão doente, mesmo depois de ficar em sua oficina por meses a fio estudando magia. Mas ficou na biblioteca por apenas dois dias e ficou encharcado por um pouco de chuva, e agora ficou tão doente que mal conseguia se mover.
Embora soubesse o quão fraco seu corpo era, não pôde deixar de se sentir surpreso.
— …
Seu peito ainda parecia como se tivesse um pedaço pesado de chumbo sobre ele, mas sua mente parecia um pouco mais clara. Talvez, à medida que sua doença desaparecesse, também desapareceriam os maus pensamentos em sua cabeça.
“Sinto que algo importante aconteceu…”
Ao deitar na cama, acordou e desmaiou várias vezes. Graças a isso, suas memórias ainda não estavam claras. Sentiu como se algo tivesse acontecido, mas não conseguia se lembrar.
Então soltou um suspiro.
Ele havia perdido completamente o controle de si mesmo. Sentiu que, mesmo que continuasse vasculhando suas memórias, não conseguiria o que queria, então Lukas decidiu deixar para lá.
Seu olhar se voltou para a direita.
Ali, sobre uma mesinha redonda, havia uma toalha devidamente molhada, uma tigela de sopa e um copo de água morna.
Traços de que alguém estava cuidando dele.
“Era Snow?”
Lukas pensou no toque frio que sentiu na testa, mas ela lhe disse que esperaria apenas mais um dia. Mesmo que estivesse inconsciente, estava ciente do fato de que não tinha sido apenas por um dia.
Snow provavelmente já havia saído.
Creak—
Mas naquele momento, a porta se abriu e não foi outra senão Snow que entrou na sala. Lukas ficou um pouco surpreso.
Não só por causa de sua aparição repentina, mas também por causa de sua expressão.
Normalmente, ela tinha um sorriso no rosto. Quer fosse um sorriso travesso ou um sorriso confiante, na maioria das vezes, os cantos de seus lábios estavam levantados.
Mas naquele momento, a Snow que entrou na sala estava visivelmente chateada.
— Humpf…
Ela olhou para Lukas e cruzou os braços.
Por um tempo, não disse nada e simplesmente olhou para ele com um olhar irritado.
Vendo que não pretendia falar primeiro, Lukas disse…
— Como sabia que eu estava acordado?
— Ha.
Snow bufou.
A expressão de seu rosto, tão branco quanto o luar, mudou.
Foi ao ponto onde ele quase conseguia ouvi-la pensando, “o que esse desgraçado acabou de dizer?”
— Isso é tudo?
— O quê?
— A primeira coisa que diz quando recupera totalmente a consciência. Estou perguntando se isso é tudo.
— …
Lukas olhou para a mesa.
— Obrigado…
— …
— Estou realmente em dívida com você.
— …
— Você salvou minha vida.
Ele falou com sinceridade, mas a expressão de Snow não relaxou nem um pouco.
Ainda parecia irritada, mas finalmente soltou um suspiro ao olhar para o rosto de Lukas.
— Certo… Bem, acho que é natural dizer obrigado, mas não sou eu a quem você deveria dizer isso.
— Então a pessoa…
— Foi Peran. Mas ele deixou a academia algumas horas atrás. Você perdeu a chance. Ele parecia querer falar com você sobre algo…
Snow estreitou os olhos por um momento antes de balançar a cabeça.
— Enfim… Você se lembra do que esta Rainha lhe disse?
— Você quer dizer sobre esperar por um dia?
— Então se lembra. Para referência, quatro dias se passaram desde então. Noventa e seis, horas para ser exata.
O sangue fluiu para o rosto pálido de Snow.
Lukas gentilmente inclinou a cabeça.
— Sinto muito… A propósito, não que eu pretenda dar desculpas ou algo assim, mas por que simplesmente não foi embora quando eu não acordei a tempo?
— Porque eu queria ouvir o que sairia de sua boca. Mas se eu soubesse que diria algo assim, eu simplesmente teria ido embora.
— …
Ela realmente tinha uma personalidade instável. A ponto dele ter pena de Peran, que era assistente dela. Claro, como Lukas estava completamente errado nesse assunto, sabiamente permaneceu em silêncio.
Snow sorriu mais uma vez, e só então desviou o olhar irritado de Lukas.
— Sua condição parece ter melhorado um pouco. Da última vez que te vi, parecia que você ia morrer.
— Você viu aquilo?
— Sim. Mas enfim, fico feliz que esteja melhor. O tempo está um pouco curto, então vamos embora imediatamente.
— Vamos partir? Para onde?
— O melhor lugar para treinar você.
— Onde fica isso?
Snow finalmente sorriu.
— Floresta Amálgama.