— Como você fez isso?
A mulher veio correndo e falou com ele com uma voz surpresa.
Em vez de responder, Lukas a encarou por um tempo.
Comparada com sua voz, ela parecia muito jovem. Talvez fosse mais apropriado chamá-la de garota em vez de mulher. Ao contrário de seu cabelo azul-marinho excepcionalmente perceptível e de sua voz barulhenta, ela tinha uma figura particularmente pequena. Suas bochechas finas e membros magros eram características proeminentes. Davam a impressão de que seria muito melhor se ela ganhasse um pouco de peso.
— ?
Apesar de ser observada tão de perto, a garota não parecia particularmente incomodada. Em vez disso, ela simplesmente inclinou a cabeça para o lado de maneira relaxada antes de abrir a boca com um suave ‘ah’.
— É Pale.
— Pale.
— Esse é o meu nome.
Ela apontou para si mesma com o dedo e sorriu.
Esse era o nome verdadeiro dela? Se fosse, era um nome muito original.
Lukas não estava particularmente cauteloso com ela. No entanto, não pôde deixar de se perguntar se a inocência dela era uma farsa ou não.
— Não vejo outra pessoa há muito tempo. Então é um prazer conhecê-lo!
Pale caminhou até ele e estendeu a mão. Mas Lukas passou por ela, ignorando-a.
— Você não deveria ir por esse caminho.
Ele não estava andando muito rápido, e Pale, que conseguiu segui-lo, aconselhou.
— Você parece estar familiarizada com este lugar.
— No mínimo, quando se trata deste lugar, sou sua veterana.
Assim que murmurou suas palavras, recebeu uma resposta presunçosa.
Veterana… Por um momento, ele sentiu uma sensação estranha que veio com essa palavra.
— Por que não posso ir por aqui?
— É um território.
— Território?
— Sim. Se você colocar os pés lá, vai ser pintado.
— …
Ele não sabia o que significava [pintado].
Lukas ponderou por um momento se deveria seguir o conselho de Pale ou não.
“Embora eu possa usar magia agora…”
Ele não tinha certeza se era um fenômeno temporário ou não.
Além disso, a mana que usou ainda não foi recuperada. Isso significava que não seria capaz de recuperar a mana que usasse? Ele não sabia… Havia muito pouca informação.
Lukas olhou para Pale e chegou a uma conclusão.
Em primeiro lugar, ele deveria obter informações sobre este lugar através dela.
Um deserto que parecia se estender infinitamente em todas as direções.
Ele podia sentir claramente a areia sob seus pés. Como esperava, ao contrário da última vez, ele não tinha a sensação de que voltaria depois de um tempo.
“O Mundo Imaginário.”
Lukas percebeu que este era o mundo após a extinção que até os Absolutos temiam.
Talvez a ‘caixa preta’ tenha sido uma porta de entrada para este mundo.
O deserto cinzento não era nem quente nem frio. Também não parecia haver nenhuma separação entre o dia e a noite.
A paisagem ao redor também estava congelada como se o tempo tivesse parado. No final, havia apenas uma coisa que mudava drasticamente.
Era o céu. O céu mudava constantemente de cor como se fosse uma mistura de tintas. Agora estava brilhando, mas não emitia uma sensação misteriosa como uma aurora.
“Por que fui enviado para cá?”
Lukas se perguntou enquanto se sentava no meio do deserto.
Ele entendeu que este era o Mundo Imaginário. Mas não tinha ideia do porquê Deus o havia enviado para este mundo.
“Eu precisava… Desaparecer completamente?”
Claramente, este era um espaço onde apenas os esquecidos podiam entrar. Pelo menos foi esse o conceito que Lukas entendeu.
Se esse fosse o caso, então o quê? Lukas agora havia se tornado ‘um ser que não existia’ em seu universo natal? Antes mesmo de terem se livrado de Diablo?
“Ainda não posso.”
Ainda havia mais a ensinar a Peran.
Crunch, crunch.
Pale estava comendo um escorpião cru do tamanho da palma da mão de um adulto. Limo verde escorria de sua boca.
Quando seus olhos se encontraram, Pale sorriu brilhantemente e estendeu metade do escorpião para ele.
— Sim, serei generosa! Aqui!
— …
— Você não vai comer?
— Não estou com fome…
Ele não podia dizer que olhar para ela o fez perder o apetite, então simplesmente desviou o olhar.
— Hmm. Não se arrependa depois.
Pale murmurou essas palavras, mas ela não ofereceu mais o resto do escorpião para ele e em vez disso o levou aos lábios. Mais uma vez, o som de mastigação preencheu o ar.
Lukas tentou ignorá-la e continuou seus pensamentos.
Ele estava perdido.
Uma vida sem um objetivo seria chata e sem valor.
Era assim que Lukas se sentia agora. Ele havia perdido seu propósito. Não era exagero dizer que o propósito que ele havia encontrado em uma situação impossível havia sido arrancado à força.
Ele pretendia fazer de Peran seu sucessor e realmente estava preparado para morrer. Então, foi repentinamente arrastado para o Mundo Imaginário e agora estava sentado na frente de uma mulher que não conhecia.
Nesse ponto, ele não podia deixar de sentir que o destino o odiava. Tudo o que ele desejava não se tornava realidade, e as coisas que não queria, geralmente aconteciam de maneiras ainda piores.
— Pfft.
Enquanto isso, Pale terminou sua refeição. Ela cuspiu um pedaço de casca de escorpião, lambeu os lábios e cantarolou de satisfação.
Lukas não conseguiu obter muita informação dela.
Talvez estivesse escondendo alguma coisa, ou talvez fosse apenas o jeito que ela falava.
De qualquer forma, as respostas de Pale para a maioria das perguntas de Lukas eram vagas, e suas expressões faciais eram tão vívidas que eram ilegíveis.
— Então vou descansar!
Essa atitude foi um bom exemplo disso.
Como se tivesse terminado de falar, Pale assentiu antes de se deitar na areia do deserto. Ela adormeceu em um instante, não roncava, mas estava claramente dormindo profundamente.
Lukas suspirou antes de olhar para o céu mais uma vez.
O céu ainda estava brilhando.
No dia seguinte, Lukas estava prestes a dar um passo quando de repente caiu no chão.
— O que…
Ele não tinha tropeçado em nada. Em primeiro lugar, não havia rochas neste deserto. E ele não tropeçou nos próprios pés.
Quando olhou para baixo, a expressão de Lukas enrijeceu.
Seus pés haviam desaparecido.
Para ser preciso, a sola dos seus pés até seus tornozelos havia se transformado em fumaça branca.
— Tio, você não comeu nada ontem?
Pale inclinou a cabeça para o lado antes de continuar.
— É por isso que você deveria ter comido quando eu dei a você. Ugh.
— Isso é porque eu não comi o escorpião?
— Claro. Se você não comer, vai desaparecer.
Pale coçou a cabeça.
— Sim. Acho que não há o que fazer. Eu ia guardar isso para comer mais tarde.
Ela vasculhou os bolsos por um momento antes de tirar algo.
Era um rato sem rabo com cinco olhos.
— Isso significa que você me deve uma?
Lukas não era exigente com comida, mas ainda não estava relaxado o suficiente para ver um rato como comida.
— Você não vai comer? Você vai desaparecer.
— O que vai acontecer se eu desaparecer?
— Não sei, nunca desapareci.
— …
Agora que mencionou isso, ela estava certa. Seria perigoso deixar isso continuar.
Lukas relutantemente pegou o rato. E depois de olhar para ele por um tempo, decidiu que não iria comê-lo cru, então fez uma bola de fogo e assou. No entanto, o cheiro era nojento, e a textura do pelo que descia por sua garganta era nauseante.
Glup–
Assim que engoliu, um fedor repugnante encheu suas narinas. Ele ficou um tempo parado, porque sabia que no momento em que baixasse a guarda acabaria vomitando.
Sss…
Naquele momento, seus pés, que haviam se tornado fumaça branca, recuperaram a forma.
Isso não foi tudo, uma parte de sua mana também retornou.
— Cinco refeições!
Pale gritou.
— O quê?
— Você tem que comer uma refeição cinco vezes, uma para cada vez que o céu muda. Caso contrário, começará a desaparecer dos dedos dos pés. Se o céu mudar três vezes enquanto você estiver nesse estado, todo o seu corpo desaparecerá.
Esse era o tipo de informação que Lukas queria ouvir.
— Não tem nada melhor para comer?
— Tem. Mas os gordinhos geralmente estão no ‘território’.
— O que é o território?
— Um lugar que não podemos ir.
— O que vai acontecer se formos lá?
— Vamos ser pintados.
— O que significa ser pintado?
— Não sei.
— …
Sempre que ele fazia perguntas, também recebia essa resposta misteriosa no final.
Como resultado, a única maneira dele aprender sobre essa experiência de ‘pintura’ era experimentá-la por si mesmo.
— Uh!
De repente, Pale levantou a cabeça e olhou para longe.
Eles podiam ver pequenas formas serpenteando em direção a eles.
A princípio, Lukas pensou que fosse um grande inseto parecido com uma centopeia, mas não era.
Só parecia assim de longe, mas conforme se aproximaram, tornou-se possível ver sua verdadeira aparência.
Anões.
Anões com uma altura que chegava apenas à cintura de Lukas.
Todos pareciam garotos e garotas, e não pareciam perigosos.
— !
— !
Quando os anões avistaram Lukas, seus rostos ficaram brilhantes. Então começaram a circular ao redor de Lukas. Suas expressões alegres e movimentos exuberantes faziam parecer que estavam dançando.
No entanto, ao contrário de seus movimentos corporais ‘escandalosos’, eles não faziam barulho.
Não podiam falar?
De repente, uma garota anã sinalizou para Lukas com as mãos.
“Linguagem de sinais?”
Provavelmente era.
Os outros anões continuaram sorrindo com expressões brilhantes, mas não havia nenhum sinal deles falando alguma palavra.
Ele não tinha certeza se era porque não tinham órgãos vocais ou se era por algum outro motivo.
Quando Lukas permaneceu em silêncio, outra garota anã puxou suas roupas. Mas ela não puxou com toda a força; a força que ela usou foi tão fraca que Lukas só sentiu como se suas roupas estivessem presas em um galho.
— Uau! Esses são nativos! Acho que estão tentando convidar você.
Esta foi a primeira vez que ela viu algo assim. Pale sorriu feliz.
— Me convidar?
— Siga-os primeiro! Talvez eles nos ofereçam uma boa comida!
Ao dizer isso, Pale começou a andar com uma marcha animada. Não havia anões ao seu redor.
Todos os anões cercaram Lukas.
— …
Se ele ficasse, não seria capaz de aprender nada.
Então Lukas obedientemente permitiu que os anões o puxassem.
Os anões se reuniram em uma linha como tinham feito quando apareceram. Eles até aconselharam Lukas a se juntar a eles, antes de finalmente avançar. Pale alegremente seguiu atrás deles com um sorriso no rosto.
Isso teria sido uma visão ridícula para qualquer um que visse, mas todos os anões tinham expressões sérias.
Eles caminharam por um período de tempo desconhecido.
De repente, o anão líder parou. Naturalmente, os anões que o seguiam também pararam. Então, começaram a olhar em volta como se estivessem procurando por algo.
Pale também virou a cabeça, aparentemente copiando suas ações.
Eles estão garantindo que ninguém esteja por perto? A princípio, Lukas estava cauteloso, mas não conseguia sentir nada.
Talvez o anão líder tenha percebido isso também, porque acenou com a cabeça uma vez antes de dar um passo à frente. E então desapareceu.
Shuk! Shuk!
Não. Ele não desapareceu.
Quando o segundo e o terceiro anões também desapareceram após dar um passo à frente, Lukas notou uma pequena reentrância na areia. Após uma inspeção mais próxima, percebeu que havia um pequeno formigueiro ali.
Em um instante, dezenas de anões desapareceram.
— Isto vai ser divertido!
Pale pulou no formigueiro com um grito animado, e Lukas lentamente a seguiu.
Por via das dúvidas, ele respirou fundo antes de pular, mas não tinha nenhum problema para respirar. Se não fosse pelos grãos de areia entrando em suas roupas, ele poderia ter confundido isso com um rio.
Em vez disso, tudo o que podia ver era a escuridão.
Depois de um tempo, as correntezas de areia pararam e Lukas de repente sentiu como se seu corpo estivesse flutuando no ar.
Não. Não era um sentimento. Era real.
O corpo de Lukas estava caindo do céu.
Assim que se perguntou como responderia, já que parecia estar muito longe do chão.
Whoosh!
Um dos anões que havia entrado anteriormente pegou Lukas antes de jogá-lo para outro anão. Este processo foi repetido várias vezes.
— …
Ele estava sendo jogado de um lado para o outro.
Pale, que havia entrado antes dele, estava rindo enquanto era jogada pelos anões. Minutos depois, os anões empolgados depositaram Lukas no chão e ele finalmente conseguiu olhar ao redor.
Não teria pensado que existia uma cidade no subsolo. A cidade tinha uma aura antiga como a de uma ruína histórica, mas esse sentimento foi parcialmente obscurecido pela vivacidade dos anões.
— Siga, venha.
Um dos anões falou. Eles não haviam dito uma única palavra antes, mas agora definitivamente tinham falado, mesmo que o tom fosse um pouco brusco.
— Para onde?
— Nós.
— Siga, venha.
Os anões sorriram enquanto conduziam Lukas para o interior da cidade.
Pelos buracos das casinhas que serviam de janelas, pequenos anões colocavam suas cabeças para fora. Todos pareciam muito menores e mais fracos do que os anões que guiavam Lukas. Seus olhos que observavam Lukas e Pale estavam cheios de medo e cautela.
Pale acenou brilhantemente e os anões se encolheram visivelmente antes de pular de volta em seus prédios como tartarugas.
Uma anã deu um tapinha nas costas da mão de Pale.
— Ah.
— Provocar, pare.
Ela parecia ter dito isso em um tom intimidador, mas, infelizmente, não foi nada intimidador.
— Eles, não guerreiros.
— Hã? Então vocês são guerreiros?
— Isso.
— Nós, guerreiros.
Os anões responderam com expressões orgulhosas. Eles não pareciam estar brincando ou blefando, então provavelmente se sentiam assim.
No entanto, a atmosfera barulhenta diminuiu quando entraram no coração da cidade.
Não demorou muito até que chegassem diante de uma enorme catedral.
— A partir daqui, só você.
Um anão apontou para Lukas.
Então ele olhou para Pale e balançou a cabeça.
— Menina de cabelo azul, não pode.
— Não permitido.
— Uwaah. Por que não?
Pale fez uma expressão desapontada.
Então se virou para olhar para Lukas.
— Você vai conhecer o Lorde! Estou com inveja!
— Lorde?
— Eu também queria conhecê-lo. Uwah. Uwah.
Pale torceu seu corpo enquanto fazia sons estranhos.
Lukas não teve chance de perguntar mais. A pedido dos anões, ele caminhou até a frente da catedral.
Creak–
A enorme porta de ferro se abriu, revelando uma capela. Tochas acesas penduradas em ambos os lados da sala davam uma atmosfera sombria.
Ele estava começando a ter uma sensação estranha…
A atmosfera na capela não era estranha. Na verdade, ele estava acostumado.
Tap tap.
Os sons de seus passos ecoaram silenciosamente no prédio.
Lukas parou depois de caminhar um pouco.
Havia alguém no altar.
— …
Quando viu isso, Lukas não pôde deixar de respirar fundo.
Aquela figura…
[Um convidado interessante.]
— !
Assim que ele ouviu aquela voz, suas dúvidas se tornaram certas.
Lukas deu um passo para trás, inconscientemente elevando sua mana.
Então, a figura no altar lentamente se virou.
Um corpo que emitia um brilho branco sagrado.
Falta de feições.
Não era uma ilusão…
Ele não estava enganado.
Este ser…
Aquele cujo relacionamento com Lukas só poderia ser descrito como tumultuado, falou…
[Como você chegou aqui? Ser desconhecido, mas familiar.]
O Lorde dos Semideuses olhou para Lukas.