Certamente havia algumas coisas que ele não sabia.
Lukas não sabia que se não tivesse parado de comer, acabaria destruído. Ele não sabia que seria completamente arruinado.
Seu corpo lhe enviou inúmeros avisos, tanto físicos quanto mentais.
Então por que ele não parou de comer?
Tap, tap—
Lukas caminhou lentamente em direção a ele.
Não disse nada, mas o sorriso ainda estava em seus lábios. Claro, não era um sorriso amigável.
Lucid estava pronto para responder. Mas ele ainda estava pensando.
Foi só então que percebeu algo. Lucid também estava distorcido, por isso demorou tanto para perceber.
Seus pensamentos estavam errados desde o início.
Se fosse o Lukas Trawman que ele conhecia, mesmo que fosse seu próprio cadáver, não o teria comido.
“Três passos.”
Quando essa lacuna era tudo o que restava, Lucid chegou a uma conclusão trivial.
Provavelmente antes mesmo dele comer seu próprio cadáver.
Lukas deve ter quebrado antes disso.
A distância foi reduzida para dois passos.
Nesse momento, a postura de Lukas mudou. Ele se inclinou para frente e de repente aumentou sua velocidade. Entre as duas opções, ataque e defesa, Lucid escolheu a primeira.
Buzz—
Deukid avançou em direção ao rosto de Lukas, com uma faixa preta atrás dela. Naturalmente, naquele momento, a espada de Lucid não mostrou piedade. Estava cheia de intenções penetrantes enquanto avançava em direção ao rosto dele. A informação avançada de que o adversário era um velho amigo e que parecia estar fora de si não significava nada naquele momento.
Puk!
Houve o som de carne sendo perfurada. Mas as coisas não aconteceram como Lucid esperava. Originalmente, ele planejou perfurar o globo ocular esquerdo de Lukas e atingir seu cérebro, com o objetivo de matá-lo instantaneamente. Claro, também tinha uma dúzia de outros planos caso seu golpe não saísse como planejado, mas a escolha de Lukas superou suas expectativas.
Ele estendeu a mão direita para aceitar Deukid. Como resultado, a lâmina negra perfurou a palma de sua mão.
— Ah. Isso dói muito.
Assim que ele murmurou essas palavras, Lucid o chutou com força no estômago. A bota da armadura negra estava coberta por uma energia negra densa.
Boom!
Com uma forte explosão, como o som de algo sendo disparado de um canhão, Lukas foi lançado voando.
Enquanto voava para longe, algo voou em direção a Lucid.
Foi a lança. Sem que ele percebesse, Lukas puxou a lança que estava cravada no chão e a jogou.
Claro, já que jogou de uma posição instável, não tinha muita força ou velocidade.
Clang!
Ela se chocou em cheio com Deukid… Mas elas se repeliram? Não. Isso não estava certo. Lucid brandiu sua espada com a intenção de destruir esta lança medíocre. Na verdade, não deveria ter sido tão difícil.
— Olhe, olhe. A lança que fiz também não é tão ruim.
[…]
A voz veio de trás dele.
Ele olhou para frente. O Lukas que acabara de voar enquanto cuspia sangue não estava em lugar nenhum. Ele não o havia perdido de vista, era como se tivesse evaporado…
Certamente foi surpreendente ouvir a voz atrás dele… Mas Lucid não se incomodou muito com isso. Seu corpo se moveu primeiro que sua cabeça. Ele virou Deukid, segurou-a ao contrário e então golpeou atrás dele.
Sentiu sua espada cortar o ar.
“Ele se esquivou.”
Por um momento, Lucid sentiu como se seu corpo estivesse flutuando. Lukas o agarrou pelos ombros e o levantou. Com toda a honestidade, neste ponto, Lucid não pôde deixar de se sentir um pouco chocado.
Aquele Lukas, que estava usando artes marciais, estava tentando derrubá-lo.
Claro, ele não poderia deixá-lo fazer isso sem contestação.
Lucid esticou o braço esquerdo pouco antes de suas costas atingirem o chão. Sua mão enluvada cavou fundo no chão. Assim que cerrou o punho depois de enfiar o braço.
Boom!
O chão se revirou com o som de um trovão. Não foi uma explosão tão grande. Tudo o que ele fez foi detonar a energia negra que condensou em seu punho no subsolo. Mas, claro, o poder era grande. O chão em um raio de cerca de dez metros desapareceu em um instante.
No processo, Lucid olhou com atenção.
Os fragmentos do chão tornaram-se pedregulhos ou punhais afiados que o atingiram por inteiro. Ele percebeu isso quando os acertou com Deukid, seu corpo não parecia estar tão bem treinado.
Mesmo que o solo não tivesse sido misturado com a energia negra de Lucid, ele não teria como se defender.
Pouco tempo depois, o corpo de Lukas desapareceu entre os arbustos.
— Isso me lembra dos velhos tempos.
Então ele ouviu uma voz atrás dele novamente.
Lukas estava sorrindo enquanto estava ali parado sem nenhum arranhão.
— Você era implacável mesmo nos treinos. Ah. Ou isso também é um erro?
Não era. Desta vez, ele estava certo.
Tratar os duelos como lutas reais era um dos lemas de Lucid.
No entanto, Lucid não comentou o que ele disse.
— É assim agora. Cada ataque é carregado com energia mortal. Você realmente não hesita em me matar.
[Porque esse é o meu papel.]
— Esse é um papel chato… Ah. Parece que minha cabeça clareou um pouco.
Enquanto murmurava, Lukas agarrou a lança. Mesmo olhando para ele, os pensamentos de Lucid não pararam.
Ele o matou…
O matou duas vezes.
Quando sua bota chutou Lukas no estômago, sua energia negra corroeu todo o corpo de Lukas. Não foi diferente dele aceitar diretamente a energia da morte.
A única coisa que Lukas conseguiu fazer com seu último resquício de força foi arremessar a lança.
No entanto, apareceu atrás dele depois em perfeitas condições. Então, quando tentou usar artes marciais, os destroços do chão transformaram todo o corpo de Lukas em um trapo. Lukas voou para os arbustos depois de sofrer grandes danos em seus pontos vitais.
E novamente, apareceu atrás dele sem nenhum arranhão.
Que diabos de truque ele estava usando?
Não. Antes disso.
Por que ele ainda não usou uma única magia?
A magia era o poder que simbolizava aquele homem chamado Lukas Trawman e era o seu foco principal. Era a arma na qual ele era mais confiante, e havia a possibilidade de que fosse capaz de ser uma ameaça ao atual Lucid.
Não havia como ele não estar ciente desse fato, então por que não mostrou nenhum sinal de usar magia?
Taht.
Lukas diminuiu a distância entre eles e avançou com a lança. Foi como antes. Mais uma vez, ele estava escolhendo o combate corpo a corpo e, desta vez, era com a lança.
A lança balançou descontroladamente e sua ponta começou a vibrar. Embora o princípio da enganação fosse simples, pois obscurecia o caminho do ataque, era difícil de praticar e ainda mais difícil de aplicar em situações reais de combate.
Era uma técnica excessiva demais para ser usada com um corpo tão fraco, mas só parecia um truque para Lucid.
Com poder nítido, sua espada surgiu de baixo em um corte ascendente. Desta vez, Deukid realmente cortou a lança. Mas Lukas agarrou as pontas da lança cortada, e golpeou com elas como se fossem espadas duplas.
Ppapapa!
Houve uma enxurrada de golpes, mas os resultados foram mínimos. Golpes tão simples não seriam capazes de penetrar na armadura negra de Lucid, sem mencionar a energia negra que a rodeava.
Sama Ryeong. Se não fosse, ao menos, tão bom quanto os ataques da Espadachim que ele acabara de enfrentar, seria impossível causar danos significativos a Lucid.
Lukas tinha que estar ciente disso.
“Ele deve ter um alvo.”
Ele não era um homem que lutava sem sentido ou propósito. Claro, esse estilo de luta também não era algo que Lukas adotaria.
Os meios que Lukas estava usando agora… Eram frívolos. Sua atitude também. Ele sabia que Lukas era um homem muito mais sério do que isso.
Se houvesse algo que ele almejava neste estado…
Puk.
Desta vez, a espada perfurou seu queixo. Houve uma sensação suave. Sem qualquer resistência, a lâmina perfurou a carne macia sob sua língua antes de continuar para seu cérebro.
Gurrrrgh.
Em um instante, o sangue jorrou do rosto de Lukas. Foi o ataque mais óbvio. Não era um ferimento fatal, era um ataque que matava instantaneamente o adversário.
No entanto, não foi suficiente.
Lucid retirou a espada e desta vez perfurou o seu peito. Deukid cortou sua carne e ossos antes de perfurar seu coração com precisão.
[…]
Através da espada, ele sentiu o coração lentamente parar de bater. O fim dos sinais de vida. Ele experimentou muitas sensações que apontavam para a morte.
Ele retirou Deukid. O buraco da ferida não era muito largo. Depois que retirou a espada, era pequeno o suficiente para ser confundido com uma mancha em suas roupas. O sangue jorrou da mancha.
O corpo de Lukas se inclinou lentamente em sua direção, mas Lucid se recusou a pegá-lo.
Plop—
O cadáver caiu no chão e o sangue começou a encharcar o chão abaixo.
Lucid…
Não baixou a guarda.
É claro que seus sentidos aguçados que lhe disseram que Lukas estava morto não estavam enganados, mas o mundo ainda não havia desaparecido.
Ele não baixou a guarda.
E ainda assim, sem que percebesse, seu braço foi arrancado.
E a alguns passos de distância, Lukas estava sorrindo para ele.
— Olha, Lucid, você sangrou. Mesmo sendo morto-vivo.
O sangue não pingava, mas claramente havia sangue na carne rasgada. Estava muito vermelho. Isso o deixou curioso. Lukas viu a cabeça de Lucid ser decepada.
Não havia sangue naquele momento.
Mas agora havia sangue, e era claro e brilhante. Ele não sabia o porquê, mas realmente não se importava.
Isso porque havia um cheiro perfumado.
Ele sabia. Isso provavelmente era uma ilusão. No entanto, essa ilusão deixou Lukas animado. Ele lambeu um pouco do sangue no braço. Primeiro, o passou suavemente sobre a ponta da língua antes de engoli-lo lentamente. Ele tinha uma atitude cautelosa, como se estivesse degustando um bom vinho envelhecido.
De repente, o corpo de Lukas começou a tremer.
Isso não poderia ser chamado de sangue dos mortos. Esse gosto…
— Aah…
Soltando um pequeno suspiro de êxtase.
Não era diferente dos melhores vinhos finos. Pelo menos foi isso que Lukas sentiu naquele momento.
Também foi fácil para ele adivinhar o motivo.
Tudo o que ele comeu no lixão eram, de certa forma, cadáveres. Não havia como cadáveres apodrecidos misturados com outros tipos de resíduos serem deliciosos.
Mas Lucid era diferente.
Mesmo que seu coração não batesse, sua pele estivesse pálida e seus órgãos internos não existissem.
Para Lukas, havia uma diferença crucial entre ele e um cadáver no lixão.
Lucid estava se movendo.
Só isso criava uma grande diferença de sabor.
“Pale.”
De repente ele se lembrou da cena em que a viu devorar um cadáver. Ele não entendeu naquela época. Até se sentiu enojado.
No entanto, agora, ele a invejava.
Aahh. Se até mesmo a carne e o sangue de um morto-vivo fossem tão viciantes, então quão incrível seria o sabor da carne de um cadáver fresco, ou até mesmo da carne de um ser que ainda estava vivo?
Virando-se lentamente, ele olhou para Lucid.
Então, um sorriso sangrento apareceu nos lábios de Lukas.
— Ei, Lucid. Há algo que eu gostaria de lhe perguntar, em nome dos velhos tempos.
No momento em que ouviu as palavras seguintes, Lucid não pôde mais considerar o ser à sua frente como Lukas.
— Posso comer um pouco de você?