— Eu…
No momento em que Neil estava prestes a responder, alguém bateu à porta antes de abri-la. Era um jovem bonito.
Ele curvou a cabeça educadamente para Neil.
— Perdoe minha intromissão, presidente.
— O que foi? Tenho certeza de que disse que tinha negócios importantes esta noite.
A voz fria de Neil fez a expressão do jovem enrijecer um pouco.
— Lamento profundamente. É um assunto urgente…
— Um assunto urgente?
— Sim, senhor.
O jovem assentiu antes de olhar para Lukas. Parecia que era algo que não podia ser discutido na frente de estranhos.
Neil ponderou em silêncio por um momento antes de se levantar e dizer.
— Posso colocar isso em espera por um momento?
Lukas assentiu.
Ele poderia estar demorando para dar uma resposta, mas não importava. Na verdade, pode até ser melhor fazer uma pausa por um tempo.
Neil saiu da sala imediatamente, e o jovem se virou para observar Lukas por um momento.
Sua expressão não era muito boa. Talvez ele achasse a atitude de Lukas com o presidente muito indelicada. Ou talvez ele suspeitasse de sua identidade.
Poderia ser as duas coisas. Mas Lukas não se importava, já que isso não afetava ele de qualquer maneira.
Ignorando seu olhar, Lukas brincou com a chaleira na mesa à sua frente. Havia café lá também.
O jovem continuou olhando para ele com uma expressão incrédula por um momento antes de seguir Neil.
Lukas conectou o cabo da chaleira e a ligou. Quando a água começou a ferver, Lukas despejou o café em uma xícara sobre a mesa antes de despejar a água nela.
O cheiro doce logo encheu toda a sala.
Quase ao mesmo tempo em que Lukas levava a xícara aos lábios, a porta se abriu novamente. Não houve batida desta vez.
Não devia ser Neil. Afinal, ele não achava que o assunto importante poderia ter sido tratado tão rapidamente.
E como esperado, a pessoa que abriu a porta era um homem de meia-idade vestindo uma jaqueta de motoqueiro e jeans. Era Letip.
Ele abriu a porta, mas não entrou no quarto. Em vez disso, ele apenas se encostou no batente da porta e olhou para Lukas.
Ao contrário do tempo no elevador, havia um leve interesse em seus olhos.
Parecia que ele tinha ouvido sua conversa com Neil.
— Qual é o teu objetivo?
— Salvação.
Foi uma pergunta inesperada, mas Lukas respondeu naturalmente depois de tomar um gole de café.
A expressão de Letip ficou um pouco estranha.
— E depois disso?
— Depois? Não existe tal coisa. Meu objetivo não tem fim.
Havia muito mais universos do que ele ousava contar. Mesmo naquele exato momento, inúmeros universos eram criados ou destruídos. E havia ainda mais humanos.
A jornada de Lukas nunca terminaria.
Mesmo que ele ganhasse o “Grande Jogo” e se tornasse um Governante, ele continuaria a salvar humanos. E mesmo que ele voltasse ao seu mundo natal, ele acabaria indo embora.
— Hmm. Isso não vai durar muito.
— O quê?
Letip balançou a cabeça.
A pequena faísca de interesse em seus olhos desapareceu. Antes de se virar e sair, ele deixou uma mensagem aparentemente significativa.
— Que pena. Que pena.
Ao entrarem no elevador, o jovem falou com Neil.
— Recebemos uma mensagem do nosso agente monitorando o Top Três.
Top Três.
A expressão de Neil enrijeceu um pouco por causa do peso daquele título.
— O que dizia?
— É ultrassecreto… Então você terá que ler pessoalmente no escritório da Agência de Inteligência.
Embora fosse improvável, ainda havia uma chance de que alguém pudesse estar escutando os dois no elevador.
Neil assentiu uma vez antes de olhar para o indicador do elevador enquanto seus pensamentos vagavam.
Ele não podia deixar de pensar na proposta de Lukas.
“Talvez eu aceite a oferta dele.”
Ele não estava cedendo às ameaças de Lukas porque estava com medo. Embora fosse verdade que ele já havia sido dominado pela aura de Lukas antes, ele não teria sido capaz de se sentar firmemente na posição de presidente por tanto tempo se pudesse ser movido apenas por causa de ameaças.
“Ele não tem intenção de me matar.”
Lukas estava encarando Neil como o caçador europeu “Frey Blake”.
Isso era algo que quase todos no quartel, incluindo Joanna, estavam cientes.
Se Neil morresse ou desaparecesse, o “Frey” seria o suspeito mais provável. Isso faria com que não apenas a Ásia, mas também a América se tornasse hostil com a Europa.
É por isso que ele não achava que Lukas, que veio aqui para salvar a Europa, faria algo tão imprudente.
Claro, havia a possibilidade de que ele recuasse agora e fizesse seu movimento mais tarde. Até onde Neil sabia, a segurança da Torre Pilsky não significava nada para Lukas.
No entanto, se tivesse espaço de manobra, Neil tinha certeza de que poderia inventar algum tipo de contramedida.
Quando o oponente era alguém como Lukas, você não podia enfrentá-lo com força. Felizmente, Neil já sabia quais eram seus princípios e objetivos.
No entanto, ele sentiu que seria melhor aceitar sua oferta, porque não queria se desentender completamente com Lukas.
Quanto ao outro motivo.
“Há pessoas na América do Norte que apoiam Lukas.”
Ele estava falando de pessoas como a Presidente da Filial Europeia, Nina Rednikova. Até onde ele sabia, o presidente da filial da Venezuela e a filial do Canadá também.
Se mais de duas figuras do nível de Presidente de Filial escolherem se rebelar…
“Pode haver uma guerra civil na América.”
Embora fosse improvável, Neil não ignoraria a possibilidade.
Ding—
O elevador parou. Quando as portas se abriram, Neil foi imediatamente atingido por um cheiro rançoso.
Dezenas de telas gigantescas enchiam uma sala mal iluminada. E dezenas de pessoas estavam ocupadas processando informações de todo o mundo.
Este era o Escritório da Agência de Inteligência.
— Peço desculpas por incomodá-lo durante sua reunião, Senhor Presidente.
Um homem de terno branco curvou-se para ele quando ele entrou. Este era o chefe de inteligência, Martin.
— Quanto lhe foi dito?
Neil balançou a cabeça.
— Só que há um relatório sobre o Top Três. Sobre qual dos três é o relatório?
— O mais forte.
Bip—
Ao dizer isso, Martin apontou para um monitor.
Na tela, a aparência embaçada de alguém podia ser vista.
Era um homem de cabelos grisalhos e uma aura sombria.
O lugar em que ele estava parecia ter sido varrido por uma tempestade. Provavelmente era uma cidade que havia sido capturada pelos Demônios. Mas agora, o homem era o único na imagem que ainda estava se movendo.
Ao redor dele haviam, pelo menos, algumas centenas de cadáveres que pareciam ser Demônios e Bestas Demoníacas.
— Tantos demônios… Não me diga…
Martin assentiu e confirmou os pensamentos de Neil.
— Ele os caçou sozinho.
— Neste ponto, eu realmente me pergunto se realmente somos da mesma espécie.
— Se não fôssemos, então ele não teria razão para caçar os Demônios com tanto fervor. Mas isso não é tudo.
A imagem na tela movia-se à medida que aumentava o zoom para mostrar um ponto específico.
Era o cadáver de um Demônio, ou, pelo menos, o que restava dele. A única parte restante do Demônio era sua cabeça, que ainda era maior que um macho adulto.
Os seis olhos vermelho-sangue do Demônio se arregalaram como se estivessem prestes a estourar da sua cabeça.
— Esse Demônio…
— Este é o Duque Krodis.
— Duque!
O choque se espalhou pelo rosto de Neil.
A humanidade só conseguiu derrotar Duques duas vezes na história. Então era natural que Neil ficasse surpreso.
— Exatamente, Senhor Presidente. Acho que não preciso explicar quem ele matou. Agora, posso dizer sem sombra de dúvida. Que este homem é o ser humano mais forte que existe.
Martin disse essas palavras com grande emoção enquanto olhava para o homem na tela. Assombro e medo eram claros em seu olhar.
— Porque ele caçou um Duque Demônio por conta própria.