Joanna estava absorta numa sensação de liberdade que nunca experimentara na vida.
Seu rosto estava pálido, e ela sentiu como se fosse desmaiar a qualquer momento. Sua mente estava confusa, e tudo o que ela via parecia embaçado.
E, no entanto, nesse estado, ela era capaz de sentir até mesmo a menor mudança que acontecia ao seu redor. Desde a menor mudança na direção do vento até um grão de areia roçando contra sua mão.
Era assim que se sentia quando se usava drogas?
Ela nunca tinha experimentado antes, então ela não tinha certeza.
“Há quanto tempo estou assim?”
Joanna conseguia se lembrar claramente de tudo desde o início.
As Bestas Demoníacas avançaram em direção a ela. A princípio, ela pensou que aquele homem ainda estava por perto.
Ela não achava que ele realmente a tinha deixado. Ela estava certa de que ele ajudaria quando as coisas ficassem realmente perigosas. E ela até pensou em como ficaria brava com ele depois.
Mas esse pensamento desapareceu quando as garras da primeira Besta Demoníaca arranharam sua coxa.
A dor não era forte, mas estava lá. Sua pele estava rasgada mais do que ela esperava, e seu sangue fluía livremente.
Foi essa lesão que a acordou como um jato de água fria.
A partir daquele momento, ela lutou contra as Bestas Demoníacas ferozmente, mas elas foram persistentes. Elas não se importavam se até mesmo suas pernas ou braços fossem arrancados. Mesmo que elas perdessem metade de seus corpos, elas ainda investiriam para cima de Joanna sem hesitação.
No entanto, seus feitiços eram poderosos o suficiente para destruí-los completamente.
— Hiper Raio!
Joanna gritou uma magia.
Uma poderosa esfera de energia disparou contra a multidão de Bestas Demoníacas. Após uma pequena explosão de ar, partes de corpos foram lançadas voando.
Mas Joanna já havia voltado sua atenção para outro lugar. Metade das Bestas Demoníacas ainda estavam vivas.
Ela utilizou sua mana mais uma vez.
“Ainda tenho mana suficiente, mas…”
Sua cabeça parecia estar pegando fogo.
Sua força mental estava chegando ao limite?
Era possível. Afinal, esta era a primeira vez em que ela estava em uma situação tão desesperadora. Ela nunca tinha lutado contra tantos inimigos antes. Mais importante, ela estava sozinha.
Um Mago sem um Guerreiro para protegê-lo não poderia exibir nem um terço de seu verdadeiro poder.
Duas… Não, se ela tivesse ao menos uma pessoa para defendê-la, todos esses fracotes teriam morrido em um instante.
“Não. Ainda pode ser difícil.”
Seus olhos se voltaram para o caminhão. E foi bem na hora que ela viu um grupo de Bestas Demoníacas rastejando sobre ele.
— Parede de Fogo!
Fwoosh!
Chamas subiram do chão e queimaram os corpos das Bestas Demoníacas. Ao mesmo tempo, ela ajustou o poder de seu feitiço para não danificar o caminhão.
Isso também era um problema. Ela nunca tinha lutado em uma situação como esta antes. Todos esses problemas empilhados de uma maneira sutil que reduziu a capacidade de combate de Joanna ao seu pior.
Se houvesse pelo menos uma outra pessoa lá ou se houvesse menos inimigos, ela poderia ter usado feitiços à distância à vontade.
— …
Ela estava sem fôlego, e seu corpo inteiro estava coberto de suor frio.
Ela não podia nem se dar ao luxo de pensar.
Havia apenas dois pensamentos girando infinitamente em sua cabeça.
Livre-se das Bestas Demoníacas e proteja o caminhão.
O que ela poderia fazer?
Havia dezenas de oponentes contra ela.
A coisa mais importante em grandes batalhas era ter uma compreensão firme de tudo no campo de batalha. Ter dois objetivos ou, se você pudesse, três.
Mova-se constantemente. E busque sempre o caminho mais eficiente.
Tudo isso eram coisas que ela aprendeu, mas foi só depois de ser posta em uma situação tão extrema que ela foi capaz de colocá-las em prática.
Seu ressentimento para com aquele homem desapareceu sem deixar vestígios, e o desespero que ela sentiu quando percebeu a situação também. Agora, sua mente estava completamente em branco.
Ela lançava magias como se estivesse em transe.
Maior.
Mais rápido.
Mais eficiente.
Algo em seu coração começou a se mexer.
Assim como um prazer inexplicável começou a enchê-la.
Crack!
— Argh!
As garras de uma Besta Demoníaca rasgaram seu ombro, fazendo com que sua carne fosse rasgada em pedaços.
Ao contrário do ferimento na coxa, esse ferimento foi quase fatal. Em um instante, ela quase perdeu o braço direito.
“Isso dói.”
Doeu tanto.
Suas lágrimas ameaçaram cair quando ela sentiu uma dor que nunca havia experimentado em sua vida.
Em um instante, sua mente começou a vacilar.
As garras e dentes das Bestas Demoníacas podem ter veneno. Se ela não agisse rapidamente, ela poderia ter que amputar o braço.
Um medo repentino surgiu com esse pensamento.
Sua concentração estava falhando, e sua mana estava prestes a se dispersar.
O que ela estava fazendo agora?
Ela não conseguia se lembrar. A dor fez com que seus pensamentos se desordenassem.
Um pouco mais. Ela sentiu como se ela pudesse ter entendido algo se ela tivesse um pouco mais de tempo.
Joanna caiu impotente no chão. E em um instante, as Bestas Demoníacas investiram contra sua forma indefesa.
Ela só podia olhar para eles se aproximando dela com os olhos cheios de desespero.
Ela não queria morrer assim…
[Termine o encantamento.]
Uma voz soou em sua cabeça.
Sua mente, que havia se tornado turva, de repente clareou.
As Bestas Demoníacas também pararam de se mover. Não, não eram apenas as Bestas Demoníacas. Parecia que o próprio espaço havia parado.
Nesse mundo estranho, Joanna pôde finalmente pensar com clareza novamente.
“Quem…”
[Por que você baixou a guarda? Por que você parou de focar sua mana? E você ainda se atreve a se chamar de Arquimaga?]
Joanna estremeceu ligeiramente com a repreensão.
“Mas… Dói tanto…”
[Controle-se. Se você é uma Arquimaga, nunca deve parar um feitiço que começou a conjurar. Termine a magia. Mesmo que seus membros sejam arrancados, suas costelas cravadas em seus pulmões ou sua língua seja cortada.]
“Eu… Eu…”
Arquimaga.
Era uma palavra que ela tanto amava quanto odiava.
Ela sabia.
Ela sabia que não era digna desse título.
Joanna era apenas um produto acabado da Instituição de Magos da América do Norte.
Ela era a prova de que um Arquimago poderia ser criado simplesmente usando um regime de treinamento definido e aprimoramento mecânico de mana. Sem precisar de experiência prática ou pesquisa independente.
As implicações eram grandes.
Embora variasse dependendo do indivíduo, implicava a possibilidade de que os Arquimagos pudessem ser “produzidos em massa” na América. Era algo que chocaria o mundo inteiro.
Joanna também se orgulhava desse fato.
Das centenas de candidatos, ela foi a única que se tornou uma Arquimaga com sucesso. Os melhores depois dela só conseguiram alcançar 5 estrelas na melhor das hipóteses.
Ela era a única especial. Uma das poucas Arquimagas de 7 estrelas na América do Norte.
Era isso que ela achava que era.
Mas em seu primeiro dia na Ásia, ela percebeu que era apenas um sapo em um poço.
Ela conheceu um “verdadeiro Arquimago”.
Um Grande Feiticeiro que estava em um nível completamente diferente de um Feiticeiro fabricado.
Não eram as mesmas 7 estrelas?
No entanto, Joanna não acreditava que pudesse derrotá-lo, mesmo que houvesse cinco dela.
Os Caçadores Asiáticos riram de Joanna. E os outros Arquimagos na América também a ignoraram.
Eles nunca disseram isso abertamente, mas ficou claro que eles nunca a trataram como uma igual. Seus pensamentos eram óbvios.
“Que vergonha para a América do Norte.”
Garota estúpida.
Mas o que mais doía era que ela não podia refutar suas críticas.
Essas memórias se tornaram um trauma, e ficaram com ela na forma de pesadelos.
Desde então, Joanna nunca tinha saído em missão. E se ela foi, foram apenas missões extremamente seguras com absolutamente nenhum risco.
Em vez disso, ela ganhou reconhecimento visitando eventos ou conhecendo celebridades.
Isso permitiu que Joanna se tornasse uma das caçadoras mais famosas da América. Sem realmente cumprir os deveres de um caçador.
Quando ela conhecia Magos abaixo de seu nível, ela mostrava suas presas, porque ela não estava orgulhosa de si mesma.
Ver alguém se chamando de mago a lembrava de si mesma no passado.
Um produto com defeito.
Uma perdedora sortuda que nem se qualificava como 6 estrelas, sem falar das 7 estrelas.
Essa era a identidade dela.
[Um Arquimago não é algo criado por sorte.]
“Do que você sabe…”
[Eu posso garantir que você merece.]
— !
Essas palavras fizeram o coração de Joanna tremer violentamente.
Essas eram as palavras que ela mais queria ouvir de alguém.
[E eu lhe darei uma missão. Não é seu destino ser morta por essas Bestas Demoníacas. Supere esta provação.]
“Q-quem… É você…?”
[…]
Ela não recebeu uma resposta. A presença em sua mente estava desaparecendo lentamente.
O ser havia partido…
Joanna sentiu que o dono da voz estava em algum lugar distante, e só lhe havia falado de passagem.
“O dono dessa voz… Impossível…”
Ela tinha ouvido falar disso.
Era um conto lendário que muitas vezes era interpretado como rumores infundados.
Que havia uma voz que só podia ser ouvida pelos escolhidos.
“Se era…”
Se aquela era realmente a voz “dele”…
Se aquele ser estava realmente falando com ela…
Então era uma revelação!
Joanna não estava com defeito.
Ela levantou a cabeça, sua expressão mudando completamente.
“Eu mereço.”
Ela era alguém que tinha as qualificações para ser uma Arquimaga, um ser digno do título de Grande Feiticeira.
Então ela não podia morrer ali. Era impossível ela morrer.
Este era apenas um julgamento na melhor das hipóteses.
Uma coragem desconhecida explodiu dentro de Joanna. Apertando os dentes, ela lentamente se levantou.
A dor em seu ombro e coxa parecia ter diminuído um pouco. Ela sabia que era apenas uma ilusão, mas ela não se importava.
— Kiieek!
— Kyak! Kyak!
Dezenas de Bestas Demoníacas atacaram simultaneamente. O tempo, que havia parado, recomeçou mais uma vez.
Fwoosh!
Chamas irromperam ao redor do corpo de Joanna.