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The Martial Unity – Capítulo 27

Fricção

(‘Que cara selvagem…’) Rui pensou enquanto saía do Salão de Apresentação com Julian.

“É um pouco preocupante que você vá frequentar a Academia Marcial no mesmo grupo que ele. Tome cuidado com aquele garoto.” Julian aconselhou.

“Pode deixar. Duvido que ele vá fazer questão de intimidar uma criança de treze anos, no entanto.”

“Você nunca sabe.”

Rui não achava que a probabilidade de esbarrar em Nel fosse alta. O sistema de treinamento e agrupamento não era como na Terra, onde os colegas de turma tinham a mesma idade e ingressavam no sistema educacional no mesmo ano. Como o Caminho Marcial variava drasticamente de pessoa para pessoa, não fazia sentido simplesmente jogar pessoas da mesma idade na mesma categoria.

As pessoas desenvolviam sua Arte Marcial em ritmos diferentes; pessoas como Kane estavam muito à frente dos outros alunos, apesar de serem muito mais jovens, e não fazia sentido tratá-los e treiná-los da mesma forma. Além disso, como a Arte Marcial era tão única e pessoal, diferentes pessoas exigiam diferentes treinamentos. Não fazia sentido serem jogadas no mesmo regime de treinamento. Grande parte do tempo acadêmico também seria explorada pela própria vontade. Autotreinamento e autoaprendizagem faziam parte da jornada.

Enquanto Rui contemplava as nuances de seu currículo acadêmico…

“Rui! Que bom que você conseguiu.”

Kane o chamou. Seus olhos verdes brilhavam de alegria enquanto ele corria em direção a Rui.

“E aí, cara, faz tempo.” Rui respondeu sorrindo.

“Sim, faz.”

Rui deu uma olhada no acompanhante de Kane. Um homem de meia-idade, com cabelo bem penteado e roupas bem cuidadas. Ele usava roupas luxuosas que, embora não chamassem muita atenção, indicavam que ele não era apenas um assistente qualquer. Rui notou um símbolo de brasão bordado em suas roupas formais, idêntico ao de Kane.

(‘Um brasão de família, hein?’)

“Me diga, como você passou?” Kane perguntou curioso. “Eu sei que vi alguém pegando seu emblema.”

“Não tenho ideia, fiquei tão surpreso quanto você quando recebi a carta de admissão.”

“Isso é estranho, mas, de qualquer forma, quem se importa? Você passou, agora podemos ficar juntos.” Kane sorriu.

“Sim, felizmente tive sorte de ter passado.”

De repente, uma voz chamou por ele.

“Não foi sorte, Rui Quarrier.”

Rui nem precisou se virar para ver quem o chamou. Ele reconheceu a voz instantaneamente.

“Fae…” Ele disse. Ela estava sozinha, como uma adulta, não precisava de um Guardião. Ela usava o que Rui juraria ser um sorriso falso. Era uma máscara perfeita e indecifrável que escondia suas emoções incrivelmente bem, impedindo os outros de perceberem o que ela sentia.

Rui estreitou os olhos, cerrando os punhos enquanto sua expressão se tornava séria. Ele não era uma pessoa vingativa; em vez de perseguir algo tão tolo quanto vingança por ter sido nocauteado por ela, preferia tirar o melhor daquela experiência e se fortalecer o suficiente para nunca deixar isso acontecer de novo. Contanto que não sofresse uma injustiça imoral, estava acostumado a seguir em frente. Ainda assim, ele não conseguia olhar de forma amigável para uma pessoa que basicamente intimidava os outros por diversão.

“O que você quer?”

“Nossa, você parece um pouco hostil.”

“Tende a acontecer quando as pessoas me nocauteiam por diversão. Uma coisa seria se você me atacasse pelo meu emblema, outra é atormentar os outros por diversão. Não gosto de pessoas assim.”

“Tecnicamente foi autodefesa, eu não pretendia te nocautear, apenas lutar com você até que Nel estivesse livre, mas você era forte o suficiente para me forçar a lutar com tudo.” Ela deu de ombros.

“Isso é sofisma, você sabe.” Rui suspirou em exasperação.

Os olhos de Fae brilharam. “De qualquer forma, você passou por mérito próprio. O departamento de admissões da Academia Marcial não é incompetente.”

“Eu perdi meu emblema, isso significa zero pontos para mim, claramente abaixo da média. Falhei nos critérios para passar.”

Fae riu suavemente.

“Quem disse que os pontos tinham algo a ver com os critérios?”

Rui lançou-lhe um olhar confuso. “O Mestre Aronian disse isso.”

“O Mestre Aronian…” Ela continuou. “..Disse que o critério era de acordo com o julgamento deles. Ele nunca disse que cumprir o objetivo era uma garantia de aprovação. Nem disse que falhar no objetivo era reprovação.”

Rui a olhou, sem estar impressionado. Tecnicamente, ela estava certa. A forma como o Mestre Aronian havia se expressado correspondia ao que ela dizia, pelo que ele se lembrava. Ainda assim, se um objetivo é fornecido com o propósito de avaliar os candidatos, não era óbvio que o resultado da sua tentativa seria relevante para sua avaliação?

“Você está sendo tão minuciosa de novo.” Ele retrucou.

“O resultado dos emblemas foi francamente irrelevante desde o início. Os examinadores apenas queriam jogar os candidatos em conflito uns com os outros e avaliar seu desempenho dadas as circunstâncias.” Ela explicou. “Você foi um alvo para os candidatos desde o início. Ainda assim, você conseguiu manter seu emblema quase até o final, apesar de ser mais jovem e, portanto, mais fraco que a maioria dos outros candidatos, e conseguiu isso por meio de táticas engenhosas. Embora tenha perdido seu emblema, você perdeu seu emblema para mim, a candidata mais forte. E mesmo assim, seu desempenho contra mim foi bastante impressionante, considerando tudo. Todos esses pontos de dados foram levados em consideração na avaliação do departamento de admissões sobre você.”

Rui lançou um olhar cético para ela. Então ela o atacou sabendo que seu desempenho contra ela o beneficiaria em vez de prejudicá-lo? Parecia conveniente demais. “Você parece estar muito bem informada sobre assuntos que deveriam ser confidenciais dentro da Academia. Como poderia saber de tudo isso?”

“Ela tem uma Sábia Marcial como avó.” Kane interveio. “Não há nada que a Academia possa esconder de uma Sábia Marcial. Ela deve ter conseguido um monte de informações e usado isso a seu favor.”

Rui pôde ouvir um pouco de rancor no tom dele. Fae lançou-lhe um sorriso cortês em resposta.

“Nossa, faz tempo, jovem mestre Kane.”

“Gostaria que tivesse sido um pouco mais longo, pra ser sincero.” Kane resmungou.

“Sou só eu ou estou ouvindo um pouco de ressentimento na sua voz? Ah, você está com ciúmes porque brinquei com Rui aqui no Exame em vez de com você? Você deve estar nessa idade, afinal.”

Kane, sendo o adolescente que era, caiu na provocação dela.

“Você-!” Rui colocou uma mão em seu ombro, puxando-o de volta.

“Calma, Kane.” Ele aconselhou, antes de lançar um olhar exasperado para Fae.

(‘Ela está provocando ele e gosta disso.’) Rui refletiu impotente. (‘Esses dois claramente têm alguma história. Não há como tal hostilidade passiva surgir do nada. Será por causa do orgulho deles como descendentes de Sábios Marciais? Kane nunca me pareceu o tipo orgulhoso, e Fae parece estar meio que provocando, embora eu não consiga entender nada dela sob essa máscara.’)

Ainda assim, a conversa confirmou suas suspeitas de que ela era de uma família Marcial, o que explicava parcialmente sua grande habilidade em combate; ela não parecia ser um gênio como Kane era.

(‘Kane tem talento bruto e potencial ilimitado, mas sua habilidade me parece mais fruto de treinamento insano e força de vontade, e pura experiência.’)

Mesmo que ele não fosse particularmente fã do temperamento falso dela, tinha que reconhecer e respeitar o puro empenho com o qual ela havia atingido seu nível atual de poder.

“Vamos relaxar, pessoal.” Ele tentou aliviar o ambiente tenso. Não sabia o que havia entre os dois, mas preferia que não escalasse.

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