— Ah, droga!
Em um livro de histórias infantil que Zich leu quando pequeno, havia uma passagem sobre a queda de um grande herói. De acordo com ela, até os céus se encheram de tristeza com a visão do herói moribundo, e a chuva começou a cair. Ele não sabia o motivo de verdade, mas mesmo após muitos anos, essa parte não saía de sua mente.
“Como esperado, os céus não parecem me amar.” Olhando para o Sol brilhante sem uma nuvem à vista, tinha certeza de que os céus deviam desprezá-lo, sem nem sequer amar alguém como ele. “Bem, é bastante compreensível o porquê.”
Não conseguia nem contar o número de pessoas que choraram por causa dele ou se lembrar de quantas pessoas matou. O chamavam de Lorde Demônio, aquele quem trouxe caos e desespero a este mundo. Não gostava de comer sangue ou carne, mas também não recusava quando eram oferecidos. Vivia um tipo de vida em que usava qualquer meio para atingir um objetivo.
Se realmente o amassem, teriam dado um tapa na cara de Zich e lhe dito para mudar de atitude.
— Acabou? — Ouviu uma voz, tão heróica e nobre que chegava a ser irritante.
Desviou o foco e olhou na direção de onde ouvia.
Um homem vestindo uma armadura brilhante o observou com um olhar altivo no rosto. Era o tão dito “Herói entre Heróis”. Com um título constrangedor, quase nojento, chamado “O Guerreiro do Sol”, era o humano Glen Zenard.
“Que bonitão.” Desejou poder cuspir em um rosto como aquele pelo menos uma vez. “Devo tentar?”
Considerou o ângulo, sua resistência restante, a velocidade de evasão do cara e assim por diante, mesmo em seu estado atordoado, e foi capaz de calcular rapidamente.
— Não, eu não deveria.
Esse era o seu fim. Não queria perder a calma no último momento para algo assim. Ainda tinha algum orgulho, já que o mundo o chamava de Lorde Demônio.
“Ah, mas espere. Quando eu tive orgulho de algo assim?”
Estava movendo a boca para disparar um cuspe bem na ponta do nariz moldado e esculpido com perfeição de Glen, quando exclamou:
— Suas más ações chegarão ao fim agora, Lorde Demônio Zich Moore!
“Que frase brega.”
Criatividade zero. Zero. Como se fosse mesmo um herói de um livro de histórias, reiterou frases quais apenas personagens de uma novel de terceira categoria diriam.
“Ele não deveria ter parado de ler livros infantis agora?” No entanto, não tinha forças para nada além de encarar o glorioso herói à sua frente.
— Acabe com ele sem demoras! Nosso oponente é o “Lorde Demônio do Poder”, não sabemos quando recuperará sua força!
— Sim! Vou acabar com isso logo!
“Não, não tenho mais forças. Meu corpo dói e não quero me mexer.” Queria explicar isso aos companheiros do herói, que estavam dizendo para ele o matar. Porém, era cansativo até abrir a boca. Fora isso, se perguntou se havia algum propósito em explicar a eles.
“Podem ficar em guarda, se quiserem.”
Achou um pouco engraçado vê-los se preocupar com seu corpo moribundo. Entretanto, também o fez se sentir um pouco satisfeito. Os comentários não significavam que ele representava uma grande ameaça?
— Não, ele não tem mais como nos prejudicar. — Seu prazer de repente evaporou com as palavras de Glen — Esse cara realmente não está nada legal.
“Eu deveria ter tentado destruí-lo primeiro em vez de gastar meu tempo fazendo coisas inúteis.”
Zich não estava pensando algo tipo “se ao menos eu tivesse me livrado desse cara, eu…!”, e só queria rasgar o rosto desse cara chato, mesmo.
Slam!
O herói ergueu sua espada e a empurrou contra o lorde. As bordas sagradas pareciam afiadas o suficiente para rasgar até mesmo uma alma ao meio.
— Ouça, Zich Moore! Antes que você morra, vou recitar todas as más ações que você cometeu!
“Ué, porra?” Olhou para os parceiros do herói quando proferiu palavras sem sentido. “E pensar que andam com um cara como ele. Na verdade, são pessoas impressionantes.”
Comparado com as bolas de fogo gigantes que atiraram nele, os escudos que bloquearam seus ataques, as flechas apontadas para seus pontos vulneráveis, ou os milagres que maximizaram as estatísticas de habilidade de seus companheiros ou curavam instantaneamente os ferimentos, eles ficando com esse cara era o que mais chocava-o.
“Bem, não há muito a fazer. Acho que tenho que ouvir isso.”
Mesmo que seus oponentes tivessem formado um grupo para lutar contra ele, não podia negar que ele, o “Lorde Demônio do Poder”, foi derrotado. “O que um perdedor pode fazer senão deixar o vencedor fazer o que quiser?”
Se esforçou para abrir os olhos e encarou o herói. Como se estivesse imerso por completo em seu papel, Glen cuspiu palavras sem sequer olhar para o inimigo.
“Ele veio aqui com tudo isso decorado?”
Se fosse esse o caso, pensou em aplaudir Glen pelos seus esforços.
“Não, espere. Parando pra pensar, isso não é algo que deveria ferir meu orgulho? Ele deve ter pensado nisso antes de vir me matar.”
Por um momento, as suas emoções começaram a explodir, mas as reprimiu. “Esquece. Eu já perdi mesmo.”
Se ganhasse, teria sido diferente, mas ficar com raiva de algo assim depois de perder só o faria parecer um péssimo perdedor. Pelo menos morreria sendo um bom ouvinte. Assim, deitou sem vida e escutou suas “más ações”.
“Pô, verdade, isso aconteceu mesmo… Ah, sim, também. Está me fazendo relembrar das coisas. Ele deve ter feito uma pesquisa gigantesca.”
Como um velho preso em suas memórias, escutou todas as coisas que fez. Descreveram um caminho sangrento que condiz com seu demoníaco apelido.
— … E com todos esses pecados em mente, deixo meu julgamento de justiça ao Lorde Demônio, Zich Moore!
“Hã? Já terminou?” Acordou de seu conjunto de lembranças e nostalgia que o discurso revigorou e lambeu os lábios, chateado. “Bem, eu recebi um presente muito bom no meu leito de morte.”
Era, de fato, o seu fim. Examinou cuidadosamente as figuras ao seu redor mais uma vez. O jovem mago olhava-o com desprezo, o espadachim estava de guarda para proteger o herói em uma emergência e o arqueiro também estava em alerta máximo, seu rosto frio. A santa chorava e orava até por um completo estranho como Zich. E, enfim, o herói segurava sua espada com confiança.
A espada do herói subiu de maneira lenta acima do moribundo e o mataria no momento em que caísse. O demônio sabia que não poderia escapar de seu fim e nem pensou em resistir.
“Mas”, reuniu a última quantidade restante de poder que tinha, “já que sou chamado de Lorde Demônio, não posso simplesmente morrer.”
Como os outros lordes dos livros de histórias, lançou uma maldição sobre o herói.
Entre as ferramentas mágicas que coletadas enquanto viajava pelo mundo, existia um item de efeito semelhante ao de uma maldição.
“Eles disseram que se chamava “A Chave que Distorce o Destino”.
Era o nome da pequena lâmina inserida dentro de seu dedo indicador. Tinha sido muito problemático para enfiar a coisa dentro do dedo sem sentir desconforto em sua vida diária, todavia graças a isso, agora teve a oportunidade de dar o último golpe em seu oponente irritante, fazendo o trabalho valer a pena.
“Não será o suficiente para matá-lo.”
O item não era para algo assim, mas para alguém como ele, que adorava foder seus oponentes, combinava muito.
“É uma pequena lâmina que pode interferir no futuro de alguém cujo destino mudou; não sei como, contudo, o dele vai mudar.”
Não importava. Todos os outros lordes demônios já estavam mortos. Não era difícil imaginar que Glen — quem, por fim, matou o último lorde — teria garantido um futuro de bravura. Mesmo que mudasse para melhor, significava apenas que seu futuro já heroico brilharia um pouco mais. Se mudasse para pior…
“Vamos fazer um teste, herói. Se você continuar a trilhar um caminho brilhante, mesmo que seja atingido por isso, a vitória é sua. Se for cheio de trevas, será mais miserável do que o de qualquer outra pessoa.”
Esperava a última opção, embora fosse lamentável o fato da impossibilidade de ver acontecer.
— Se você nascer de novo, eu espero que você seja uma pessoa bondosa. — Como um juiz dando seu julgamento final, gritou, a sua espada indo abaixo.
Zich, que estava deitado sem vida, de repente se levantou.
— Se eu tiver a chance, serei!
— Mas não agora!
Swim!
A partir do ombro esquerdo, o corpo foi cortado.
Mesmo sendo dilacerado, concentrou toda sua atenção no indicador. Então, um pedaço de ouro afiado estalou firmemente.
O dono da espada pareceu surpreso, e seus companheiros se moveram com pressa.
— Eu sou mais rápido que vocês, otários!
Push!
Não foi um acerto crítico. Estava em más condições, e a barreira mágica do herói era forte demais para realizar um bom ataque. E devido ao descuido de Glen, um arranhão pequeno foi deixado.
— Seu desgraçaaaaado! — O rosto confiante contorceu.
— Hahahahaha!
Ao contrário de Glen, queria cair na gargalhada. Porém como uma marionete sem as cordas, não conseguia mover o corpo e o rosto.
Swing!
O corpo do herói se moveu mais uma vez e cortou o pescoço do Lorde Demônio, escurecendo a sua visão. Antes de perder a consciência por completo, pensou ter visto algo brilhando.
— O quê? Isso… não é… possí… finalmente. Aqui… desta vez… perfeito…!
Glen estava murmurando algumas coisas, aterrorizado, mas a consciência de Zich desapareceu na escuridão.
Chirp! Chirp! Chirp!
— O quê…?
Estava barulhento lá fora. Zich fez uma careta e se virou.
— Ah, droga! Não consigo dormir com esse barulho…!
Depois de murmurar em aborrecimento, ele parou e logo levantou. Enquanto examinava seus arredores com um olhar estúpido em seu rosto, o temível “Lorde Demônio do Poder” não estava em lugar algum. Parecia estúpido.
Tocou seu corpo todo. A ferida grave o suficiente para cortá-lo em dois desaparecera completamente. Sem sequer um arranhão, sua pele áspera de batalhas agora parecia macia e suave. Encostou no pescoço. Cortado cem por cento, ninguém poderia reverter o corte a menos que fosse um deus. No entanto, embora seja inacreditável, sua cabeça ainda estava presa ao corpo.
— Que porra…?
Experimentou o mundo ao máximo e passou por todos os tipos de experiências a ponto de ganhar o título de Lorde Demônio; nunca viu algo assim. Se perguntou por um momento se seus status desapareceram e tentou se acalmar para entender a situação.
“Pelo menos eu tô vivo.”
Ainda não podia acreditar, mas essa era a parte importante. O futuro fechado para ele se abriu de novo. Por mais que tenha aceitado a morte, não significava que não ficaria feliz por estar vivo.
Ficou melhor depois de verificar tudo.
Flap!
Tirou a coisa que o cobria.
“Um cobertor.”
Era um cobertor macio e de alta qualidade.
Então, olhou ao redor. Estava deitado em cima de uma cama em algum tipo de quarto. Havia muitos móveis luxuosos e de alta qualidade na ampla sala. Não parecia um quarto visitado antes.
“De alguma forma é familiar.”
Saiu da cama e começou a explorar. Foi à frente de um espelho pendurado na parede.
“Hã?” Marchou em direção ao objeto. “Isso!”
Era o rosto dele, mas também não ao mesmo tempo. Esfregou as bochechas e coçou uma espinha visível em seu rosto.
— Fiquei mais jovem?
Enquanto gritava, o rosto no espelho, que copiava o formato de sua boca, era o de seu eu mais jovem.
Kskskkkaka achei Bem interessante
interessante