Zich e seus companheiros viajaram em sua maneira usual. Em nome do treino, desistiram de um estilo de vida civilizado e faziam o bem nas aldeias que visitavam vez ou outra. Era uma jornada árdua, mas Hans e Snoc estavam entusiasmados.
“Eles são tão simples.”
Os observando, Zich estalou a língua. A razão para a animação deles era porque Zich contou o destino. Após andarem um tempo, atravessaram uma montanha e foram para a estrada principal. Lá, havia muitas pessoas: pedestres andando com cargas e equipes; uma carroça lenta cheia até a borda com gente e uma carruagem pesadamente decorada e brilhante que ocupava o meio da estrada. Eles seguiram o mesmo caminho que todos os diferentes tipos de pessoas percorreram. E sob o céu azul, enormes paredes apareceram à vista. As muralhas protegiam a cidade, entretanto, por alguma razão, pareciam mais acolhedoras e amigáveis em comparação com as de outras cidadas.
— Olhe! Chegamos, Nowem! — Snoc pôs a toupeira na cabeça e mostrou o castelo. Nowem respondeu com um “koo!”.
— Esse lugar é… — Os olhos de Hans brilharam
— Sim, isso mesmo.
O olhar de Zich descansou na entrada do castelo.
— Violuwin.
Violuwin era o nome da cidade na frente deles. Não era uma capital, nem onde muito dinheiro e suprimentos passava. Não tinha um agronegócio rico para que pudesse sustentar grandes populações ou uma localização estratégica. Contudo, era famosa em todo o mundo por uma coisa: o turismo.
— Como prometi — Quando falou, Hans e Snoc o encararam feito filhotes buscando a comida da mãe — Vamos descansar aqui por um tempo.
Os dois servos se alegraram com as notícias. Eles suportaram o treino duro durante a jornada para esse intervalo semelhante a um sonho. Violuwin era tão conhecida que mesmo Hans e Snoc, que haviam residido em suas casas ou nas minas por toda a vida, conheciam. Era um destino turístico que todos queriam visitar pelo menos uma vez, e não poderiam estar mais felizes por estar aqui.
Eles entraram na cidade. Por ser cheia de turistas, tinha uma longa fila desde a entrada do castelo, e levou muito tempo para passarem. Todavia, assim que entraram, Hans e Snoc perceberam que valia a pena esperar. Uma via expressa bem conservada se estendia em linha reta, e casas feitas de pedras brancas características da cidade alinhavam os dois lados. De longe, viam fontes disparando água. Só passaram pela entrada, porém, nunca viram coisa parecida antes. As suas bocas naturalmente se abriram.
Tump! Tump!
Ambos dispararam, e Snoc até deu uma tapinha em Nowem.
Koo!
— Mais rápido, idiotas.
Conforme Hans e Snoc interrompiam o fluxo do caminho parando em seus pontos, ele batia na cabeça deles e caminhava. Não importava quão fortes ficassem, nunca se acostumariam com o golpe clássico de Zich na parte de trás da cabeça. Não sentiam presença nenhuma do além, no entanto, ele era como uma entidade que não podiam fugir, não importava o quanto o corressem.
Ao verem um edifício gigantesco, todos os pensamentos desapareceram de suas mentes. O alojamento que Joaquim havia reservado para eles não era pior, mas este lugar emitia uma atmosfera especial.
Zich pagou por três quartos. Lhe custou uma grande parte de dinheiro, porém, ele recebeu moedas de ouro mais do que suficientes dos karuwimans com a ajuda no deserto. Claro, se o usasse de forma imprudente sem pensar duas vezes, acabaria com nada, não importava como estivesse a carteira. Ele não planejava ficar por tanto tempo.
Então, chamou os dois.
— Cinco dias. — Levantou uma mão aberta — Darei tempo livre por cinco dias. Brinquem como quiser até lá.
Hans apertou o punho, e Snoc abraçou Nowem com força. Sua pequena pausa havia começado.
Desapareceram feito o vento. Parecia que estavam usando tudo que aprenderam para correr.
“Devo ir também?”
Ele saiu de seu quarto para visitar o local e explorar a região e suas construções. Seus dois servos se moviam tão rápido que já não podia mais vê-los.
Lembrando de suas memórias de pré-regressão, passeou pela cidade. Como esperado de um local turístico famoso, tinha muitos pontos para ver. De um lado da rua, um poeta errante cantava; do outro, flores floresciam belas em um jardim incrível.
Andando um pouco mais, avistou um rio largo correndo pela cidade. Tinha pontes em diferentes pontos dele, e as pedras desbotavam de uma cor estilosa. Sobre elas delas, as várias expressões nos rostos das pessoas eram incríveis enquanto apreciavam a beleza.
“Aqui sempre foi assim?”
Ele tinha ido uma vez para pegar Tornium, entretanto, naquela época, sequer pensou em dar a volta para passear. Ele simplesmente ouviu que uma espada demoníaca existia ali e concentrou toda a sua atenção em obtê-la.
“Não fiz um tumulto naquela época também? Eu estava obcecado por poder. Pensando melhor, é um pouco lamentável.”
Até ele, com seu temperamento horrível, tinha um olho para a beleza. Seu eu passado não teve interesse e só estava meio ciente de que era uma cidade turística.
“Não podia me dar ao luxo. Quando ganhei força suficiente para esse privilégio, estava lutando contra o mundo inteiro.”
Ele atravessou a ponte e chegou a um distrito comercial. Além de vender as mercadorias necessárias em todas as outras cidades, lojas e bancas vendiam pacotes turísticos. Ao caminhar um pouco mais, o cheiro de comida deliciosa flutuou na frente deles. Várias lojas vendendo todos os tipos de comida se alinharam a rua.
“Compro algo para comer?”
Ele tirou alguns trocados da bolsa de dinheiro. Movendo as moedas pensando em qual comida parecia mais saborosa, parou os pés ao se concentrar em um lugar: uma espetaria comum. Pedaços desconhecidos de carne estavam sendo cozidos em um fogo alto, e a fumaça e o cheiro vindos da carne chamavam a atenção das pessoas.
Todavia, não foi a comida que chamou a sua atenção, e sim quem estava na frente da loja. Nesta cidade brilhante e vibrante, sob o céu azul claro sem uma nuvem à vista, uma pessoa estranha com um manto escuro da cabeça aos pés estava parada na frente da loja. Por causa da roupa, uma longa sombra cobria seu rosto, mas era óbvio para qualquer um o seu foco, preocupando, o proprietário.
“Como pode ter uma coincidência como essa?” Sorriu Zich.
Ele pensou em tirar a espada dentro da caixa mágica, porém, mudou de ideia. Ele caminhou devagar em direção à encapuzada.
Swish!
Ela logo se virou e olhou para ele. Depois, se encolheu e deu um passo para trás.
— E aí? Já faz um tempo. — Ele abriu um grande sorriso que assustaria Hans e Snoc e acenou — O que está fazendo aqui? Ah, estamos em uma cidade turística, é autoexplicativo.
Ele falou como se estivesse conversando com um velho amigo, e viu que a pessoa agora estava intrigada. Entretanto, ele ficou calmo e olhou para o vendedor. O comerciante voltou a assar a carne. Parecia ter assumido que a encapuzada estava esperando por Zich para pedir.
— Quer comer?
Não houve resposta. Contudo, se aproximou do vendedor com o dinheiro.
— Por favor, dois.
— Sim! — Entregou dois espetinhos.
Então, se virou e entregou o outro a ela.
— Toma!
E colocou o outro na boca, saboreando o suco da carne. Não era de alta qualidade. Mesmo que Violuwin fosse uma cidade turística enorme, não se poderia esperar muito de uma loja aleatória na rua. Todavia, o churrasqueiro era habilidoso, pois estava bem cozida e quase não havia cheiro.
— É melhor do que eu pensava. Mas você não vai comer?
A encapuzada sequer tirou o olhar de Zich. Era óbvio para qualquer um que estava completamente confusa.
— O que está fazendo?
— Hã? O quê?
A voz sob o manto era de uma mulher. Ao contrário de sua aparência suspeita, a voz era extremamente adorável.
— Sabe quem sou, certo?
— Uhum.
— Se esqueceu do que aconteceu entre nós?
— Que nos amamos apaixonadamente?
Ela fechou os lábios com firmeza, irritada. Zich ergueu as mãos.
— Ei, ei! Calma aí. Foi só uma piada inofensiva.
— Apenas me diga o que quer de mim.
— Eu já te disse. — Empurrou a carne para ela de novo — Um encontro.
Ela inclinou a cabeça. O capuz caiu um pouco e alguns de seus cabelos prateados brilharam na luz. Sob a sombra, seus olhos vermelhos apareceram por um tempo. Mas um momento foi suficiente.
“Porra, ela é linda pra caralho.”
De longe, era a mulher mais bonita que tinha visto. Foi ela quem matou a Bargot em Ospurin e fugiu logo depois.
— Como falei da última vez, vou cuidar de todos os custos e achar um local bom. Definitivamente farei um bom trabalho acompanhando você por aí. Só precisa se divertir.
— Quer que eu acredite nisso?
— Eu tô falando sério. Qual é o problema de ter um encontro com uma mulher bonita? Se pensarmos bem, não tem porquê para lutarmos. O monstro que você matou, a Bargot, também era meu inimigo, e sua infiltração em Ospurin não tem nada a ver comigo aqui.
— Qual é a verdadeira razão?
— Estou curioso sobre muitas coisas suas.
— Não tenho nada a dizer.
— Sim, eu esperava que você dissesse isso. Não me diga nada. Vou descobrir o que quero observando suas ações e palavras.
Ela olhou para ele como se ele estivesse sendo ridículo. Todavia, ele ergueu o queixo.
— Sou bom em coisas assim.
— E você acha que eu aceitarei seu pedido se disser isso…?
— Não faço ideia. Não importa o quão bom eu seja, não consigo ler com perfeição o coração das pessoas, ainda mais de uma estranha como você. No entanto, tem uma coisa que eu com certeza sei sobre você: o quanto quer comer. Não estou brincando, tem um gosto muito bom. É bem cozida e temperada com sal e não cheira tanto. — Vendo sua hesitação, acrescentou outra frase — Se esfriar, vai ficar ruim.
Snatch!
Ela arrancou a carne das mãos dele. Mesmo assim, ficou um tempo pensando antes de, com cuidado, morder.
— Nossa.
Depois de soltar um som de espanto, engoliu a comida sem demorar. Como esperado, estava com fome. Com ela já no último pedaço, Zich fez uma pergunta.
— Posso aceitar isso como um sim?
Ela, que estava terminando o espetinho, de repente parou. Porém, assentiu com a cabeça e se concentrou na comida. Ele esperou ela termina, o que não demorou muito.
— Me diga seu nome. Eu não deveria pelo menos saber disso? Sei que você já sabe, mas o meu é Zich.
— Lyla. É Lyla.