Vários dias se passaram desde que chegaram ao lago. Eles tomaram um lugar na sua margem e passaram a maior parte do tempo lá. Para o aborrecimento de Lyla, ela se acostumou com aquelas condições desconfortáveis, e os objetos da caixa mágica de Zich a aliviaram. Acima de tudo, o lago era maravilhoso, e por isso ela não reclamava tanto.
Como de costume, ela mergulhou os pés e espirrou a água. Zich estava andando pelos arredores dele atrás de qualquer coisa útil. Com o lago de plano de fundo, a cena dela brincando formou uma bela imagem. Porém, em vez de pensar que ela era linda, pensou que parecia uma criança. Devia ser porque não se lembrava do passado.
“É estranho pensar nisso.”
A maioria das pessoas vivia com as memórias passadas, mas ela era o oposto; vivia pelo futuro. Ele se perguntou deveria ser viver desse modo.
— Zich! — Submergindo no lago, ela acenou para ele — Vem comigo!
— Tenho que verificar mais a região!
Na verdade, ele já havia terminado, apenas não queria cooperar com ela.
“Ela até brinca feito uma criança.”
Ele se juntou a ela nos primeiros dias, entretanto, depois que ela continuou a mostrar curiosidade infinita por cada detalhe, desistiu. Tudo era novo para ela, e ela gostava de conhecer o desconhecido. Por outro lado, ele experimentou um pouco de tudo antes de regredir, o que o fez se sentir um pai. Apesar de a sua resistência ser a maior dos dois, ele se cansava mais rápido do que ela ao brincar.
“Deve ter retardo, coitada.”
Ela virou a cabeça, mal-humorada, somente para se concentrar em brincar de novo e esquecer o aborrecimento.
Zich passeou ao longo da margem e decidiu caçar a refeição do dia. Então, inclinou a cabeça ao detectar algo: não um animal, mas pessoas; mais de uma.
“Chegaram.” Os olhos dele brilharam.
Um grupo de doze apareceu na margem: nove homens e três mulheres. Vasculhando o local, todos carregavam espadas afiadas e ameaçadoras. Três deles eram cavaleiros, apesar das roupas leves para caminhar na floresta, e outros três aparentavam ser servos, a julgar pela roupa. Duas das mulheres, servas também, apoiavam uma mulher de ambos os lados para que não caísse no caminho difícil.
A mulher apoiada era lindíssima. Os seus cabelos e olhos castanhos refletiam a paisagem azul. Por mais que usasse roupas simples, a qualidade delas era diferente das que os outros usavam. Era quem Zich e Lyla esperavam: Evelyn, a senhora da família marquesa Rouge e que mais tarde se uniu a Zich.
Quando chegaram, passaram a preparar o acampamento com bagagens tiradas de uma caixa mágica semelhante àquela que Zich possuía. Os cavaleiros cortaram as árvores para aumentar o perímetro e em seguida montaram uma tenda.
Enquanto isso, Evelyn tirou os sapatos e mergulhou os pés no lago, rindo. Os seus servos se juntaram a ela, e do outro lado, escondidos dentro da floresta, um par suspeito os observava: Lyla e Zich.
— Perfeito, é a Evelyn. Agora, esperamos ela entrar em perigo e a salvamos.
— Ela não vai pensar que somos os culpados?
Lyla lamentou a situação atual. Não os culparia se pensassem que ela e Zich eram bandidos que estavam se escondendo para emboscá-los.
— Independente, irmão. Só temos que ser confiantes.
— Você parece exatamente o vilão da história se convencendo.
— Eu sei, foi de propósito. Podemos estar fazendo uma coisa ruim, mas a autoconfiança vem em primeiro lugar!
Ela o ignorou. Sabia que se continuasse a conversa, só teria dor de cabeça.
— Precisamos esperar.
— Não muito, certo?
— Talvez a metade de um dia, mas não mais do que isso. Evelyn me disse que o incidente aconteceu no dia em que chegou ao lago.
Ambos se sentaram na grama e esperaram. Como estavam a uma distância considerável, não foram vistos. Demorou um longo tempo até que Evelyn saísse para comer.
“Daqui a pouco!”
Encantado, ele bateu em Lyla, que estava dormindo nos ombros.
— Uh, hã? — Ela acordou e olhou ao seu redor sem saber o que estava acontecendo.
— Acorde. Vamos agir em breve.
— Ah, é?
Então, usaram mana para fortalecer a visão e olharam através do lago os cavaleiros arrastando um pequeno barco com remos presos às laterais. Com ela sentada, um cavaleiro remava, e um dos criados abriu o guarda-sol.
— Sortuda.
— Você também pode fazer a mesma coisa mais tarde.
Enquanto os dois tinham uma conversa irrelevante, o barco chegou ao meio do lago. A partir desse momento, ele começou a circular o centro do lago devagar.
“Está na hora de eles virem…”
Zich observou com cautela a água sob o barco ficar mais escura. Havia algo lá, aguardando Evelyn se aproximar. Zich sinalizou para Lyla e se abaixou ao ver a ondulação surgir no meio do lago.
Evelyn foi para a capital para celebrar o aniversário do rei, e como sempre fazia quando chegava, ela e os acompanhantes viajaram pro lugar. Este lago em particular na floresta era um segredo bem guardado e apenas algumas pessoas sabiam sobre ele. Ela se sentia livre sempre que ia.
Normalmente, mergulhava os pés nas águas e brincava até voltar para a areia e desfrutar de uma refeição simples. Então, subira em um barco a fim de apreciar a vista. Isso era o que ela sempre fazia.
— Minha senhora! Segure-se firme!
— Você não deve cair!
O lago começou a tremer, e os cavaleiros ergueram as espadas. Tentaram descobrir o motivo, e apesar dos gritos das criadas, seguraram firmemente com uma mão o barco para estabilizá-lo e a outra para segurar Evelyn. De dentro da água, viam uma sombra se movendo rapidamente.
Bam!
Um cavaleiro balançou a espada no lago, e em resposta, houve um rugido arrepiante soou, e barco subiu no ar.
Crash!
O barco se dividiu em dois. Dos detritos espalhados, uma grande barbatana apareceu e sumiu. Essa não era a parte importante. Com os pequenos pedaços, Evelyn foi jogada no ar.
Embora gritasse, nenhum dali poderia ajudá-la enquanto caíam também. Não estavam em terreno sólido, e por isso somente a observaram voar para longe deles. Além do mais, o monstro do lago ainda os espionava.
Dolorida com o choque, ela caiu sem saber o quão longe estava. E tinha outra questão importante: ela não sabia nadar.
Frenética, ela fez de tudo e com todas as forças de uma forma aleatória para escapar. No entanto, quanto mais se mexia, mais afundava. A antes sensação de liberdade e frescor se tornou uma âncora à morte. Ficou cada vez mais difícil para que respirasse.
No momento em que pensou que morreria…
— Aaaarf!
Ela pôde respirar de novo. Sem sequer verificar o que o sustentava, tentou usá-lo para se levantar; o seu corpo não se moveu. Contudo, com o passar do tempo, foi recuperando um pouco da sua clareza o bastante para que percebesse que era alguém a apoiando.
— Você está bem? — perguntou o homem estranho.
Por um milagre, ninguém morreu. Os cavaleiros derrotaram o monstro, e as criadas que não caíram longe do barco sobreviveram segurando os destroços. Ademais, Evelyn, que havia sido jogada a uma grande distância, foi salva por um estranho que passava.
— Eu quero expressar os meus maiores agradecimentos!
Bupio Ricky, o líder do grupo, saudou Zich sem parar para enxugar a água escorrendo pelo cabelo. Um pouco mais longe, Evelyn estava se acalmando, as criadas a secando com toalhas e proferindo qualquer coisa para confortá-la.
— Qualquer um teria feito a mesma coisa. E a julgar pela situação, tenho certeza de que você e os outros cavaleiros seriam capazes de salvá-la.
— Não importa, isso não muda o fato de que você ajudou a nossa senhora e que te devemos um grande favor.
— É, tem razão.
Antes que Ricky percebesse, Evelyn estava ao seu lado.
— Minha senhora, você tem que descansar agora!
— Estou bem, só fiquei um pouco surpresa. Também não me feri. É mais importante expressar a minha gratidão ao meu salvador.
Ela se inclinou elegantemente. Mesmo que as roupas estivessem molhadas e bagunçadas, os seus movimentos eram chiques ao extremo.
— Eu sou Evelyn Rouge da casa Rouge. — Então, se endireitou — Ah, hum, eu não tive muitas conversas com homens antes. Se eu agir um pouco estranho, por favor, me perdoe.
“Previsível.”
Por já ter passado por uma situação parecida, não ficou tão chocado quanto a primeira vez. Ele e Lyla sorriram para ela, se segurando para não rirem por dentro.
De suas memórias do futuro, Lyla também conhecia o título de Evelyn. Podia estar envergonhada ao ponto de não poder olhar nos olhos dele, mas antes de regredir, a habilidade dela era alucinação e charme.
Ela era conhecida como “Súcubo”.