Leona foi à casa de leilões de novo. Embora tivessem planejado procurar a Lágrima do Lago um dia depois, ela, esperançosa, ia lá todos os dias.
“Também não está aqui hoje.”
Havia novos itens, menos o tesouro dela. Todavia, decidiu não ficar desapontada e focou a mente longe do seu entorno.
“Tenho certeza de que está aqui.”
Ela sentia isso muitas vezes sempre que vinha. Não sabia em que lugar em particular estava, mas tinha certeza de que o tesouro foi guardado lá.
“Acho que o Zich está certo. Devem estar vendendo a Lágrima do Lago em um mercado negro. Mas tem muitas coisas interessantes aqui.”
Era divertido ler as descrições dos itens nos quadros. Como esperado da melhor casa de leilões do mundo, até as descrições dos produtos de menor qualidade tinham uma sentença que despertava a curiosidade das pessoas. Além do mais, possuíam explicações e ilustrações detalhadas que faziam os outros se imaginarem com o objeto.
— Gostou de algo?
Ela de repente ouviu uma voz baixa diante dela e olhou para cima. Um homem com um longo bigode e cabelos loiros coçou a parte de trás da cabeça, olhando para ela. A sua primeira impressão foi desagradável: ele tinha um sorriso maldoso e era rude.
— O que você quer?
— Ah, esqueci de me apresentar. O meu nome é Wips Midas. — Ele acenou de leve com a cabeça, falhando em impressioná-la — Me interessei pela sua história recentemente.
— Bem, não tenho nenhum interesse em você.
— E na Lágrima do Lago?
Havia pequenas lojas ao lado do saguão, como restaurantes ou cafeterias. Como esperado dos estabelecimentos dentro da casa de leilões Tryoul, tudo era caríssimo.
Leona tomou um gole do seu suco e observou a loja. Após se familiarizar com dinheiro humano, não se deixou levar e não comprou nada. No entanto, ao ver o cardápio, a expressão dela mudou. “Por que tudo é tão caro”, foi o que pensou.
— Satisfeita?
— Mais ou menos. — Olhou para Midas — Você disse que sabia a respeito da Lágrima do Lago. Rápido, me diga.
— Antes disso, vamos conversar um pouco. Você é bem famosa. — Ele manteve o sorriso, apesar da fala rude dela.
— Eu sou famosa?
— Primeiro, posso perguntar o seu nome?
Ela ficou desconfiada. Porém, alguém como ela, que tinha sido intitulada como “inocente” por Zich, não conseguia discernir a astúcia de Midas.
— É Leona.
— Leona? É um nome bonito.
— O que você quer dizer com “você é famosa”?
— É exatamente como eu disse. Há rumores seus entre as pessoas daqui, dizendo que você é uma completa… — Ele segurou o riso, buscando passar seriedade — Presa fácil impotente.
— E o que isso significa…?
— Kukuku! Não posso acreditar que você não sabe o significado de “presa fácil”.
Enquanto ela fazia uma careta por não ter ideia do que acabara de ouvir, o riso dele ficou mais alto. Todos aparentavam ter ouvido a conversa, pois também riram.
— Tudo bem. Me deixe fazer uma oferta a uma pobre presa fácil.
Embora não soubesse o que estava acontecendo, ela sabia que estava sendo ridicularizada, piorando o seu humor. Planejava partir de imediato se ele começasse a dizer bobagens.
— Vou ajudá-la a procurar a Lágrima do Lago.
— Não precisa.
Pela primeira vez, o rosto sorridente dele vacilou. Ela se sentiu mais revigorada.
— Eu pensei que você a valorizava. Por que não precisa de ajuda para obtê-la?
— Eu valorizo. Você está mesmo ouvindo? Não é que eu não precise de ajuda, só não preciso da sua.
— Creio que você está ouvindo as pessoas que estão te ajudando agora. — Como se a situação tivesse voltado ao esperado, assumiu um tom arrogante.
— Com certeza.
— Então permita-me avisá-la que é difícil fazer uma caridade por outra pessoa, em especial alguém de outra espécie.
— O que quer dizer?
— As pessoas que estão te ajudando são meros golpistas.
Tut!
Ela bateu na mesa com o copo que segurava. A mesa tremeu, porém, surpreendentemente, o suco, que ainda estava pela metade, não derramou. O rosto de Midas endureceu com a reação dela.
— Repita isso. — Com raiva, falou, os olhos ameaçadores surpreendendo a todos.
— Acho que você não é só uma elfa caipira comum.
— Repita.
— Eu disse que eles são golpistas.
— Eu juro que se ninguém estivesse por perto e eu tivesse o meu arco em mãos, você estaria morto agora.
— Isso é lamentável. Eu teria te mostrado que era uma esperança fútil me atacar.
Ela não caiu na provocação, afinal, era irritante continuar conversando com ele. Quando ela estava prestes a se levantar, ele a impediu.
— Não vá tão cedo. Ainda não terminei. A Lágrima do Lago não vai aparecer nesta casa de leilões. — O olhar dela voltou para Midas, fazendo ele sorrir — Para ser mais preciso, não vai aparecer na casa de leilões “da frente”.
— Está tudo bem falar daquele lugar em voz alta?
— Uau, você parece saber da existência do mercado negro. Não se preocupe com as pessoas aqui, são todos meus amigos.
Os outros clientes assentiram e acenaram, arrogantes. Alguns até acenaram, mas todos mostraram sinais de arrogância.
— Você sabe como participar? — questionou Midas.
— Eles me disseram como.
— Bem, se sabem da existência, creio que é senso comum que tenham em mente como entrar. Mas, se você não tiver a coisa mais importante, tudo seria inútil.
Clonk!
Ele tirou algo das roupas e jogou na mesa, assustando Leona, que se escolheu. Era uma barra de ouro do tamanho de uma mão.
— Dinheiro. A Lágrima do Lago provavelmente será muito cara. Acha que podem ter tanto dinheiro?
— Sim.
— Você deve ter um plano infalível. Qual é? — Com a resposta confiante dela, ele mostrou um rosto surpreso e curioso.
— Tesouro. Vou achar um tesouro.
— O… quê?
O rosto dele se encolheu de forma peculiar. Então, uma enorme explosão de risadas. Ele e todo o resto riram alto, ao ponto de que as pessoas do lado de fora da casa de leilões espiaram para ver o que estava acontecendo.
— Você é a maior moleza que eu já vi! Acreditou mesmo nessa estupidez?!
— Pare de rir! — gritou ela, o rosto vermelho vibrante.
— Faz um tempo desde que eu ri tanto! Isto é por minha conta, pegue! — Empurrou a barra de ouro para ela, batendo no copo e derramando um pouco o suco de dentro.
— Não preciso disso.
— Não seja assim e aceite. É raro eu estar de bom humor. Pensei que você fosse ingênua, mas não tinha ideia de que era tão estúpida. Realmente confiou numa história ridícula desse jeito? Infelizmente, para você, teu pessoal é um bando de…
— Não te conheço, mas você não deveria ser assim, meu amigo. — Alguém de repente interveio entre os dois — Não se deve falar dos outros pelas costas.
Midas levantou a cabeça. A voz da pessoa era repleta de confiança, e ele exprimia um sorriso malicioso. Midas sabia quem era.
— Zich! — falou Leona.
— O meu amigo parece ter um problema comigo, então, Leona, você pode esperar um pouco lá fora? — Apontou para trás, onde Lyla estava.
A elfa obedeceu a ordem, dando espaço para Zich se sentar, Hans e Snoc atrás. Mesmo que os outros pudessem ter achado a presença dos dois ameaçadora, Midas não prestou atenção.
— Tudo bem, meu rico favorito? Parece ter muito a me dizer.
— Você traz uma elfa e uma beldade daquelas? Acho que não é um golpista comum.
— O que você quer dizer? Como pode proferir uma palavra tão desrespeitosa para mim? Não há ninguém tão íntegro quanto eu neste mundo.
Hans e Snoc se beliscaram e tentaram se manter sérios. Nowem, que estava apenas espiando, decidiu voltar para dentro das roupas de Snoc.
— Não vou falar muito. Você fez um bom trabalho domando aquela elfa.
— Por que fala como se ela fosse um animal? A única coisa que fiz foi dar conselhos a uma ingênua que acabou de sair da floresta. Um simples conselho para não acreditar em mais ninguém além de mim.
— É uma tática comum fazer com que as pessoas acreditem em você para perderem a confiança em todos.
— Mas eu não sou um golpista.
— Que vagabundo sem vergonha. Você é bastante famoso por aqui. Todos te conhecem como o predador daquela elfa.
— Continuo te dizendo: não sou um golpista. Admito que pareço um, mas você também não parece tão bonzinho. Que tipo de truque está tentando fazer? — Estreitou os olhos.
— O que você quer dizer com truque… Estou atrás do que você está tentando obter daquela elfa. Eu também quero.