Quando o leilão começou, Zich, Lyla e Leona se sentaram no sofá em frente ao corrimão e olharam para baixo. O leiloeiro subiu ao palco circular, se apresentou e se curvou. Talvez fosse por causa de um dispositivo mágico, ou pela arquitetura eficiente do prédio, ou apenas pela voz alta dele, mas puderam ouvir cada palavra do palco.
O primeiro item apareceu no estande.
— Dizem que é uma joia rara.
Lyla pegou o catálogo que havia sido preparado para os hóspedes na sala. Na primeira página, havia uma explicação e um desenho daquela joia. Hans e Snoc se aproximaram, segurando uma fruta cada, e espiaram. Já tinham visto os itens nos quadros no saguão, porém parecia diferente vê-los ao vivo. Além do mais, com exceção de Leona, ninguém havia lido as descrições com cuidado.
— Há algo que você queira comprar? Me diga, te compro vários — disse Zich.
— Você não está gastando com muita imprudência só porque tem algum dinheiro?
— Você sabe, Lyla, é uma quantia que posso gastar com muita imprudência.
— Isso é verdade.
— Além disso, estou planejando conseguir mais. Tudo isso é apenas uma pequena mudança.
Não muito tempo depois, a comida que pediram chegou. Hans, Snoc e Nowem fizeram a festa. Lyla, que estava virando as páginas do catálogo enquanto negligenciava a comida, parou de virar.
— Se interessou em algo? — Zich voltou com um prato cheio de comida — Vixe, parece bem bom.
Era um cajado reto. O seu longo cabo se estendia por alguma distância, e as extremidades estavam divididas que nem uma coroa. Havia cinco gemas de cores diferentes presas nas pontas, e tinha uma altura quase do tamanho dos ombros de um homem pequeno.
“Agora que penso nisso, ela usou vários feitiços de alto nível seguidos sem a ajuda de um auxiliar mágico ou ferramenta.”
— Quer?
— Uh, bem… — Ela assentiu.
— Vamos comprar, então.
Devido à ajuda que ela sempre dava a ele, ele decidiu comprar — as finanças pessoais dela não eram tão ruins, também —. Por estar perto da parte de trás do catálogo, tinha certeza de que era caro.
Após muitos objetos fascinantes passarem, o cajado deu as caras. Aqueles nos assentos comuns começaram as licitações e aumentaram o preço. A oferta continuava a aumentar.
— Você não ia participar? — perguntou ela.
— Qual é o ponto de aumentar o preço pouco a pouco quando posso apenas participar no final?
Dito e feito, a velocidade dos lances diminuiu. Então, alguém propôs uma oferta, e ninguém mais fez uma maior. Foi então que ele apertou o botão ao lado da sua mesa, que era um simples artefato que movia a placa do seu preço abaixo do terraço.
— Você ofereceu duas vezes mais?
— Uhum. Não tem por que desperdiçar a minha energia para obtê-lo.
O leilão acabou. Alguns ficaram satisfeitos por terem adquirido o que queriam, outros ficaram de mau humor pelo motivo oposto. Mas, por mais que sentissem, o evento tinha acabado. As pessoas nos assentos comuns saíram, diferente do grupo VIP.
— Satisfeita?
— Sim! — Olhando para o cajado, sorriu brilhantemente.
Distraídos, Hans e Snoc olharam para o rosto dela por um momento. Mesmo que estivessem acostumados, o sorriso inigualável dela roubou a atenção até de Leona.
— É mesmo? Que bom. Se gostou tanto, por que não comprou um para você antes?
— Eu não tinha dinheiro. Além disso, não me sentia desconfortável sem ele.
Outros magos, que não podiam fazer um simples feitiço de ataque sem um cajado, teriam corrido para ela com raiva.
Naquele momento, alguém bateu na porta da sala.
— Entra!
— Não quero me intrometer, mas já que o leilão acabou, é hora de saírem das salas — disse o funcionário numa reverência.
Em vez de se levantar, Zich empurrou um documento, que foi verificado pela pessoa.
— Espero que aproveitem o seu tempo na casa de leilões. — Dentro de segundos, saiu em silêncio feito o vento.
O papel era um certificado de participação do mercado negro. Ele também arrancou isso de Midas.
“Ele é mesmo um cara útil em muitos aspectos. Eu até poderia participar sem ele, mas foi bem mais fácil. Fazer o quê.”
Para fazê-lo cair em um poço hilário de desespero, reprimiu o riso e aperfeiçoou seus planos.
— Credo. — Lyla aumentou a sua distância dele.
Durante o tempo passado, o sol começou a se pôr; a lua, a nascer. Pessoas voltaram, porém, com máscaras e roupas enormes. Era difícil ver quem eram apenas pela aparência.
Uma por uma, se sentaram. Midas observou as pessoas abaixo dele da sua sala VIP.
“Insetos.”
Independentemente de status, todos que estavam reunidas agora possuíam uma quantidade considerável de riqueza. Entretanto, para ele, não eram diferentes de insetos rastejando no fundo do chão. “Se eu esperar um pouco mais, eles vão ficar de joelhos embaixo de mim.”
As fantasias felizes dele duraram apenas alguns minutos; ele ainda tinha coisas para cuidar. Ele abriu o catálogo que um dos funcionários havia dado, mais fino que o comum, contudo, com coisas muito mais raras e mais perigosas. A atenção dele se prendeu a apenas dois itens.
Eram a Lágrima da Terra, que estava no começo, e a do Lago, que estava no meio. Não importava o que acontecesse, ele precisava comprar as duas a todo custo.
“Não será tão difícil.” pensou. Para se preparar para cenários inesperados, também trouxe todo o ouro que fez. “Vamos, começa logo.”
Assim como ele queria, o leilão logo começou. Funcionou da mesma forma que o leilão diurno. Contudo, como todos ao redor, ele também usava uma máscara para cobrir os olhos.
O primeiro item foi leiloado. Era a Lágrima da Terra.
Ele fixou a postura. “Passei por tanta dor para ter esse item para leilão…”
Ele teve que usar muitas das suas conexões e poder para colocar a Lágrima da Terra em leilão no mercado negro. Por precisar dela a todo custo por um preço barato, trabalhou duro para dar uma desculpa para ela, de modo que mal atendia aos requisitos básicos para ser leiloado lá. Foi mais cansativo do que o normal.
“No fim, fui bem sucedido.”
Quando o leiloeiro gritou o preço, ele participou de imediato. Ela foi descrita como uma mera joia especial e cara, então a maioria das pessoas não estava interessada. Alguns participaram, todavia, boa parte desistiu no processo, sobrando apenas uma pessoa. Midas tinha uma boa ideia de quem era.
“Sim, eu esperava que você participasse, Zich. Deve estar de olho na Lágrima do Lago, com certeza.”
No entanto, ele devia ter somente as cem mil moedas de ouro dadas por Midas. Não eram uma garantia de compra.
Zich sabia que o homem estava de olho nela também. Por isso, precisou aumentar o preço da Lágrima da Terra para comprar a do Lago. Foi a elfa quem ofereceu, então todos os lucros iriam para ela. “E aquela elfa está sendo enganada por esses malditos agora.”
Ele estava confiante na sua análise, pois não apenas fez previsões com base nas palavras de Zich para ele, mas também obteve informações sobre os planos de pela barra de ouro.
“Bem, ele pode tentar aumentar o preço o quanto quiser.”
O preço havia subido de maneira exponencial; Midas e a concorrência pareciam não saber quando parar. As pessoas começaram a murmurar entre si quando viram que o primeiro item, que nem parecia tão precioso, tinha um preço incrível. Logo, o preço subiu para um milhão de moedas de ouro. Naquele momento, o leiloeiro pausou a licitação e se desculpou pela interrupção.
“Começou.”
No mercado negro, quando o preço subia até certo ponto, os funcionários verificavam se os licitantes tinham dinheiro suficiente para pagar pelo item. Havia muitas pessoas imorais e coniventes reunidas.
Um funcionário foi ao salão VIP de Midas, que mostrou as moedas de ouro que tinha. Depois de verificar o valor, o funcionário inclinou a cabeça e saiu.
“Acabou.”
A concorrência devia ter cerca de cem mil no total. Zich provavelmente queria tirar o máximo de dinheiro que pudesse de Midas, que estava degustando de um vinho caro, sem saber que seria a sua queda.
Então, o veredicto final veio.
— Depois de confirmar as opções disponíveis dos nossos clientes, continuaremos o leilão.
— O quê!? — gritou, perplexo.