Zich deu um passo à frente. Lyla olhou para as costas dele com preocupação, mas não o segurou. Como havia dito a ele muitas vezes antes, fazer mais do que isso seria demais.
Ele parou na frente da Tornium. Parecia a mesma das suas lembranças, em especial a lâmina preta e a guarda simples longe de ser glamourosa. Se lembrou de quando a empunhava e aniquilava os inimigos, entretanto, não tocou nela.
— Ok, vamos procurar por pontos suspeitos agora — disse após se virar, deixando Lyla aliviada.
Ele saiu da sala. Não havia hesitação nos passos, e seus companheiros o seguiam um a um. Mesmo com a explicação de que Tornium era uma espada mágica do mesmo nível que a Estellade, ninguém despertou interesse por ela. Snoc foi o último a sair, e o silêncio encheu a sala de novo.
— Então, aonde devo ir primeiro? — Pôs as mãos na cintura, olhando ao redor com exagero. Não sabiam o que procuravam ou onde estavam — Este caminho é grande?
— Muito — respondeu Lyla. Ela sabia como entrar e sair, o que fez com que as palavras dela significassem que não possuíam escolha a não ser continuar andando.
— Bem, temos muito tempo, então podemos olhar com atenção.
Sequer possuíam negócios urgentes para atender. Mesmo que não encontrassem nada, planejavam dar uma olhada até que ela ficasse satisfeita. Ainda assim, não significava que pensassem que era um bom plano vagar sem rumo.
“Ia ser bom uma dica ou coisa assim.”
Ele de repente pensou na Windur e a tirou das costas. Ela estava com a forma estranha habitual. Ele poderia transformá-lo em uma forma mais confortável, porém ela era uma ridícula que se recusava a mudar sem uma razão especial — na percepção dele.
“Ela me levou a um caminho antes. Na verdade, foi mais a chave e um dos pedaços da espada que me guiou. Acho que ela não vai poder fazer nada.”
Portanto, ele murmurou algo ridículo: — Tem algo que possamos encontrar aqui?
— O que você está fazendo? Está falando com uma espada agora? — Lyla pareceu atordoada, assim como os outros três
Ele deu de ombros. — Este é o lugar onde encontramos a Windur. Pela nossa experiência, você sabe o que ela faz e como é especial. Então, tentei falar…
Do nada, ele parou. Incluindo ele, todos os olhares dispararam para as pontas das lâminas.
Brrrrrr!
Uma parte especialmente aquecida da lâmina dura se alongou e se curvou.
Todos ficaram em silêncio.
— É sério… O que ela é?
Com Zich na liderança, o grupo continuou a andar. Sempre que chegavam a um caminho bifurcado, Windur balançava as pontas.
— O que tem com essa espada? — Leona perguntou a Snoc, mas ele também não conseguiu responder claramente.
— Também não tenho certeza.
Era uma espada de formato único. Ele não sabia nada sobre isso, exceto pelo fato de que Zich de repente a tirou da ruína e que a valorizou porque teve um desempenho maior do que mesmo a Estellade.
“Ah, é , ela pode mudar de forma também.“
— Acho que muitas coisas estranhas e interessantes estão ligadas a Zich.
Com as palavras de Leona, Snoc e Hans assentiram. Principalmente Hans, que o acompanhava desde que deixou os Steelwalls.
Zich parou, ocasionando na parada de todos. As lâminas estavam curvadas para o lado. Porém, a área para onde ela apontou não era uma passagem, mas a parede. O mesmo pensamento veio à cabeça de todos ao mesmo tempo.
— Uma passagem secreta! — Zich procurou ao redor da parede.
— Tem um espaço estreito o suficiente para uma mão mal se encaixar. Dá para pôr o braço inteiro pra alcançar o interior, pelo menos.
— Mas como passamos por isso?
A porta que levava à passagem se abriu de forma automática quando se aproximaram. No entanto, a parede bloqueando o caminho não parecia que se abriria. Zich tentou derrubá-la e ouviu um impacto seco, não um oco..
— É camuflagem ou essa coisa está fora de si? — Olhou para a espada, a chacoalhando no processo..
As pontas se mexeram, contudo não apontaram para outro lugar. Quando ele a levantou, as extremidades se curvaram para baixo; quando abaixou, se curvaram para cima.
— Ela aponta para o centro da abertura. Está apontando para algo em vez de uma direção?
Depois de virá-la para que as pontas voltassem à posição original, ele firmou a espada entre a lacuna. Como se fosse uma chave, ela entrou suavemente na abertura da parede, emitindo um som de destranca atrás da parede.
Ele se voltou aos companheiros. Após encarar cada um, olhou de volta para a parede e girou a espada. Então, uma parte da parede girava mais e mais conforme ele se mantinha no processo de girá-la.
Depois que a espada girou meio círculo, houve outro clique. Os tijolos começaram a se mover para trás e deslizaram para o lado. Um grande buraco apareceu na frente deles.
— Não sei onde termina, mas acho que encontramos o lugar certo. — Zich olhou para dentro do túnel.
— Parece que realmente encontramos o lugar certo?
Ele entrou; havia outra passagem além da porta secreta. No entanto, esta passagem era diferente de todas as outras passagens nesta ruína. Primeiro de tudo, era grande. Comparado com todas as passagens que passaram nesta ruína, era cerca de quatro ou cinco vezes maior. O teto também era alto e largo.
Todavia, a coisa mais perceptível sobre esta passagem eram os murais por todo o teto e paredes. Mesmo para um não especialista, os murais pintados em cores vibrantes pareciam ser de qualidade excepcional.
— Foi muito bem preservada. — Lyla seguiu Zich até a sala, admirada.
— É por causa da mana, certo?
— Sim, deve ser. Desde que chegamos, a mana que eu podia sentir aumentou. — Ela colocou as mãos na parede, sentindo a energia fluindo — Parece que tem mana por todo este edifício; tem uma grande possibilidade de que este lugar tenha uma bomba de mana como a última ruína. Além disso, a daqui deve ter uma melhor qualidade, ser maior ou ambas as opções.
“Se essa ruína foi criada pela mesma civilização da última, também pode ter um monstro horrível aqui.” Como se para consolá-la, ele bateu nos ombros dela algumas vezes antes de prosseguir.
Os murais continuaram por toda a passagem. Havia muitos soldados representados; monstros e golens fortes também estavam pintados nas paredes. Os três não aparentavam estar lutando entre si. Em contraste, pareciam estar do mesmo lado enquanto olhavam para o fim do túnel com olhos ameaçadores, como se intimidassem os que caminhavam pela passagem.
— Sinto que estou entrando em um palácio com uma segurança bem rígida — falou Hans.
— Nisso você está certo.
— Senhor, o quê?
— Também acho que esses desenhos retratam as forças de segurança. Não sei muito sobre arte, mas provavelmente não tem quem desenhe uma fileira de soldados sem sentido como arte, ainda mais para cobrir paredes e tetos inteiros. Mesmo que possa ser apenas o trabalho de um artista excêntrico, tem pessoas que precisam de desenhos como este. Pessoas poderosas precisam dessas pinturas estranhas em vez de tropas reais.
— Pessoas que estão mortas. — Lyla acrescentou, surpreendendo a Hans.
— O que isso significa?
— Tem uma grande chance de que essa ruína seja um túmulo. Além do mais, para ter um túmulo desse tamanho, a pessoa deve ter grande poder.
Uma porta enorme apareceu diante deles. Sem muita hesitação, Zich a abriu.
— Ei, Zenard, por que você está com tanta pressa?
Bronim ficou um pouco perplexa. Agindo como se fosse voltar para o alojamento deles, Glen pensou profundamente por um tempo e depois se virou para voltar à ruína.
Houve um pouco de hesitação na voz de Bronim desde que ela recebeu uma resposta fria de Glen por perturbá-lo mais cedo. No entanto, ele parecia ter resolvido as preocupações, voltando ao normal.
— É porque não acho que eles estão andando pelas ruínas para ver. Eu vou trazê-los para fora.
— Ah, você também acha?— Sua expressão se iluminou. — Sim, isso mesmo. Não importa o quão grande alguém seja, todos têm que seguir as regras, em especial se estiver sendo quebrada com algo tão frívolo quanto passear.
Enquanto Bronim murmurava para si, ele só prestava metade da atenção nela. Tudo o que ele se importava era garantir a Tornium antes que Zich e o seu grupo pudessem chegar lá. Mesmo que tivesse planejado vagar pela ruína para não despertar a suspeita dela, ele agora não tinha tempo para isso.
Ele se moveu direto para a passagem secreta de sua memória.
— Uau, havia um lugar como este!
— Vamos primeiro tentar entrar.
— Ah, espere! Zenard!
Bronim o seguiu com pressa. A passagem era familiar para ele, além de não ter armadilhas. Daí, ao entrar, uma sala apareceu na frente dele. Foi só quando ele viu a espada negra no meio que enfim soltou um suspiro de alívio.