No dia seguinte, o grupo foi à capital com a orientação de D’niel. As aldeias que visitaram enquanto passavam não eram muito diferentes da primeira. Entretanto, algumas eram grandes o suficiente para serem consideradas cidades. Todos também admiravam as enormes paredes feitas de árvores grandes e grossas entrelaçadas.
Depois que continuaram a caminhar pela floresta, uma cidade enorme que ultrapassava todas as aldeias em tamanho apareceu em vista.
— Uaaaau!
A admiração de Snoc explodiu com a visão na frente dele, assim como a dos outros. Do cume, avistaram a cidade estendida abaixo. Para os humanos, era uma estranha e exótica, contudo, muito bonita. Ela era grande, e um belo lago fazia parte dela. Apesar de o muro feito de árvores a cobrir, não cobria a área do lago. Graças ao terreno natural, não havia necessidade de pôr um muro ao lado.
Não admirava que a tribo de Leona se chamava Tribo do Lago. Zich pôde entender de imediato o motivo do nome.
— Esta é a capital da Tribo do Lago, a floresta Droud — contou D’niel.
Zich se lembrou do nome completo de Leona e assentiu. O sobrenome de um elfo era derivado da floresta de onde eram; e o nome oficial de Leona era Leona Pearl de Droud. E não era irracional chamar Droud de floresta, pois desde os muros até às casas, tudo era feito de árvores em crescimento.
— Ali é a minha casa! — exclamou ela, apontando para um grande edifício no centro da cidade.
Mesmo que todos os outros estivessem no topo de árvores grossas e grandes, o no centro da cidade estava situado em árvores maiores. Havia sete árvores o segurando, tornando o edifício semelhante a um palácio celeste. E, como esperado, ele era especial e extravagante. Contudo, havia outro que aparentava ser extra-especial em Droud.
— O que é aquilo? — questionou Zich, apontando para um edifício quase tão grande quanto o palácio real próximo à floresta feito sobre uma árvore gigante de destaque da superfície do lago. A árvore viva cruzava o lago e formava uma ponte que o ligava ao resto da cidade.
— É um altar, onde interagimos com o espírito ao nosso redor. É também onde colocamos a Lágrima do Lago — disse D’niel, olhando para Leona, que evitou o olhar dele.
O grupo, então, entrou em Droud. Como agora estavam bastante acostumados à sociedade élfica, não tinham mais tanta curiosidade. Mesmo na floresta, as tensões de uma possível guerra pairavam na atmosfera.
D’niel os guiou até a entrada do palácio, acessível por uma escada feita de colunas de madeira. Ao subirem e entrarem, notaram que o interior parecia ainda maior do que o exterior. Os elfos que estavam vagueando os cumprimentaram sem uma maneira exagerada, mesmo com uma princesa presente.
— Por favor, com licença.
Alguém se aproximou deles: um elfo de aparência digna com um bigode branco. Visto que eles tinham uma expectativa de vida muito longa e envelheciam em um ritmo muito lento, aquele à frente deles devia ser velho ao extremo.
— Freid! — gritou ela.
Freid, o velho elfo, sorriu quando viu ela, porém a sua expressão encantada durou pouco, sendo substituída por uma feição séria. — Você voltou, princesa.
— Aham! E o meu irmão mais velho?
— Ele está esperando por você lá dentro.
Freid examinou rapidamente o corpo de Leona para verificar se ela recebeu algum ferimento. Ficou aliviado ao não ver nenhum, porém não demonstrou. Em vez disso, ele mascarou as expressões ainda mais.
— Princesa, essas pessoas são seus companheiros? Sou Freid Will Droud. Mesmo que eu esteja faltando de muitos modos, sou responsável por cuidar do palácio.
Ele cumprimentou Zich e seus companheiros, que retribuíram a saudação.
— Ouvi dizer que vocês protegeram a princesa e a ajudaram a encontrar a Lágrima do Lago. Como membro da Tribo do Lago, expresso os meus sinceros agradecimentos. — Ele se curvou profundamente — Vamos entrar. O príncipe está esperando.
Antes de guiá-los para dentro, Freid se virou e olhou para Leona. — Ah, e também, princesa, por favor, venha falar comigo depois de falar com o príncipe.
Mesmo que seu rosto não mudasse, suas intenções não pareciam pacíficas. Ela engoliu em seco, nervosa. — Você está com raiva de mim…?
Com uma voz indiferente, ele respondeu: “claro.”
Os ombros dela caíram, todavia ninguém a ajudou. Não podiam ajudá-la, afinal, quem iria interferir na disciplina de uma princesa que causou sérios problemas?
— E, claro, depois do príncipe. Ele está muito determinado, então acho que levará um tempo até que você venha me ver.
A cabeça dela se inclinou para o lado, encostando os ombros. Freid olhou para D’niel.
— Você trabalhou duro para guiar a princesa e seus companheiros. Preparei um lugar para você ficar, para que consiga se desculpar.
— Sim, senhor! — D’niel respondeu, energético. Após se curvar para o grpo, seguiu atrás de um elfo que estava esperando por ele e logo desapareceu de sua vista.
— Ouvi dizer que D’niel foi rebaixado — mencionou a elfa. Ele balançou a cabeça.
— Eu não tenho nada a dizer sobre ele, e também não tenho o poder de fazer nada sobre sua situação. Por favor, pergunte ao príncipe sobre esse assunto.
— Sobre o papai, a mamãe e vovó também?
— Sim…
Ele tentou não mostrar, porém Freid aparentava estar muito angustiado enquanto respondia. Ele os conduziu para dentro de uma sala imensa, na qual duas árvores grossas que atravessavam o chão se erguiam de ambos os lados e penetravam no telhado. Os galhos e folhas que brotavam do topo das árvores pareciam lustres elegantes. Do outro lado da entrada, havia uma plataforma subindo do chão; em cima dela, duas cadeiras grandes.
Eram os tronos do rei e da rainha. Logo abaixo, tinha mais duas cadeiras de cada lado do trono. Zich e seus companheiros viram um elfo andando na frente das tais. Ao entrarem, o elfo virou a cabeça para vê-los.
— Irmão! — Leona correu em direção a ele.
O irmão mais velho dela sorriu de uma forma brilhante para ela e abriu os braços como se quisesse abraçá-la. Ela não hesitou em fazer o mesmo. Então, prestes a se tocarem, ele ergueu o punho.
Puck!
— Agh!
O grupo atrás se encolheu com o som alto. Ela caiu no chão, a mão na cabeça devido à tontura do choque repentino do soco.
— Que diabos você está fazendo!? — Ela levantou a cabeça, gritando e com lágrimas nos olhos.
O elfo diante dela não tinha nenhuma simpatia. Em vez disso, não havia mais vestígios do sorriso anterior, fazendo com que Leona inclinasse a cabeça para trás com a expressão feroz no rosto dele.
— Acha que eu diria: “bem-vindo de volta!”?! Com um belo sorriso no meu rosto, irmã estúpida?!
Então ele balançou o punho na frente dela. Ela baixou a cabeça, mas logo olhou de volta e resmungou: “eu encontrei a Lágrima do Lago…”
— O quê?
Entretanto, ela fechou a boca de novo depois de ver o olhar assustador nos olhos de seu irmão. Ele olhou para ela por um tempo e soltou um suspiro.
— Você sabe o quanto estávamos preocupados com você?
— Ugh…
Ela não tinha palavras a dizer, pois podia sentir a preocupação e o amor que ele tinha por ela em sua voz.
— Sinto muito.
Sua voz estava desanimada quando ela se desculpou, e o príncipe soltou um grande suspiro. Mesmo que parecesse zangado, amor e preocupação fluíam em seus olhos.
— Mas é bom que você tenha voltado. Também é uma sorte que você não pareça ter um ferimento grave.
— Sim! — respondeu ela em voz alta.
O príncipe a ajudou a se levantar e voltou o olhar para o resto do grupo, que aguardava em silêncio para não interferir na reunião dos dois. Então, seguido de Leona, o príncipe caminhou até eles.
— Peço desculpas. Fiz uma cena na frente de estimados convidados.
— Não, está tudo bem — respondeu Zich, dando um passo à frente.
— Primeiro, vou me apresentar. Meu nome é Dronian Pearl Su Droud. Eu sou o príncipe da Tribo do Lago e o irmão mais velho dessa pestinha.
Com a introdução dele, todos se apresentaram.
— Eu ouvi as notícias. É dito que protegeram a minha irmã e a ajudaram na busca pelo nosso tesouro. Não sei como poderemos retribuir a todos vocês. Ele parecia muito agradecido, mas continuou com vergonha — Se fosse em qualquer outra época, teríamos dado o melhor tratamento possível. Nossa situação não está boa agora, no entanto.
— Fiquei sabendo. A Tribo do Ferro está mantendo reféns.
— Sim, isso mesmo…
— Pude recuperar a Lágrima do Lago. Não é o suficiente para resgatá-los? — perguntou Leona, se intrometendo na conversa dos dois.
Mesmo que Zich já tivesse refutado a possibilidade, Leona queria perguntar por precaução. Mas Dronian também refutou a pergunta desesperada.
— Não, não é possível, porque isso é apenas uma desculpa. Mesmo que tenhamos a recuperado, não vão libertar os reféns.
— Sua alteza, os únicos mantidos reféns são: o rei, a rainha e a xamã da tribo?
À pergunta de Zich, todos olharam para ele.
— As outras tribos também devem ter participado da Puola. Então, o que aconteceu com eles? Eles devem ter aprovado as ações da Tribo do Ferro ou também foram mantidos reféns.
— Hmm. Posso perguntar por que você está curioso sobre isso? — falou Dronian.
Ele se sentiu desconfortável com a pergunta detalhada de Zich, em especial em uma situação em que a guerra poderia começar a qualquer momento. Mesmo que fosse um benfeitor protetor da irmã e do tesouro da tribo, não podia deixar de suspeitar. Por essa razão, Zich entendeu a cautela dele.
— Não é muito. Eu estava pensando se poderíamos ajudar.
— Ajudar?
— Você não precisa de mercenários?