Eles sentiram um número considerável de presenças dentro do edifício. Todavia, não tinham certeza se eram os reis. Precisavam verificar com os próprios olhos para ter certeza.
“Mas parece ser bem provável.”
O grupo foi até a entrada do primeiro andar, onde a maioria estava reunida. Aqueles lá dentro tomaram cautela quanto ao súbito intruso e se espalharam por toda a casa para realizar uma busca. Zich estava mais preocupado com as presenças imóveis no segundo andar.
“São três em cada quarto.”
A cada três, dois estavam juntos enquanto um estava a uma pequena distância. “Parece que dois guardam um preso.”
Seria uma ideia melhor distribuir as pessoas em edifícios separados, porém algumas razões logísticas aparentavam falar mais alto do que a segurança, então reuniram os oito grupos em um prédio só.
“São cinco tribos. Excluindo a do ferro, quatro possuem desaparecimentos. Como é um par de reis e rainhas, oito no total. A conta bate. Mas e a xamã? Ela é a mãe do rei e o motivo pelo qual vim à floresta de Adrowon. De acordo com Dronian, a tribo deles é a única que teve o xamã capturado também. Na lógica, deve haver nove grupos. Tenho que saber se um está faltando ou se não são os reféns.”
Com cuidado, ele se agarrou à janela. Então, ativou o novo artefato feito por Lyla e dado a ele.
“Ela é mesmo um gênio.”
Devagar, ficou invisível. Outros não seriam capazes de encontrá-lo ou senti-lo nem se ele respirasse fundo. Como o artefato anterior, o novo apagava os rastros dele, mas com uma qualidade superior.
“Como ela fez algo assim no meio de uma viagem sem uma oficina de magia ou um centro de pesquisa? E aquele papo dela? ‘Ah, fiz isso pensando no que aconteceu antes’, daí ela jogou essa pulseira e me deixou largado lá, perdido. Te falar, se eu fosse um desses moleques por aí, teria me apaixonado por ela na hora”, pensou, rindo. Ele olhou para as barras grossas na janela, tentando puxar. “Acho que não posso invadir desse jeito. Também não parece metal normal. Deve ser uma liga com uns minerais raros para aumentar a durabilidade. Até que faz sentido; eles não utilizariam tanto de suas despesas para parar um simples ladrão. Ainda mais em um prédio normal desses. Isso só aumenta as chances de estarem mantendo os reis aqui.”
Zich saltou. Ele se pendurou nas bordas da janela do segundo andar e ficou perto da parede em silêncio por um tempo.
“Tem alguém se aproximando…?”
Não importava o quão em silêncio ele tentasse se mover, não podia deixar de emitir algum barulho. Além do mais, seus oponentes eram os perspicazes elfos. No entanto, nenhum aparentou notá-lo, talvez por causa da comoção do lado de fora.
Ele colocou mais força nos braços, ergueu o corpo e vasculhou o interior da sala pela janela.
“Parece que eu os encontrei.”
Dentro da sala, um elfo estava sentado em uma cama com os olhos bem fechados. Pelas fotos mostradas por Dronian a ele, não era o rei, rainha ou xamã da Tribo do Lago. Apesar disso, ele podia dizer que estava preso pela sua aparência magra e também pelas roupas que vestia.
“Acho que ele é o rei da Tribo da Montanha. Essa montanha estampada no peito da camisa dele deixa meio óbvio.”
Como um macaco, ele verificou todos os quartos do segundo andar. Havia uma janela presa aos cômodos, então pôde ver todos. Foi perto da quinta janela que…
“Encontrei ele! É o rei da Tribo do Lago? É idêntico ao da foto.”
Isso significava que ele também era o pai de Leona. Aparentava estar um pouco abatido, mas sem nenhum problema de saúde. Depois, foi ver o restante dos quartos.
“Todos os reis estão aqui, o problema é que não achei a xamã. Procuro em outro lugar ou tento perguntar? Não acho que me entregariam, mas podem não conseguir esconder o fato de que me viram.”
Claro, provavelmente eram mais hábeis em esconder seus sentimentos, porém ele não poderia apagar a pequena possibilidade de ter a identidade revelada se falasse com eles. Além do mais, não pretendia salvá-los tão rápido.
“Suas vidas não parecem estar ameaçadas agora, então, se vou salvá-las, devo salvar a xamã também. É melhor recuar por hoje, eles podem não ter ideia de onde ela está.”
Ao chegar no castelo no meio da ilha, a comoção havia diminuído. No geral, o conflito não era algo que duraria muito tempo; sua primeira prioridade era ocultar o fato de que a maioria de suas tropas eram armaduras sem alma, não derrotar o máximo de oponentes possíveis.
“Duramos muito tempo.”
Ele elogiou Snoc e Hans dentro da mente por cumprirem a missão melhor do que ele esperava. Não era difícil perceber que seu plano foi um sucesso retumbante.
De repente, um grito alto e furioso ressoou de longe. Zich sorriu.
“É aquele cara.”
Ele adivinhou que o indivíduo era o general comandante da Tribo do Ferro. Ele tinha certeza de que era o mesmo elfo que liderou o exército inimigo no dia anterior.
“A maneira como sua expressão mudou foi uma visão incrível de se ver em batalha.”
Zich se sentiu arrependido por não ter visto o rosto do general elfo na frente dele, mas logo deixou cair esse pensamento.
“Bem, não é a única chance.”
Mesmo que ele tivesse terminado seus negócios ali, não se retirou na hora. Como os soldados possivelmente iriam correr sem parar para encontrar as armaduras desaparecidas, ele ainda tinha algum tempo.
“Além disso, não quero usá-los por tanto tempo assim.”
Não importava o quão bem agissem, seria difícil continuar escondendo o fato de que o exército dele era falso. Devido a isso, tinham que tomar o máximo de cuidado possível.
Zich pousou em silêncio próximo ao castelo, considerando quanto tempo tinha até que a magia de invisibilidade e cobertura de presença desaparecesse.
Ele lentamente se infiltrou no castelo. As pedras cortadas com cuidado refletiam o luar brilhante e davam a todo o castelo uma imagem fria.
“Realmente, não parece um lugar em que os elfos vivem. Mas não é hora de pensar nisso. Enfim, se a xamã fosse capturada, onde a teriam colocado aqui? Uma torre alta ou uma masmorra? E por que a puseram ela apenas um lugar diferente?”
Não era como se não houvesse mais quartos no prédio com os outros reféns. Zich achava que deveria haver uma razão específica, significativa ou não, para que eles separassem ela do resto.
“Eles podem precisar dela para um plano específico.”
No entanto, ele iria pensar mais a respeito depois de encontrá-la. Para sentir as presenças ao seu redor, aumentou o alcance de suas habilidades sensoriais.
“O quê?”, ele murmurou para si mesmo. Ele fechou os olhos e aumentou a concentração, todavia o resultado foi o mesmo. “Como assim?”
Ele teve dificuldade em sentir qualquer presença. Era como se alguém estivesse interferindo em seus sentidos. Então, ele lembrou de um momento em que sentiu a mesma sensação, como se alguém estivesse colocando uma venda em seus olhos — ruína de Violuwin.
“Talvez, este caste…” Ele arregalou os olhos e olhou para o topo, de onde a escuridão parecia espiá-lo. “Este castelo é um remanescente de uma ruína antiga?”
Então tudo fazia sentido. Agora, ele podia entender por que os edifícios e estruturas em Mentis não seguiam os projetos arquitetônicos normais dos elfos.
“Em primeiro lugar, não pertencia a eles.”
Sem perceber, ele deu um tapinha na Windur em seus braços. Como se ela julgasse que a missão era um evento significativo, se transformou em uma pequena adaga. Ele quis rir, pois nunca imaginara que poderia encontrar mais restos do antigo império assim. Foi uma boa decisão seguir Leona.
“É melhor me acalmar, na verdade. Nada é certo ainda.”
O castelo poderia, por coincidência, ter os mesmos poderes que as ruínas. Além disso, elfos do passado poderiam ter preferido viver em edifícios de pedra do que em árvores. Todavia, a chance de Mentis ter uma conexão com o antigo império era forte agora.
“Tenho que me certificar de que os elfos fiquem mesmo em dívida comigo.”
Ele queria que eles ficassem em dívida a ponto de que permitirem que ele investigasse cada centímetro de Mentis.
Ele voltou a se mover de novo, contudo com mais cautela do que antes.
“Se este lugar tem os mesmos poderes que as outras ruínas, eu posso não conseguir escapar com facilidade.”
A antiga ruína era um lugar onde a magia de teletransporte de Lyla e a capacidade de Snoc de controlar a terra eram cortadas. Se ele fosse capturado aqui, só teria força para escapar. Mas ele não tinha planos de sair só porque achava a situação perigosa.
“Vejo o porão primeiro?”
Quando pensava em prender alguém, a primeira imagem que aparecia na mente dele era uma prisão; as prisões ficavam em porões em boa parte das vezes.
“Uma princesa estaria em uma torre alta, mas desta vez estou procurando uma xamã.”
Ele riu da própria piada e procurou escadas para descer. Não foi difícil achar. Em um buraco que parecia que várias pedras haviam sido puxadas do chão, tinha uma escada que levava aos andares inferiores. Entretanto, a segurança era rigorosíssima; eram oito elfos armados guardando a escada. Estava claro que guardavam algo muito importante.
Ele se aproximou com cuidado. Graças ao artefato, não puderam vê-lo. No entanto, ainda tomou muito cuidado para permanecer escondido, porque o efeito de invisibilidade não era perfeito e os elfos tinham sentidos e instintos superiores em comparação com os humanos normais.
Ele conseguiu chegar à escada sem muitos problemas. Desceu pelo porão e avistou tochas acesas no subsolo, o que era uma visão comum. Como lá mal recebia luz, na maioria das vezes tochas ficavam para ajudar as pessoas a enxergar.
“Eles são muitos?”
O porão não era uma muito utilizado para outros motivos além de servidor como armazém. A diferença dos comuns, porém, era que ele era muito brilhante, graças às tochas iluminando a área inteira.
“Com certeza tem algo aqui embaixo.”
Ele foi descendo mais o prédio. Os edifícios geralmente tinham um andar subterrâneo logo abaixo do térreo, mas esse em específico continuava a cair sem um fim à vista.
Após um tempo, ele chegou ao fim da escada, alcançando um grande espaço. Naquele espaço, ele encontrou a xamã.