O lugar era largo e longo. Paredes altas revestiam ambos os lados e apoiavam um telhado circular em forma de arco. Era uma grande estrutura em forma de corredor, e no final do lado oposto da entrada, havia a xamã.
Ela não estava em bom estado. Como os outros prisioneiros aprisionados, parecia muito abatida. Próximos a ela, dois elfos que olhavam em volta com atenção enquanto seguravam lanças, fora outro na sua frente.
— Você ainda não mudou de ideia, xamã da Tribo do Lago? — perguntou a pessoa com uma voz cheia de carisma profundo.
Zich tinha certeza de que, no mínimo, ele não era alguém que trabalharia com outra pessoa e tinha uma personalidade formidável.
A xamã abriu os lábios para responder. Como esperado de uma elfo, ela possuía uma aparência jovem e bonita que tornava difícil acreditar que ela era avó de Leona.
— Seu resto de aborto, que porra de absurdo você está dizendo? Prefiro beijar a bunda de um orc e chamá-lo de papai a ouvir as suas palavras, careca desgraçado.
“Hmph!” Zich quase explodiu de rir, mas conseguiu suprimi-lo. Com sua voz que fez os ouvintes pensarem em uma bela canção, a xamã cuspiu maldições e palavras duras que insultaram seu captor.
Ele verificou a dona da voz de novo. Não foi um erro. Ela parecia exatamente como o retrato que Dronian havia mostrado a ele. Ela era mesmo a xamã da Tribo do Lago, Romanne Wensing Droud.
“Hum, quero dizer, não há nenhuma regra que diga que um xamã só deve falar gentil e educadamente.”
Pelo que todos sabiam, os espíritos que se comunicavam com ela podiam ter personalidades desagradáveis e cuspir maldições como se estivessem respirando.
“Seja qual for o caso, tenho certeza de que ela é alguém que faz meu tipo.” Claro, ele não quis dizer isso de maneira romântica.
O elfo que guardava a xamã gritou: — Como você se atreve! Na frente de sua majestade!
Ouvindo isso, Zich percebeu a identidade da pessoa na frente da xamã. “Ah, aquele cara deve ser o rei da Tribo do Ferro.”
— Sua majestade? Sua majestaaaade? Deve estar falando daquele imbecil que aprovou um plano idiota para capturar todos os reis e rainhas das outras tribos como prisioneiros. Não, sua majestade é quem veio com esse cu de plano? Então isso ainda não o torna um idiota do cacete?
— Como se atreve?! — O elfo levantou sua lança de cabeça para baixo. Parecia que ele planejava atingi-la com isso.
No entanto, Romanne nem piscou. — Tanto o rei quanto o subalterno são a mesma coisa: choram e choram mesmo se disser a verdade.
— Pare! — Renu parou o guarda, que colocou sua lança de volta. Mas ele ergueu o rosto vermelho e quente como se ainda não tivesse se acalmado. — Qual é a sua razão para se opor? Se tivermos esse poder em nossas mãos, podemos dominar este mundo. Podemos até controlar aqueles humanos!
— Para ser exata, seria a dominação da Tribo do Ferro. — Romanne bufou. — Não diga coisas como você colocaria os elfos acima dos humanos. Foda-se quem tá acima, vai continuar a mesma merda.
— Eu darei à Tribo do Lago os mesmos direitos que a Tribo do Ferro.
— E você vai aceitar Leona como sua rainha? Pense na sua idade antes de falar. Não se lembra que tem praticamente a mesma que o pai dela? Esqueceu ou é um pedófilo? Agora que penso nisso, você não é casado, certo? Não é à toa que você não poderia se casar mesmo sendo um rei. É porque você é um pedófilo de merda?
Um som alto ecoou pela área. Renu não aguentou mais seus insultos e deu um tapa nela. As bochechas dela incharam enquanto o sangue escorria pelas bordas de sua boca. No entanto, ela não parou: — Usando violência porque não pode responder. Mostra seu caráter.
Ele a agarrou pelo colarinho. — Coopere conosco, vovó.
— Não.
— Se você não fizer isso, eu vou queimar seu país até o chão.
— Por que não tenta? Acha que sua chantagem vai funcionar comigo?
— Eu vou cortar todos os elfos do seu clã!
— Vocês são todos muito maricas para fazer isso.
— Urghhhhh! — Ele a empurrou, a fazendo cair de quadril, mas ainda estava calma.
— Vendo a situação lá fora, parece que alguns humanos atacaram. Você deveria desistir agora. Tu é do tipo de cara que falha em tudo o que tenta.
Enquanto ele a chutava no estômago, ela se enrolou. O chute forte a fez tossir e engasgar.
— Não importa o que você diga, vou colocar minhas mãos nesse poder e governar este mundo!
— Como vocês foram governados antes?
Romanne usou os braços como muletas para levantar o corpo. — Por quê? Você acha que todas as outras tribos se esqueceram desse incidente? Ou vocês pensaram que eram os únicos?
— Você…
— A xamã da Tribo do Lago não é alguém que apenas se comunica com os espíritos através da Lágrima do Lago. Ela também é alguém que conecta a verdade com eventos importantes.
Por um momento, Renu olhou para ela como se quisesse matá-la. —Arrastem-na para longe.
Os soldados agarraram seus braços com força e a levantaram.
— Soltem! — Ela se libertou das mãos deles. — Eu vou por conta própria.
Então, ela se virou e começou a andar. Os soldados logo a seguiram por trás. Zich, que grudou na parede como se fosse parte dela, a observou passar.
—Espere. — Embora parecesse que ela iria seguir em silêncio os soldados atrás, ela de repente parou. Renu se virou para olhar para ela.
— Eu também vou fazer uma pergunta?
— O que quer dizer?
— Eu conheço caras como você muito bem. Você é um oportunista que tenta não se responsabilizar por nada enquanto colhe todos os benefícios. Você é um covarde.
— Cale a porra da boca! — Um soldado ao lado dela colocou uma lança ao lado do pescoço, mas ela nem piscou os olhos.
— Se eu pensar sobre isso, é estranho que você esteja tentando começar uma guerra como esta. Um covarde como você nunca seria capaz de ignorar a possibilidade de que as outras tribos desistiriam de suas vidas para começar uma guerra. E se isso acontecer, você e a Tribo do Ferro seriam completamente esmagados por todas as tribos.
— O que quer me dizer de verdade…?
— Quem é? — Com total confiança, ela continuou a perguntar a ele: — Quem foi que te encorajou a fazer isso? Um covarde como você nunca seria capaz de fazer uma coisa tão ousada…
— Cala boca!
Tum!
O soldado a derrubou com uma ponta de lança. Ela desabou no chão, porém o rei não parou o soldado. Com um olhar frio, ele encarou ela antes de abrir a boca.
—Arrastem-na.
Os soldados arrastaram a xamã agora inconsciente para fora do porão. Renu olhou para sua figura desaparecida como se ela fosse sua inimiga jurada que havia matado seus pais; então ele caminhou em direção a uma parede atrás dele. Parecia uma parede comum. No entanto, havia um enorme poder escondido por atrás.
“Se eu apenas possuísse esse poder, eu seria capaz de mudar tudo”, pensou, pondo a mão na parede.
Ele não se sentiria mais inferior à Tribo do Lago, aos humanos ou ao passado de sua tribo. Ele poderia mudar tudo com isso. Renu mordeu os lábios.
“Não poderei manter essa condição por muito tempo. Mesmo que tenhamos os reféns, temos falta de números e de força militar. Como a xamã disse, as outras tribos poderiam desistir das vidas de suas rainhas e reis e simplesmente nos atacar.”
Então seus olhos emitiram uma faísca mortal.
“Se aquela mulher não me ouvir de novo amanhã, então…”
Não podia ser evitado. Ele teria que usar seu último recurso. Ele fortaleceu sua determinação e bateu na parede uma vez. Foi nesse momento que ele ouviu uma voz gritar seu nome.
— Renu Ent Draus.
Havia alguém que ousou chamar o rei da Tribo do Ferro pelo seu nome completo. Ele se virou para emitir de imediato uma ordem contra o orador, entretanto ele congelou assim que viu quem era.
Uma figura de preto estava parada na frente dele.
“Vamos ver… como ele vai reagir?”
Zich, que estava usando um manto, se pôs na frente do rei; seu coração batia forte no peito. Havia uma possibilidade de que Glen estivesse envolvido nesta guerra. Além do mais, havia também a de que ele estivesse envolvido com a organização assassina. Se tudo isso fosse verdade, existia uma grande chance de que estivessem envolvidos nesta guerra de tribos.
Por essa razão, Zich usou uma tática semelhante à sua ao lidar com o Albus Windpool. Ele na hora se cobriu com um manto e agiu como um dos assassinos.
“A xamã disse que pode haver alguém apoiando a Tribo do Ferro por trás.”
Se a organização estivesse mesmo por trás do plano, todas as previsões anteriores dele poderiam estar certas.
“Além disso, sua reação foi estranha quando a xamã perguntou quem estava por trás desse plano.”
Ela foi diferente de quem descobriu que havia um colaborador escondido por trás de seu plano. Era mais como se ele se sentisse descontente e irritado por alguém ter mencionado isso. Zich sabia por que alguém poderia reagir assim.
Ele os traiu.
A julgar pela reação de Renu, a Tribo do Ferro poderia trair seus colaboradores. E, pelo que Zich podia sentir, a tribo também aparentava temer a eles. Ele só precisava verificar a reação de Renu e descobrir se os colaboradores eram quem ele pensava ou não.
— Renu Ent Draus — gritou o nome do homem de olhos vermelhos outra vez.
Então Renu respirou fundo e deu um sorriso brilhante. — Ah, são vocês. Eu estava me perguntando o que aconteceu com vocês já que não entramos em contato há um tempo, mas é tão bom se…
— Eu sei que você nos traiu.
Enquanto caminhava para frente com um sorriso, o rei parou os passos. Seus olhos sem vida focaram para Zich.
— Eu vim para te dar uma última chance.
— O que você quer dizer com última chance…?
— Volte para baixo de nós mais uma vez.
—Você diz algumas coisas desagradáveis. Pensei que estávamos em pé de igualdade nessa cooperação.
— É o preço da sua traição. É a última chance que lhe daremos.
— Se você continuar a falar besteiras e me insultar, mesmo eu não vou perdoar você…
— Eu só vou dizer mais uma coisa, Renu Ent Draus… — Zich, que estava falando em tom monótono até agora, incutiu emoção na voz. — Nós não toleramos traições!
Foi um veredito. Um veredito passado por alguém com uma força poderosa nas costas.
— Mas reconhecemos a importância desse plano. Por essa razão, vamos analisar esta traição sem dizer nada, só desta vez. Então, Renu Ent Draus… qual é a sua resposta?