Renu apertou as bordas das roupas. Elas eram mais preciosas, limpas e bem administrados do que as dos reis presos. Eram as roupas que só ele, o rei e futuro vencedor, estava autorizado a usar.
— Você acha que nós — estendeu as mãos — nos ajoelharíamos perante os humanos mais uma vez?!
Fush!
Uma bola de fogo saiu da mão dele.
“Magia de encantamento silencioso… como esperado de um rei elfo. A Lyla faz melhor; a dele não é tão forte”, pensou Zich, brandindo a Windur em sua forma de adaga para dividir o feitiço. “Sim, é isso mesmo. É inacreditável que os feitiços silenciosos de Lyla são tão fortes quanto àqueles com cânticos. Gostei desse choque de realidade meu.”
— Suponho que esta seja a sua resposta.
— Hmph! A Tribo do Ferro não tem desejo de ficar sob ninguém! Vamos governar todos agora, incluindo vocês!
— Acha que é possível?
— É claro!
— Entendo. Lhe desejo sorte. — Zich guardou a espada e se virou à escada.
— Pensa que pode escapar daqui?! — gritou Renu, a voz confiante — A única saída é pela escada, e as minhas tropas virão correndo para cá depois da explosão que acabaram de ouvir. Por que parou para me encarar?
— Pode tentar me ter como um prisioneiro, mas sou forte o suficiente para me proteger.
— Também matei o seu antecessor. Foi belo ver como ele implorou pela vida. Isso me fez perceber que eu não tinha razão para dar as mãos a vocês!
— Deve ter sido bom. Parabéns — respondeu Zich, o tom calmo.
Renu achava aquelas pessoas diferentes de humanos normais. Eram muito frios e insensíveis, como se o olhassem de baixo para cima, e isso fez ele odiá-los ainda mais. Ele não podia dizer se Zich, que não se assemelhava a alguém encurralado, havia desistido de fugir.
— Renu Ent Draus, o quanto você sabe de verdade sobre nós?
— Preciso saber disso?
— É, acho que você não sabe quase nada. Nosso contrato era ajudar vocês, a Tribo do Ferro, a governar as outras, não?
— É…
“Então foi isso mesmo.”
Zich havia descartado essa pergunta sabendo que, no futuro, eles de fato governariam os elfos da Floresta Adrowon. Renu mordeu a isca.
— Com base no que faz, é óbvio que não desistiu do seu plano de dominação. Ainda assim, não só nos afastou, como também nos antagonizou. Resumindo: você tem um poder tão grande consigo que não importa se nós ajudamos ou não. Além disso, esse poder está além dessa parede atrás de você.
Renu ficou surpreso. A pessoa na frente dele foi a primeira com quem continuava se comunicando após matar a última. Contudo, ela aparentava parecia ter compreendido toda a situação em um período de tempo incrivelmente curto.
— Permita que eu faça uma pergunta, Renu Ent Draus.
— O quê?
— Acha que poderia de escapar da nossa raiva só porque tem uma força extra?
A voz de Zich não era áspera nem agressiva; não houve mudança em seu tom. O discurso calmo fez o rei sentir uma sensação maior de perigo, pois soava como se o futuro já estivesse decidido.
— Sim!
— Então, não há mais nada para eu falar. Espero que continue a manter essa esperança. — Zich voltou ao trajeto inicial.
— Eu já te falei que não pode escapar!
— Se for o caso, verá o meu cadáver em breve.
Depois que Zich saiu, Renu soltou um suspiro profundo. “Eles são dignos de nota.”
Ele não sabia a identidade deles, porém, se pensasse no apoio que lhe deram para os preparativos da guerra e na força dos mensageiros, ficava claro que eram grandes. Ele nem se atreveria a ficar contra eles, mas não importava agora.
“Se eu ganhar esse poder, tudo ficará bem”, bateu na parede atrás dele, sentindo o medo no coração ser substituído pela raiva. “Como ele ousa me ameaçar!?”
Havia apenas um caminho, e haviam consumido um considerável tempo conversando. Renu não tinha dúvidas de que seus soldados seriam capazes de capturar a pessoa.
Entretanto, os soldados que retornaram não tinham nada em mãos. Não apenas falharam na capturar, mas também não sabiam o que estava acontecendo. Renu não pôde deixar de explodir de fúria gritando com eles.
Zich fugiu em silêncio.
“Eles querem me capturar? Que engraçado”, riu.
A fuga foi ainda mais fácil do que pensava. Após ter ativado o artefato, escalou a parede pelos ilustres adornos dela e se segurou; ninguém o notou. Tudo o que ele precisava fazer depois era sair enquanto o procuravam em frenesi.
Agora que ele descobriu que o castelo poderia estar relacionado ao antigo império, passou a exalar um ar diferente em comparação a antes.
“Eu poderia obter quase todas as informações que eu queria.”
Ele viu que a xamã estava no castelo. Com isso, agora sabia onde os reféns eram mantidos e pôde se apossar de informações que não esperava conseguir.
“Também estão relacionados à galera de preto. Eu já esperava, só que eles os traíram. Não acho que teve algo assim antes da minha regressão.”
Combinando o que a xamã disse e o próprio julgamento de Zich sobre ele, Renu era um definitivo. Mais precisamente, cauteloso extremista. Em vez de assumir um risco por vários benefícios, preferia evitá-lo. Ele priorizava a própria segurança.
Porém, um homem desses transformou todas as tribos da floresta e até os seus colaboradores em inimigos. Esse comportamento com certeza não pertencia a alguém que fazia da segurança a prioridade.
“A visão dele sobre a vida mudou de repente? Acho que o poder sob aquele castelo é bem impressionante, então. Ele fala como se fosse superior aos humanos, mas tudo que a tribo faz é pressionar as outras. E se houvesse um poder tão grande mesmo, não teria como os rumores não se espalharem. É raro os humanos e elfos interagirem, mas não significa que são reclusos. Existem duas possibilidades: a primeira, difícil de ser verdade, é que o tal ‘poder’ não é tão grande quanto Renu esperava.”
Se visto de modo favorável, ele era um elfo cuidadoso; de modo negativo, ele era um covarde. Devia existir uma razão sólida para a sua crença, então a segunda possibilidade era mais provável.
“O futuro mudou.”
Antes de Zich regredir, os elfos podiam controlar as outras tribos com a ajuda da organização assassina, mas a Tribo do Ferro não precisava mais dela agora.
“Na linha do tempo passada, ele não deve ter conseguido descobrir o que era. Se for isso mesmo, por que e o que mudou?”
Muitas coisas mudaram. Todavia, foi como resultado das ações de Zich. Antes de ele intervir, as pessoas estavam trilhando o mesmo caminho que trilhavam antes.
“Mas este lugar é muito longe para eu sequer pensar que eu poderia ter desempenhado um papel nas mudanças. É possível que a minha influência no mundo humano tenha chegado até o élfico? Difícil, hein. Ele falou algo sobre como a tribo dele era governada por humanos. Pelo que ele e a xamã disseram, parecia que apenas ela era governada por humanos em algum momento. Não admira que pareçam um pouco diferentes dos outros elfos.”
Ao contrário da Tribo do Lago que usava roupas leves e arcos e flechas, a Tribo do Ferro usava armaduras e se destacava em combate corpo a corpo. Ele pensou que eram características únicas deles, daí o nome, e o local das batalhas, contudo podiam mesmo ter sido influenciados pelo tempo em que foram governados por humanos.
“Então eles continuaram interagindo com os humanos?”
Isso também era estranho, porque Renu se sentia envergonhado por terem sido dominados no passado. Além disso, parecia que as outras tribos não sabiam desse fato passado.
“Parece que apenas a xamã sabia…”
Se fosse verdade, nem eles se comunicavam tanto com os humanos.
“A próxima hipótese é…”
Deveria existir algo que permitiu que ele se tornasse confiante o suficiente para fazer das outras tribos suas inimigas; uma existência desta linha do tempo.
“Aquele poder debaixo do castelo é a variável? Talvez ele esteja relacionado ao antigo império. Mas o que seria? É uma espada como a Windur, Estellade ou Tornium? Mesmo que sejam muito boas, não bastam para garantir a vitória em uma guerra. Será que são como as estátuas em movimento ou as sombras que vimos na tumba antiga? Por ora, eu deveria voltar primeiro. Posso verificar mais tarde. Se eu salvar todos os reféns, acabar com eles e investigar mais a fundo será fácil.”