Algo passou na frente de Zich, e ele recuou um passo. Era um item de aparência familiar, cuja aparência lembrava um pedaço de metal na forma de um galho. Quando ele viu, conectando à sua espada, pensou que deveria ser a chave que Renu tinha e que foi ela que afastou do rei as chamas da árvore. Todavia, compará-las parecia um insulto. Se estivessem no mesmo nível, ele estaria coberto de ataduras da cabeça aos pés.
Renu levantou a cabeça, os olhos de quem havia perdido toda a esperança após um evento trágico. Zich sorriu para ele, lembrando das inúmeras vezes que viu aquele olhar em alguém. Não gostava tanto, já que pertencia a bonecos sem alma que estava simplesmente respirando.
“Deixa de ser divertido atormentá-los.”
Existia uma luz diferente brilhando nos olhos do elfo, mesclando um carmesim ódio e vingança. Contudo, Zich deixara de gostar disso, afinal, também viu muitas e muitas vezes essa mesma coisa antes e após regredir.
— “Bateu o sono”? Você quis perguntar se fiz tudo que podia?
— É, pô.
— Eu não sei o que você está esperando, mas ainda resta uma coisa.
— Serião? — questionou com uma surpresa genuína. No entanto, recuperou a compostura um momento depois. — Como esperado de vossa majestade, Renu Ent Draus. Ratos sempre dão um jeito de fugir. Suponho que seja bom compartilhar semelhanças com animais covardes.
— Tem certeza?
— Você está tão calmo. Poderia ter sido assim desde o início. Ah, era impossível? Humanos no geral não mudam a menos que estejam contra a morte, e os elfos são parecidos com os humanos nisso. Ou seja, fui eu quem instigou a sua mudança. Não precisa me agradecer, já me sinto satisfeito por impor uma influência positiva sobre outra pessoa.
— Vá em frente. Já que age como se me conhecesse tão bem, por que não me diz o que estou pensando agora?
— Duvida, é? Você está pensando em me matar. Não deve mais ter interesse em me agraciar com dor, desespero ou humilhação; só quer acabar com a minha vida, não é?
— Hum… — Renu sorriu fracamente, diferente de como fazia antes.
— Por que não faz a sua última tentativa de me matar? Quem sabe? Pensa comigo: para tudo no mundo, a chance pode ser bem baixa, mas nunca zero.
O som arrepiante de carne sendo rasgada ecoou. O seu estômago foi perfurado, mas não por Zich; foi o próprio elfo quem se perfurou com a chave que segurava.
— Quer dizer que você é um masoquista enrustido? Rapaz, que reviravolta excitante.
— Kugh! Não se preocupe… Não é… isso. — Enquanto vomitava sangue, sorriu. Envolvido em sua loucura, os ferimentos e dor não pareciam mais impedi-lo.
— Está oferecendo a vida e alma como sacrifício pra tirar poder de algum lugar aí?
— Você… notou?
— O que eu já vi de emocionado fazendo isso não tá escrito. Uma vez que não têm as habilidades, oferecem suas vidas. Deve ser difícil viver como um rato que nem pra roer serve. Simpatizo com você.
— Não precisa… fazer isso. Um maldito como você… não…
A chave perfurando o corpo dele virou, perfurando mais fundo o seu estômago.
— Tem empatia nenhuma!
Craaaaash!
Uma bola de fogo caiu da árvore. Zich estava confiando na Windur para protegê-lo, mas ele hesitou e recuou.
Ela atingiu o local onde ele estivera, e então ele tocou as pontas chamuscadas da roupa.
“Windur não funciona contra isso, e o Renu só tá fazendo sorrir. Que coisa.”
Faíscas também caíram no rei; não havia como a chave dele protegê-lo, fazendo com que as suas ataduras queimassem, revelando o seu corpo grotesco. A dor da sua carne queimando era pior do que qualquer outra coisa, mas ele continuou sorrindo que nem um lunático.
Com um sorriso enlouquecedor, uma faísca girou em torno de seu corpo e ficou ainda maior. A temperatura aumentou de forma exponencial, fazendo fumaça.
— Morra.
O castelo inteiro foi engolido pelas chamas.
A batalha em Mentis estava completamente favorável para um lado por um tempo. As tropas julgaram que não precisavam mais fingir ser emboscadas pelos “subordinados” de Zich, e mais aliados continuaram a chegar, tornando a vitória cada vez mais próxima. Havia cadáveres espalhados por toda Mentis, mas o número de corpos da Tribo do Ferro era bem maior.
Mesmo os soldados ígneos diminuíram em número, e agora restavam apenas alguns deles. Pensavam que as forças aliadas iriam vencer em breve, entretanto, foi quando eles estavam justamente refletindo a respeito que um evento inesperado ocorreu.
Crashhhh!
Uma enorme explosão varreu os arredores. O som foi tão alto que os soldados caíram no chão e cobriram os seus ouvidos por instinto.
— O-o quê…?!
— Que porra foi essa?
Soldados de ambos os lados tentaram descobrir a origem do som. Não demorou muito para a encontrarem: o castelo de Mentis estava vermelho ardente. Mesmo que tivesse feito isso antes, as chamas de agora estavam em outro patamar, no nível em que até as suas muralhas estavam cobertas por fogo.
Os soldados ígneos de repente sumiram, dando vantagem aos aliados. Todavia, ninguém se alegrou com isso, pois o desaparecimento deles e as chamas engolindo o castelo estavam obviamente conectados.
Algo atravessou as chamas e saiu do castelo, em um instante alcançando o centro do exército dos aliados. Eles se atentaram e apontaram as armas ao que quer que fosse, mas ninguém o pegou.
— Não é um inimigo — afirmou Hans, baixando o braço de um elfo armado. — Bem-vindo de volta, senhor Zich.
— Parecem ter ido bem — respondeu, afastando as faíscas deixadas no ombro.
— Graças ao senhor, estamos quase terminando de controlar toda a ilha. Mas, o que é aquilo?
— Os últimos esforços do rei.
Hans e os outros olharam para o fogo com surpresa, em especial os chocados elfos da Tribo do Ferro. Se as palavras dele fossem verdadeiras, Renu estava, no mínimo, morrendo.
— Então, acabou?
— Não, não deve ser isso.
Um soldado inimigo perto de Zich correu em sua direção, o xingando.
Splash!
O coitado foi dividido em dois.
— Te falar, os caras não sabem o lugar deles…
Os outros que estavam correndo em direção a ele se encolheram. Com apenas um movimento, perceberam que ele era muito superior a eles. Ele não fez nada além de observar o castelo em chamas quando os aliados empunharam as armas contra inimigos de novo.
— Senhor Zich, isso de agora…
— Só estou usando por um tempo. Esse poder de Clowon parece ser um bastante interessante.
— É a mesma situação que encontramos em Violuwin?
— Uhum.
Hans assentiu. Mesmo que nem todas as suas perguntas tivessem sido saciadas, não tinha por que saber mais, até porque aquele era o trabalho de Zich, não dele.
— Zich! — exclamou Lyla, se aproximando com Romanne e Snoc. — Você se feriu?
— Veja por si mesma — disse, levantando os braços. Tinha apenas uma leve marca de queimado nos cantos das roupas.
— O que aconteceu? — perguntou a xamã, olhando para o castelo.
— Renu está usando o resto da sua energia vital.
— A energia vital do rei da Tribo do Ferro…?
— Sim, é um ataque oculto dele que usa sua própria vida. Parece que é sua última tentativa desesperada de retaliação depois de ser encurralado.
— Ah… você é mesmo incrível.
— Obrigado, mas guarde os elogios para outra hora. A guerra ainda não acabou.
— Ainda não? Se isso é o resultado da tentativa dele, a guerra basicamente já acabou.
— O fogo é, sim, resultado diso. Mas, por outro lado, o ataque deve estar apenas começando.
— O que quer di…
Uma nova explosão cortou as palavras dela. No entanto, não havia necessidade de ela terminar a frase com as labaredas respondendo à pergunta. As chamas se expandiram a uma taxa exponencial. Então todos testemunharam algo chocante.
Tum!
Um gigante de fogo avançava.