Skrcch!
Elena raspou o prato com a faca, fazendo emitir um som de dar agonia. Ela pensou que expressava os gritos do seu coração. Os lábios de Walwiss se contraíram, como se estivesse se perguntando se deveria parar ou não.
Elena desejou que seu avô não abrisse a boca novamente, mas, infelizmente, seus desejos não se tornaram realidade.
— Entendo o seu sonho e talento, até estou impressionado com a sua capacidade de combinar círculos mágicos e recontar feitiços. Mas, Elena, você só pode ativar a magia se tiver mana.
O talento que ela demonstrava desde jovem atraiu a atenção e as altas expectativas de todos. Não só a magia era agradável para ela, como também era elogiada por aqueles à sua volta. De certa forma, foi natural ela ter se apaixonado tanto pela magia.
À medida que envelhecia, a sua compreensão da magia se tornava mais profunda, em partes graças ao ambiente ideal que vivia. Todavia, à medida que mais e mais colegas da sua idade começaram a liberar sua mana, a dela não se mostrou.
No início, não ficaram tão desapontados; na verdade, muitos estavam felizes por ela. Acharam que o seu poder inato seria excelente, considerando o quão difícil era despertá-lo. Havia até rumores de que ela poderia ser a próxima líder da torre mágica num futuro próximo, pelo menos.
As pessoas sabiam que aqueles que continham um reservatório imenso possuíam dificuldade em liberar a energia precocemente, mas havia um limite para isso. Conforme o tempo passou, decepção e lamento preencheram os seus espaços vazios deixados pela prévia admiração, e apenas aceitaram a realidade de que ela não tinha mana. Era uma sentença de morte para alguém que sonhava em se tornar um mago.
Todas as expectativas desapareceram e as pessoas pararam de prestar atenção nela. Naquela época, o avô dela, quem ela mais reverenciava, começou a falar para que ela parasse de estudar magia.
— Sem mana, sem magia. Sabe, por mais eficiente que seja uma roda d’água, de nada adianta se não houver a água — disse o avô, tomando um suspiro profundo. Não era uma repreensão, mas sim uma simples verdade em um tom prosaico, o que fez Elena cair em maior desespero. — Também foi por isso que cancelei a sua mesada para que você não possa mais comprar livros ou ingredientes. Mas como você pode tentar vender coisas feitas por você, que nem artefatos são, para conseguir dinheiro?
— Eu não vou enganar ninguém. Veja, vovô, eu ganhei dinheiro!
— Isso? E com aquelas…?
— Qual é o problema, pai? — falou de repente alguém entrando na sala. O rosto dela se iluminou.
— Pai!
— Está de volta? — Walwiss perguntou.
— Sim. Já faz um tempo, pai. Elena, como tem passado?
Era Orland Dwayne, filho de Walwiss e pai de Elena. Ele era um mago bastante promissor e também um dos candidatos a ser o próximo líder da torre mágica.
— Você comeu?
— Sim, eu vim depois de comer.
Orland sentou ao lado de Walwiss na frente de Elena. Então, ele olhou para Elena enquanto sorria e disse:
— Ouvi dizer que você fez algo engraçado hoje.
— Os rumores já se espalharam?
— Bem, você sabe, Elena é uma celebridade em muitos aspectos.
Ela era um gênio caído, do que o público adorava fofocar. O fato de ela ser membro de uma família da elite tornou a sua história ainda mais apetitosa para o público.
Ela baixou a cabeça melancolicamente.
— Não tem porquê para se sentir assim, Elena. Não falei nisso para zombar de você. Como sempre digo, eu estou do seu lado.
— Hmph! — Walwiss fez um som descontente. — É porque você continua agindo assim que ela não consegue se livrar dos sentimentos persistentes dela.
— Qual é o problema? Ela deve ser capaz de fazer o que quiser.
— Se ela tivesse um pouquinho de mana, eu concordaria com você. Mas ela não tem nada! Quer dizer que devemos deixá-la ser torturada por uma falsa sensação eterna de esperança?
— Eu tive um despertar tardio como mago também. Ela pode ser que nem eu.
— Você pelo menos pôde lidar com a mana. Nem isso ela pode, já que não tem.
— Ainda não é definido.
— Se ela não despertou a mana nessa idade, não seria um completo exagero dizer que a capacidade dela estaria no nível de um lendário dragão. Está dizendo que é esse o caso?
— Não há nenhuma regra que diga ser impossível. Além disso, qual é o problema de torcer pela própria filha?
— O futuro dela depende disso! Você não pode dizer algo tão irresponsável…! — A voz de Walwiss aumentou e parou.
— Vou me levantar, já que terminei de comer — disse ela, se levantando. Ainda tinha metade da refeição no prato. Porém, nem Walwiss e nem Orland a impediram de partir.
Depois que ela saiu, um silêncio constrangedor cercou a mesa de jantar. O pai e filho se entreolharam e ambos soltaram longos suspiros.
Zich e o seu pessoal saíram em direção à torre. Normalmente, quando chegavam a uma cidade, ele dava a Hans e Snoc liberdade para explorar, mas desta vez, os dois escolheram seguir ele e Lyla a fim de ver a famosa torre mágica.
Primeiro, se dirigiram aonde Elena vendia os seus produtos na rua. O lugar onde o carrinho dela costumava estar agora se encontrava vazio. Ela não devia ter saído no dia.
— Olhe para isso, Nowem! É a torre mágica!
Koo!
Quando ficaram em frente à torre, que parecia perfurar o céu, Snoc e Nowem se admiraram. Ao lado deles, Hans observou os magos andando pela torre.
— Vamos entrar. — Zich deu um passo à frente, conduzindo os companheiros para dentro.
O interior, sustentado por altos pilares, era largo e sem paredes para separar os cômodos no primeiro andar, então toda a área estava aberta. Mesmo que houvessem muitos aparentes magos, havia muitos ordinários também. Ao contrário de Zich e Lyla, que foram coletar informações, as pessoas lá passeavam e agiam feito turistas.
— Senhor, o que exatamente é a torre mágica? — questionou Hans.
— Tem muitas funções diferentes, mas, fundamentalmente, é um lugar onde os mágicos se reúnem para desenvolver a magia.
— Para desenvolver magia?
— Há poder nos números, e é o mesmo para os magos. Como cada um deles tem conhecimentos diferentes e conjuntos diferentes de habilidades, podem desenvolver magia juntos melhor do que sozinhos. — Zich endireitou os dedos e apontou para o topo. — A maior parte da torre é composta de laboratórios de pesquisa. Os andares são atribuídos com base na sua habilidade. O último andar é onde está o líder.
Hans e Snoc ergueram os olhos com curiosidade.
— Deve ser cansativo subir.
Koo.
— Haha! Não sei sobre magos de nível inferior ou médio, mas os do alto escalão com certeza podem usar magia de voo.
— Ah, faz sentido, senhor.
Zich e seus companheiros lentamente começaram a explorar o primeiro nível da torre mágica.
— Há muitas lojas.
— Quando você está pesquisando, é chato sair. É bom ter lojas dentro da torre — respondeu Lyla à pergunta.
Logo, uma escada apareceu na frente deles. Zich leu a placa escrita em cima do número do andar.
— A torre está aberta ao público até o terceiro andar. Deve ser para os turistas.
— Este lugar é um pouco diferente do que esperávamos. — Lyla e Zich riram das palavras inocentes de Snoc.
— No fim, são humanos. E dos que precisam de mais dinheiro do que pessoas comuns.
Eles contornaram o segundo e terceiro andar. No terceiro, havia um restaurante bastante luxuoso que lhes permitia comer enquanto apreciavam a vista do lado de fora, então pararam para comer uma refeição simples, cujo preço era exorbitante. Após acabarem, saíram do estabelecimento.
— E aí? Começamos agora?
Depois de dizer isso, Zich começou a andar pela torre. Aqueles que não eram magos funcionários da torre não possuíam permissão para ir além do terceiro andar, então só podiam procurar informações até ele.
Depois de comprar um monte de itens de uma loja e ganhar o favor do dono, Zich fez uma série de perguntas:
— Como é o cabeça da torre?
— Há alguma história interessante por aqui?
— Quem são os magos famosos?
— Ouvi dizer que o filho do líder é muito talentoso. É verdade?
Claro, essas não foram as únicas perguntas que Zich fez. Para evitar suspeitas, ele acrescentou questões acerca da torre e Sunewick no geral. Entretanto, apesar das lojas presentes no andar, ele não podia ir a todas e fazer perguntas específicas. Isso levantaria suspeitas desnecessárias.
“Eu não preciso sair do meu caminho para atrair suspeitas agora.”
Após explorar a torre até certo ponto, saiu. Havia também muitas lojas lá fora. Mesmo que os magos fossem conhecidos por odiar sair durante pesquisas, não era como se eles se prendessem à torre.
Ele questionou as tais lojas a respeito de certos tópicos. Foi só quando o sol estava prestes a se pôr e as pessoas estavam diminuindo em número que ele parou de circular.
— Terminamos? — perguntou Lyla.
— Mais ou menos.
— Descobriu algo interessante?
— Descobri todos os boatos que compensam saber.
— Então, vamos voltar.
— Por quê? Foi chato para você?
— Não, foi divertido.
— Beleza, então.
— Fiquei surpresa com o tratamento que Elena está recebendo.
— Ela está sendo tratada pior do que eu pensava. Dizem que ela é uma caída de uma família estimada — falou, olhando para a torre, agora longe. — Seria o suficiente para ela enlouquecer.