— Ah, olá. — Elena baixou a cabeça. — Por que estão aqui?
Ela hesitou ao pensar que queriam reclamar do que compraram. Todavia, as palavras que voltaram para ela eram o total oposto.
— É porque eu fiquei curioso sobre o que você tem — disse Zich.
Ela piscou rápido, confusa. Com todo o seu coração, pensou que nunca ouviria tal coisa, então não conseguiu dizer nada e continuou murmurando. Zich tirou do bolso o artefato incompleto dela.
— Por que você…?!
Elena arregalou os olhos, se levantou e logo agarrou o artefato na mão de Zich. Aquilo foi rude e ele poderia tê-la impedido, mas deixou para lá. Ela percorreu a superfície do seu artefato incompleto, agora diferente de antes.
Não podia mais sentir a aura fria do ferro, o que indicava a falta de mana. Em vez disso, sentiu um calor sutil ao redor.
— Há mana nisso…
“Os sentidos dela são normais”, pensou ele enquanto avaliava friamente a condição dela. Ela pôde sentir o fluxo de mana e notar a mudança no artefato em um instante. ‘Não, eles são mesmo muito bons.”
Como era muito difícil para o ferro conter magia, a quantidade que ele aguentava era muito limitada. Elena notou que o ferro tinha mana mesmo à distância, mas isso não era uma boa notícia.
“Se a detecção dela for normal, pode ser mais difícil descobrir o que está selando a sua magia.”
Isso significava que o selo estava tão bem escondido e secreto que até ela nada sentia dentro de si.
“Tem chances de um selo estar dentro do corpo, mas eles não conseguiram se livrar dele. Só que…”
O mestre da torre mágica não diria a sua neta para desistir da magia.
“Em vez disso, ele usará todo o pódio.”
Boom!
As chamas subiram do topo. Parecia que uma flor encantadora de chamas floresceu no ar e soltou o último suspiro antes de enfim derreter no espaço vazio. Os olhares de todos estavam focados no fogo.
“Incrível.”
Esta foi a segunda vez que Zich viu o trabalho de Elena, mas ele deixou escapar a sua admiração. O artefato que ela fez não era nada especial, além de atirar chamas a uma curta distância. Contudo, considerando que era de ferro, os seus efeitos eram surpreendentes. Apenas magos cmo Lyla criavam coisas úteis a partir do ferro.
Sem considerar isso, o artefato era impressionante. Os círculos na placa trabalhavam juntos para liberar com eficiência as chamas, e não apenas na estética.
“Eu era péssimo em comparar magias, mas dá pra ver que se trata de um disparo de fogo para caso alguém se aproxime.”
Quase não havia chamas se espalhando, e, para compensar a baixa potência, a maioria estava concentrada no meio. O que era mais impressionante era que Elena nunca conseguia testar os seus círculos mágicos nem uma vez.
“No que diz respeito a círculos mágicos e artefatos, nenhum de seus colegas pode vencê-la…”
Não, ela podia ser uma das melhores da torre mágica. O corpo de Elena tremeu ao ver seu artefato funcionar pela primeira vez, enfim com provas de que os seus círculos mágicos não estavam errados. Mas, esse sentimento não durou muito.
— Ahh!
Ela percebeu que Zich e o restante ainda estavam de pé na sua frente. Como esperado de artefatos de ingredientes porcos, o número de vezes que alguém poderia usá-lo era muito limitado. E Elena tinha acabado de usar uma dessas.
— E-eu sinto muito! — exclamou ela, inclinando a cabeça até quase tocar no chão. — E-eu vou te dar outro como compensação! Ou eu posso te pagar de volta…!
— Não, está tudo bem.
Zich pegou o artefato de volta e fez um sorriso gentil. Os sorrisos de quem o acompanhava enrijeceram do nada, mas Elena não percebeu dos seus movimentos.
— Isso pode ser um pouco ofensivo, mas sendo honesto, não foi um artefato muito incrível.
— Ah, sim… isso mesmo…
O orgulho dela ficou ferido. Todavia, aquilo era verdade, então ela assentiu. Além disso, o continuo vendo fracasso e humilhação que ela experimentou por tanto tempo impediu Elena de expressar claramente suas opiniões e pensamentos.
— No entanto, mesmo que você não possa colocar mana, estávamos interessados no seu trabalho artesanal.
— E-então é isso?
— É por isso que um dos meus companheiros queria falar com você. Você conseguiria poupar um pouco do seu tempo?
— Eu sou Lyla. — A maga do grupo de Zich deu um passo.
Elena olhou entre a mão estendida de Lyla e o seu rosto. Elena queria acenar de imediato com a cabeça e concordar, como Lyla era uma das poucas pessoas que reconheciam as suas habilidades. No entanto, Elena também era de uma família altamente estimada. Ela estava desconfiada de estranhos que de repente se aproximaram dela.
— Entendo que pareço suspeita, mas é sério, eu posso falar sobre ela algumas horas. Você vai recusar o meu pedido? Tudo o que quero é trocar algumas palavras aqui.
— Bem, se é só isso… — Ela, cautelosa, segurou a mão de Lyla. — Eu sou Elena Dwayne.
Zich e os seus companheiros deixaram Lyla com Elena e foram embora. A maga se sentou ao lado de Elena. As duas mulheres preencheram todo o espaço na pequena carroça.
— Hum… sobre o que você quer falar? — começou Elena, sentindo calafrios. Era a primeira vez que falava com estranhos tão repentinamente assim.
— Não precisa estar nervosa. Acabei de ver o artefato que fez e achei que era incrível, só. — Lyla apontou para um em exibição. — Posso ver um pouco?
— É claro.
Lyla ergueu o seu artefato, também de ferro. No entanto, os círculos gravados nele eram diferentes. No topo de uma superfície retangular, círculos eram desenhados e, no centro, linhas complicadas se cruzavam.
— Um círculo mágico feito da combinação de quatro círculos mágicos juntos. Essa é uma boa ideia.
— Ah, você reconheceu? — O rosto de Elena se iluminou.
— Mas todos os quatro círculos mágicos não funcionam sozinhos. Você só pegou as partes que precisava de cada círculo para fazer um novo?
— Sim! Eu pensei que isso o tornaria mais eficiente.
— Posso tentar usar?
— O quê? — Elena piscou. — Hum, como você sabe, está incompleto, então…
— Se me der permissão, posso completar.
Elena ficou sem palavras; colocar força mágica em um artefato feito de ferro era um trabalho difícil ao extremo e que precisava de muita concentração e detalhes. No mínimo, não era algo que se pudesse fazer em uma rua aleatória.
— Aí, é errado eu ficar tocando os produtos pra demonstração? Eu posso com…
— Ah, não! Você pode!
No entanto, a dúvida em seus olhos não desapareceu.
“Mesmo na torre mágica, há muito poucas pessoas que podem colocar força mágica no ferro.”
Contudo, ela só podia olhar para a cena na frente dela com a boca bem aberta.
Ziiing!
A placa de ferro na mão de Lyla vibrou de leve. Elena sentiu a mana saindo devagar das mãos de Lyla enquanto esta batia na placa. E ela não parecia estar concentrada; pelo contrário, não tinha um pingo de suor no rosto. A única expressão presente era a de calmaria.
Pelo que Elena sabia, não havia ninguém que parecesse tão pacífico ao colocar força mágica em um artefato. Ela estava apenas derramando mana sobre a placa de ferro?
Quando as pessoas apenas derramavam mana em cima de um artefato, ele, óbvio, não funcionava. Para completar um artefato, um mago precisava de uma compreensão perfeita das suas estruturas e dos círculos mágicos inscritos nele, imbuindo a mana sentindo os círculos. Por isso criar um era tão difícil, então muitos usavam sistemas de apoio para ajuda-los.
Era razoável que Elena duvidasse das ações de Lyla. No entanto, as suas emoções foram transitando entre surpresa, choque e admiração. Isso porque as suas habilidades sensíveis de detecção de mana podiam sentir que o artefato estava se tornando cada vez mais completo.
— Está feito — disse Lyla, uma cara de quem não se esforçou em nada. Ela soltou o artefato e se recostou.
— P-posso segurar um pouco?! — indagou Elena ao engolir a saliva.
— Pode sim.
E ela o segurou o artefato como se fosse um tesouro único. Foi o mesmo na última vez: ao invés de uma aura gelada, a placa estava exalando um calor sutil.
Lyla assentiu com a cabeça e Elena logo ativou o artefato.
Crackle!
Uma bola de fogo do tamanho de uma noz subiu, girando ferozmente. Elena olhou para Lyla, admirada, e a outra não recusou o olhar. Mas o sorriso dela contrastava com o suspiro interno que deu.
“Não me sinto bem. Parece que estou enganando uma criança inocente.”
Claro, ela achou que conversar com Elena era divertido, interessante e uma nova experiência. Como Elena só vendia artefatos e círculos mágicos, os incompletos que ela exibia estavam cheios de ideias criativas. Apenas conversar com Elena era uma nova experiência para ela, e havia uma grande chance de que as habilidades e a compreensão de Lyla sobre magia também pudessem aumentar. No entanto, havia apenas uma coisa pela qual ela se sentia desconfortável.
“Isso também faz parte do plano.”
Ela se lembrou da risada astuta de Zich e das palavras que ele disse enquanto mandava ela conversar com Elena.
“O que você acha que uma criança magoada, desapontada e fodida sentiria quando o herói dos seus sonhos aparecesse de repente na sua frente? É claro que ia desmaiar de tanta felicidade. E aí, você só precisa ser um pouco gentil para que a criança fique louca por você. É isso, irmão. Tudo o que temos que pensar é como podemos usar essa garota a partir de agora.”
Eles não iam fazer nada de ruim, felizmente, o que confortou Lyla, que sorriu desajeitadamente para Elena.