O silêncio reinou, mas apenas por um momento. A reação do público explodiu como uma reação mágica.
— Viu aquilo?! É o que acho que é?
— Mentira…
— Encantamento silencioso!
Encantamento silencioso era uma habilidade de altíssimo nível que eliminava a fraqueza de revelar qual era o feitiço ao proferi-lo em voz alta. A força diminuía um pouco, mas apenas o fato de um mago poder usar era uma grande vantagem. E eram poucos os capazes.
— Já acabou? — indagou ela, despreocupada.
— O quê? — O atônito jovem levantou o cajado. — Rá! Homuel! Em! Towul!
Pelas faíscas repentinas, era magia de relâmpago agora. Ela não se movimentou mesmo quando o cajado foi apontado para ela.
— Kal!
Creck!
Assim que ele acabou o cântico, um raio foi disparado; foi só depois que Lyla já havia estalado os dedos, todavia.
Brrr!
Na frente dela surgiu uma parede de pedras, que bloqueou com facilidade o raio e permitindo a visualização do rosto do oponente. Era uma expressão bastante interessante que demonstrava choque, medo, inveja e até horror.
— Eu deixei você atacar duas vezes, então acho que é a minha vez.
Flash!
Ela levantou a mão, o seu cajado ainda livre no lado. Não houve nenhum cântico para invocar o vento que varreu o oponente, que esquivou por pouco das lâminas de vento.
— Humm… Não foi à toa que ele tenha aceitado o duelo na hora — falou Zich.
— O quê?
— Aquele cara enfrentando Lyla. Ele parece acostumado a fazer batalhas mágicas, Elena.
— Ah, sim. Jaewick é famoso na torre. Ele até venceu a competição anual de duelos mágicos antes.
Ele não conhecia e nem Lyla devia conhecer aquele nome, mas isso não era surpreendente, porque ele era insignificante. Quando um cachorro latia demais e mordia alguém na rua, as pessoas não procuravam saber o seu nome, apenas o chutavam e tentavam expulsá-lo.
Jaewick evitou outro ataque. Ele não desviava sem dificuldades; realmente precisava torcer o corpo ao máximo para escapar. E ainda não conseguiu nem manter o equilíbrio e caiu, abrindo a oportunidade para uma pedra quase acertá-lo.
— U-ughhhhh!
Ele pulou para cima e para baixo como um sapo e rolou no chão, mal conseguindo esquivar. A maioria da multidão tentou abafar o riso com a visão ridícula dele lutando no chão.
Zich, agora vermelho até às orelhas, abafou o riso como os outros, mas foi tão alto que não mudaria nada se ele não tentasse esconder. Jaewick lutou para se manter de pé e olhou para Zich, o fazendo rir ainda mais.
Wishh!
— Ugh!
Jaewick, sem tempo para tentar ameaçar Zich, esquivou de outro feitiço. A magia atingiu a barreira e desapareceu. Isso aconteceu várias vezes; Lyla atacou e Jaewick fez o possível para evitar seus ataques. Ele também continuou tentando usar magia.
“Ele está proferindo cânticos mesmo em movimento.”
Essa também era uma habilidade muito diferente. A magia exigia concentração intensa, por isso era dificílimo usá-la enquanto se movia. Havia muitos magos que ficavam imóveis e fechavam os olhos ao encantar.
“Bem, ele sabe de uma coisa ou outra.”
Porém, o problema era que sua adversária era Lyla.
Boom!
Jaewick usou magia mais uma vez. Lyla evitou seu ataque rápido recuando um passo. Ao mesmo tempo, ela balançou o braço.
Crasssh!
Um redemoinho voou em direção a Jaewick.
— Ugh!
Ele se abaixou como se estivesse caindo. O feitiço errou por pouco o topo de sua cabeça. Ficou claro para todos que Lyla estava apenas brincando com ele.
— E-ela é incrível.
Elena estava completamente absorvida pelos movimentos de Lyla. Sua instrutora era uma maga ainda mais incrível do que o esperado.
“Até você conseguia fazer isso no passado.”
Jaewick tremeu. Ele queria usar magia logo e esmagar a oponente, entretanto, ficou claro para ele e para todos que havia uma enorme diferença em sua força. O jovem não podia aceitar sua derrota assim.
“Como um mago como eu pode ser derrotado por uma maga errante? E também uma professora daquela fracassada, Elena Dwayne? Vou fazer de tudo para vencer!”
Ele voltou a murmurar feitiços. Uma bola de fogo foi disparada à Lyla.
Boom!
Ela desviou facilmente de novo. Contudo, este não foi o fim.
— O quê?
Ela inclinou a cabeça quando o cajado de Jaewick veio voando. Ela também esquivou, acertando o cajado com o seu, mas isso também fazia parte do plano.
— Ei!
— Que diabos!?
O público começou a murmurar entre si. Elena também abriu os olhos em choque. Jaewick havia usado sua magia e cajado como finta para vir bem na frente de Lyla.
“Como ela é uma mulher, deve ter quase nenhuma força! Eu deveria apenas agarrá-la primeiro, e se eu bater nela, não será capaz de usar a magia direito!”
Por ser um mago, ele também não tinha um físico forte, mas estava confiante de que não perderia para uma mulher. Então, estendeu as mãos.
— Te peguei!
Ele agarrou os braços dela com muita força e puxou enquanto erguia o punho.
“Se eu acertar apenas um soco, posso vencer!”
Whoosh!
Ele tentou dar um soco no rosto dela. Pensou que logo seria capaz de vê-la sangrar que ela deveria estar em estado de choque e horror. Por essa razão, olhou diretamente para o rosto dela.
E ela estava sorrindo.
“Hã?”
Em um instante, ela desapareceu da sua vista.
“Onde… foi que…”
E quando ele estava tentando processar o que aconteceu, os olhos dele giraram com a dor em sua bochecha. Ele girou e ficou alternando o foco entre o teto e o chão, vendo Lyla vez ou outra no meio. Ela olhou para ele como se ele fosse patético.
Ele caiu.
Todo o porão ficou quieto de uma vez. Se o último silêncio foi por testemunhar uma habilidade mágica de alto nível, este foi o silêncio pelo choque com o desenvolvimento inesperado do duelo.
Clap! Clap! Clap!
Palmas despreocupadas ecoaram por toda a sala e quebraram o silêncio.
“Um contra-ataque, como esperado dela. Um magricela que só usa magia não é oponente à altura. Fiz um ótimo trabalho ensinando-a”, ponderou Zich.
Jaewick ergueu a cabeça, as bochechas inchadas. Ela foi caminhando devagar na sua direção.
— Pelo que sei, em duelos mágicos, você só pode usar magia. Acho que os duelos nas torres são diferentes.
Crunch!
Um som sinistro saiu de seus dedos; Jaewick se encolheu.
— Isso se tornou um pouco mais divertido.
Ela jogou seu cajado para o lado. Mesmo que ela não o tivesse usado uma vez até agora, ele só conseguia pensar em um motivo para jogá-lo no chão.
— E-espere…!
Ele estava prestes a gritar alguma coisa, mas ela aumentou a velocidade da mão.
— Agh!
Ele cobriu o rosto com os dois braços, porém como se concentrou apenas na magia durante toda a vida, a sua postura não poderia ser mais estranha.
Ela deu um soco bem no estômago. Ele abriu os braços por instinto e revelou o rosto, que virou o novo alvo dos murros velozes dela.
— Ughhhh!
A cabeça dele quicou para trás e todo o seu corpo tremeu no processo.
— Como esperado, não posso fazer como Zich. Não posso acabar com isso com apenas um soco. Bem, não tem jeito. — Estalou a língua, olhando para o sangue escorrendo da boca de Jaewick. — Se eu não conseguir terminar isso de uma vez, vai ter que ser duas, três ou mais vezes.
— C-calma!
No entanto, ela o ignorou mais uma vez e brandiu as mãos numa sucessão acentuada.
“Que tipo de maga…”
Ele gritou na mente. Não era como se ela tivesse aprendido artes marciais incríveis. No fim, era uma maga. O curioso era que as capacidades físicas dela eram muito boas a tal ponto que até Zich ficou impressionado. Além disso, ela tinha conhecimento do básico e também tinha experiência com o treino árduo que teve com Hans e Snoc.
Jaewick era um mago tradicional que não usava muito o corpo e quase não tinha experiência em lutas físicas. Com todos esses fatores a favor dela, ela pôde vencer de modo unilateral.
O rosto dele Jaewick foi esbofeteado outra vez, agora coberto de sangue.
— Você quer se render? — perguntou ela, parando de repente.
— Como diabos isso é um duelo mágico!? — exclamou ele, a voz estranha.
— Eu me pergunto quem partiu pra cima de quem. Achei que não teria problema em usar força bruta.
Ele olhou para ela como se quisesse matá-la e de repente pulou para trás. Ela, silenciosa, apenas observou ele correr aonde estava o cajado dele. Ele logo o pegou e se moveu em direção a ela.
— Céus, você é persistente demais. Vou resolver isso com magia, como queria — disse enquanto andava até onde estava o cajado dela. — Mas vai ser um pouco perigoso, pirralho idiota.