Zich deixou Sunewick. Fazia tempo que não saía da cidade. Ele não foi longe e parou em frente à entrada a fim de mandar Hans e Snoc embora.
— Terminaram seus preparativos?
— Sim, senhor!
Suas vozes não eram altas, mas estavam confiantes.
— Quero dizer, não havia muito para o que se preparar.
Afinal, as necessidades básicas estavam na caixa mágica, e não havia mais nada que os dois precisassem preparar além de alguns ingredientes. Claro que, pelos preparativos, Zich não estava falando apenas de bens materiais.
— Lembram-se do que eu disse a vocês dois?
Ambos responderam na hora. Não havia como esquecerem. Mesmo que quisessem esquecer, o árduo treinamento pelo qual passaram fez com que gravassem por instinto as palavras assim que as ouvissem.
Zich assentiu com satisfação e agarrou os ombros de ambos, então, empurrou seu rosto entre eles.
— Temos alguém nos seguindo. Mas não virem a cabeça.
Eles sem querer tentaram olhar ao redor, mas logo travaram os pescoços com força e impediram que seus rostos se movessem.
— Basta ir de acordo com o plano e tudo vai ficar bem. Entendem? Bom, vão agora.
Ele os virou e bateu em suas costas. Hans e Snoc se afastaram da enorme muralha e seguiram em frente. Zich olhou para trás por um tempo, então também se virou e começou a caminhar em direção ao grande muro.
“Uma pessoa incrível apareceu.”
Zich desviou o olhar e olhou para a parede do castelo. Ele notou uma presença fraca ali, mas isso foi tudo, pois não conseguiu determinar sua localização exata.
“Suas habilidades de esconder são impressionantes.”
Por mais que tivesse um talento considerável em detectar presenças, nem mesmo ele conseguia localizar a pessoa direito quando estava em alerta máximo.
“É um mago?”
Considerando a situação e o fato de que estavam em uma cidade famosa pela magia, parecia provável que um mago de alto nível realmente tivesse saído para seguir Zich e seus servos.
“Eu mostrei a eles que eu poderia usar um artefato de invisibilidade.”
No entanto, o nível de seu oponente ainda era maior do que o que Zich esperava.
“Talvez o mestre da torre tenha vindo em pessoa. Se for o caso, então será um pouco perigoso.”
Nesse momento, Zich sentiu a presença que vinha rastreando tremer um pouco.
“Ele está se movendo.”
Era óbvio que a pessoa queria descobrir onde Hans e Snoc estavam seguindo-os. Mesmo quando a pessoa se movia, sua presença ainda era incrivelmente fraca. A possibilidade de que Walwiss Dwayne fosse quem os seguia tornou-se mais provável. Zich viu que seus colegas já estavam longe, rígidos talvez pelo nervosismo.
“Eles vão se sair bem. Não terão que lutar contra ele de frente, e eles também não são motivo de riso.”
Ele se virou e foi à cidade.
“Eles estão entrando.”
No ar, Walwiss em silêncio observou Zich voltar para dentro do castelo. Não havia nada que parecesse suspeito, então tirou os olhos de Zich.
“Os vigias da família Jaewick o seguirão. O alvo importante não é ele mesmo.”
A mana oculta, mas intensa, puxou seu corpo. Hans e Snoc seguiram pela avenida que se estendia desde as portas do castelo e, em algum momento, começaram a andar de lado. Os dois entraram em um prado de ervas daninhas densas onde não havia estrada ou mesmo um pequeno caminho à vista.
Walwiss concentrou sua atenção. Como saíram da estrada, poderiam desaparecer de sua vista a qualquer momento. No ar, ele abriu bem os olhos e devagar os seguiu à distância. Os dois passaram pelo prado e entraram em uma pequena floresta com bastantes árvores.
“Eles estão bloqueando minha visão.”
Walwiss semicerrou os olhos e se perguntou se deveria ir mais baixo, mas em vez disso foi mais alto. O tamanho da floresta não era muito grande. Se olhasse de um lugar alto, poderia ver toda a floresta de uma só vez e ver de que direção viriam.
Walwiss também não se esqueceu de rastreá-los com um senso de magia aguçado, já que eles podiam usar artefatos de invisibilidade. Logo, suas suspeitas de se provaram verdadeiras.
Wiing!
Uma leve transformação que as pessoas normais não podiam sentir captou seus sentidos.
“Eles usaram!”
Ele fechou os olhos, então, tentou sentir uma presença mágica. A presença mágica começou a se mover. Era uma energia fraquíssima, tão leve que a maioria dos magos não conseguiria senti-la, mesmo que estivesse bem na frente deles.
“É uma sensação parecida com a que senti na casa dos Jaewicks. Eu posso encontrá-la!”
A presença mágica saiu da floresta. Ele não conseguia ver nada com os olhos, mas sentia que com certeza havia algo ali. Ele continuou a sentir a energia mágica e, quando olhou com atenção para a área, pôde ver algo estranho nisso. A presença continuou a se mover. Eles já haviam percorrido uma distância considerável agora.
“Até onde estão indo?”
Ainda tinha bastante mana sobrando. Não era como se tivesse conquistado seu título de mestre da torre mágica por sorte. No entanto, era verdade que também tinha um limite.
“Eu não acho que eles vão continuar andando por muito mais tempo.”
Ainda havia uma chance de que pudesse estar errado. Além disso, a velocidade de Snoc e Hans estava além de sua imaginação. Eles se moviam continuamente na velocidade do sprint máximo de uma pessoa comum.
Felizmente, ele não precisava se preocupar em ir muito longe. Sentiu um tremor de energia mágica, e então Hans e Snoc se revelaram. Parecia que o tempo de duração de seus artefatos havia acabado.
Eles logo começaram a escalar uma montanha próxima. Quando estavam na metade do trajeto, uma velha casa apareceu, semelhante a um abrigo abandonado para caçadores. No entanto, parecia ter passado por reformas recentes para que as pessoas pudessem usá-lo como residência.
Quando Walwiss viu a casa, ele inclinou a cabeça.
“Elena está presa em um lugar como esse?”
Aparentava ser um lugar facílimo de escapar. A casa parecia muito inadequada para prender alguém.
“Ela talvez esteja amarrada?”
A preocupação surgiu em seu coração. Ele imaginou como sua pobre neta estava toda amarrada e não poderia comer ou beber sem os dois servos de Zich. Felizmente, a imaginação de Walwiss provou estar errada.
Quando Hans bateu, a porta se abriu.
“Armaduras?”
Walwiss estreitou os olhos ao ver a pessoa que abriu a porta para Hans e Snoc. A pessoa usava uma armadura de prata que brilhava à luz do sol.
“Eles têm um cúmplice? Não eram apenas viajantes?”
Se tivessem um camarada blindado, havia uma grande possibilidade de que um terceiro estivesse envolvido. Entretanto, os movimentos da pessoa blindada pareciam estranhos.
“Não, é um golem?”
Um golem de armadura. Se algo assim guardava Elena, era compreensível que ela não fosse capaz de escapar desta cabana miserável.
Walwiss examinou os arredores sem se aproximar. Só por segurança, ele viu várias janelas. Ao contrário do resto da casa, estavam bem trancadas. A suspeita de que Elena poderia estar presa dentro da cabana se aprofundou.
Walwiss moveu o corpo para espiar pela janela e ver o interior da cabine. Então a viu — sua neta estava dentro de casa. Sentiu alívio e depois raiva, duas emoções extremas. Ele se sentiu amargo por terem sido traídos e sentiu pena da dor que Elena experimentou.
Ele de imediato quis queimar esta casa e depois voar de volta para a cidade e queimar Zich e Lyla até as cinzas, mas reprimiu suas emoções. Nunca houve um momento em que a imprudência melhorasse qualquer situação. Ele precisava ter cuidado extra, já que sua preciosa neta estava sendo mantida como refém.
Ele olhou para a cabine com os olhos cheios de fúria. As únicas pessoas na casa eram Hans e Snoc se ele excluísse Elena. Apesar dos outros movimentos, todos pareciam vir de possíveis blindados golens. Felizmente, Elena parecia bem e não parecia ter sofrido nenhuma tortura.
Elena estava sentada imóvel em uma cama. À primeira vista, parecia que ela tinha muita liberdade para se movimentar, mas a julgar pela forma como os golens de armadura se moviam de modo constante ao seu redor, provavelmente tinha uma liberdade muito limitada.
Walwiss havia confirmado tudo o que precisava confirmar. Ele em silêncio se retirou e seus olhos se moveram para Elena.
“Espere um pouco, Elena. Eu vou te salvar!”
Embora fosse doloroso ao extremo ter que deixar sua neta com seus inimigos, ele não tinha escolha. Como o mestre da torre mágica e pelo bem dela, precisava lidar primeiro com a causa raiz.
“Não posso deixar nenhum deles ir embora!”
Walwiss desviou o olhar da neta e forçou seus pés relutantes a se afastarem da cabine.
Uma quantidade substancial de tempo se passou desde que Walwiss deixou a cabana. O céu já estava escuro, e a lua e as estrelas estavam trabalhando duro para lutar contra a escuridão. A luz das velas dentro da cabine também combateu a escuridão, deixando escapar sua luz sutil.
Sentada ainda na cama, Elena perguntou severamente:
— Ei, quanto tempo temos que esperar?
Hans e Snoc, que estavam jogando cartas para matar o tempo, levantaram os olhos da mesa e se viraram para olhar para Elena. Então eles se entreolharam.
— Sênior, você acha que vai ficar tudo bem agora?
Hans acenou com a cabeça para a pergunta de Snoc.
— Sim, acho que sim.
— Sério, do que vocês estão falando?!
Elena soltou sua irritação. Eles estavam sussurrando baixinho entre si para que ela não pudesse ouvi-los.
— Não é nada.
Snoc bateu levemente em Nowem, que estava em seu ombro, algumas vezes. Nowem pulou de seu ombro e então subiu até os joelhos de Elena fazendo sua expressão se iluminar um pouco.
Desde que Snoc deixou a cabana, ela não conseguiu praticar magia. Além disso, ele também não a deixou pegar emprestado a mana de Nowem. Como estudar magia era sua única fonte de alegria enquanto estava presa, ela ficou irritadíssima. Agora que poderia estudar de novo, se sentiu um pouco menos irritada.
Ela abraçou Nowem e olhou para Snoc.
— Onde vocês foram?
Ao contrário de Hans, que ela via brevemente às vezes, Snoc geralmente estava sempre ao seu lado. No entanto, alguns dias atrás, os dois deixaram a cabana e deixaram golens blindados como seus substitutos.
— Não podemos te dizer.
Ela esperava essa resposta, mas isso não a tornou menos dolorosa.
— Hmph!
Elena bufou para mostrar seu desagrado.
Quando estava prestes a começar a praticar magia mais uma vez, um golem apareceu de repente diante de seus olhos. Os golens foram colocados nesta cabine para mantê-la dentro. Mesmo sendo irritantes, Elena estava curiosa sobre eles como uma maga.
— Você disse que a professora… senhora Lyla fez isso, certo?
Embora Snoc continuamente dissesse que era pelo bem dela e ela também sabia que não era tratada mal, se absteve de chamar Lyla de professora, já que sua professora também era uma das responsáveis por sua prisão.
— Sim.
— Não é um golem de altíssima qualidade, mas é bem feito. Ela deve ter se esforçado muito neles.
— Sério? Mas ela fez muito rápido — respondeu ele, mastigando uma raiz.
Ao contrário dele, que era ignorante sobre assuntos como este, Elena ficou sem palavras.
— Ela conseguiu fazê-los rápido?
Independentemente de Lyla ser uma pessoa boa ou má, Elena teve que admitir que sua professora era mesmo uma maga talentosa.
Hans estava ouvindo calado a conversa, e então olhou para fora da janela, pensando.
“Zich disse que se houver uma emboscada, será logo depois que voltarmos para a cabine.”
Porém, nada aconteceu. Isso significava que a segunda previsão dele provavelmente havia acontecido.
“Tenho certeza que este lugar foi descoberto hoje, mas nada vai acontecer aqui pelo resto do dia.”
Ele não precisava mais enviar um alerta, porque a ação deveria começar onde Zich estava.
Hans colocou Estellade de lado, cruzou as mãos e se recostou enquanto segurava a nuca dele. Nesta posição, ele observou Snoc e Elena brigando um com o outro.