— O quê?
— Fazer coisas boas. Ser bonzinho. — Caminhou em direção a Snoc e agarrou seus ombros — Você fica desconfortável que Nowem esteja sendo perdoado sem consequências, certo? Só precisa fazê-lo pagar pelos erros até que ambos estejam satisfeitos.
— Está dizendo que ele deve pagar pelos erros com… bondade?
— Claro. Qual é a primeira coisa que os criminosos fazem quando expiam seus pecados em instituições religiosas? Ajudam os outros. Fazer o bem é uma das melhores maneiras de se perdoar. Não tem nada melhor para cobrir erros passados.
Sam não concordou com a maneira a qual Zich enquadrou “ajudar os outros”, quase como se fosse uma ferramenta, mas não estava errado. O mineiro começou a ponderar.
— Para funcionar, é importante que acredite nisso. Não importa o que os outros digam, você tem que acreditar que vai funcionar.
— Você tá falando pro Snoc ajudar orfanatos ou distribuir comida para necessitados? Tipo isso?
— Não.
Sam piscou, confuso por conta da negação.
— Nowem é quem errou. O Snoc tem que usar o seu poder.
O poder de Nowem. Sam tremeu um pouco quando lembrou do estado de Snoc em fúria. Para ele, a força da besta de terra era enorme.
— E o que devo fazer, então? — O garoto esteve seguindo os olhos de Zich com atenção desde que falou sobre “fazer coisas boas”.
— Você não disse que odeia minerar? E que queria sair em uma aventura. — Sorriu — Vai na fé.
— Tenho que me aventurar?
Ambos os irmãos se surpreenderam com a resposta inesperada.
— Mas é perigoso demais para ele? Você também não falou isso antes?
— Quem vive de passado é museu; agora ele tem a Nowem.
Koo?
Sua cabeça se mexeu ao ser mencionada de repente.
— Se Snoc aprender a usar os poderes dela do jeito certo, monstros dos arredores das montanhas ou ladrões de rua não serão mais ameaçar. Confia em mim, posso fazer com que aprenda a usar suas habilidades.
O menino mergulhou em pensamentos com as possibilidades. Não era uma oferta ruim. Se usasse a força dela, era certo que a aceitaria e esqueceria tudo o que fez. Além do mais, se tornaria o aventureiro que sempre quis ser.
— O que acha disso? — questionou a toupeira.
Koo!
Ela assentiu. Mesmo que não entendam ela, puderam perceber que ela apoiava a ideia de Zich.
Sentia como se pudesse ouvir a voz da amiga. Mesmo após de muito tempo tendo passado, manteria a promessa que fez. Não havia um motivo sequer para recusar a ideia.
“Foi decidido.” Depois de ver que ela concordou, confirmou para si mesmo. Por mais que Sam parecesse insatisfeito, no fim, aceitaria.
“Ok, posso encerrar o tópico agora. Vamos ver o próximo…” assumiu uma expressão mais séria. “Preciso prestar atenção na reação daquela organização de antes.”
Ela devia ter uma rede de informações impressionante. Sabiam sobre as propriedades especiais da mana de Snoc e a liberação de Nowem do selo e foram capazes de usar Drew para forçar uma interação entre os dois.
“E não só isso.”
Não importava o quão compatíveis fossem, era muito raro alguém saber de que forma forçar uma fusão entre um humano e uma besta mágica.
“Seria bom se os oficiais de Suol descobrissem algo dos corpos que espalhei dos assassinos.”
Porém, ao contrário das esperanças de Zich, a organização não mostrou sinais de movimento, no fim das contas.
— Estou indo! — Snoc acenou.
Nowem, próxima aos seus braços, deixou sair um animado “koo”. Estavam numa rua próxima às muralhas da cidade, e Zich e Hans puderam enfim sair de lá depois da despedida dos irmãos.
Zich observou o seu novo companheiro de viagem, que parecia muito satisfeito de poder realizar seu sonho.
“Agora, ele não vai virar mais o Tirano da Terra. Já que intervi, a história mudou.” Se sentiu bem, apesar de não ter sido capaz de cumprir a missão original de matar o Tirano. “O tempo de ele surgir passou. Se eu impedi ele de destruir Suol e outros lugares, com certeza fiz uma coisa boa.”
Embora houvesse a mínima e rara chance de Snoc se tornar o Tirano da Terra depois, ele poderia ser morto a qualquer momento; por isso Zich quis mantê-lo perto.
“E também ganhei outro bagageiro.”
— Escute o que ele diz e não cause problemas por estar animado demais, certo? — Sam, meio triste, segurou Snoc e lhe avisou de muitas diferentes maneiras.
Zich achou que Sam ficaria muito sozinho agora que seu irmão mais novo exploraria mundo afora. Porém, ele não interveio, pois era algo para o minerador aceitar ele mesmo. e não poderia falar algo prestes a sair.
Por um tempo, ele continuou a alertar e relembrar o irmão do que deveria e não deveria fazer, de novo e de novo. O menino tentou se manter paciente, até porque não se veriam mais por um bom tempo, mas alcançou seus limites e mandou Sam parar com os avisos sem fim.
— Bem, bora embora — disse Zich.
— Obrigado por tudo. Sou sortudo em ter um amigo que nem você.
— É, de fato, sou uma riqueza invejável. Tome cuidado a partir de agora. Teve sorte de me conhecer, e coisas ruins surgirão de agora em diante devido a isso.
— Tomarei cuidado. — Apertou a mão dele e sorriu.
— Estou indo.
Deixaram a cidade. Por um longo tempo, Sam assistiu a eles indo além do horizonte até que não fossem mais vistos. Snoc se virou junto de Hans e os três se olharam, e Zich sequer parecia preocupado.
Ele viu Hans dizer algo para Zich. Talvez dizia que ele ainda os observava? Mas Zich bateu forte na cabeça do servo. O garoto se assustou, e depois nenhum dos dois olharam mais para trás.
“Aquela pedra de gelo….”
Era isso? Ele colocou a mão nos quadris e soltou um suspiro longo e sorriu.
“É, tenho que ir.”
A imagem de Snoc partindo desajeitadamente se esvaía da sua mente, e ele lembrou de uma conversa que teve com o garoto.
— Você admira Zich?
— Aham. Ele é uma pessoa que eu achava que só existia nos meus sonhos.
Era forte e de espírito livre. Mesmo que tenha dito que não era um aventureiro, as ações que demonstrou bastaram para animar Snoc.
— À medida que avançarmos, ele vai ser o meu modelo.
— Acho que vai ser bem difícil.
— Também acho.
Não importa quanta experiência ganhasse, demoraria muito para ser que nem Zich. Mas não ficou desanimado.
— Eu finalmente tenho uma maneira de realizar meus sonhos. Se eu combinar meus pontos fortes com os de Nowem, acho que posso virar um aventureiro.
Nowem deu grunhiu alto e concordou com as palavras.
— Se acha isso, não tenho mais nada a dizer. Vou torcer por você.
Todavia, queria dizer pelo menos isso:
— Mas tente imitar as atitudes dele.
— Acho que não consigo, mesmo que quisesse.
Sam riu quando se lembrou da expressão boba do irmão.
Os eventos passados pareceriam mentiras se notasse o vasto céu acima de Suol, azul e claro.
O grupo caminhou devagar pela estrada. Hans percebeu que o novo companheiro olhava ao redor com os olhos brilhando. Qualquer um podia ver que estava fantasiando sobre a jornada.
“Coitado.” Sentiu pena, pois sabia que a animação seria esmagada em um futuro próximo. Pousou o olhar em Nowem, no ombro do menino. “Não acredito que esta é a besta da terra.”
Era pura força bruta quando furiosa. Engoliu em seco, pensando em como lidaria com Snoc durante esse tempo.
“É inacreditável.”
Embora estivesse sobrecarregado com Sam, ele foi capaz de levar o empregado ao extremo. Por outro lado, Zich o derrotou sem dificuldades. Hans ficou espantado ao relembrar disso; também recordou de como Snoc foi espancado sem qualquer hesitação e estremeceu.
— Perdeu o quê na minha cara?
Ele sem querer olhava para Zich e recuou após ser questionado.
— Eu… Eu só…
Se não respondesse, estaria em apuros, e teve a ideia de utilizar ocorridos recentes de desculpa.
— Não é uma pena? Senhor Zich, ninguém vai saber de tudo que você fez.
Ótimo! Pensou ter inventado uma boa desculpa e até usou a obsessão de Zich em fazer bons atos.
— Quero dizer… você meio que protegeu uma cidade inteira. Se descobrissem o que fez, seria elogiado e recompensado por todos em Suol.
“Mas acho que não tem como evitar.”
Snoc estava relacionado a tudo. Para protegê-lo, precisavam se certificar de que as verdadeiras causas não vazassem; o tipo de resposta que esperava. No entanto, a que saiu era diferente por completo.
— Não importa.
— O quê?
— Não me importo com elogios. Não estou fazendo isso porque quero ser exaltado. Foda-se se gostam de mim, invejam, desprezam, odeiam.
— E-Então, por que quer ser tão caridoso?
Ele começou a tomar boas ações por causa das últimas palavras de Glen Zenard. Entretanto, foram apenas um gatilho, porque havia uma razão pela qual ele agia desse modo.
— Porque eu quero.
Não havia outra razão além desta, e Hans se calou. O comprometimento de Zich era que nem o de um herói honesto que ajuda outro sem esperar algo em troca. Por causa disso, Hans pensou que ele usava a sua força ultrajante para “brincar de herói” como uma criança. Mas talvez estivesse errado, afinal.
— Então, senhor, não estava fazendo isso sem objetivos? — perguntou com cuidado depois de engolir a saliva.
Logo quando falou em voz alta, fechou os olhos. Parecia que seu mestre ia socá-lo a qualquer momento. Um punho não veio voando em sua direção; em vez disso, ele respondeu sem pensar muito.
— Eu estou fazendo isso sem objetivos.
“Como esperava.”
Ele de fato brincava de herói. Não sabia o porquê, porém ficou um pouco desapontado e fez beicinho.
— Senhor, estou com inveja de você. Já que é tão forte, o senhor consegue entrar em situações perigosas de bom grado.
Assim que disse isso, se encolheu. Falou muito mais do que deveria pois Zich não foi tão duro antes e por conta da sua decepção. Achou que com certeza seria agredido agora.
Só que Zich apenas conversou.
— Não é que eu sou forte. Tenho me envolvido em muitas coisas, mas não acho que sou o mais forte ainda. O cara que fundiu Nowem e Snoc à força, sendo honesto, era bem melhor do que eu.
Se estivesse em seus dias de Lorde Demônio, teria dito que era o mais forte sem sequer hesitar, contudo “enfraqueceu” muito agora.
— Eu simplesmente quero fazer algo bom. Mesmo que morra, não ligo.
Fazendo o que queria… Até antes de regredir, era a única força que o movia. Ele não era extravagante na fala; pelo contrário, ela era clara e simples. E devido a isso, parecia mais honesta.
— É isso?
Hans sentiu o coração acelerar. Foi a mesma sensação que teve quando a mãe deu o livro sobre a jornada de um herói e ele leu pela primeira vez.
Snoc, que silenciosamente ouvia, também parecia animado. Sentiu ter escolhido a pessoa certa e apertou Nowem forte.