Zich levou Hans e Snoc montanha abaixo. Seus movimentos eram rígidos, mas nenhum dos dois expressaram nenhuma reclamação, pois a fumaça escura que saía da pequena aldeia parecia muitíssimo perigosa.
“É uma invasão? Ou um simples incêndio?”
Por ter vindo de longe, Zich não conseguiria identificar a fonte específica até que chegassem ao local. No entanto, tinha certeza de que algo anormal estava acontecendo.
“Tem uma grande chance de que eu possa fazer algo bom.”
Embora tivesse decidido espancar bandidos até a morte para cumprir o objetivo, não era o seu único plano.
Sua velocidade era tão rápida que era difícil acreditar que corriam por um curso montanhoso cheio de vegetação, porém chegaram um tempo depois devido à grande distância. E conforme se aproximavam cada vez mais, viam a fumaça com mais clareza.
O nervosismo apareceu nos rostos de Hans e Snoc; um pôs a mão no cabo da espada e o outro abraçava Nowem.
Sniff! Sniff!
O nariz de Zich se contraiu. Ao chegarem mais perto, um cheiro peculiar surgiu nos arredores.
— São corpos em chamas.
Hans e Snoc aumentaram a guarda. O cheiro de pessoas queimadas não parecia nada agradável.
Depois de deixarem os limites da floresta, viram a cidade em plena vista: barreiras de madeira, montadas para defender a área, e a fumaça negra subindo atrás.
— Talvez bandidos ou inimigos de fora os tenham emboscado — disse Hans, a metade da espada desembainhada.
— Não, não acho que seja o caso. — Zich estudou a proteção — A barreira é muito boa para ser uma emboscada. Se fossem bandidos, não deixariam a fumaça sair e ateariam fogo por aí. A aldeia deve ter sido transformada em cinzas, mas a vista do topo da montanha parecia normal.
Os três caminharam ao longo da proteção e avistaram uma porta firmemente fechada, e dois lanceiros estavam à frente dela.
“Não são guardas porteiros; não têm blindagem forte.”
— Hã? — Um notou o grupo que chegava perto e se armou — Como saíram?!
O outro fez o mesmo e estendeu a mão com a lança. Hans e Snoc gaguejaram em choque, entretanto Zich deu um passo à frente.
— Somos viajantes. Viemos passar a noite aqui.
— Que absurdo! Todos os caminhos estão bloqueados!
“Sério?”
Considerando a voz agressiva, não parecia mentira. Como vieram pela montanha, não estavam cientes de que todos os caminhos foram bloqueados.
— Nós viemos pela montanha, não por um caminho comum.
— Vocês atravessaram uma montanha cheia de monstros?
As suspeitas do soldado aumentaram. Em resposta, Zich encolheu os ombros e bateu na espada na cintura.
— Não somos tão fracos para sermos derrotados por monstros de baixo nível daqui.
— Ainda assim, não tem por que passar por ela. Seguir um caminho normal é muito mais conveniente.
— Esse seria o caso se eu não tivesse que treinar os caras atrás de mim.
Mesmo com a explicação, não baixaram a guarda. Eram cautelosos ao extremo, e deviam ter algo a ver com a fumaça que vinha de dentro.
— O que está acontecendo lá? — Olhou por cima da barreira e perguntou, mas os soldados não responderam e se agruparam para murmurar sobre algo. Contudo, Zich pôde ouvir tudo com seus sentidos aguçados.
— Ele está falando a verdade?
— Não tenho certeza. Já que estão armados, pode ser. Não podemos descartar a possibilidade de que possam ter escapado também.
— O que devemos fazer?
— O que mais? Vamos levá-los ao nosso chefe primeiro. Não podemos simplesmente deixá-los ir. — Seus olhos semicerraram — Ademais, podem estar infectados com a doença.
“Doença?” Assim que ouviu isso, foi capaz de entender a situação geral. “Parece que tem um surto por aqui.”
A fumaça devia vir da queima de cadáveres infectados e suas casas e pertences, e bloquearam as passagens para que a doença não se espalhasse. De certa forma, era um problema mais complicado e perigoso do que um grupo mercenário ou ataque estrangeiro.
— Sigam-me por enquanto. — Um deles abaixou a lança e ordenou. Parecia que não aceitaria qualquer contra-argumento ou desafio.
— Quais são os seus planos, senhor? — questionou Hans para Zich.
Ele ficou surpreso ao ser tratado que nem um criminoso, mas em comparação com o começo da jornada dos dois, estava muito mais calmo e composto do que antes por conta das experiências bastante extraordinárias que passou. Por outro lado, Snoc ainda não tinha essa experiência, e parecia confuso e um pouco assustado.
— Vamos segui-los.
— Sim, senhor.
Os três seguiram os soldados. Não foram guiados para dentro do lugar, e sim quase para mais longe ainda.
“Não tem muito o que fazer, visto que esse surto está se espalhando.”
Se fosse grave o suficiente, um surto que evoluísse para uma epidemia poderia acabar com um país inteiro. E os horrores de uma doença aumentariam à medida que a fatalidade e as taxas infecciosas aumentassem juntas. A julgar pela cautela e resposta dos dois soldados em relação ao grupo, a doença aparentava ter uma taxa de mortalidade bem alta.
Foram levados a uma área onde havia uma enorme barraca montada servindo de quartel.
“É o posto de comando.”
Considerando que todos os caminhos estavam bloqueados e soldados treinados estavam posicionados em frente à entrada da aldeia, ficou evidente que a torre de controle no centro ainda funcionava. Para diminuir as chances de contrair a doença, colocaram o posto de comando a uma boa distância.
Os soldados os levaram para o maior quartel.
— E isso é…? — O que guardava o quartel perguntou em voz alta.
Os que trouxeram eles responderam educadamente, indicando que o soldado na frente deles era seu superior.
— Encontramos alguns indivíduos suspeitos e os trouxemos para cá.
— Indivíduos suspeitos? — O superior deu uma rápida olhada em Zich e seus companheiros.
— Eles de repente apareceram em frente à entrada da aldeia. De acordo com eles, atravessaram a montanha e não sabiam sobre os caminhos bloqueados.
— A montanha? Por quê?
— Disseram que para treinar, senhor.
Os olhos dele pousaram no grupo por um momento.
— São aldeões?
— Eles não parecem ser, mas não temos certeza. Então, nós os trouxemos para o senhor.
De repente, ouviram uma voz de dentro da barraca.
— Tragam-nos, por favor.
O superior olhou para a entrada e voltou o olhar para Zich e assentiu para os soldados.
— Levem eles.
Daí, seguiram os soldados e entraram. O interior era bastante aconchegante: uma cama em um canto e uma mesa em outro. Não havia nenhum outro móvel além disso, e quase parecia que quem quer que estivesse ali estava desperdiçando o enorme espaço.
Tutum!
O soldado guardando a tenda ergueu a lança e saudou em frente à mesa, onde sentava um homem bastante jovem, dois ou três anos mais velho que Zich no máximo. Suas bochechas eram magras e enormes olheiras em cada olho exaltavam a maçã do rosto. No geral, a saúde dele parecia muito ruim.
Ele se levantou. Alto, mas magro, o que acrescentava à sua imagem frágil. Todavia, seus olhos curiosos mostravam com clareza que tinha um senso aguçado de inteligência, ao contrário da aparência doentia.
— Olá, eu sou Joaquim Dracul. Estou encarregado da força-tarefa despachada nesta aldeia.
Joaquim Dracul. Era alguém que Zich conhecia e muito mais.
“E pensar que o encontraria tão cedo…”
Joaquim era um dos seus quatro confidentes mais próximos. Não pôde deixar de se sentir feliz em vê-lo. Os dois agitaram o mundo e passaram por todos os tipos de acontecimentos. Como ficou triste quando ouviu que a vida dele foi tomada por Glen Zenard! Queria abraçá-lo, falar sobre seu passado e futuro — é claro, histórias sangrentas — e tilintar suas taças de vinho. Porém, neste mundo, este era o primeiro encontro deles, e teve que reprimir a alegria em ver um velho amigo.
— Sou Zich. Os caras atrás de mim são meus servos, Hans e Snoc.
— Entendo, senhor Zich. Sei como é indelicado interrogar alguém que acabei de conhecer, mas considerando as circunstâncias, peço a sua compreensão. De onde vocês três estão vindo? — A voz dele era aguda, e o soldado agarrou mais forte a lança.
— Estamos a caminho de Suol. Como contei ao parceiro aqui, já que que estava viajando pela montanha para treinar meus servos, não percebi que os caminhos foram bloqueados.
— Hm.
Joaquim fez contato visual como se tentasse ver através da verdade, entretanto Zich não mostrou nenhuma mudança na expressão facial.
— Tudo bem, acredito em você.
— Senhor! — o soldado gritou — Podem estar fugindo da aldeia em segredo! Se for esse o caso…!
— Por favor, se acalme. — Ergueu a espada e calou o soldado — Não estou confiando cegamente nas palavras dessas pessoas. Para ser franco, não importa quais são as identidades desses homens. — Encarou Zich, Hans e Snoc, nesta ordem, e abriu a boca de novo — Independentemente de onde vieram, não planejo deixá-los sair daqui.
— O quê? O que quer dizer…! — Hans perguntou, surpreso, e fechou a boca logo em seguida devido ao olhar de Joaquim. Embora parecesse frágil, exalava uma energia muito superior que sufocava Hans.
“Incrível. Ele já tem tanto carisma?” Zich ficou impressionado. Joaquim merecia ser seu ajudante, com certeza.
— Eu sei que é pedir muito, mas enquanto estiverem aqui, terão que ficar conosco. Tem…
— Um surto se espalhando.
Hans e Snoc pareciam atordoados, e o rosto de Joaquim demonstrou um leve olhar de surpresa.
— Foi alertado disso?
— Estradas bloqueadas, uma aldeia barricada e uma fumaça enorme. E mais: tropas do exército do governo central disfarçadas de força-tarefa. Muitas pistas, creio eu.
— É verdade. Tem razão. Um surto está se espalhando pelo local, e as nossas tropas foram enviadas para a reter. Já que entraram em contato conosco, podem ter se infectado, por isso não podemos deixá-los voltar lá para fora.
— Compreendo. — Assentiu em obediência, e Hans sentiu-se aliviado.
“Até ele aceitaria um motivo como um surto.”
Considerando a personalidade dele, o empregado estava nervoso que recusasse o confinamento. Entretanto, não percebeu que aparentava estar bem mais agradável do que o normal porque encontrou um de seus quatro amigos do passado.
— Se quiser, podemos ajudar com o trabalho aqui.
Também não tinha ideia de que essa era a razão para o comportamento gentil em excesso.