— Aconteceu algo?
— Não, estava apenas dando um passeio nesta noite brilhante e encontrei você acordado.
Quando Joaquim mencionou isso, Zich notou que a lua de fato estava bem grande e brilhante. Mesmo quem não passeava teria sentido um forte desejo de caminhar.
“O que o fez se tornar um demônio? Tem poucas pistas agora. Mas deve ter sido algo enorme, para alguém que tem hemofobia usar uma habilidade chamada Dominação de Sangue…”
— Senhor, como está a condição do conde?
— Deve ter ouvido os rumores. Para dizer a verdade, não é muito boa. Passou meio ano desde que desmaiou, mas ainda está inconsciente. Estou preocupadíssimo.
E era verdade. Pelo menos, não parecia que ele era o tipo de filho que queria a morte do pai por poder.
“Ele é diferente daquele maldito do Biyom.”
— Acho que é por isso que o primeiro filho dele tem plena autoridade.
— Bem, ele é o mais velho. Claro que teria.
Mas a sua voz tinha uma pitada de amargura que indicava seus sentimentos negativos em relação a Biyom. A partir de então, Zich continuou a perguntar sobre a situação atual de Joaquim. Ele era indireto nas perguntas porque não queria levantar suspeitas.
Muitas conversas se passaram entre eles, porém ele não pôde obter muita informação. No entanto, não foi inútil, visto que obteve a garantia de que suas suposições estavam corretas.
“O conde perdeu a consciência há meio ano e ainda está acamado. Biyom aproveitou a chance e agora está empurrando Joaquim e suas forças para o limite. É uma história comum.”
Se olhasse ao redor do mundo, encontraria pelo menos dezenas de situações semelhantes. Então de repente veio com um pensamento engraçado.
“Devo mexer uns pauzinhos e fazer o Joaquim ser o sucessor? Daí eu fodo com o Biyom ao mesmo tempo.
Ele gostava de brincar com as pessoas e dar uma falsa sensação de esperança e tirá-la logo depois, entretanto não achava ruim tirar o que o oponente valorizava mais.
“Eu posso ficar ao lado dele na sucessão e ter um papinho informativo com os assassinos que provavelmente vieram transformá-lo em um demônio.”
Era um plano que se adequava aos seus gostos. Mas para realiza-lo, teria que estabelecer um maior senso de confiança. Não podia permanecer sendo o andarilho útil; precisava se tornar um confidente confiável para ajudar no próximo curso de ação.
Tendo isso em mente, conversou com Joaquim noite toda. Faltou tempo, considerando que Joaquim deveria ficar confinado em seu quarto de novo quando voltasse para Ospurin. Contudo, as preocupações de Zich com a falta de tempo desapareceram quando a força-tarefa recebeu outra ordem do castelo para irem de imediato a outra aldeia infectada.
Acostumados ao trabalho, bloquearam as estradas que levavam à terceira aldeia e separaram os infectados dos não infectados. Após separarem os aldeões em diferentes zonas, ofereceram tratamento, todavia sem esperanças sobre salvá-los. Começaram desanimados.
Além disso, houve perdas significativas entre a força-tarefa. Embora tivessem tomado precauções extras ao lidar com os pacientes, alguns foram infectados. Se a maioria não pudesse controlar a mana e tivessem uma forte imunidade, poderiam ter morrido. Assim, a moral de todos estava no fundo do poço.
Notaram que a doença que se espalhava na terceira aldeia era diferente: a taxa de deterioração era lenta e os sintomas não eram tão graves quanto antes. Era aterrorizante descobrir uma nova doença com um alto número de infectados, mas esperavam por sobreviventes desta vez.
A tal luz no fim do túnel logo desapareceu. Por mais que a taxa de deterioração fosse diferente, no final, a de mortalidade era de cem por cento. Dessa maneira, a terceira aldeia também desapareceu. Depois, outro surto em outro local.
Enquanto movia cadáveres, Zich fez uma careta.
“Isso é muito estranho.”
Não só era estranho que houvesse tantos surtos, mas também as taxas de infecção e fatalidade eram bem mais altas do que o normal. Ademais, todas as aldeias estavam a uma distância considerável umas das outras. Se as doenças tivessem se espalhado por aldeias próximas, a tendência era compreensível, mas não esse o caso.
“Parece até forjado.”
Analisou as informações que já conhecia, como os assassinos que encontrou há alguns dias. Porém não havia necessidade de pensar tanto a respeito do assunto. A palavra “surto” logo o fez pensar em uma pessoa.
“Aquela coisa já começou a se mover?”
Não sabia o nome, a idade ou o gênero da pessoa. Entretanto, havia uma figura que deixou marcas claras na história e fazia o mundo inteiro tremer apenas pelo nome. Sua aparição começou com a extinção da capital de um reino devido a doenças.
Já que o mundo estava um caos, o sistema de saúde, gerenciado por vários países, não podia operar do jeito certo, e as doenças se espalhavam sem dificuldades pelos conflitos. Por isso, no início, pensaram que uma epidemia grave estava se espalhando.
A epidemia virou uma pandemia e passou a matar mais; e aí, perceberam que havia um ser espalhando doenças de maneira artificial. Só descobriram a sua existência e nada da identidade. Começaram a chama-lo de “demônio Fest”.
“A única coisa sabida era que Glen Zenard o matou. A identidade dele era um mistério até o fim. Mas ele estava presente agora? Se for verdade, significa que tem dois sujeitos a se tornarem demônios aqui.”
Dois demônios. Antes da regressão, qualquer pessoa normal reviraria os olhos e ao ouvir que não havia apenas uma, mas dois em sua região.
“De qualquer forma, acho que só vou encontrar uma solução depois de retornar a Ospurin.”
Não havia muito que pudesse fazer enquanto estivesse preso no campo. Na pior das hipóteses, planejava sair do lado de Joaquim por um momento para fazer algumas mudanças em Ospurin. Contudo, como Fest poderia estar envolvido, decidiu esperar e observar um pouco mais.
“Se ser isso mesmo, vou ter que voltar de um jeito ou de outro.”
Alguns dias depois, todas as suas previsões foram provadas. Após queimarem a quarta aldeia, as expectativas de todos estavam no mais baixo dos baixos. Esperavam ir para outra em breve, mas, em contraste às expectativas, receberam uma ordem para retornar o mais rápido possível.
Na capital do território dos Dracul, Opsurin, um surto se espalhava.
Enfim voltaram, mas desconfiados. A capital estava sendo varrida por uma doença, e não sabiam o quão grave era a situação. O fato de ter sido atingida parecia indicar a gravidade, considerando que as doenças atuais eram piores do que qualquer coisa já vista. A força-tarefa acelerou os passos.
Quando chegaram, a situação não estava tão infernal quanto esperavam. Todavia a fumaça ameaçadora que subia no céu claro fez seus corações pesarem. Grande parte do grupo, especialmente cavaleiros e oficiais de alto cargo, tinha famílias lá.
Se dirigindo ao castelo, Joaquim liderou as forças e observou os civis. Podia dizer que havia menos nas ruas do que o habitual, e os únicos corajosos tinham medo estampado nos rostos. Felizmente, a doença não parecia ter se espalhado por toda a cidade.
— Abram os portões! — gritou na portaria do castelo. Diferente de antes, abriram o caminho para todos do grupo.
“Não sei muito, mas parecem estar levando tudo muito a sério.”
Para Zich, foi uma notícia de boas-vindas. Precisava entrar para recuperar informações e poder agir.
Embora todos pudessem passar pelos portões, nem todos poderiam entrar no castelo em si. Joaquim escolheu os subordinados mais próximos e pediu a Zich que o acompanhasse, porque achava que precisaria do amplo conhecimento e sabedoria dele, além de ele ter ganhado a sua confiança.
Quando entraram, ele encontrou Biyom cara a cara.
“Ele parece o oposto de Joaquim.”
Em comparação ao irmão, alto e magro ao ponto de parecer doente, Biyom era baixo e obeso. Como podiam ser tão diferentes um do outro? A única característica que compartilhavam era que aparentavam sofrer de uma doença crônica.
— Irmão, cheguei.
A sua voz estava cheia de insatisfação. Era natural que sentisse isso após tudo o que passaram. Considerando tudo, ainda era pouca coisa o que demonstrou.
— Seja bem-vindo. — Ficou claro que não olhava favoravelmente para Joachim. Seus olhos, que pareciam menores sob a gordura, dispararam e o fizeram parecer ansioso — Soube da situação, certo?
— Que uma epidemia estava acontecendo em torno de Ospurin?
— Sim, como eu esperava, parece que vocês trouxeram as doenças das aldeias.
Era um absurdo; inacreditável, ainda mais depois de terem se esforçado tanto. Porém, estava acostumado e não se agitou, o que Zich achou ridículo.
— Isso é impossível. Para não as espalharmos, esperamos por muito tempo antes de voltarmos. E não houve ninguém que desenvolveu sintomas na espera.
— Pode ter havido alguém, e você escondeu!
Joaquim soltou um suspiro.
— Então, o que devemos fazer? Ficamos longe de novo? Por vários meses, desta vez?
— Obviamente você e seus homens deveriam fazer isso, mas já que sou tão generoso, vou te dar uma chance de compensar os pecados que pode ter cometido. Impeçam que a doença se espalhe na cidade.
— Entendi.
Não ficou surpreso, pois esperava a resposta. Se não fosse esse motivo, o retorno teria sido adiado mais.
“Acho que ele me considera experiente nesse campo.” Zombou de si mesmo.
Era ridículo se chamar de experiente depois de não conseguir salvar uma única aldeia. Mas logo tomou uma firme decisão. Era a capital do território Dracul. Se atingisse o mesmo destino das aldeias, o número de mortes seria incomparável.
“Eu realmente tenho que parar o surto agora.”
— Vou me mover imediatamente, então, por favor, nos dê algum apoio.
— Vou deixar isso para Shalom.
O velho ao lado de Biyom assentiu de leve. Ele estava falando sério? Biyom tinha continuamente diminuído os suprimentos, e por isso Joaquim olhou para ele com dúvida antes de desviar o olhar.
“Ele não pode fazer seus truques de sempre, já que Ospurin está envolvida.”
Prestes a sair para começar o trabalho, ouviu a voz do irmão.
— Ah, e não pense em voltar ao castelo até que o surto termine. Ela não pode se espalhar aqui dentro.
— Tudo bem — respondeu, cerrando os dentes e apertando firme de raiva os dois punhos.