O vento seco passou espalhando areia por todo o deserto desolado; uns grãos pousaram em planaltos sem nome, alguns nas pedras pontiagudas e outros em pequenos arbustos espalhados aqui e ali, a única vegetação que o lugar tinha. A agricultura era impossível; a caça, escassa.
Duas pessoas montadas em cavalos começaram a aparecer ao horizonte: Zich e Weig. Após alcançarem o pico de um baixo vale, Weig puxou as rédeas e olhou para frente. Além da vastidão sem fim que ele se admirou, viu o céu escurecendo.
— O mundo realmente transcende a imaginação humana. Nunca que eu imaginaria um lugar que nem este.
— Mesmo alguém grande como você não deve ter visto um espetáculo parecido.
— Como meu trabalho é proteger a senhorita Lubella e lutar contra os hereges, nunca tive tempo de explorar com calma. Achei que já vi quase de tudo, mas acredito que me enganei. Tentei medir, com a minha perspectiva limitada, o mundo que deus criou — contou, traçando uma cruz no ar.
— Acho que quem serve a um deus sempre terá esse tipo de sentimento.
— Se você acreditasse em Karuna, compartilharia da sensação. Que tal? A nossa porta estará sempre aberta para ti.
— Obrigado pela oferta, mas recuso.
Esperava que Zich recusasse, como sempre, então não se desapontou. Havia algo mais importante.
— É uma pena, mas não tem o que fazer. Porém, Zich, é verdade que o ramo norte bellid está aqui?
A razão pela qual os dois foram ali foi para confirmar isso. Apesar de confiarem em Zich, não era uma decisão que poderia ser tomada apenas com base na confiança. Se quisessem lutar contra os bellids, nem as palavras de Aine Lubella e Belri Weig a favor dele bastariam. Precisavam trazer provas sólidas para a Igreja.
— Não é que eu não acredite em você, mas não acho que este seja o tipo de lugar onde aqueles desgraçados construiriam um templo.
O deus a que serviam era o deus da água, Bellu. Por essa razão, havia um princípio absoluto que consideravam ao escolher onde fazer um templo: água. Seja ao lado de um lago, rio ou mar, tinha que ser construído ao lado de um corpo de água. Além disso, quanto maior e mais importante o templo era, maior tinha que ser o ambiente aquático ao lado.
Assim, quando investigavam, sempre começavam por locais com água. Considerando a importância do ramo norte bellid, teria que ser próximo de muita água, não em um deserto esquecido pelo tempo.
— Da superfície, parece que sim. Mas é por essa razão que as pessoas não foram capazes de encontrá-los aqui.”
— É, você tem um ponto.
Se houvesse um templo ali, o deserto desolado e seco era uma distração perfeita contra aqueles que procuravam por áreas úmidas e abundantes em água.
— Só temos que ir um pouco mais longe. — Zich puxou as rédeas do cavalo.
Da mesma forma, o esperançoso Weig o seguiu até chegarem à entrada de um desfiladeiro profundo. Ao lado, um penhasco se estendia sem fim.
— Vamos esconder nossos cavalos aqui.
Eles encontraram um sulco profundo e amarraram os cavalos. Depois de jogarem pedaços de feno para eles, avançaram em direção a uma enorme rocha quatro ou cinco vezes maior do que uma pessoa normal; mesmo que ventos fortes estivessem presentes, ela permanecia firme.
O que Zich estava interessado era no buraco grande o suficiente para uma pessoa andar com certa liberdade abaixo.
— Aqui está.
Weig dobrou os joelhos e olhou ao redor do chão. Era difícil de ver, porém o chão de pedra estava um pouco desgastado.
— Sem dúvidas, alguém ou algo passou por isso.
— Temos que ter cuidado a partir de agora. Esta é a base deles.
— Por que? Está com medo? — perguntou Weig, brincando, e Zich assentiu enquanto ria.
— Receio que possam perceber que descobrimos eles e fujam antes que destruamos.
— Sim, é uma possibilidade a temer.
Então, entraram. Ele estava conectado a uma caverna grande ao extremo, surpreendendo Weig, que não imaginava que uma base subterrânea tão grande existisse sob um deserto.
— De muitas maneiras, essa jornada expandiu minha mente.
— Senhor, se você virar um andarilho, verá coisas ainda mais interessantes e estranhas no mundo.
— Ei! Isso é vingança por eu insistir que se junte a nós? Você me pegou.
Quando se afastaram da entrada, adentraram um lugar onde não havia nem um traço de luz. Ambos podiam usar mana para iluminar, o que acabou sendo útil, a caverna acidentada e escorregadia.
Após caminharem por três horas, uma luz pôde ser vista. De imediato, se agacharam e acharam uma pedra para se esconderem.
— Um lugar destes aqui…
À frente, estava um vasto lago tão enorme que mal viam o outro lado.
“Considerando o tamanho, é bem compreensível que tenham construído um de seus templos mais importantes aqui.”
A luz que avistaram vinha do outro lado. Era longe, contudo conseguiam ver com clareza a sua origem, alegrando Weig.
“É verdade!”
No lado oposto, não só uma, mas várias tochas iluminavam um grande edifício à vista, alto o suficiente para quase tocar o teto da caverna alta. De frente, se assemelhava a um grande templo, principalmente devido à marca dos bellids no seu topo em plena vista.
Também viram algumas pessoas entrando e saindo. Com os sentidos aprimorados com mana, o homem viu as roupas que vestiam.
— São uniformes bellids!
Não havia necessidade de mais provas. Como Zich falou, era um local importante.
— Acredita em mim agora, senhor?
— Assim que eu voltar, prepararei o exército karuwiman mais forte! — respondeu com grande convicção.
Eles retornaram ao quartel-general. Weig relatou tudo o que viu, como o deserto, a caverna, o lago subterrâneo e o templo. Por ser o maior cavaleiro sagrado karuwiman, as suas palavras carregavam um peso muito mais pesado do que as de um estranho feito Zich, Na hora, o papa fez um esforço para formar um exército a fim de subjugar os bellids.
Cavaleiros e sacerdotes de áreas importantes começaram a se reunir, acumularam recursos e entregaram armas. Sabiam que era uma oportunidade única para acabar com aqueles que tanto odiavam, e minuciosos e secretos, encobriram para caso o plano chegasse aos ouvidos dos bellids.
Enquanto se preparavam para uma guerra iminente, Zich foi encontrar uma figura importante. As rugas do velho magro estavam na maior parte do rosto, e os antebraços por pouco vistos embaixo das mangas eram ósseos. Aparentava ser gentil, porém nem mesmo reis ou o imperador podiam se aproximar sem cuidados.
— É um prazer conhecê-lo. O meu nome é Zich — Abaixou a cabeça, afastando o nervosismo que sentia — … Sua santidade.
— Hoho! O prazer é meu!
O velho parecia bastante despreocupado, ainda mais com um sorriso daqueles. Era o papa.
“Isso está me matando.”
O mesmo nervosismo que sentiu ao conhecer Lubella e Weig subia e descia por ele.
“Não acredito que estou cara a cara com o criador de zumbis original que antecedeu Lubella.”
Era ainda mais estressante que estivesse sendo cumprimentado de um jeito amigável. Antes de regredir, quando constantemente lutava contra os karuwimans, o papa tinha sido um oponente muito complicado. Antes de Lubella ganhar experiência ao redor do mundo com Glen Zenard, ele tinha sido o maior sacerdote deles.
“Não é nem uma piada que eu quase morri nas mãos dele. Lembro até hoje de quando eu estava em ascensão, e ele reuniu uma unidade de elite. Eles simplesmente não morriam!”
Conseguia se lembrar com clareza do velho protegendo e curando os cavaleiros sagrados pela retaguarda e lançando uns ataques de apoio. Zich resistiu com tudo o que tinha para sobreviver, e nem dessa forma alcançou uma vitória absoluta. As tropas recuaram para se reagrupar, e, por um tempo depois disso, ele evitou enfrentá-los de frente.
Claro, ele nunca mais lutou com o papa depois que ganhou o título de Lorde Demônio da Força; o papa estava morto até então. No entanto, nunca esqueceria do seu poder sagrado esmagador.
— Aqueles são os seus servos atrás de você?
À pergunta, Hans e Snoc logo inclinaram a cabeça depois de observarem de boca aberta.
— Sim, sim! Eu sou o servo de Zich, Hans!
— M-meu nome é Snoc! O nome dessa aqui é Nowem.
— Hahaha! Estão cheios de energia.
Os dois não podiam se acalmar. De certa forma, o papa era alguém mais difícil de conhecer do que o imperador, e não acreditavam que estavam o visitando em carne e osso.
— Peço desculpas pelos comportamentos rudes dos meus servos.
— Tudo bem. Sou apenas um humilde servo do deus Karuna também. Não há necessidade de considerarem formalidades, desde que mantenhamos o sendo comum.
Ele, um homem simples e tranquilo, ofereceu assentos na mesa ao lado dele. Zich se sentou na sua frente, Lubella ao lado do velho e Weig perto dela. Hans e Snoc, por fim, se sentaram próximos de Zich.
— Acima de tudo, como representante dos karuwimans, quero agradecer por nos revelar a localização da base escondida daquelas coisas vis, os bellids.
Não importava o quão benevolente e simples fosse, provou que era mesmo um karuwiman pela maneira como mencionou os bellids.
— Foi um simples desejo meu. Vai me colocar em uma posição difícil se me agradecer demais.
— Não são só inimigos nossos, e sim pragas que causam danos a este mundo. Senhor Zich, já que fez um grande favor ao mundo, merece a minha gratidão. — Sorriu — Mas, já que parece estar envergonhado, vou parar. Vim até ti para agradecê-lo e ver se tem um plano que possamos discutir. Ouvi dizer que queria vingança. Significa que se juntará à nossa batalha contra os amaldiçoados?
— Sim, certamente. Mas vou me mover sozinho.
— O que fará, então?
— Enquanto vocês atacam o templo, vou me infiltrar lá dentro.
— Entendo. Está planejando cuidar de quem matou o menino.
Zich deu um sorriso ameaçador.
— Sim. Não pretendo agraciá-lo com uma morte rápida.