Era como se uma geada estivesse caindo no cômodo. Todos os presentes, incluindo Weig e o papa, que eram mais fortes do que Zich, congelaram por um momento. Por instinto, Weig segurou o cabo da espada. A sede de sangue de Zich era forte assim.
— Hohoho! Isso foi muito assustador. Mesmo que eu entenda o quão furioso você deve estar, peço que se acalme. É pressão de mais no coração de um velho que pode não ver a luz do amanhã.
— Opa, as emoções me dominaram. Peço desculpas.
Hans, Snoc e Lubella pareceram aliviados, porém não de volta ao normal.
— Eu entendo. Também perdi amigos para aqueles podres bellids. É um pecado que eles existam; por isso que temos que matar cada um deles.
Mesmo que o papa não deixasse à tona sua fúria feito Zich, também estava feroz, mostrando sua força como o líder de uma grande e poderosa organização, o que fez Hans e Snoc engolirem a saliva.
— Ouvi dizer que seu inimigo jurado é o cardeal Colum Tríslei.
— Sim, é ele.
— Ele é extremamente cruel. Nem ouso chamá-lo de humano. No entanto, é forte. Não tão quanto o senhor Weig, mas possui a mesma força que um sacerdote nosso do mais alto nível.
Weig grunhiu fracamente, não parecendo satisfeito em ser comparado a Tríslei. Entretanto, ninguém prestou atenção, mesmo a gentil Lubella. Ele se sentiu um pouco desanimado e, depois, falta dela por um tempo.
— Senhor Zich, sei que é muito forte para a sua idade, mas não acho que seja mais do que ele. Ainda planeja enfrentá-lo?
— Quando todos atacarem, vou começar a me mover lá dentro. Posso não ser uma boa distração, mas não serei um obstáculo para vocês.
— Está dizendo que não vai mudar de ideia.
Lubella olhou para ele, preocupada, contudo não disse nada por respeito. E o papa continuou a falar.— Seremos secretos ao extremo sobre esse plano. Não podemos permitir que aquelas pragas descubram e rastejem para longe. Controlaremos rigorosamente as informações em nossas facções externas e internas. Mesmo a força militar que estamos reunindo não sabe que estão indo lutar contra os bellids.
— Como vai lidar com os países vizinhos? Vão se sentir ameaçados com o exército.
— Já espalhamos certas coisas de isca. Não é comum movermos a força militar, mas não é como se nunca acontecesse. Quando terminarmos o ataque, diremos a verdade. Invadir aquilo é um direito nosso reconhecido por todas as nações soberanas, não importando se umas delas expressarem desconforto.
Como mencionado, com certeza fariam queixas, ainda mais os que tinham terras perto ou no ramo bellid do norte. Todavia, ele não tinha intenção de recuar dessa guerra militar e diplomática, pois, além de uma figura santa respeitada por todos os devotos, era o líder de uma grande organização; estava familiarizado com o “cace ou seja caçado” e usava planos parar enganar outros.
Weig, um cavaleiro, e Lubella, uma sacerdotisa dedicada, não se sentiram mais confortáveis com as palavras. Fizeram uma cruz na mente e imploraram por perdão ao seu deus. Hans e Snoc também ficaram chocados, apesar de saberem que era necessário. Por outro lado, o próprio papa permaneceu igual.
“No fim das contas, chefe é chefe. Não tem jeito. Pelo menos não fica rindo sem parar. Bem, eu vim aqui sabendo da aversão dele aos bellids.” Zich ficou satisfeito.
— Então, espero que vocês três também sejam cautelosos.
— Antes de começarmos o ataque, por que não ficamos dentro do templo? Não vai fazer você se sentir mais seguro?
— Pensei em sugerir isso. Ficarei mais do que grato. Vamos tratá-lo com o mais alto nível de hospitalidade. Nenhum de vocês será desrespeitado aqui.
Após isso, conversaram um pouco mais e decidiram que fariam planos mais específicos depois que formassem um esboço do ataque e, depois, seguiram seus caminhos.
— Ah, poderia aceitar um pedido meu? — perguntou Zich antes de se levantar.
— Senhor Zich, já que te devemos um grande favor, tentarei o que for possível, mesmo que seja difícil. Do que precisa?
— O título de cavaleiro honorário. Tem como me dar?
Um pedido inesperado.
— Pelo que ouvi, quando o senhor Weig ofereceu, você recusou.
— É porque eu não precisava.
— E agora precisa?
— Exato.
— Tudo bem. Sendo honesto, não tem por que recusarmos. Também seria muito benéfico para nós ter uma pessoa como você como cavaleiro honorário. Vou me certificar de que receba o título pra já.
— Obrigado.
Os rostos de Lubella e Weig se iluminaram. Visto que desejavam aquilo desde antes, se alegraram com a situação.
— Mas tudo bem se eu perguntar por que você de repente precisa do título? Ah, não importa a razão e nem o quão pessoal seja, nunca direi em voz alta. Só estou curioso. Se preferir não dizer, não te obrigarei a nada.
Zich riu, sinistro e conivente.
— Depois que o menino morreu, pensei em algo. Tem um jeito de deixar o desgraçado do Tríslei ainda mais furioso e enlouquecer de raiva? Aí, criando planos de acordo, julguei que seria melhor assim. E só.
Todos, incluindo o papa, ficaram sem palavras.
Depois que Zich, Hans e Snoc partiram, apenas o velho, Lubella e Weig ficaram.
— Ele é ainda mais único do que imaginei. — Deu uma risada calorosa.
— Suas ações não são parecidas com a sua personalidade. São adequadas, e é muito louvável que ele se esforce para fazer boas coisas com esse jeito dele. Mesmo que se torne um cavaleiro sagrado karuwiman, não cairá…
Ele riu tão alto que ecoou na sala inteira, e Weig fechou a boca.
— Ah, perdão, perdão. Não quis rir de você. É porque é minha primeira vez vendo você defender alguém além de Lubella tão desesperadamente.
— Estava tão claro? — Chutou os pés da mesa, envergonhado.
— O que acha, Lubella? Qual é a sua opinião?
— Ele tem um caráter horrível, mas acredito que podemos confiar nele.
— Pffft! Até a Lubella está reclamando do seu caráter! E na minha frente! Se fosse você de antes, acho que sequer pensaria em palavras tão ríspidas.
Ela, achando que falou mal demais, baixou a cabeça, constrangida.
— Mas é verdade. Ele nos ajudou bastante.
Zich lutou contra os bellids, ajudou Lubella e contou a eles a solução para um ritual vicioso; agora, lhes deu a localização de uma das bases mais importantes do inimigo.
— Ainda assim, vocês dois têm que admitir que ele é uma figura muito misteriosa.
Os dois assentiram. Confiaram nele por causa da enorme ajuda que receberam, porém também tinham que admitir que ele era suspeito em muitos aspectos.
— Não se preocupem, não planejo machucá-lo só por isso. Podem continuar acreditando nele, mas continuarei a suspeitar, porque é parte da minha responsabilidade. — Suspirou profundamente, parecendo o completo oposto de antes — Ser papa é difícil. Tenho que ficar em uma linha tênue entre os ensinamentos de Karuna e os caminhos deste mundo.
— Eu admiro sua santidade por esse motivo.
— Me sinto da mesma maneira!
Logo, a cor voltou ao rosto desgastado do velho.
— Hoho! Talvez eu tenha me emocionado um pouco. Sim, digo, qual é o problema quando tenho pelo menos duas pessoas ao meu lado? Essa guerra será uma das maiores que já viram. Ao longo da nossa história, nunca atacamos os bellids a esta escala. E vocês dois devem liderar na frente. Estão confiante de que podem fazer isso?
Ele não podia encondê-los da batalha só porque eram muito preciosos para ele.
— Com certeza. Para começar, foi Zich quem trouxe a informação, e não tem melhor ação para a senhorita Lubella fazer nesta altura do campeonato. Acima de tudo, não é uma guerra santa? Participar é uma grande honra.
— Tirando o final, penso igual ao senhor Weig.
— Então, basta. — Assentiu com a cabeça em satisfação — Com os cavaleiros sagrados, sacerdotes e vocês dois, conseguiremos derrotá-los. — Lambeu os lábios — Teria sido melhor se pudéssemos chamar o senhor Zenard.
— Está falando daquela pessoa que recebeu o título de cavaleiro sagrado honorário?
— Sim. Seu jeito de ser é nobre, e suas habilidades vão muito além da sua faixa etária. Pensando melhor, ele é como Zich, de certa forma, se tirarmos as personalidades opostas.
— É uma pena que nossa mensagem não tenha chegado até ele. Mas o que podemos fazer? Não podemos chamar cavaleiros honorários quando quisermos.
— Ainda estamos falando sobre o senhor Zenard?
— Algum problema? — questionou o papa, surpreso ao ver que ela aparentava estar um pouco descontente com o assunto.
— Não, não. É só que, sempre que o encontro, ele me pergunta se estou preocupada com algo.
— Ele deve ter interesse nela — Weig riu, interessado na vida amorosa dos jovens.Ela soltou um suspiro cansado.— Por servir a Karuna, não vou namorar e nem casar. Não sabem disso?
— Ah, já posso ouvir os homens que anseiam por você chorando e sangrando com essas palavras.
— Se continuar me provocando, vou tentar o meu melhor para marcar um encontro para você.
— Estou muito velho para isso.
— Não sabe que o amor na velhice é mais romântico?
Tentou provocá-la um pouco, no entanto sofreu uma perda total. Weig forçou uma tosse e virou a cabeça, admitindo, em silêncio, a sua derrota.
— Nossa conversa saiu do tópico. Mas ele não parece ter sentimentos por mim ou coisa do tipo. Ele parecia estar por algo.
— Hmm. Ele pode estar tentando testá-la para próxima santa. Se você se sentir desconfortável perto dele, posso dizer algo a ele. Independentemente de quão boas sejam as intenções, se a outra parte não se sentir bem, temos que colocar um fim no assunto.
— Não, está tudo bem. Ele não tem feito isso nos últimos tempos.
— Talvez sua curiosidade tenha desaparecido. Mas, se você se sentir incomodada de novo, por favor, diga a mim ou a vossa santidade. Tentaremos mediar a situação. Sua Santidade, você também… — disse Weig antes de parar do nada.
O papa estava olhando para Lubella com expectativas, mas também com travessuras.
— O que foi, sua santidade? — perguntou ela.Com uma voz claramente desapontada, ele respondeu.— Você não vai dizer que vai marcar um encontro para mim também? Estou triste que só se importe com o senhor Weig.
Um breve silêncio se seguiu. Ela pareceu surpresa, enquanto Weig explodiu em gargalhadas.